• Nenhum resultado encontrado

4.3 Caracterização do EB e frações de A cearensis

4.3.4 Caracterização por Acquity UPLC (Waters), acoplado a um espectrômetro de

As figuras 14, 15, 16 e 17 apresentam o perfil cromatográfico das amostras (EB, F1, F2 e F3), respectivamente, em cromatografia líquida de ultra performance acoplado a espectrômetro de massas (UPLC-QTof). A análise dos espectros de massas permitiu a identificação dos compostos no EB e frações. Os parâmetros analisados foram o peso molecular, massa iônica, tempo de retenção, padrão de fragmentação e comparados com a literatura disponível. Os dados obtidos resultaram na identificação de 7 compostos no EB sendo o maior pico o 1 correspondente à Icariin glucuronide (C33H37O16) apresentados na

tabela 02, 6 compostos na F1 sendo o maior pico correspondente à um isômero do ácido trans-cinâmico (C9H8O2) apresentados na tabela 03, 8 compostos na F2 sendo o maior pico

correspondente ao ácido trans-cinâmico (C9H7O2) apresentados na tabela 04 e 5 compostos na

F3 sendo o maior pico identificado correspondente à Icariin glucuronide (C33H37O16)

apresentados na tabela 05.

A partir das análises por cromatografia líquida em coluna UPLC BEH C18 em sistema Acquity UPLC (Waters) acoplado a espectrometria de massas em sistema ESI- Quadrupolo / Tempo de Voo (QtoF, Waters) do EB e frações de A. cearensis foi possível identificar vários compostos fenólicos, ácidos orgânicos, e alguns polifenóis em modo de ionização positivo, no qual as moléculas são ionizadas ganhando um próton (íon H+) e adquirem carga positiva. No modo de Ionização negativa, a ionização ocorre pela perda de um próton (íon H+) adquirindo carga negativa (WILSON e WALKER, 2010).

As tabelas 02, 03, 04 e 05 mostram flavonóides, ácidos fenólicos, derivados flavanos, ácidos orgânicos e compostos fenólicos identificados em modo de ionização positivo do EB, F1, F2 e F3 de A. cearensis.

Nesta análise foi possível identificar a presença de alguns ácidos orgânicos como o ácido cinâmico e alguns isômeros Trans presente na F1 e F2 apresentados nas tabelas 03 e 04. Destacam-se ainda a presença de alguns polifenóis como 4’- ou 5’-O-Methyl-(epi)catechin I no EB e Trigalloyl hexoside na F3 sendo este último um monômero de polifenol.

Em todas as amostras trabalhadas foram identificadas a presença do flavonoide Icariin glucuronide, este presente no EB e em todas as frações de A. cearensis, e dos derivados flavonas Dihydroxymethoxyisoflavone, 7,8,3′-Trihydroxy-4′-methoxyisoflavone, e Methoxy trihydroxy flavanone. Os compostos identificados estão desenhados na Figura 18.

Pico Rt Min [M-H]- Observado [M-H]- Calculada Ions do produto (MS / MS) Formula empirica Ppm (erro) Nome Referências 1 1.18 689.2051 689.2082 689.2087, 367.1008, 352.8637

C33H37O16 4.5 Icariin glucuronide SHUNJUN

et.al.,2017

2 1.29 527.1564 527.1553 202.1848, 184.9314, 178.0209

C27H27O11 2.1 QQCA (quinicquinic-

caffeic acid ester)

PLAZONIC et.al.,2009

3 2.94 467.1732 467.1706 329.0866, 261.0790, 179.0338, 137.0256

C21H23O12 2.2 (Epi)gallocatechin hexose II IBRAHIM

et.al.,2014 4 3.11 305.0735 305.0720 179.0339, 167.0341, 137.0252, 125.0241 C15H13O7 4.9 Gallocatechin IBRAHIM et.al.,2014 5 3.32 172.0376 172.0372 242.9876, 144.0423, 116.0501 C6H2N7 2.3 Não identificado - 6 4.93 218.2143 218.2120 177.0513, 145. 0170, 225.9959 C12H28NO2 10.5 Não identificado - 7 6.09 246.2422 246.2433 258.8799, 184.0619, 156.0619 C14H32NO2 4.5 Não identificado - 8 7.25 247.2733 247.2746 275.2783, 256.2661, 230.2536 C16H36NO2 4.7 Não identificado - 9 7.96 283.1002 283.1029 295.0207, 240.0207, 133.0802 C16H12O5 9.5 Dihydroxymethoxyisoflavone OLIVEIRA et.al.,2017

