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Capítulo IV. Estudo clínico por electrocardiografia ambulatória (Holter) de nove

2. Especificações do método e materiais utilizados para o estudo clínico por

2.1. Caracterização da população de cães utilizada para o grupo de controlo e grupo de

2.1.1. Caracterização dos cães sem patologia cardíaca – grupo de controlo

Antes de se dar início ao estudo da monitorização Holter em cães com LDM foi realizado um pequeno ensaio que serviu de controlo em 3 cães clinicamente saudáveis. Tal ensaio tinha como objectivo não só o aperfeiçoamento da utilização prática do aparelho mas também a familiarização com a interpretação do traçado.

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Assim foram monitorizados três animais: o Rafa um cão da raça Labrador Retrivier de 8 anos e 34 quilogramas de peso vivo, a Pegui Lee uma cadela de raça indeterminada de 14 anos e 10 quilogramas e a Lua uma cadela da raça Labrador Retrivier de 9 anos de idade e 22 quilogramas de peso vivo. Antes dos animais serem submetidos à monitorização Holter foi-lhes feito, pelo autor, um exame físico cardio-respiratório completo, que em conjunto com a recolha de uma anamnese cuidada e a realização de um ECG de rotina confirmou a ausência de patologias cardíacas que pudessem prejudicar o rigor deste estudo.

2.1.2. Caracterização e critérios de inclusão dos cães com LDM – grupo de estudo

Dos animais observados na área de cardiologia foram seleccionados 9 animais com LDM. Todos eles, consoante a gravidade da doença, já apresentavam sintomatologia típica e, inclusivamente, alguns já estavam a ser medicados (tabela 2 e 3).

Tabela 2 – Caracterização dos cães utilizados no grupo de estudo: nome, sexo, idade, peso,

raça e anamnese relevante

Sexo Idade (anos)

Peso

(quilogramas) Raça Anamnese

Fofinha fêmea 8 23 English Cocker Spaniel tosse gorda frequente

Igor macho 14 4 Caniche

tosse seca esporádica; raros episódios de fraqueza/colapso;

episódio de síncope

Manuel macho 9 10 raça indeterminada

tosse gorda; dispneia contínua; intolerância ao exercício

Piguita fêmea 16 7 cruzada de Caniche tosse frequente e seca; raros episódios de fraqueza/colapso

Boggy macho 15 9 Cão d’Água Português tosse seca frequente; raros episódios de fraqueza/colapso

Teddy macho 8 19 English Cocker Spaniel

tosse frequente e semi gorda; ligeira intolerância ao exercício;

episódio de síncope

Bolinhas macho 9 14 raça indeterminada tosse frequente e seca; intolerância ao exercício

Willie macho 12 9 raça indeterminada tosse frequente e seca; intolerância ao exercício

Tobias macho 13 9 Caniche

tosse gorda persistente; prostração;

severa intolerância ao exercício; dispneia contínua; episódios frequentes de síncope.

A todos estes animais foi feito (pelo autor e pelo veterinário cardiologista do HVSB) um check-up cardiorespiratório completo que incluía: a recolha de uma anamnese completa e

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cuidada, a realização de um exame físico cardiovascular que por meio da inspecção, percussão, palpação e auscultação avaliava: o pulso, o batimento cardíaco, as mucosas, o sistema venoso e a presença ou ausência de edemas cavitários. De igual modo um exame físico respiratório avaliava: a presença e tipo de tosse e/ou corrimentos, os movimentos respiratórios e tipo de respiração. Findo o exame físico foram efectuadas duas radiografias torácicas em projecção latero-lateral esquerda e ventrodorsal para avaliar a silhueta cardíaca e a presença de edema pulmonar, derrames pericárdicos ou pleurais e congestão venosa. Por fim foi efectuada uma ecocardiografia para avaliação das dimensões das câmaras cardíacas, de alterações das valvas atrioventriculares e semilunares e da função miocárdica. Este check-up serviu para uma avaliação mais pormenorizada dos animais e para a sua categorização por diferentes graus de LDM (ligeiro, moderado ou severo) e consequente insuficiência cardíaca. Categorização esta que teve apenas o objectivo de facilitar a estratificação dos animais e facilitar a interpretação dos resultados e que se baseou na avaliação do sopro cardíaco, na dimensão ecocardiográfica do seu átrio esquerdo e no conjunto dos sinais apresentados pelo animal.

Na LDM a intensidade do sopro cardíaco poderá corresponder, embora de forma limitada à gravidade da patologia2. Num estudo realizado em cães da raça Cavalier King Charles Spaniel com LDM demonstrou-se que os cães com sopro de grau 2 ou inferior apresentavam LDM ligeira, ao passo que a maioria dos cães que tinham grau 5 ou 6 apresentava já um grau bastante avançado da doença2. De igual modo sabe-se que a dimensão do átrio esquerdo também se correlaciona com a gravidade da patologia (Kittleson, 1998c) (tabela 3).

