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1.3. A METODOLOGIA – POSICIONAMENTO DAS OPÇÕES TOMADAS E CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO

1.3.1. Caracterização do estudo

O objectivo central deste estudo, conforme já foi referido anteriormente, era perceber a forma como os futuros professores do 1º CEB eram capazes de vivenciar um projecto, em que se aliava a Ciência e o Teatro, como forma de construção de um espaço de conhecimento, percebendo, ao mesmo tempo, o crescimento do grupo de estagiários

durante a construção do projecto. Pretendia-se conhecer, de uma forma mais detalhada e aprofundada, o modo como este grupo de futuros professores seria capaz de construir e executar um projecto numa perspectiva interdisciplinar, atenta à complexidade da realidade actual e mobilizando diferentes competências para o desenvolvimento do projecto, através da abordagem da temática “A Terra no espaço”. Pretendia-se ainda conhecer as suas implicações, constrangimentos e vulnerabilidades da experimentação de uma forma de ensino perspectivado para a educação global e integral, ou se, pelo contrário, apresentava formas de ensino preocupadas mais com a fragmentação do saber do que com a sua ligação.

Durante o seminário tentou-se compreender esses motivos implícitos através das reflexões escritas e nas entrevistas criativas procurou-se elucidar, alguns aspectos, não explícitos nos registos escritos e assim, compreender as dificuldades (ou não) em pôr em prática projectos de cariz interdisciplinar. Nas suas explicações, tanto ao nível do discurso escrito, como do oral, pretendeu-se, por um lado, entender de que forma o seu percurso na formação inicial, foi decisivo para a participação no projecto, e, por outro, descortinar as razões das escolhas das alunas/professores.

Finalmente, foi nosso propósito, perceber se esse projecto interdisciplinar foi um espaço de colaboração, partilha e negociação para a construção de um conhecimento global acerca do tema, se a experiência foi inspiradora para o desenvolvimento de outras posturas perante o ensino/aprendizagem, procurando, desde o início do estudo, o desenvolvimento de uma atitude e de uma postura próxima da investigação/acção. Numa investigação desta natureza, o envolvimento e a implicação do investigador são factores a ter em conta, e concordamos particularmente com Ludke & Marli (1986) ao afirmar que o envolvimento pode ir desde participante total, participante como observador, observador como participante, até observador total, estando por isso, em causa, o grau de interacção com o grupo observado. Situámos o estudo numa metodologia etnográfica pois acreditamos na ideia de que o comportamento humano é significativamente influenciado pelo contexto em que se insere e na ideia de que para entender o comportamento humano, é extremamente necessário entender o quadro de referência na qual os indivíduos interpretam os seus sentimentos, acções e pensamentos. (Wilson, 1977 in Benavente, A., 1993).

Tendo presente este contexto, julgámos que o presente estudo, conseguiu tocar muito de perto nos propósitos da Investigação/Acção (I.A.) propostos por Morin (1985),

como sendo, “operacionalmente uma «investigação na qual os autores de investigações e

os actores sociais se encontram reciprocamente implicados: os actores da investigação e os autores na acção», ao se situar na acção permite equipar «as suas práticas espontâneas de uma prática racional» a qual é assumida pelos actores que investiga tanto a explicação, a aplicação como a implicação.” (pp. 32). Neste sentido, pretendíamos

entender percursos e práticas mas de uma forma assumida, consciente e reflectida e, no fundo, este tipo de prática oferecia uma orientação suplementar à cooperação vivida em equipa, que desta forma, foi capaz de legitimar e tornar visível o trabalho dos práticos através da produção de um conhecimento válido e utilizável noutras circunstâncias.