120.0852 11 8.46 303.0885 303.0874 137.0244 C16H15O6 3.6 4’- or 5’-O-Methyl- (epi)catechin I IBRAHIM et.al.,2014 12 9.27 393.3636 393.3639 334.3075, 249.1913,133.0866 C13H41N14 0.8 Não identified - 13 9.69 332.3412 332.28 330.3311, 270.9351, 150.7104

1.0 gallic-caffeic acid ester PLAZONIC et.al.,2009

14 9.84 457.2762 457.2743 155.0720, 458.2881 C31H37O3 4.2 Não identificado -

15 9.89 457.2829 457.2801 155.0675, 458.2868 C24H41O8 6.1 Não identificado -

Pico Rt min [M-H] Observado [M-H] Calculado Ionds do produto (MS/MS) Formula empirica Ppm (erro) Nome Referências 1 1.18 689.2130 689.2117 689.2087, 367.1008, 352.8637

C33H37O16 4.5 Icariin glucuronide SHUNJUN

et.al.,2017

2 1.94 453.7779 453.7796 454.7751, 451.7924, 449.7784

C6NO11S6 3.7 Não identificado -

3 5.35 147.0405 147.0446 147.0417, 62.1057 C9H8O2 -27.0 trans-Cinnamic acid IBRAHIM

et.al.,2014

4 5.37 147.0408 147.0446 147.0417, 62.1057 C9H8O2 -25.0 Possible isomer trans-

Cinnamic acid

IBRAHIM et.al.,2014

5 5.39 147.0407 147.0446 147.0417, 62.1057 C9H8O2 Possible isomer trans-

Cinnamic acid

IBRAHIM et.al.,2014

6 5.40 147.0417 147.0446 147.0417, 62.1057 C9H8O2 -19.0 Possible isomer trans-

Cinnamic acid

IBRAHIM et.al.,2014

7 5.62 147.0417 147.0446 147.0417, 62.1057 C9H8O2 -19.0 Possible isomer trans-

Cinnamic acid IBRAHIM et.al.,2014 8 6.65 299.0892 299.0919 284.0323,256.0673,184.0652 C17H15O5 9.0 7,8,3′-Trihydroxy-4′- methoxyisoflavone OLIVEIRA et.al.,2017 9 7.34 274.2764 274.2746 318.3075, 274.2844, 256.2657 C16H36NO2 6.6 Não identificado - 10 7.70 313.1020 313.1017 269.0793, 252.0761, 184.0693 C18H17O5 1.0 7,3′-Dihydroxy-8,4′- dimethoxyisoflavone OLIVEIRA et.al.,2017 11 8.02 283.0938 283.0970 240.0811, 211.0820, 197.0556 C17H15O4 11.3 Dihydroxymethoxyisoflavone OLIVEIRA et.al.,2017

13 8.62 302.3014 302.3059 184.0782, 177.1111, 113.0846 C18H40NO2 -6.0 Não identificado - 14 8.80 391.3424 391.3424 331.2966, 177.1157, 133.0889 C22H47O5 0.0 Não identificado - 15 9.25 323.2748 323.2797 373.1831, 339.2472,133.0887 C17H39O5 -15.2 Não identificado - 16 9.44 393.3588 393.3588 393.3560, 334.3107, 177.1114 C22H49O5 2.0 Não identificado - 17 9.96 330.3365 330.3372 258.0484, 312.3296, 331.3336 C20H44NO2 -2.1 Não identificado -

Pico Rt Min [M-H]- Observado [M-H]- Calculado Ions do produto (MS/MS) Formula empirica Ppm (erro) Nome Referências 1 1.17 689.2051 689.2082 689.2087, 367.1008, 352.8637

C33H37O16 4.5 Icariin glucuronide SHUNJUN

et.al.,2017

2 4.03 591.3693 591.3686 401.1527, 172.8673, 133.0836

C37H51O6 1.2 Não identificado -

3 5.37 147.0419 147.0446 147.0422, 62.2985 C9H7O2 -18.4 trans-Cinnamic acid IBRAHIM

