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É preciso, sobretudo, considerar os professores como produtores de conhecimento que são, como leitores reais, e, em função desse pressuposto, ajudá-los a (re)apropriar-se do conhecimento capaz de transformar criticamente sua prática cotidiana. (KRAMER; KAPPEL; CARVALHO, 2001, p. 88).

O PRÓ-LETRAMENTO tem como princípio-base a formação voltada à prática pedagógica do profissional da educação, contribuindo para o aperfeiçoamento de professores, de modo que estes repensem o trabalho escolar e, consequentemente, planejem ações didático-pedagógicas que venham, de fato, a viabilizar a aprendizagem de seus alunos.

Outro propósito desse programa é promover o fortalecimento de grupos de estudos envolvendo professores das séries/anos iniciais do Ensino Fundamental. Neste sentido, criam-se espaços e tempos de reflexões, via estudos, sobre a prática docente a qual se consolida no processo ensino-aprendizagem na sala de aula.

Os encontros são planejados e estruturados de modo a proporcionar o repensar de conceitos específicos das áreas voltadas ao ensino de linguagem, sobretudo acerca da aprendizagem da leitura e da escrita pelos alunos das séries iniciais; conceitos esses que, muitas vezes, não foram devidamente trabalhados na formação inicial dos professores.

Assim, associados à reconstrução de conceitos básicos, os estudos e discussões propostos buscam valorizar experiências e a interação dos professores, por meio de encontros presenciais, previamente estabelecidos e planejados; com a utilização de materiais didáticos, os quais trazem textos que vêm aprofundar a formação continuada e, consequentemente, a melhoria do trabalho escolar. E ainda, além de contribuir para que professores superem dificuldades em sua prática pedagógica, espera-se que manifestem lideranças locais que possam se fortalecer como referências à formação de outros grupos de estudos.

O Curso de Formação Continuada PRÓ-LETRAMENTO é voltado a questões relativas a duas áreas do conhecimento das séries/anos iniciais do Ensino Fundamental: Matemática e Alfabetização e Linguagem. Caracteriza-se como semipresencial; prevê a formação de tutores locais em seminários presenciais nos diferentes pontos do país. Os tutores do município de Ivaiporã - PR foram capacitados pela UEPG – Universidade

Estadual de Ponta Grossa, onde receberam formação no sentido de coordenar as turmas de no máximo 50 professores participantes.

O trabalho dos tutores frente ao grupo de estudos é acompanhado pela Universidade coordenadora, por meio de relatórios, avaliações e replanejamentos. E, se houver necessidade de apoio, os tutores recorrem aos professores orientadores da universidade que presta assessoria.

Os professores cursistas recebem do MEC materiais necessários para a participação e estudo das etapas da formação, os quais são: um conjunto de sete fascículos e quatro fitas de vídeo contendo todo o conteúdo que será abordado durante formação.

O livro PRÓ-LETRAMENTO: Alfabetização e Linguagem aborda uma sequência de sete fascículos, assim dispostos:

1º fascículo: Capacidades Linguísticas: Alfabetização e Letramento – são

apresentados vários conceitos fundamentais, que subsidiam o projeto do CFCP;

2º fascículo: Alfabetização e Letramento: Questões sobre avaliação – discute-se a

questão da avaliação, por meio de estratégias de avaliação formativa e contínua;

3º fascículo: Organização do Tempo Pedagógico e o Planejamento do Ensino –

são analisadas situações de aprendizagem a partir do ponto de vista da organização do tempo escolar e do planejamento das atividades por parte dos docentes, por meio de relatos de experiências;

4º fascículo: Organização e Uso da Biblioteca Escolar e as salas de Leituras – é

discutida a importância da Biblioteca Escolar ou Sala de Leitura, sua organização e possibilidades de uso. Analisam, ainda, diferentes modalidades de leituras, a diversidade de suportes de textos e a fundamental mediação do professor ao longo do processo de letramento;

5º fascículo: O Lúdico na Sala de Aula: Projetos e Jogos – são demonstrados

alguns exemplos de jogos e brincadeiras realizados por professores;

6º fascículo: O Livro Didático em Sala de Aula: Algumas Reflexões – são

apresentadas questões relacionadas ao uso do livro didático da Alfabetização e de Língua Portuguesa em sala de aula;

7º fascículo: Modos de Falar/Modos de Escrever – são discutidos modos de falar e

de escrever, bem como a integração entre essas duas práticas e as suas relações com a aprendizagem da escrita.

Na maioria dos fascículos, as unidades textuais foram organizadas com base em análise de situações concretas do cotidiano escolar, em que as abordagens temáticas são registradas por meio de perguntas pedagógicas11 e de narrativas12 (relatos e histórias de vida de professores) e de atividades de reflexão e análise e de intervenção13.

Por meio da análise da configuração textual dos sete fascículos do programa PRÓ- LETRAMENTO na área de alfabetização e linguagem, buscou-se compreender: quais são as concepções teórico-metodológicas que norteiam a formação continuada de professores para o ensino da leitura e escrita nos anos iniciais do Ensino Fundamental e quais os sentidos atribuídos à alfabetização, letramento, leitura, escrita e avaliação de aprendizagem da alfabetização nesse programa.

Pelos referenciais teóricos apresentados nos fascículos do CFCP, não foi possível identificar qual a perspectiva teórica defendida pelos autores da proposta; compreende-se que, pelas “pistas” apresentadas, esses referenciais resultam de estudos e pesquisas desenvolvidos por especialistas que investigam e teorizam as áreas de alfabetização, letramento, língua e ensino da língua, dentre eles destacam-se: Ferreiro (1985, 1988), Teberosky e Gallart (2004), Kleiman (1989, 1993, 1995, 1999, 2005), Lajolo (1986, 1987, 2005), Lajolo et al. (2001), Soares (1991, 1998, 1999, 2001, 2003), Vigotski (1998) e outros.

