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3. METODOLOGIA

3.3 SEGUNDA FASE DA REVISTA PSICOLOGIA & SOCIEDADE

3.3.5 Caracterização da pesquisa na segunda fase da revista veiculadas na segunda fase

Antes de descrevermos alguns dados mais específicos sobre as pesquisas publicadas na segunda fase da revista Psicologia & Sociedade, é preciso dizer que, assim como na primeira fase, informações de ordem metodológica, como o local de realização das pesquisas, sujeitos participantes e técnicas de análise, não foram descritas em diversos trabalhos classificados como pesquisas. Isso limitou a identificação de informações dessa ordem, contudo, isso não significa que não seja possível, a partir da presente descrição, realizar interpretações, mesmo que iniciais, acerca dos aspectos que compõem esses trabalhos.

Dessa forma, a primeira informação diz respeito ao tipo de delineamento das pesquisas. Como pode ser visto na próxima tabela (Tabela 23), nessa fase, assim como na primeira, pesquisas Qualitativas representaram mais de 80% dos trabalhos, seguidas por pesquisas com delineamento Qualitativo e Quantitativo e uma diminuição de uso de pesquisas Quantitativas.

Tabela 23

REVISTA PSICOLOGIA & SOCIEDADE

Distribuição das pesquisas, classificadas pelo tipo de delineamento e comparação com o percentual da primeira fase

Tipo de delineamento Freqüência % Segunda Fase % Primeira fase

Qualitativa 79 81,4 82,3

Qualitativa e Quantitativa 9 9,3 11.3

Quantitativa 9 9,3 3,2

Total 97 100

A segunda informação refere-se aos procedimentos, materiais e técnicas utilizados para coleta de informações. Em relação a isso, nota-se, assim como na primeira fase, uma concentração de determinados métodos e procedimentos.

Os dados mostram que a utilização de entrevista semi-estruturada foi o instrumento mais utilizado, correspondendo a 38,1%, seguida pelo uso de documentos, 10,3%, Questionário, 8,2%, Grupo focal, 6,2%, Diário de campo, 4,1% e Entrevista semi-estruturada e questionário, 4,1%. Os demais tipos de procedimentos, técnicas e materiais são descritos em uma parcela menor de trabalhos. No entanto, essa informação torna-se importante à medida que se nota uma maior diversidade de recursos metodológicos. (Tabela 24)

Os procedimentos utilizados para a coleta de informações estão em consonância com as propostas de pesquisas qualitativas e a busca por aprofundamento dos fenômenos investigados. É preciso salientar que, embora outros procedimentos e métodos, característicos de pesquisas participantes, não apareçam nas descrições dos trabalhos, presume-se que a utilização de entrevista semi-estruturada tenha ocorrido em grande parte dos trabalhos. Os prováveis motivos e os problemas dessa “não” descrição serão analisados na discussão dos resultados.

Tabela 24

REVISTA PSICOLOGIA & SOCIEDADE

Procedimentos, fontes e técnicas de coleta de dados nas pesquisas da segunda fase e comparação com o percentual da primeira fase

Tipo de procedimento, fonte e técnica de

coleta de dados Freqüência % - Segunda fase % - Primeira fase

Entrevista semi-estruturada 37 38,1 16,1

Documentos 10 10,3 9,7

Questionário 8 8,2 11,3

Grupo focal 6 6,2

Diário de campo 4 4,1 8,1

Entrevista semi-estruturada e questionário 4 4,1 11,3

Observação participante e entrevista semi-

estruturada 3 3,1

Diário de campo e observação participante 2 2,1

Entrevista semi-estruturada e documentos 2 2,1

História de vida 2 2,1

Inventário 2 2,1

Conteúdo televisivo 1 1,0

Desenho 1 1,0

Dinâmica de grupo, entrevista e documentos 1 1,0

Documentos e diário de campo 1 1,0

Entrevista semi-estruturada, questionário e

documento 1 1,0

Filmagem 1 1,0

Grupo focal e entrevista 1 1,0

Obra de arte 1 1,0

Oficina, questionário e entrevista 1 1,0

Questionário e documentos 1 1,0

Sem especificação 7 7,2 35,5

Total 97 100

A identificação dos locais de realização das pesquisas publicadas na segunda fase da revista foi outro elemento explorado (Tabela 25). Os locais de realização de pesquisas publicadas nessa fase apresentam, como na primeira fase, uma concentração em instituições de ensino. Nota-se, por exemplo, que Escolas e Universidades compõem 16% do total de locais de realização das pesquisas. Também foi possível observar que, mesmo havendo uma diversidade maior de locais do que na primeira fase da revista, são locais, em geral, tradicionais de pesquisa em Psicologia e Psicologia Social nas últimas décadas. Com exceção

de um número considerável de trabalhos realizados em cooperativas, sede de movimentos de trabalhadores desempregados e sede de trabalho de reciclagem.