et.al.,2014

4 5.40 147.0412 147.0446 147.0422, 62.2985 C9H7O2 -23.1 Possible isomer trans-

Cinnamic acid

IBRAHIM et.al.,2014

5 5.49 147.0408 147.0446 147.0422, 62.2985 C9H7O2 -23.1 Possible isomer trans-

Cinnamic acid

IBRAHIM et.al.,2014

6 6.12 246.2432 246.2433 247.4212, 184.0706, 156.0435

C14H32NO2 -0.4 Não identificado IBRAHIM

et.al.,2014 7 6.51 285.2693 285.2700 269.7, 163.8, 150.5 C15H10O6 -2.5 Hydroxygenistein HIRSCHMANN et.al.,2019 8 6.63 299.0910 299.0919 283.7, 230.7 C17H15O5 -3.0 Methoxy trihydroxy flavanone HIRSCHMANN et.al.,2019 9 7.26 274.2721 274.2719 275.2858, 256.2728, 184.0647 C12H32N7 0.7 Não identificado - 10 7.28 274.2730 274.2719 275.2858, 256.2728, 184.0647 C12H32N7 4.0 Não identificado - 11 7.66 313.1066 313.1076 269.0793, 252.0761, C18H17O5 -3.2 7,3′-Dihydroxy-8,4′- OLIVEIRA

12 7.99 283.0953 283.0970 240.0811, 211.0820, 197.0556 C17H15O4 -6.0 Dihydroxymethoxyisoflavone OLIVEIRA et.al.,2017 13 8.02 283.0921 283.0970 240.0811, 211.0820, 197.0556 C17H15O4 -17.3 Dihydroxymethoxyisoflavone possível isômero OLIVEIRA et.al.,2017 14 8.29 119.0850 119.0861 113.0861, 117.1045 C9H11 -9.2 Não identificado - 15 8.52 302.3076 302.3059 184.0782, 177.1111, 113.0846 C18H40NO2 5.6 Não identificado - 16 8.67 391.3500 391.3509 184.0709, 177.1171 C17H43N8O2 -2.3 Não identificado - 17 9.23 323.2783 323.2797 373.1831, 339.2472,133.0887 C17H39O5 -4.3 Não identificado - 18 9.32 393.3557 393.3580 393.3560, 334.3107, 177.1114 C22H49O5 -5.8 Não identificado - 19 9.35 393.3589 393.3580 393.3560, 334.3107, 177.1114 C22H49O5 2.3 Não identificado - 20 9.75 330.3365 330.3372 258.0484, 312.3296, 331.3336 C20H44NO2 -2.1 Não identificado - 21 9.90 457.2744 457.2743 155.0720, 458.2881 C31H37O3 0.2 Não identificado - 22 9.95 457.2778 457.2743 155.0720, 458.2881 C31H37O3 7.7 Não identificado - 23 10.11 395.3740 395.3750 335.3429, 184.0704, 133.0864, C23H47N4O -2.5 Não identificado -

Pico Rt Min [M-H]- Observado [M-H]- Calculado Ions do produto (MS/MS) Formula empirica Ppm (erro) Nome Referências 1 1.17 689.2147 689.2140 689.2087, 367.1008, 352.8637

C33H37O16 1.0 Icariin glucuronide SHUNJUN

et.al.,2017 2 1.25 136.0607 136.0610 152.0563, 136.0607 C4H10NO4 -2.2 Não identificado - 3 1.72 136.0612 136.0610 152.0563, 136.0607 C4H10NO4 1.5 Não identificado - 4 2.64 172.0363 172.0372 242.9876, 144.0423, 116.0501 C6H2N7 -5.2 Não identificado -

5 3.11 433.1133 433.1135 300.9686 C21H21O10 -0.5 Ellagic acid pentoside 1 HIRSCHMANN

et.al.,2019 6 3.54 287.0533 287.0556 287.0538, 241.0332, 175.0282 C15H11O6 8.0 Luteolin IBRAHIM et.al.,2014 7 3.71 133.0901 133.0865 207.0626, 151.0330, 133.0813 C6H13O3 2.7 Não identificado - 8 3.81 133.0860 133.0865 207.0626, 151.0330, 133.0813 C6H13O3 -3.5 Não identificado - 9 4.02 591.3591 591.3592 207,0608, 151.0291 133.0836 C26H55O14 -0.2 Não identificado -