Esta forma de pesquisa e de investigação vai ao encontro da noção que Pourtois (1981, pp. 45) refere como “método que inclui o actor conjuntamente num projecto, numa

política, numa intencionalidade, de contratos, de função, de expectativas, numa posição de reflexão e numa análise que qualificamos de armada, quer dizer, recorrendo à utilização do aparelho de apuramento de dados.”. Esta forma de encarar as práticas traduz um estar

atento e em permanente dinâmica atendendo assim, às diferentes solicitações do contexto e dos actores que participam no estudo. Neste sentido, pode referir-se que a I.A. pretende ser um ”modo de estar em Investigação da prática em que ocorre uma apropriação do saber

como um enriquecimento pessoal dos actores.” (Filloux, citado Pourtois, 1981, pp. 46).

Estes aspectos foram sentidos no decorrer do desenvolvimento do estudo, nomeadamente, na tomada de postura investigativa quanto à procura constante de entendimento do modo como os actores/autores percebiam implicação e acção no Projecto de criação teatral.

Este estudo também se enquadra nos critérios de um projecto de I.A. apresentados por Dubost (1983) definidos como uma: “acção deliberada”, que visa uma mudança no

“mundo real”, ligado a uma “escala restrita”, e recorrendo “a certas disciplinas” a fim

de obter efeitos ou conhecimento (pp. 1). Nós pretendíamos entender e perceber práticas de criação teatral de cariz interdisciplinar, de forma deliberada, numa determinada realidade, num determinado contexto (os nossos alunos estagiários/professores e nós como investigadores), e, para o conseguir, tivemos que recorrer à formação, à pesquisa e à investigação com outros colaboradores, de outras áreas, para assim, poder obter um conhecimento elaborado a partir da implicação dos diferentes intervenientes, obedecendo a um conjunto de regras e princípios, de forma a estabelecer consensos de “situações,

Segundo Ardoino a I.A. implica a produção de um conhecimento de forma coerente tendo como objectivo ”desmontar, estabelecer, averiguar mais do que encontrar” (citado por Pourtois, 1981, pp. 43). Pourtois (1981) considera que a I.A. é marcada pelo selo da eficácia que não se esquece do permanente questionamento vivido a partir da identificação e formulação da prática. Assim, a I.A. possui um carácter praxeológico e científico para conseguir produzir e se apropriar do saber. A prática desta não conduz segundo este autor necessariamente a um objecto de descoberta, ela é essencialmente uma trama de desenvolvimento e em ligação constante com as realidades das práticas. É assim um lugar privilegiado da aplicação prática do conhecimento científico.

A vivência do Projecto proporcionou o teorizar das práticas, no sentido da mudança, implicando o permanente registo e apontamento de tudo aquilo que produzíamos em equipa, fora do momento de laboratório experimental, o que se tornou no alicerce para a elaboração de uma conhecimento científico visível. Segundo Pourtois (1981) “a recolha

de informação pertinente (registar, anotar, descrever, contabilizar) e o questionário constituem duas etapas maiores e primeiras da I.A.” (pp. 52) para análise e o tratamento

dos dados. Este trabalho foi sendo feito numa relação de interioridade e simultaneidade com a acção e com o objecto de estudo “(o trabalho de análise e o tratamento de dados

são contemporâneos da acção)” (Ibid. pp. 43).

Neste sentido, pensámos poder afirmar que o presente estudo não se afastou de um dos propósitos da I.A. , visto ter tido presente a construção de um corpo teórico a nível epistemológico orientado para a emancipação dos investigadores e dos sujeitos. Na equipa de trabalho estabelecemos uma meta-comum na tentativa de alteração das práticas e de toda uma postura perante a Educação em Ciências e talvez perante o ensino/aprendizagem. Também a interacção vivida entre cada uma de nós e os colaboradores implicou a definição de um campo comum capaz de promover a negociação e estabelecer consensos. As relações de “poder” entre nós não existiam e, julgámos que, conseguimos cimentar uma comunicação simétrica com o propósito de partilhar e trocar saberes. A implicação na acção foi vivida passo a passo, o que segundo Bataille (1981) o comprometimento e a implicação possibilitaram a emergência de uma consciência colectiva de modo a tornar real a mudança.