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6.1 Caracterização dos solos

Nas salinas degradadas, há uma sequência de conjuntos de horizontes que se repete, sendo que as duas trincheiras analisadas nos arredores de cada lagoa apresentam, verticalmente, um conjunto de horizontes arenosos e claros, seguido de um conjunto de horizontes escurecidos e, por fim, um conjunto de horizontes esverdeados, que são duros e pouco permeáveis. Desta forma, não foram encontradas diferenças morfológicas significativas entre o lado mais degradado e o lado menos degradado de cada lagoa.

Bonomo (2014) também encontrou, de uma forma geral, essa sequência de horizontes em ambos os lados de uma lagoa salina (mais e menos degradado). Primeiramente um conjunto de horizontes arenosos, seguido por um conjunto de horizontes escurecidos e, por fim, um horizonte esverdeado. Já Bacani (2007), encontrou diferenças morfológicas entre os lados mais e menos degradados. No lado onde havia uma cordilheira densa o horizonte superficial é arenoso, seguido por um horizonte amarelado devido à presença de concreções de ferro. Depois há o que ele denomina de camada orgânica (horizonte escurecido) e, por fim, a camada verde (horizonte esverdeado e pouco permeável). O lado mais desmatado apresenta a morfologia mais semelhante à encontrada no presente trabalho, ocorrendo um horizonte arenoso, seguido pela camada orgânica e camada verde.

A coloração do horizonte escurecido encontrada por Bacani (2007) foi 10YR 4/3, enquanto Bonomo (2014) encontrou uma variação de 10YR e 2,5YR, com cromas e valores de 6/3, 5/3, 4/1 e 3/1. A textura é predominantemente arenosa em ambos os estudos, porém Bonomo (2014) encontrou uma diferença textural entre os horizontes

escurecidos mais e menos profundos, sendo que os mais profundos apresentam um pouco mais de argila.

As características granulométricas e químicas, no geral, também são semelhantes em todas as trincheiras estudadas, considerando-se tanto o lado mais degradado quanto o menos degradado. Há domínio da fração areia fina, o pH é alcalino (>8.0), a CTC é alta e dominada por Na+ trocável, com PST majoritariamente superior a 49%, e os demais cátions básicos (Ca2+, Mg2+, K+, Al3+ e H+) apresentam-se em quantidades muito

baixas.

Cabe destacar que, apesar de certa homogeneidade das características químicas nos solos das lagoas estudadas, algumas exceções podem ser notadas. As bases trocáveis (K+, Ca2+ e Mg2+), apesar de apresentarem valores baixos em todas as trincheiras, estão comumente em menores quantidades nos lados mais degradados (TR1) de cada lagoa. Além disso, na lagoa Salina do Bico há diferenças significativas entre o lado mais e menos degradado. Nesse caso, o lado mais degradado (TR1) tende a apresentar valores de pH abaixo de 10, Na+ trocável entre 2,34 e 31,00 mmolc kg-1 e

valores de CTC, principalmente, entre 26,81 e 54,91 mmolc kg-1, consideravelmente

inferiores ao lado mais preservado (TR2) desta lagoa, que apresentou valores de pH superiores a 10, Na+ trocável entre 35,65 e 278,65 mmolc kg-1 e CTC entre 56,71 e

379,59 mmolc kg-1.

Apesar destas diferenças, os dados dos trabalhos anteriores (Bacani, 2007; Bonomo, 2014), juntamente com os dados resultados obtidos no presente trabalho, mostram que os solos dos arredores das lagoas salinas parcialmente desmatadas apresentam um padrão geral, tanto considerando suas propriedades morfológicas quanto granulométricas e químicas. Assim, confirma-se que há uma diferença significativa entre os solos das lagoas degradadas e os solos das lagoas salinas preservadas.

Na salina preservada estudada por Furquim (2007), encontrou-se um valor de pH da água 9,64, enquanto os valores encontrados nas três lagoas analisadas neste estudo foram superiores, com 9,81 na Santo Ignácio, 10,05 na Pedra do Sol e 10,02 na Salina do Bico. Já para a condutividade elétrica, Furquim (2007) aponta um valor de 12,74 dS m-1, enquanto apenas a Pedra do Sol apresentou valor superior (>20 dS m-1), já as demais lagoas, Santo Ignácio e Salina do Bico, apresentaram 3,9 dS m-1 e 7,4 dS m-1,

respectivamente. Desta forma, apesar do pH ainda estar altamente alcalino nas lagoas degradadas na época dos levantamentos, a condutividade elétrica foi muito inferior em

duas das lagoas estudadas. Isso indica uma alteração das condições geoquímicas em relação às lagoas salinas preservadas, com uma provável influência na gênese dos solos do entorno das lagoas degradadas.

Em relação à morfologia, no entorno da salina preservada (limite praia- gramínea) há inicialmente um horizonte superficial ligeiramente escurecido, arenoso e sem estrutura (grãos soltos), seguido por um horizonte claro, também arenoso e de grãos soltos, com manchas lineares escurecidas (aparentemente de migração de MO). Abaixo, há um horizonte acinzentado, arenoso com um pouco mais de argila e maciço; e, por fim, um horizonte esverdeado, franco arenoso, maciço e pouco permeável (Furquim, 2007). Assim, a principal diferença em relação aos solos das lagoas degradadas é realmente o aparecimento do horizonte escurecido acima do horizonte esverdeado.

Em termos químicos, o solo apresentou pH consideravelmente mais alcalino na salina preservada, estando seus valores acima de 10, enquanto o pH nos solos das salinas degradadas apresentou valores, em sua maioria, menores do que 10. Além disso, o Na+ está presente em quantidades consideravelmente mais expressivas na salina preservada, com valores entre 320 e 1900 mmolC.kg-1, lembrando que nas salinas

degradadas o valor máximo encontrado foi de 278,65 mmolC.kg-1. A CTC também

apresentou-se muito mais elevada na salina preservada, com valores entre 342,20 e 2066,80 mmolc kg-1, do que na degradada, com 24,22 a 379,59 mmolc kg-1.

A diminuição do pH, do Na+ trocável e da CTC nos solos das lagoas degradadas em relação às preservadas, assim como o fato de as bases estarem geralmente em menores quantidades nos solos no lado menos preservado das lagoas degradadas, indicam, como um todo, um maior carreamento dos íons trocáveis pelos fluxos de água nestas zonas. Isso porque a área sem vegetação densa, por ser muito arenosa, fica mais suscetível a sofrer erosão e, portanto, à entrada dos fluxos de água superficial na época de inundação (Bacani, 2007; Meurer et al., 2010). Além disso, sem vegetação o nível d’água pode aflorar com mais facilidade e atingir os horizontes mais superficiais, descaracterizando-os (Coelho Netto, 1995). Com essa redução na quantidade de bases trocáveis, o solo acaba ficando empobrecido em nutrientes para as plantas.

Quanto à TR1 da Salina do Bico, suas características indicam um maior estágio de degradação, uma vez que suas características estão mais distantes daquelas encontradas nas salinas preservadas. Provavelmente, como pode ser observado na Figura 4.1-2, o fluxo de água superficial parece ocorrer no sentido da TR2 para a TR1,

ou seja, a água flui em direção à região onde não há (ou há pouca) vegetação. Também é possível notar que há várias zonas largas de acúmulo de água (depressões) no lado mais degradado, o que indica que as vazantes estão tomando maiores proporções, permitindo maior carreamento das bases trocáveis com o fluxo de água.

6.2 Horizontes escurecidos, teores de C orgânico e composição da MO

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