10 4.13 635.3927 635.3927 465.0265 C39H55O7 -3.3 Trigalloyl hexoside HIRSCHMANN

et.al.,2019

11 4.35 207.0683 207.0657 369.1195, 207.0621, 175.0858

175.0858 13 4.91 207.0661 207.0657 240.0811, 211.0820, 197.0556 C11H11O4 1.9 Não identificado - 14 6.11 246.2453 246.2433 258.8799, 184.0619, 156.0619 C14H32NO2 8.1 Não identificado - 15 6.52 283.0364 283.1029 295.0207, 240.0207, 133.0802 C16H12O5 9.5 Dihydroxymethoxyisoflavone OLIVEIRA et.al.,2017 16 7.32 274.2742 274.2746 318.3075, 274.2844, 256.2657 C16H36NO2 -1.5 Não identificado - 17 7.38 318.2995 318.2981 274.2706. 256.2648 C14H36N7O 4.4 Não identificado - 18 8.31 119.0870 119.0821 437.2041, 185.1608, 120.0852 C4H11N2O2 6.7 Não identificado - 19 8.56 302.3055 302.3059 184.0782, 177.1111, 113.0846 C18H40NO2 -1.3 Não identificado - 20 9.17 304.3001 304.3004 212.2469, 133.0871 C21H38N -1.0 Não identificado - 21 9.80 330.3346 330.3372 258.0484, 312.3296, 331.3336 C20H44NO2 -2.1 Não identificado - 22 9.93 457.2736 457.2743 155.0720, 458.2881 C31H37O3 -1.5 Não identificado - 23 9.95 457.2711 457.2743 155.0720, 458.2881 C31H37O3 -7.0 Não identificado *

Figure 17: Principais estruturas correspondentes aos compostos identificados no extrato bruto de sementes de A. cearensis e suas frações. A - Extrato Bruto; B - F1; C - F2; D

5 DISCUSSÃO

As plantas são organismos sésseis sujeitos a estresses bióticos, como patógenos: bactérias, fungos, vírus, fitonematóides e predação por insetos, e estresses abióticos, como: seca, salinidade, extremos de temperatura, e etc. Essas consições ambientais estressantes promovem a seleção de características que lhe conferem resistência ou tolerância (REJEB et al., 2014; SUZUKI et al., 2014, VINOD e SABAH, 2018). Dentre os fatores relacionados aos mecanismos de defesa contra patógenos destaca-se um arsenal de moléculas químicas com atividade para os fitopatógenos, e graças a essa complexa linha de defesa as plantas guardam um grande potencial para aplicação como biopesticida na agricultura e agente bactericida e antifúngico para doenças humanas (BOY et al., 2018). Sendo as plantas uma fonte importante de novos compostos botânicos bioativos há muito a indústria farmacêutica reconhece a importância de produtos naturais para descoberta e desenvolvimento de novas drogas e medicamentos para terapia de diversas doenças (BOY et al., 2018; GUPKA, BIRDI, 2017).

O Surgimento de patógenos microbianos resistentes a múltiplas drogas ameaça a quimioterapia antibacteriana padrão (TARASZKIEWICZ et al., 2013). Assim, estratégias alternativas de tratamento com produtos naturais precisam ser exploradas para garantir que terapias eficazes estejam disponíveis (BUTLER e BUSS, 2006).

A principal função dos inibidores de serinoproteases é de proteger e regular a atividade proteolítica nas plantas (CLEMENTE et al., 2019). Esses estão relacionadas com a mobilização do armazenamento de proteínas, regulação de atividade enzimática endógena, modulação da apoptose e morte celular programada (HOGER e VAN DER HOOORN, 2013; THOMAS e VAN DER HOOORN, 2018). Além disso, os inibidores de serinoproteases tem um papel importante na defesa das plantas contra pragas e microrganismos como bactérias (VAN DER HOOORN e JONES, 2004).

Os inibidores de tripsina isolados das sementes de Cajanus cajan e Jatropha curcas demonstraram ser eficazes contra bactérias de importância clínica (COSTA et al,.2014; SHAMSI et al.,2018) resultados que corroboram com os achados desse estudo. Notavelmente ações sinérgicas exibidas pela combinação de compostos naturais e antibióticos podem retardar ou reverter à evolução da resistência bacteriana (AYAZ et al.,2019). Dada importância clínica dessa interação contra bactérias multirresistentes, muitos estudos fornecem evidencias sobre produtos naturais como ferramentas terapêuticas (CHEESMAN et al.,2017; MOURA et al,.2019).

Foi evidenciado que a combinação de extrato de sementes de A. cearensis e antibióticos de diferentes mecanismos de ação tiveram efeito sinérgico frente às linhagens testadas. Foi observada uma redução significativa na concentração inibitória mínima (MIC) na associação com gentamicina para S. aureus. Resultados semelhantes foram relatados por Macedo et al.,2019 onde foi purificado um flavanóide das folhas de Vitex garderiana Schauer e feito a mesma combinação. Além disso, o EB de sementes de A. cearensis potencializou a ação da gentamicina contra E. coli, como observado anteriormente no extrato etanólico de Mentha arvenis e Momordica charantia (SOUSA e BARRETO 2011). A gentamicina inibe a síntese de proteínas ao se ligar com alta afinidade ao RNA ribossômico (KRAUSE et al.,2016).

