• Nenhum resultado encontrado

Os resultados deste estudo apontam que houve a predominância do sexo masculino. Resultado similar foi descrito por Matos (2017) na população de Juiz de Fora (Minas Gerais). Esse achado é devido ao fato de nos casos MB, a forma clínica mais frequente neste estudo, possui associação com o sexo marculino, visto que já foi observada que esta forma apresentou uma razão de prevalência de 1,8 vezes maior para este sexo, enfatizando que a endemia está sendo influenciada por um aumento na detecção tardia em homens (BRITO, 2015).

Certamente essa característica pode variar dependendo da população estudada. A exemplo disso, Brito et al. (2016) observou que a hanseníase atingia na mesma frequência ambos os gêneros, da mesma forma Queirós et al. (2016), que levantou dados primários de pacientes internados em um hospital universitário, concluiu que 51,8% eram mulheres. Um dos fatores que pode explicar esse aumento seria a busca pela qualidade de saúde, por ser a mulher a responsável pelo lar e pela família, além disso existe o fator estético que faz com que este gênero procure precocemente um atendimento médico (BARBOSA et al., 2008; SESA, 2018; SILVA et al., 2010; SOUZA et al., 2018).

Outra característica importante para avaliação é a faixa etária. Neste estudo a mais acometida foi a população de adultos jovens entre 20 até 49 anos de idade. De fato a faixa economicamente ativa já foi anteriormente descrita como bastante acometida (QUEIRÓS et al., 2016; SOUSA, 2016). Por mais que esta seja a faixa etária mais representativa em termos de quantidade, a faixa etária mais valorizada é aquela que acomete crianças e adolescentes com idade inferior a 15 anos pois mostra a magnitude de transmissão da doença. Em nosso estudo 7,5 % do total de casos envolveu crianças. Valores superiores foram encontrados em Teresina (8,7%) e Palmas (12,5%), e inferiores, como em Foz do Iguaçu (3,4%), Juiz de Fora (2,10%) e Belo Horizonte (5,3%) (ASSIS et al., 2018; BASTOS, 2017; SOUSA, 2016; ARAÚJO et al. 2004).

Em nosso estudo foi identificado que 60% dos pacientes haviam cursado até o nível fundamental. O grau de escolaridade já foi observado anteriormente como fator de risco para a aquisição da doença, pois um indivíduo analfabeto ou com o ensino fundamental, também agrega consigo outros fatores de risco como pobreza, desnutrição e péssimas condições de moradia (ASSIS et al., 2018; CAVACA et al., 2016; MONTEIRO et al., 2015). Além disso, ter uma baixa escolaridade contribui para o desenvolvimento de incapacidades físicas (RIBEIRO & LANA, 2012).

A raça/cor parda foi a mais prevalente neste estudo, dado a grande miscigenação da população brasileira (IBGE, 2018). Característica semelhante foi descrita em outros estudos (BASTOS, 2017; BRITO, 2015; SOUSA, 2016).

A classe operacional mais frequente neste estudo foi a multibacilar, onde a forma clínica dimorfa foi a mais diagnosticada. Isso confirma a manutenção dos elevados índices da doença apesar de várias estratégias para a seu controle, visto que essa forma é a que transmite o bacilo com isso favorece-se a disseminação da doença, principalmente em comunidades com condições sanitárias e principalmente de habitação inadequadas (ALENCAR et al., 2012; BRITO, 2015; SANTOS et al., 2016). Outra preocupação é que a forma multibacilar também está relacionada diretamente com a presença das incapacidade físicas e com os episódios reacionais (MONTEIRO et al., 2013) e com a necessidade de retratamento da doença (TEIXEIRA et al., 2010).

A maioria dos casos entraram no serviço através da demanda espontânea mostrando a importância de campanhas educativas que favoreçam a busca ativa de casos. O outro modo de entrada foi a referência para serviço especializado. Um estudo conduzido em Fortaleza mostrou que parte dos casos são diagnosticados apenas nos centros de referência (FAÇANHA

et al., 2006; LEITE et al., 2011). Esse achado vai de encontro à política proposta pelo Ministério da Saúde que afirma que os casos de hanseníase devem ser diagnosticados, tratados e acompanhados na rede de atenção básica (BRASIL, 2017). Além disso, a referência dos casos para centros de nível secundário mostra falhas no serviço podendo refletir na ocorrência de deformidades e incapacidades físicas por atrasos no diagnóstico e tratamento (ALENCAR et al., 2008).

A consequência que mais gera um impacto negativo na vida do portador da hanseníase é o comprometimento dos movimentos devido às deformidades e às incapacidades que afetam o cotidiano deste indivíduo. Neste estudo pouco mais de 6,0% do total da população de estudo foi diagnosticada com GI2 no momento da primeira consulta. Esse dado é considerado aceitável pelo Ministério da Saúde, no entanto, esse indicador possuí distribuição heterogênea entre os municípios do Brasil. Em um estudo conduzido em Belo Horizonte (capital de Minas Gerais) foi realizado um levantamento epidemiológico dos casos atendidos no Hospital Universitário e 26% dos usuários já apresentavam incapacidades instaladas (MELLO et al., 2016). No município de Diamantina (Minas Gerais) 79,1% da população de estudo apresentava incapacidade física (RIBEIRO & LANA et al., 2015).

A esquema de tratamento mais frequente foi o tratamento com 12 doses em consonância com os achados da classe mais descrtita no estudo que foi a multibacilar. Por outro lado, chama a atenção que os esquemas alternativos representaram quase 10,0% dos casos tratados. Estes esquemas são utilizados em caso de resistência ao bacilo, principalmente à rifampicina. O M. leprae apresenta genótipos diferentes e estas características específicas do micro-organismo podem contribuir para a refratariedade ao tratamento convencional (FONTES et al., 2012; 2017). Além disso, outro fator que contribui para a resistência que depende da adesão correta ao tratamento. De forma geral, ao longos dos anos estudados, foi observado que a proporção de abandono é muito baixa, mostrando que a mudança no plano terapêutico não se faz necessário como tem sido divulgado (LIRA et al., 2017; CRUZ et al., 2017; HUNGRIA et al., 2017).

Diante do exposto, foi evidenciado a necessidade do diagnóstico precoce e da forma correta todos os casos de hanseníase, atuando precocemente prevenindo o aparecimento de deformidades e incapacidades, contribuindo para a manutenção da qualidade de vida dos pacientes. Por isso, os serviços de saúde devem estar vigilantes e ter o compromisso de realizar educação continuada aos profissionais atuantes na atenção básica para buscar ativamente a doença nas comunidades.