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4.2.1 Análise de Infravermelho por Transformada de Fourier (FT-IR)

As diferentes aplicações da quitosana fúngica dependem das suas características

físico-químicas, dentre elas o grau de desacetilação. Essa característica mede a quantidade de

grupamentos químicos amina na cadeia, o que reflete em suas aplicações. Alguns estudos

demonstraram que o grau de desacetilação quanto mais próximo de 0 ou 100% favorece uma

menor degradação do biopolímero, como também uma maior adesão celular. Além de que

quanto maior o grau de desacetilação, maior será a absorção de nanopartículas por

fibroblastos em cultura de células. (HUANG et al., 2004; FREIER et al., 2005).

O FT-IR demonstrou um grau de desacetilação (DD) de 76% para a amostra isolada ao

final do processo de extração de quitosana a partir de Cunninghamella elegans (Gráfico 1). Já

nos experimentos de Berger et al., 2014a utilizando a mesma espécie fúngica chegou a um

grau de desacetilação de 88,24%. Já os resultados apresentados por Paiva e colaboradores

(2017) revelam uma quitosana microbiológica com grau de desacetilação de 84%. Tal

diferença nos valores pode estar associada ao meio de cultura ao qual foram submetidas às

produções de quitosana, como também a espécie utilizada, além das condições de crescimento

fúngico.

Gráfico 1 - Espectro de infravermelho por transformada de Fourier da molécula de quitosana

fúngica obtida a partir de Cunninghamella elegans.

Fonte: (Autoria própria, 2017)

O espectro infravermelho da quitosana fúngica em estudo apresentou uma banda em

1648,48 cm

-1

foi assinalado como correspondendo ao estiramento N-C-CH

3

da amina primária

primarias; a banda em 2293,30 cm

-1

foi correlacionado com a presença dos grupos C-H sp3 e

a banda em 3414,83 cm

-1

foi assinalada como decorrente da deformação axial de OH e

vibrações de estiramento de pontes de hidrogênio. Tais bandas são confirmações que a

amostra em questão se trata de um polissacarídeo, além disso, indica a presença de grupos

funcionais presentes na molécula de quitosana. Bandas assinaladas com comprimentos de

ondas semelhantes aos observados aqui nessa dissertação também foram descritas por vários

autores (SANTOS et al., 2003; CHATTERJEE et al., 2005; CARDOSO et al., 2012; ARBIA

et al., 2013; EBRAHIMZADEH et al., 2013) que utilizaram a técnica de FI-IR para

caracterizar estruturalmente moléculas de quitosana. Isso leva a confirmação que a molécula

aqui estudada trata-se de uma molécula de quitosana.

4.2.2 Análise de difração de raios-X (DRX)

Outra forma de analisarmos a molécula em estudo é utilizando o DRX. Esta técnica é

aplicável a todos os sólidos cristalinos ou amorfos e a todos os líquidos. No entanto, o poder

de difração dos raios X depende do número de elétrons do átomo em estudo

(CANEVAROLO JÚNIOR, 2004). Quando esta técnica se aplica a um polímero, no diagrama

observa-se dois conjuntos de sinais, um resultante da existência de zonas cristalinas e outro de

zonas amorfas.

Diante disso, a literatura descreve uma estrutura reticular organizada com taxa de

cristalinidade de aproximadamente 20-21 º para polímeros derivados da quitina com grau de

desacetilação acima de 60%. (CANEVAROLO JÚNIOR, 2004). No gráfico 2 pode-se

observar que a quitosana fúngica apresenta um pico em torno 20 °, que foi considerado como

sendo o pico representante intensidade de difração das regiões cristalinas da estrutura dessa

quitosana, corroborando com o que vem sendo descrito. Também se observa no gráfico 2 um

pico de 9 ° que atribuído como sendo representante da intensidade de difração das regiões

amorfas. Esses dois picos foram também descritos por outros autores que trabalharam com

quitosana fúngica (BERGER et al., 2014a e WANG et al.,2008)

Já quando se verifica a análises de difração dos raios X de outros polímeros, como

celulose vegetal e poliestireno, os picos observados são descritos em outras regiões: 18 º e 13

º para a celulose (PEREIRA et al. 2012) e 20,7 º para o poliestireno, que no caso não

apresenta região amorfa (MORAIS; BOTAN; LONA; 2014). Isso mostra quão especifico é

esta técnica para certificar a identidade de várias moléculas, inclusive polímeros.

Portanto, diante dos dados de FT-IR e difração de raio X, pode-se afirmar que a

molécula aqui estudada é um quitosana. Além disso, dá certeza do tipo de biomaterial que

será utilizado para nos teste descritos a seguir.

Gráfico 2 - Análise estrutural da molécula de quitosana fúngica pela técnica de difração de

raios-X.

Fonte: (Autoria própria, 2017)

4.2.3 Determinação de íons presentes na quitosana fúngica

Os resultados obtidos nessa análise mostraram que a quitosana fúngica, apresentou

uma concentração de Na

+

a 0,10 g/kg, de K

+

a 0,0 g/kg e de Ca

2+

a 0,0 g/kg, tais valores

revelam que este biopolímero apresenta quantidades mínimas de Na+ e não apresenta em sua

estrutura resíduos dos metais K

+

, Ca

2+

. Dentre tais metais, o que deve ser evidenciado é o

Ca

2+

, pois, uma vez ele inserido na molécula de quitosana de uso biomédico, favorecerá, a

longo prazo, a formação de cristais de oxalato de cálcio (OxCa) no organismo a ser tratado,

podendo causar urolitíase (cálculo renal) corroborando com os estudos de Queiroz e

colaboradores (2015).

4.2.4 Determinação da quantidade de proteína e compostos fenólicos presentes na quitosana

fúngica.

Diante da confirmação da identidade do quitosana fúngica, o próximo passo foi

confirmar se ela não estava contaminada com proteínas e/ou compostos fenólicos, uma vez

que estas moléculas poderiam interferir nos testes descritos ulteriormente a esse tópico. E

confirmou-se que mesmo quando se utilizou altas doses (1 mg/mL) não se identificou

proteínas nas amostras.

No tocante ao teor de compostos fenólicos, se conseguiu identificar a presença dessas

moléculas na quitosana fúngica. Contudo, a quantidade de compostos fenólicos na quitosana

de origem animal foi cerca de 3,5 vezes maior do que aquela encontrada na quitosana fúngica,

como pode ser observado no Gráfico 3.

Gráfico 3 - Dosagem de compostos fenólicos de quitosana animal e quitosana fúngica.

a,b

Letras diferentes indicam diferença significativa (p <0,05). Fonte: (Autoria própria, 2017)

A observação dos resultados dessa análise se torna imprescindível, uma vez que se

visa a utilização da quitosana nas mais diversas áreas, principalmente, a biomédica. Pois os

compostos fenólicos contaminam e poluem o meio ambiente durante a produção, transporte

e/ou utilização em diversos tipos de indústrias, causando danos à fauna e à flora (DAS et al.,

2014). Seus efeitos tóxicos nos seres humanos incluem permeabilidade celular e coagulação

citoplasmática, irritação da pele, distúrbios gastrointestinais, mau funcionamento dos rins,

falha no sistema circulatório e até edemas pulmonares (KARIM; LEE, 2013).

a

b a

Contudo, com estes dados pode-se ter certeza de que atividades a serem observadas

com a quitosana fúngica são oriundas dessa molécula, e não dos possíveis contaminantes:

proteínas e compostos fenólicos. Pois são valores muito baixos, e isso indica pouca ou

nenhuma presença dos mesmos nas duas amostras.

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