Em estudo anterior extratos das folhas de A. cearensis em associação com o aminoglicosídeo amicacina foi capaz de reduzir os valores da CIM de 128 µg / mL para 8 µg / mL em E. coli (FIGUEREDO et al.,2013). Esses estudos enfatizam a importância da terapia combinada para minimizar efeitos colaterais dos antibióticos.

Nesse estudo o efeito sinérgico na combinação de extrato de sementes de A. cearensis e norfloxacina, um antibiótico da classe das fluroquinolona também reduziu a CIM para S. aureus e E. coli. Resultados semelhantes foram observados no extrato aquosos de folhas de Ziziphus joazeiro (ANDRADE et al.,2019). As quinolonas atuam inibindo a topoisomerase II e IV o que ocasiona a fragmentação do cromossomo bacteriano (ALDRED, KERNS e OSHEROFF, 2014).

Andrade et al., 2019 observaram um efeito sinérgico entre o extrato aquoso de folhas de Ziziphus Joazeiro e ampicilina usada contra S. aureus. Antibióticos beta-lactâmicos (penicilinas e seus derivados) atuam em grupo de proteínas chamadas “proteínas de ligação à penicilina” (PBP), encontrados nos espaços periplasmáticos de bactérias gram-negativas. Esses PBP estão envolvidos na síntese peptídica essencial para estrutura da parede bacteriana (ZHAO et al., 2006; CHAVES et al., 2018).

Estudos de caracterização realizados em extratos da casca do caule, os compostos encontrados foram: cumarina (CARVALHO, 1994), responsável pelo seu odor característico, dos flavonóides isocampferídio (MAIA, 2004), campferol e afrormosina, pelos glicosídios fenólicos amburosídios A (LEAL et.al., 1997) e B (LEAL et.al., 2003), dos ácidos fenólicos ácido vanílico (BRAVO et.al.,1999) e ácido protocatecuico (CANUTO e SILVEIRA, 2006), além de grandes quantidades de sacarose. Estudos revelam que a cumarina (CARVALHO, 1994), o isocampferídio (MAIA, 2004) e o amburosídio A (LEAL et.al., 1997) possuem efeitos anti-inflamatório, antioxidante e broncodilatador, sendo indicados como princípios

ativos da planta (LEAL et.al., 2009). Dos quais alguns coincidem com precursores dos encontrados nesse estudo.

Flavonóides, flavonas e flavonol pertencem a um extenso grupo de metabólitos vegetais secundários que foram descritos como tendo atividade antimicrobiana e antioxidante (FLORES et al., 2013). Informações que corroboram com os compostos encontrados pela caracterização por Acquity UPLC (Waters) e atividades descritas neste trabalho.

Uma das grandes dificuldades enfrentada é a resistência aos antifúngicos, tanto intrínseca como adquirida, que normalmente acontece entre as espécies de fungos a várias classes de drogas antifúngicas (DAY et al., 2013). Vale ressaltar que o uso indiscriminado e crescente de drogas antifúngicas da classe azole, tanto para prevenir como para o tratamento de infecções ativas, acabou por aumentar a prevalência de candidíases resistentes ao fluconazol.

O fármaco fluconazol, usado nesses ensaios, age impossibilitando a via de biossíntese do principal constituinte da membrana celular fúngica, o ergosterol. O fluconazol impede a enzima lanosterol 14-alfa-desmetilase no sistema enzimático do citocromo P-450 dos fungos, que é codificado pelo gene ERG11. Assim, o lanosterol não poderá ser convertido em ergosterol e, consequentemente, o acúmulo de precursores ocorre causando instabilidade na membrana fúngica (CARRILLOMUÑOZ et al., 2006; MENOZZI et. al., 2017).

As alternativas para tratamento de infecções por espécies de Candida são consideradas limitadas e muitos fármacos antifúngicos existentes possuem efeitos indesejáveis, como alta toxicidade, e ocasionam a resistência de maneira rápida, principalmente em indivíduos imunodeprimidos (FICA, 2004). Esses são alguns dos fatores que dificultam o tratamento clínico e impulsionam as pesquisas para obtenção e produção de novos medicamentos seguros contra esses microrganismos.

A terapia usada para combater infecções fúngicas, principalmente em pacientes imunocomprometidos, é uma situação tida como desafio e, portanto há uma necessidade crescente de novos fármacos antifúngicos que possam superar a resistência e diminuir os efeitos colaterais associados a altas doses de drogas (CALABRESE et al., 2013).

