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CAPÍTULO 2: O MUNICÍPIO DE SERRA E A “REGIÃO” DE LARANJEIRAS

2.1. Caracterização do município de Serra

O município de Serra, Região Metropolitana da Grande Vitória10 – RMGV – possui uma área total de aproximadamente 555 km2 e perímetro urbano de pouco menos de 225 km2, ou seja, menos da metade da área do município. É o segundo município do Espírito Santo em população, em 2010 contava com mais de 409.000 habitantes11, o que representava 24% da população total da Região Metropolitana, com uma densidade de 740 hab/km2. Se compararmos essa densidade com a da capital do Estado, Vitória, a Serra apresenta um número bem inferior, pois Vitória tem 4.392 hab/km2. O município de nosso interesse limita- se com os municípios de Fundão (ao norte), Cariacica e Vitória (ao sul), Santa Leopoldina (a oeste) e com o Oceano Atlântico (a leste), e apresenta 23 km de litoral. Os limites do município e a localização deste no Espírito Santo e no Brasil podem ser observados no Mapa a seguir.

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A Região Metropolitana de Vitória é composta atualmente pelos municípios de Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica, Viana, Guarapari e Fundão.

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Mapa 2: Localização do município de Serra.

Atualmente o município tem destaque econômico na Região Metropolitana e no Estado do Espírito Santo. Porém, nem sempre a situação foi esta, conforme relata MORAES (1954), em um discurso decadente sobre o município:

Serra é a irmã gêmea de Vitória, mas como foram diferentes os seus destinos... Enquanto Vitória se enfeita, reforça cada dia os seus alicerces e faz penetrar as suas raízes na terra, Serra, depois de um lampejo fugaz, enquanto o café passou de passagem pelas suas ondulações, ingressa melancolicamente na categoria de cidade morta (MORAES, 1954:50).

O município de Serra, que até a década de 1970 era essencialmente rural e pouco povoado, é um dos que mais crescem atualmente, tanto em economia quanto em população. Teve seu crescimento associado à industrialização. Por muitos anos, foi considerado área de periferia da metrópole, onde os trabalhadores das indústrias habitavam. Atualmente, deixou de ter a citada característica e assume agora outras funções. Uma delas é a de comércio e serviços, com destaque para o pólo terciário do bairro Parque Residencial Laranjeiras, hoje chamado simplesmente de Laranjeiras; e, mais recentemente, o fato de ter o maior crescimento imobiliário da Grande Vitória. Essas mudanças ocorreram principalmente devido aos

processos que acarretaram na perda da centralidade exercida direta e exclusivamente pelo centro de Vitória (BARBOSA, 2009).

A tabela a seguir mostra a evolução da população do município de Serra, da Região Metropolitana da Grande Vitória e do Espírito Santo.

Tabela 3: Crescimento da População de Serra, RMGV12 e Espírito Santo Censos Demográficos

1960 1970 1980 1991 2000 2007 2010

Serra 9.192 17.286 82.581 222.159 321.181 385.370 409.324 RMGV 194.311 385.998 753.959 1.137.316 1.438.596 1.624.437 1.683.000 Espírito Santo 1.298.242 1.599.324 2.023.340 2.600.618 3.097.232 3.551.669 3.512.672 Fonte: Censos demográficos do IBGE 1960-2010 e Contagem e Estimativa da População 2007.

Dados organizados pelo autor

Nota-se que em cinco décadas a população do município cresceu quase 400 mil habitantes, uma evolução de 4.400%. Junto com a industrialização, principalmente a construção do pólo industrial de Tubarão, ligado à siderúrgica de minério de ferro, muitas pessoas migraram para a Serra. Quando esse pólo industrial foi instalado, este município não recebeu investimentos significativos em infra-estrutura, mas como vimos, recebeu a maior parte das habitações construídas na Grande Vitória, no período de 1976 a 1986.

Junto com o crescimento populacional do município, o crescimento da população urbana foi destaque, conforme Tabela 4. Porém, uma observação interessante sobre esses dados é que a população rural, que até o censo de 1991vinha diminuindo a cada década, apresentou um aumento significativo, quase dobrou no último censo em relação ao de 2000.

Tabela 4: População urbana e rural no município de Serra

População 1970 1980 1991 2000 2010

Urbana 7.967 80.300 220.615 319.621 406.517 Rural 9.319 2.268 1.543 1.560 2.807 Fonte: Censos demográficos do IBGE 1970-2010

Dados organizados pelo autor

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Conforme explicitado anteriormente, a RMGV só foi instituída em 1995, contando com os cinco municípios que faziam parte da aglomeração da Grande Vitória. Em 1999 foi incluído o município de Guarapari (Lei Complementar nº 159) e em 2001 passou a fazer parte também o município de Fundão (Lei Complementar nº 204).

Sobre o aumento da população urbana, Oliveira (2007) diz:

A urbanização ocorrida no município de Serra se intensificou na década de 80, com a consolidação industrial neste momento da história municipal. A industrialização neste município se deu de forma concentrada. Neste sentido, a urbanização (em grande parte) neste momento se deu ao redor destes centros industriais (Civit I e II) (OLIVEIRA, 2007: 22).