Feita a categorização foi iniciada a monitorização a que se pretendia este estudo, que passava pela realização de um ECG de rotina de cerca de 2 minutos e de um Holter de 24 horas.

Tabela 3 - Apresentação do diagnóstico estabelecido em cada um dos 9 cães, referência à

terapêutica medicamentosa de cada um e resumo dos resultados obtidos com a auscultação cardíaca, radiografia torácica e ecocardiografia.

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Häggström, J., Kvart, C. & Hansson, K.(1995). Heart sounds and murmurs: changes related to severity of chronic valvular disease in Cavalier King Charles, Journal of Veterinary Internal Medicine, 9 (75).

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Legenda: na insuficiência cardíaca foi utilizada a classificação da International Small Animal Cardiac Health Council (Fuentes & Swift, 1998) (Anexo 1); na radiografia torácica e de acordo com o Vertebral Scale System, o sinal de (-) significa que não existia cardiomegália e o de (+) o contrário sendo o intervalo considerado normal o de 9,5 ± 0,5 vértebras (Buchanan & Bücheler, 1995); a dimensão do átrio esquerdo foi aferida com um ecocardiograma de duas dimensões por acesso paraesternal direito e eixo curto, considerou-se aumento atrial um rácio aorta: átrio esquerdo superior a 1:1,5 (Kienle, 1998b).

Diagnóstico

Sopro Medicação Raio-x

torácico

Ecocardiografia

Insuficiência cardíaca Patologia subjacente Dimensão do átrio

esquerdo

Dimensão do ventrículo esquerdo

Fofinha insuficiência cardíaca de ejecção de

grau Ia pelo ISACHC

insuficiência da valva mitral por

LDM ligeira 2/6 sem medicação -

normal

1:1,30 sem alterações

Igor insuficiência cardíaca de ejecção de

grau II pelo ISACHC

insuficiência da valva mitral por

LDM ligeira associada a insuficiência/

regurgitação da tricúspide ligeira

2/6 enalapril

0,5 mg/Kg PO BID -

normal

1:1,30 sem alterações

Manuel insuficiência cardíaca de ejecção de

grau IIIa ISACHC

insuficiência da valva mitral por

LDM ligeira associada a insuficiência/

regurgitação da tricúspide moderada

3-4/6 benazepril 0,25 mg/Kg PO SID; pimobendan 0,25 mg/Kg PO SID + 11 vértebras normal 1:1,40 sem alterações

Piguita insuficiência cardíaca de ejecção de

grau II ISACHC

insuficiência da valva mitral por

LDM moderada 3/6 enalapril 0,5 mg/Kg PO SID -

aumento moderado

1:1,7 sem alterações

Boggy insuficiência cardíaca de ejecção de

grau II ISACHC

insuficiência da valva mitral por

LDM moderada 3/6 furosemida 0,5 mg/Kg PO BID; espiranolactona 1,25 mg/kg PO SID; pimobendan 0,25 mg/Kg PO SID; benazepril 0,25 mg/Kg PO SID - aumento moderado 1:1,70 ligeira hipertrofia excêntrica (FS= 59%)

Teddy insuficiência cardíaca de ejecção de

grau II ISACHC insuficiência da valva mitral por

LDM moderada 3/6 enalapril 0,5 mg/Kg PO BID furosemida 2 mg/Kg BID + 11,5 vértebras aumento moderado 1:1,70 ligeira hipertrofia excêntrica (FS= 39,0%)

Bolinhas insuficiência cardíaca de ejecção de

grau II ISACHC

insuficiência da valva mitral por

LDM moderada 3/6 furosemida 3 mg/Kg PO BID; espiranolactona 2,5 mg/kg PO SID; pimobendan 0,2 mg/Kg PO SID; enalapril 0,5 mg/Kg PO SID - aumento moderado a severo 1:1,90 ligeira hipertrofia excêntrica (FS= 58%)

Willie insuficiência cardíaca de ejecção de

grau II ISACHC

insuficiência da valva mitral por

LDM moderada 4/6 enalapril 0,5 mg/Kg PO BID; furosemida 2 mg/Kg PO BID - aumento moderado a severo 1:1,80 ligeira hipertrofia excêntrica (FS= 40,5%)

Tobias insuficiência cardíaca de ejecção de

grau IIIa pelo IASCHC

insuficiência da valva mitral por

LDM severa

associada a insuficiência/ regurgitação da tricúspide ligeira

5/6 furosemida 4 mg/kg PO BID; espiranolactona 3 mg/Kg PO SID; digoxina 0,01 mg/Kg PO BID; benazepril 0,25 mg/Kg PO SID; + 12,5 vértebras aumento severo 1:2,9 hipertrofia excêntrica (FS= 63%)

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