Em estudos realizados por Bravo et.al., 1999 já era demostrado que o principal componente de A. cearensis era a cumarina, e atribuía a essa, a responsabilidade juntamente com outras substâncias, pela atividade broncodilatadora. Ainda destaca a presença de glicosídeos fenólicos encontrados em sua composição que apresentavam atividade antimalárica, antiprotozoária, antifúngica e antibacteriana in vitro.

Em estudos realizados por Salas et al, (2011) sobre atividade antifúngica de flavonóides naturais e enzimaticamente modificados, extraídos de plantas do gênero Citrus contra espécies de Penicillium, Aspergillus e Fusarium mostrou-se limitada, não inibindo totalmente o crescimento dos fungos. Porém, trabalhos realizados por Steiner et al, (2008) mostrou que esses processos biológicos modulados por isoflavonas, especialmente, pela genisteína, que foi amplamente estudado demostrou um melhor efeito de atividade, mas sem levar a uma compreensão clara dos mecanismos celulares e moleculares de ação.

Efeito antifúngico e antibacteriano foi evidenciado em extratos que apresentaram em sua composição o ácido cinâmico e seus derivados, em plantas como Zingiber offinale e Ajuga bracteosa onde o ácido aromático foi capaz de inibir o crecimento dos microrganismos (SABU, SOUMIA e RADHAKRISHNAN 2017; ZAHRA et al., 2017), resultado semelhando ao encontrado nesse trabalho onde a presença do ácido cinâmico na F2 e seus derivados na F1 justifica os efeitos encontrados.

Icariin glucuronide é um tipo de flavonoide classificado como um flavonol, que vem ganhando atenção em diferentes estudos como de reparação tecidual ósseo (WEI et.al., 2010), possui efeito dose dependente na proliferação de células tronco humana (FAN et.al., 2011), Imunoregulação (KIM et.al., 2001), aumento dos níveis de GMPc em células musculares lisas cavernosas (NIG et.al., 2006), aumentando a produção de compostos óxido nítricos bioativos (XU e HUANG, 2007), além de mimetizar os efeitos da testosterona (ZHANG e YANG, 2006). Esse composto foi encontrado com maior prevalência no EB e F3, porém destacam-se ainda no EB a presença marcante do catechin que são moléculas polifenólicas derivadas de plantas que apresentam atividade antibacteriana e antifúngica (CHANG et al., 2019 ; ULLAH et al., 2019). Em F3 por sua vez destaca-se a presença macante de luteolin, um flavanóide abundante em vários vegetais. Estudos demonstram que seu estudo após isolamento e purificação apresentou notável efeito antifúngico frente à Candida albicans (LIANG et al., 2019).

O uso combinado de drogas que consegue alcançar resultados sinérgicos, como efeito dessa interação demostrando aumento na eficácia do efeito terapêutico, diminuição da concentração inibitória mínima, regressão do desenvolvimento de resistência a antibióticos e uma diminuição na toxicidade do hospedeiro tem se tornado cada vez mais estudado como alternativa para o tratamento de infecções (KARLA MONIK et al., 2015).

Alguns compostos fenólicos como ácido gálico, catequina, luteolina e quercetina demonstra na literatura atividade antifúngica in vitro comprovada frente a diferentes espécies de Candida, englobando C. albicans e C. tropicalis destacando o estudo realizada por Alves

et al. (2014),corroborando com esse estudo e podemos relacionar a presença de compostos fenolicos com atividade apresentada frente a C. albicans. Pesquisas realizada por Da Silva et al. (2014) avaliou as interações de flavonóides associado com fluconazol, utilizando microdiluição in vitro frente a C. tropicalis que possuiam resistência ao fluconazol, e observou um efeito antifúngico sinérgico considerável no estudo, reduzindo as CIM dos flavonóides isolados de 64 μg / mL até 0,25 μg / mL, estudo esse que se assemelha ao encontrado nesse trabalho onde os extratos conseguiram reduzir a CIM quando usado em combinação com o fluconazol frente a C. albicans.

A determinação etnobotânica sobre o uso de plantas com efeito sobre microrganismos, aumentou o numero de estudos sobre identificação, isolamento e quantificação dos compostos bioativos naturais que possuem tal função. Com base nos resultados, pode-se concluir que extratos de sementes de A. cearensis apresentaram inibição de serinoproteases e atividade sinérgica na associação com antibióticos, melhorando sua ação frente a bactérias. Esses achados indicam que o uso de extratos de plantas em combinação com antibióticos convencionais pode ser uma grande promessa para fornecer opções de tratamentos acessíveis. No entanto, será necessário investir na purificação e verificação do efeito isolado ou combinado dos diferentes componentes dos extratos e frações para avaliar a contribuição de cada composto na atividade observada e seu mecanismo de ação sinérgico ao antibiótico.