Tabela 25

REVISTA PSICOLOGIA & SOCIEDADE

Locais de realização das pesquisas publicadas na segunda fase da revista e comparação com o percentual da primeira fase

Locais Freqüência % - Segunda fase % - Primeira fase

Cooperativa 7 7,2

Escola pública 7 7,2 5,7

Universidade 7 7,2 7,4

Empresa privada (recursos humanos) 4 4,1

Hospital 4 4,1 0,8 Banco 3 3,1 0,8 Órgão do governo 3 3,1 Residência 3 3,1 Assentamento MST 2 2,1 Ong 2 2,1 Associação Nikkei 1 1,0 Bairro Periferia 1 1,0 6,6 Bares 1 1,0 Casa de prostituição 1 1,0 Comunidade carente 1 1,0 Comunidade indígena 1 1,0 Creche 1 1,0

Escola educação especial 1 1,0

Escola particular 1 1,0 Espaço GLS 1 1,0 Estrada 1 1,0 Febem 1 1,0 Feira Livre 1 1,0 Indústria 1 1,0

Instituição para idosos 1 1,0

Instituição para menor em situação de rua 1 1,0 2,5

Instituição saúde mental 1 1,0

Jornal 1 1,0

Mosteiro 1 1,0

Sede do movimento trabalhador

desempregado 1 1,0

Sede de organização de reciclagem 1 1,0

Polícia civil 1 1,0

Posto de Saúde 1 1,0 1,6

Rua 1 1,0

Vara Criminal 1 1,0

Sem especificação 29 29,9 51,6

Total 97 100,0

Em relação à primeira fase, foi observado um decréscimo de pesquisas e intervenções realizadas em comunidades rurais, favelas e periferias. Essa informação vincula-se, provavelmente, ao dado que aponta para uma diminuição de trabalhos classificados como Psicologia Comunitária ou Psicologia e Comunidade publicados na revista.

O que mais caracterizou as informações acerca dos locais de pesquisa foi, justamente, sua diversificação. Assim foram identificados 36 locais diferentes de realização de pesquisa denominados pelos autores. Essa informação revela uma abrangência significativa dos contextos de investigação das pesquisas veiculadas na revista nesta fase.

Em relação aos sujeitos participantes das pesquisas publicadas, prevalece a quantidade de participantes escolhidos em função de sua ocupação profissional e/ou exercício de alguma atividade de trabalho (Tabela 26). Tal dado está vinculado diretamente ao elevado número de publicações classificadas na temática “Trabalho”, que representa a segunda temática com maior número de publicações, lembrando que a temática com o maior número de trabalhos, “Aspectos Teóricos e Históricos da Psicologia Social”, não envolve sujeitos de pesquisa. Antes que se siga com a descrição das informações sobre os participantes das pesquisas, é preciso dizer que, para a construção dessa categoria, não foi possível uma divisão precisa, visto que um participante pode ter características que o façam ser introduzido em mais de uma categoria, por exemplo, as participantes que exerciam a função de empregada doméstica foram inseridas na categoria “trabalhadores”, mas também poderiam ser localizadas na categoria “mulheres”. Assim, para uma melhor visualização das informações, optou-se por inserir os participantes naquelas categorias nas quais estava mais evidente o objetivo principal da

pesquisa ou intervenção. No caso das empregadas domésticas, por exemplo, o objetivo dos pesquisadores foi analisar a relação entre empregadas domésticas e patroas, o que demonstra uma preocupação em investigar, em especial, a relação de trabalho.

Como já apontado, a maioria dos participantes das pesquisas e intervenções, 42,3%, teve como característica o fato de ser profissional ou pessoa exercendo alguma atividade de trabalho ou prestação de serviço. Em relação a esse dado, foi possível notar uma diversidade bastante significativa das características dos participantes das pesquisas, já que participantes de 29 classes distintas participaram das pesquisas. “Catadores de Papel”, “Profissionais do Sexo”, “Proprietários de Bar”, “Executivos”, “Diretores de Empresa” e “Enfermeiros” são alguns exemplos de participantes que demonstram essa diversidade. O número elevado de Profissionais da Educação chamou a atenção nessa categoria, já que correspondem a 8,2% do total de participantes. Nesse caso, todos os participantes das pesquisas foram profissionais diretamente ligados ao ensino e à pesquisa, em especial, profissionais vinculados a instituições de ensino superior. Além disso, duas pesquisas tiveram como sujeitos participantes pesquisadores e professores da própria Psicologia Social, denotando uma preocupação voltada para o funcionamento interno da disciplina e para questões que perpassam o ensino superior no Brasil.