Vale ressaltar que esses autores fundamentam as concepções teóricas e metodológicas apresentadas nos sete fascículos do programa PRÓ-LETRAMENTO, na área de alfabetização e linguagem. Por outro lado, esses autores defendem concepções diferentes, embora relacionais, que se inserem em três modelos teóricos que fundamentam os estudos sobre o ensino da leitura e escrita, denominados “modelos explicativos”, que são: “construtivismo”, “interacionismo” e “letramento”.

11 As perguntas pedagógicas são estratégias de problematização e norteiam os relatos de professores e as

atividades propostas. Para Nadal e Ribas (2006, p. 29), “As perguntas pedagógicas são quatro: o que faço? Por que faço? Como passei a fazer de tal modo? Como posso fazer diferente? Elas têm um caráter problematizador, visando contribuir para um olhar desnudado e objetivo do professor sobre sua prática pedagógica e sobre os fatores profissionais, estruturais, pedagógicos, políticos e sociais relacionados a essa prática. Podem ser feitas pelo professor para si mesmo, num movimento de auto-avaliação, ou pelo formador ao professor, num movimento de problematização.”.

12 Segundo Nadal e Ribas (2006, p. 30), “As narrativas partem da tendência natural que se tem para contar

histórias. São relatos escritos de fatos da prática pedagógica do professor, estratégias que permitem o avanço por diferentes patamares de tomada de consciência em direção à reconstrução da prática. Podem ser usadas num movimento de avaliação formativa da prática profissional, estimulando a reflexão sobre a ação e a percepção coerente da mesma.

13 As atividades de análise, reflexão e de intervenção são orientações teórico-práticas propostas aos

professores, em relação aos temas e conteúdos abordados nos fascículos, que visam ao desenvolvimento de estratégias metodológicas voltadas para a melhoria das práticas de leitura e escrita na escola.

Nesse sentido, os autores da proposta de formação de professores para o ensino de leitura e da escrita do programa PRÓ-LETRAMENTO não defendem as mesmas concepções teóricas, pois os grupos de autores/pesquisadores que elaborou os fascículos dessa formação continuada são vinculados a diferentes universidades e centros de pesquisas, com perspectivas teóricas diversas.

Ao longo das discussões das unidades textuais, os autores apresentam aos professores um conjunto de orientações teórico-práticas, como perspectiva para a reflexão de aspectos considerados relevantes pelos autores e, também, como propostas de atividades a serem desenvolvidas pelos professores com seus alunos dos anos iniciais do ensino fundamental. Portanto, as atividades apresentam duas características básicas: uma, de reflexão e análise, e outra, de intervenção.

A primeira está relacionada a questões teóricas e problematizadoras, que visam possibilitar reflexões sobre temas específicos abordados nos fascículos e sobre a prática pedagógica dos professores em formação, relacionando-a com suas vivências. Apresentam, também, questões para análise e pesquisa sobre temas específicos e situações que envolvem as práticas de leitura e escrita nos anos iniciais do ensino fundamental; a segunda característica das atividades propostas está relacionada a questões procedimentais que visam encaminhar os professores para o desenvolvimento de estratégias metodológicas.

Várias atividades propostas baseiam-se em situações vivenciadas pelos professores, por meio de relatos apresentados nas unidades textuais dos fascículos, e, também, buscam incentivar os professores a relatarem suas experiências de leitura e histórias de vida. Apresentam, ainda, questões de planejamento, registro e divulgação de experiências desenvolvidas com alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental, visando socializar as práticas de leitura e de produção de textos na escola e possibilitar momentos de encontro, de discussões coletivas e de avaliação entre os professores que atuam nessa modalidade de ensino.

Os fascículos apresentam grande número de atividades didáticas, propostas aos professores, num total de 120. Neles, os autores buscam estabelecer articulações entre as atividades propostas e os temas e conteúdos abordados. Há, portanto, uma maior preocupação com aspectos metodológicos, por meio de “atividades de reflexão”, “atividades de análise” e de “atividades de intervenção”.

Algumas atividades são propostas para serem desenvolvidas pelos professores e seus pares; outras, a serem desenvolvidas com os alunos em sala de aula, e os resultados apresentados durante os encontros de formação. Há uma orientação para que os professores registrem todas as atividades exercitadas durante o curso, seja nos encontros de formação ou em sala de aula com os alunos. Após essa etapa, as produções textuais são organizadas em portfólios14, que serão socializados durante os encontros presenciais entre os professores cursistas e os professores formadores.

É importante deixar registrado que as atividades propostas, com exceção de algumas, não estavam prontas para serem levadas diretamente à sala de aula, isto é, o Programa não teve a intenção de impor uma mudança, pois as atividades remetiam a reflexões sobre as práticas dos professores. O fato de as atividades não estarem prontas e acabadas para serem levadas diretamente à sala de aula, ao nosso entender, já justifica esta valorização das práticas adquiridas ao longo de sua vida profissional, isto é, o inacabamento das situações propostas pode ser complementado ou readaptado com situações que estão presentes no ambiente escolar específico da realidade de cada município.

14 Portfólio é a organização e arquivo de registros das aprendizagens dos alunos [e/ou dos professores],

selecionados por eles próprios, com intenção de fornecer uma síntese de seu percurso ou trajetória de aprendizagem.

4 FORMAÇÃO CONTINUADA E OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM DA