6 CONCLUSÃO

Neste estudo, EB e frações de A. cearensis apresentaram capacidade antifúngica relevante. Destacando em sua composição vários substâncias dentre eles os compostos fenólicos, ácidos orgânicos e alguns polifenóis que possuem relatos na literatura com efeito antifúngico que podem ter contribuído para a atividade isolada e sinérgica dos testes realizados.

O efeito verificado para o EB e frações de A. cearensis apresentou os mesmos valores de Concentração Inibitória Mínima frente as bactérias padrão ATCC testados, sendo todos os valores observados ≥1024μg/mL não tendo relevância clínica. Quando realizado a combinação das amostras com antibióticos de diferente mecanismo de ação, foi observado sinergismo significativo, sendo o sinergismo diferencial para os diferentes antibióticos, frações e microrganismos. Observamos que o extrato bruto combinado a gentamicina norfloxancina e penicilina inibiu o crescimento de E. coli e S. aureus. Já F1 foi efetiva em inibir S. aureus quanto combinada aos três antibióticos, mas não inibiu E. coli quando combinada a penicilina. F2 só inibiu E. coli quando combinada a norfloxacina, mas não inibiu S. aureus. No entanto foi a única fração que apresentou efeito sinérgico contra Candida albicans quando combinada a Fluconazol. A fração F3 inibiu E. coli e S. aureus quando combinada a gentamicina, inibiu diferencialmente só E. coli quando combinada a norfloxacina e somente S. aureus quando combinada a penicilina.

Estes resultados mostram que as amostras testadas podem ser consideradas como possíveis fontes de agentes antifúngicos e moduladoras da atividade antifúngica e antibiótica, no entanto, estudos mais aprofundados são necessários para identificar os compostos ativos e para provar sua eficácia, segurança e mecanismo de ação.

7 REFERÊNCIAS

AHMAD, A.; VERMA, H. N.; BHARTI, P.; PANDEY, K.; KHAN, S.; DEV, K. Protein purification from Arachis hypogaea in one step: stability studies and anticarcinogenic analysis. Food Sci Biotechnol. 8;29(1):35-43, 2019.

ALBUQUERQUE, U.P.; MEDEIROS, P.M.; ALMEIDA, A.L.S.; MONTEIRO, J.M.; LINS NETO, E.M.F.; MELO, J.G.; SANTOS, J.P. Medicinal plants of the Caatinga (semi-arid) vegetation of NE Brazil: a quantitative approach. J. Ethnopharmacol, 114, p.325-354, 2007. ALONSO, R.; GALIMAND, M.; COURVALIN, P. An extended PCR-RFLP assay for

detection of parC, parE and gyrA mutations in fluoroquinolone-resistant Streptococcus pneumoniae. Journal of Antimicrobial Chemotherapy, London, v. 53, n. 4, p. 682-683, 2004.

ALVES, C.T.; FERREIRA, I.C.; BARROS, L.; SILVA, S.; AZEREDO, J.; HENRIQUES, M. Antifungal activity of phenolic compounds identified in flowers from North Eastern

Portugal against Candida species. Future microbiol. 9 (2), 139–146, 2014.

ALVES, H. M. A diversidade química das plantas como fonte de fitofármacos. Cadernos

Temáticos de Química Nova na Escola 3: 10-15, 2001.

ANDRADE, J.C.; SILVA, A.R.P.; SANTOS, A.T.L.; FREITAS, M.A.; CARNEIRO, J.N.P.; GONÇALO, M.I.P.; DE SOUZA, A.; FREITAS, T.S.; RIBEIRO, P.R.V.; BRITO, E.S.; MORAIS-BRAGA, M.F.B.; COUTINHO, H.D.M. UPLC-MS-ESI-QTOF characterization and evaluation of the antibacterial and modulatory antibiotic activity of Ziziphus joazeiro Mart. aqueous extracts. South African Journal of Botany 123:105–112, 2019.

ANDRADE, S.S.; JONES, R.N.; GALES, A.C. - Increasing prevalence of antimicrobial resistance among Pseudomonas aeruginosaisolates in Latin American medical centres: 5 year report of the SENTRY Antimicrobial Surveillance Program (1997-2001). J Antimicrob

Chemother 52, 140-141, 2003.

ANIBAL, P.C.; TEIXEIRA, I.T.; FOGLIO, M.A.; HÖFLING, J.F. Antifungal activity of the ethanolic extracts of Punica granatum L. and evaluation of the morphological and structural modifications of its compounds upon the cells of. Braz J Microbiol. 44(3):839-48, 2013. ANVISA. Mecanismos de ação. em Agência Nacional de Vigilância Sanitária (2007).