Esses dois novos centros industriais – CIVIT I e II – no município representaram importante papel no processo de urbanização da Serra, juntamente com o pólo de Tubarão, pois induziram a criação de vários conjuntos habitacionais, especialmente no período de 1966 a 1986, na vigência do BNH.

O documento Perfil Socioeconômico do município mostra que a Serra possui o principal centro industrial do Estado.

A concentração da indústria capixaba no município da Serra é explicada pela presença de uma importante infra-estrutura logística no município. São terminais portuários, estradas, linha férrea, dentre outros elementos que constituem o singular modal logístico do município (Perfil Socioeconômico, p. 39).

Com isso, o município apresenta uma importante participação no Produto Interno Bruto (PIB) estadual (17,24% em 2007), e com um PIB per capita municipal (R$ 27.000 em 2007) superior ao estadual (R$ 18.003 no mesmo ano). De acordo com a publicação “Serra em Números” (2010), o PIB municipal em 2007 se concentrava principalmente nos setores secundário e terciário, e menos de 1% no setor primário.

Os investimentos industriais que ocorreram na Serra atraíram tanto a população rural para a cidade quanto habitantes do interior do estado e da Grande Vitória, além de habitantes de outros estados em busca de trabalho na Região Metropolitana. O Porto de Tubarão da Companhia Vale do Rio Doce – CVRD – foi inaugurado em 1963 na divisa entre Serra e Vitória, e o CIVIT foi inaugurado em 1974, com áreas “dotadas de acesso pavimentado, além de serviço de água, esgoto, drenagem, telefone e energia” (Bittencourt, 2006:404). Mais tarde, em 1983, outra grande empresa se instalou no município: a Companhia Siderúrgica de Tubarão – CST. As principais áreas industriais podem ser observadas no Mapa 1.

Porém, essas não são as únicas áreas empresariais do município. O documento Serra em Números (2010) detalha os pólos empresariais do município, conforme Tabela 5:

Tabela 5: Pólos Empresariais da Serra – 2009

Polos empresariais Área total Taxa de ocupação Situação CIVIT I 1.984.694 100% Pólo licenciado CIVIT II 4.694.893 100% Pólo licenciado Cercado de Pedra 1.246.000 - Projeto Pólo Sérgio Vidigal 1.317.908 71% Projeto

Jacuhy 8.067.867 7% Projeto

Piracema 2.512.413 60% Projeto

TIMS 2.400.000 59% Pólo licenciado

Serra Log 1.800.000 - Projeto

Serra Norte 3.942.995 9% Projeto

Fonte: Adaptado de Serra em Números, 2010.

De acordo com publicação desse mesmo documento, este município possuía em 2008 um total de 5.906 empresas, mais de 15% do total da RMGV.

Em 1968, próximo à área em que seria instalado o CIVIT, foi inaugurada a Atlantic Veneer do Brasil, empresa de capital internacional no ramo de madeiras que veio a ser um destaque no município. Uma breve história dessa empresa será assunto do Capítulo 3.

A migração correspondeu até os anos 1990 pela maior parte do crescimento populacional do município. Analisando o saldo migratório entre os municípios da Grande Vitória, a Serra aparece como o município com maior atividade migratória.

No final da década de 90, o saldo migratório do município da Serra foi o maior dentre os municípios dessa região. Nesse período, o município ganhou 7.384 pessoas na troca populacional com os municípios da RMGV. Na década anterior, o ganho foi praticamente o dobro, 14.826 pessoas. Esses dados demonstram que a tendência de queda no saldo migratório positivo do Município da Serra também se expressa nas trocas entre os municípios da RMGV (BRASIL, 2008:18).

A Serra, entre 2007 e 2010 representou 62% do crescimento populacional da RMGV (ver Tabela 3). Porém, de acordo com Oliveira (2007), esse crescimento populacional não ocorreu sem problemas, foi acompanhado de baixa qualidade de vida para a população e o aumento dos problemas urbanos.

Quanto aos instrumentos de desenvolvimento urbano, o município está em processo de elaboração do Plano Diretor Municipal. O Plano Diretor Urbano foi aprovado em 1996, revisado em 1998 e agora está sendo adaptado ao proposto pelo Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001).

A análise da urbanização e da industrialização deste município permite entender as transformações ocorridas. A urbanização foi uma consequência direta da industrialização e ocorreu de forma não planejada, gerando áreas que se transformaram em bairros sem infra- estrutura mínima de moradia.

Atualmente, o município não pode ser apenas considerado como industrial e periférico à Vitória.

A Serra apresenta oportunidades, atualmente, não só para o funcionamento, mas também e fundamentalmente para a expansão da RMGV. Neste sentido, atividades que anteriormente não se viabilizavam economicamente na Serra e só existiam em Vitória hoje existem nesse município, tais como comércio/serviços especializados e principalmente empreendimentos imobiliários realizados por promoção privada (CAMPOS JUNIOR, 2008:14-15).

O município, como vimos, já é o segundo em população do Espírito Santo, com tendência a crescer mais e se tornar o primeiro nos próximos anos. Essa afirmação está ligada ao forte e recente crescimento imobiliário nesse município. Várias empresas de outros estados têm feito investimentos na Serra, sobretudo nas áreas próximas a Laranjeiras, o que será detalhado a seguir.