Participantes classificados como “Adolescentes e Crianças” representam o segundo grupo com maior número de participantes nas pesquisas apresentadas na segunda fase, 16,5%. As características desses participantes são diversas, embora, em geral, algumas características recorrentes sugiram que esses foram escolhidos em função de “problemas clássicos”. Dessa forma, “Adolescentes Grávidas”, “Jovens Infratores” e “Internos” figuram entre os participantes dessa categoria.

“Mulheres”, como participantes da pesquisa, constitui o terceiro grupo com maior representatividade nas pesquisas descritas na revista, 8,2% dos participantes. Nesse caso, identificaram-se características distintas das mulheres participantes, como, por exemplo, “Mulheres Vítimas de Violência”, “Mulheres Chefes de Empresas”, “Mulheres Empreendedoras” e “Mulheres de Detentos”.

Estudantes universitários aparecem como o quinto grupo com o maior número de sujeitos participantes, 6,2%. Esse dado, mesmo não sendo possível fazer uma análise representativa, indica a recorrência a esse público em ambas as fases da pesquisa.

Pacientes e Usuários de Serviço de Saúde também participaram de pesquisas publicadas nesta fase da revista, com 3,1% do total de participantes das pesquisas. Em duas investigações, pacientes foram participantes, e, em uma investigação, o usuário de posto de saúde foi o participante da pesquisa. Por fim, oito participantes, entre idosos institucionalizados, imigrantes, membros de associação japonesa e famílias afro-descentes foram classificados na categoria participantes diversos12.

Tabela 26

REVISTA PSICOLOGIA & SOCIEDADE

Descrição dos participantes das pesquisas descritas na segunda fase da revista e comparação com o percentual da primeira fase

Participantes Freqüência % Segunda fase

% Primeira fase Profissionais diversos 49 50,5 14,8 Adolescentes e crianças 16 16,5 6,6 Mulheres 12 12,4 3,3 Estudantes universitários 6 6,2 6,6

Pacientes e usuários de serviço de

saúde 3 3,1 Outros 8 8,2 9 Sem informação 3 3,1 Total 97 100 12

O tipo de análise utilizada foi o dado que apresentou o maior número de informações não localizadas (Tabela 27). Na primeira fase da revista, isso parece ter ocorrido em função do formato da revista e porque muitos trabalhos foram apresentados apenas como resumos. O que se observa, nesse caso, é que diversos trabalhos são descritos sem uma apresentação prévia de quais meios foram utilizados para analisar os dados, tanto nos resumos quanto na própria descrição da metodologia descrita no artigo.

Tabela 27

REVISTA PSICOLOGIA & SOCIEDADE Análises utilizadas nas pesquisas da segunda fase da revista

A falta de informações acerca dos tipos de análises realizadas, na segunda fase da revista, foi observada em quase 50% dos trabalhos classificados como pesquisa. Mesmo assim, foi possível uma descrição passível de interpretação inicial desse aspecto.

As informações descritas na Tabela 26 sugerem a prevalência de duas técnicas de análise (análise do conteúdo e análise do discurso) em relação às demais. Observa-se que 36,1% dos trabalhos descritos como pesquisas utilizaram a análise do conteúdo como técnica de organização e a análise dos dados, seguida por 10,3% de trabalhos que recorreram à análise do discurso. No entanto, que uma técnica não exclui a outra em alguns casos.

É preciso dizer que essas informações foram organizadas a partir da própria descrição apresentada nos artigos, que denominava o tipo de análise, e não a partir de interpretação de

Tipos de análise Freqüência %

Análise do conteúdo 35 36,1

Análise do discurso 10 10,3

Hermenêutica de profundidade de John Thompson 1 1,0

Software - análise hierárquica descendente 1 1,0

Análise sociohistórica/formal/interpretação re-interpretação 1 1,0

Análise sociohistórica 1 1,0

Grounded theory (teoria fundamentada nos dados) 1 1,0

Sem especificação 47 48,5

qual tipo de análise estava sendo realizada. No entanto, ressalta-se que, assim como o pesquisador que vai a campo e recorre às “suas” impressões para descrever e interpretar situações relevantes que ocorrem no contexto de investigação, neste estudo foi possível notar, a partir da leitura da descrição da metodologia de vários trabalhos, que muitas pesquisas apresentaram a organização e análise de seus dados de forma bem característica dos trabalhos que recorreram à análise do conteúdo. Portanto a utilização da análise do conteúdo, provavelmente, foi superior aos 36,1% descritos.

Assim, como no caso da utilização de metodologias de pesquisa participante, o que provavelmente ocorre nesses casos e será mais bem discutido a seguir na discussão e interpretação das informações, é que parece haver um acordo intersubjetivo acerca da falta de necessidade de descrição do uso da técnica de análise das informações investigadas.

Considerando as possibilidades de comparações das duas fases e o uso de conceitos e discussões apresentadas na fundamentação teórica do presente trabalho, a seguir são apresentadas discussões dos resultados da primeira e da segunda fase da revista.