ARAÚJO, E.R.D.; OLIVEIRA, D.C.; SOARES, T.C.; LANGASSNER, S.M.Z.; TAVARES, J.C.M.; CAVALCANTI, D.G.K.S. Avaliação do potencial antimicrobiano de extrato

hidroalcoólico e aquoso da espécie Anadenanthera colubrina frente a bactérias gram negativa e gram positiva. Biota Amazônia, v. 5, n. 3, p. 66-71, 2015.

ARAUJO-Jr, V.T.; SILVA, M.S.; CUNHA, E.V.L.; AGRA, M.D.; SILVA, R.N.;

BARBOSA, J.M.; BRAZ-FILHO, R. Alkaloids and Diterpenes From Croton moritibensis. Pharm. Biol., 42, 62-67, 2004.

ARAÚJO, M.E.M. Química analítica aplicada aos produtos naturais. Texto de apoio: Mestrado em química analítica aplicada, 2005.

ATAKAN, I.H.; KAPLAN, M.; KAYA, E.; AKTOZ, T.; INCI, O. A lifethreatening infection: Fournier's gangrene. Int Urol Nephro,34, 387-392,2002.

AZIZ, N.A.A; AHMAD, M.I.; NAIM, D. M. Molecular DNA identification of medicinal plants used by traditional healers in Malaysia. Genet Mol Res.14(4):15937–47,2015. BAKER, S. A Return to the pre-antimicrobial era? Science, v.347, p.1064-1066, 2015. BATAC, M. C. R. Denning D. Serious fungal infections in the Philippines. Eur. J. Clin.

Microbiol. Infect. Dis. 36:937–941, 2017.

BENEZ, S.M.; BOERICKE, W.; CAIRO, N. Manual de Homeopatia Veterinária:Indicações Clínicas e Patológicas– Teoria e Prática. São Paulo: Ed. Robe, 13 -15, 2002.

BERTONCHELI, C. D. M. E HORNER, R. Uma revisão sobre metalo-²-lactamases. Revista

Brasileira de Ciências Farmacêuticas, 44, pp. 577-599, 2008.

BISACCHI G.S. Origins of the quinolone class of antibacterials: An expanded “discovery story” J. Med. Chem. 58:4874–4882, 2015.

BLOW, D. M. The tortuous story of Asp.His.Ser: structural analysis of [alpha]chymotrypsin.

Trends in Biochemical Sciences. 22(10):405–408, 1997.

BOY, H. I. A., RUTILLA, A. J. H., SANTOS, K. A., TY, A. M. T., YU, A. I., MAHBOOB, T., TANGPOONG, J. NISSAPATORN, V. Recommended Medicinal Plants as Source of Natural Products: A Review. Digital Chinese Medicine. 1,131-142, 2018.

BRADFORD, M.M. A rapid and sensitive method for the quantitation of microgram quantities of protein utilizing the principle of protein–dye binding. Analytical

Biochemistry.v. 72.p. 248-254, 1976.

BRAVO, J. A.; SAUVAIN, M.; GIMENEZ, A.; MUNOZ, V. O.; CALLAPA, J.; LE MEN- OLIVIER, L.; MASSIOT, G.; LAVAND, C. Bioactive phenolic glycosides from Amburana cearensis. Phytochemistry 50: 71-74, 1999.

BRESOLIN, T.M.B.; FILHO, V.C., Ciências Farmacêuticas: Contribuição ao

desenvolvimento de novos fármacos e medicamentos. UNIVALI-SC, p. 11-18, 2003. BRITO, M.A.; CORDEIRO, B.C. Necessidade de novos antibióticos. J Bras Patol Med

Lab, v. 48, n. 4, p. 247-249, 2012.

BUSH, K. Past and present perspectives on β-lactamases. Antimicrob. Agents Chemother. 62, e01076-18, 2018.

CABELLO-HURTADO, F.; DURST, F.; JORRÍN, J. V.; WERCK-REICHHART, D.

Coumarins in Helianthus tuberosus: characterization, induced accumulation and biosynthesis.

Phytochemistry, v. 49, p. 1029-1036, 1998.

CALABRESE, E. C.; CASTELLANO, S.; SANTORIELLO, M.; SGHERRI, C.;

QUARTACCI, M.F.; CALUCCI, L.; et al., Antifungal activity of azole compounds CPA18 and CPA109 against azole-susceptible and resistant strains of Candida albicans. J.

Antimicrob. Chemother. 68, 1111–1119, 2013.

Documentos relacionados