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CAPITULO 2 DESVELANDO OS SUJEITOS DA PESQUISA

2.1 Caracterização do trabalho de campo

A construção da metodologia desta pesquisa busca privilegiar alguns pressupostos que tenho presente e que possibilitam aproximá-lo da abordagem Qualitativa. A pesquisa qualitativa, segundo Ludke e André (1986, p. 13), “(...) envolve obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes”.

Neves (1996) aponta para a “pesquisa qualitativa” como sendo a expressão que assume diferentes significados no campo das ciências sociais. Compreende um conjunto de técnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados, que tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social; tratar de reduzir a distância entre indicador e indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação.

Essas leituras de pesquisa qualitativa sugerem, no investigar das contribuições de uma política pública de inclusão de jovens, uma opção metodológica que esteja apoiada em pressupostos que privilegiem a seleção dos participantes, de acordo com critérios e em conformidade com o problema de estudo - com características em comum que os qualificam para discussão da questão com o foco no trabalho interativo e da coleta do material discursivo/expressivo. Os participantes devem ter alguma vivência com o tema a ser discutido, de tal modo que sua participação possa trazer elementos ancorados em suas experiências cotidianas.

Nesse sentido, optamos por instrumentos metodológicos que estabelecessem percursos na direção em favorecer a interação com os sujeitos deste estudo, entendendo que a estratégia de “Grupo focal” e “Entrevista reflexiva” possibilitaram o caráter de interação social. Segundo Gatti (2005, p. 7), um grupo focal é definido como

Um conjunto de pessoas selecionadas e reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema, que é objeto de pesquisa, a partir de sua experiência pessoal. Para tanto, segundo esta autora, o

“focalizar” envolve algum tipo de atividade coletiva – como assistir a um filme e conversar sobre ele, examinar um texto sobre algum assunto, ou debater um conjunto particular de questões.

Nesse cenário, lembra a autora, a utilização de grupo focal como instrumento de pesquisa tem de estar integrada ao corpo geral da pesquisa e aos seus objetivos, com atenção às teorizações já existentes e às pretendidas. Ele é um bom instrumento de levantamento de dados para investigação em ciências sociais e humanas, mas a escolha de seu uso tem de ser criteriosa e coerente com os propósitos da pesquisa.

Segundo Morgan e Kruenger (apud GATTI, 2005, p. 09), a pesquisa com grupos focais tem por objetivo captar, a partir das trocas realizadas no grupo, conceitos, sentimentos, atitudes, crenças, experiências e reações, o que não seria possível com outros métodos, como, por exemplo, a observação, a entrevista ou questionários. O grupo focal permite fazer emergir uma multiplicidade de pontos de vistas e processos emocionais, pelo próprio contexto de interação criado, permitindo a captação de significados que, com outros meios, poderiam ser difíceis de manifestar.

Uma questão fundamental é o papel do pesquisador na condução do grupo focal: ser sempre vigilante no respeito ao princípio da não diretividade, ter clareza de permitir que o grupo desenvolva o diálogo sem ingerências indevidas da parte dele, como intervenções afirmativas ou negativas, emissão de opiniões particulares, conclusões ou outras formas de intervenção direta. Segundo Gatti (2005, p. 9),

O que o pesquisador não deve é se posicionar, fechar a questão, fazer síntese, propor idéias, inquirir diretamente. Lembrando que não está fazendo entrevista com o grupo, mas criando condições para que este situe, explicite pontos de vista, analise, infira, faça critica, abra perspectivas diante da problemática para o qual foi convidado a conversar coletivamente.

Conforme os autores abordados, os grupos focais são particularmente úteis nos estudos em que há diferenças de poder entre os participantes e decisórios ou especialistas, em que há interesse pelo uso cotidiano da linguagem e da cultura de um grupo particular, e quando se quer explorar o grau de consenso sobre certo tópico. Poderíamos acrescentar, conforme Gatti (2005), quando se querem compreender diferenças e divergências, contraposições e contradições.

Do ponto de vista da importância da técnica, esta autora destaca:

Os grupos focais permitem compreender processos de construção da realidade por determinados grupos sociais, compreender práticas cotidianas, ações e reações e fatos e eventos, comportamentos e atitudes, constituindo-se uma técnica importante para o conhecimento das representações, percepções, crenças, hábitos, valores, restrições, preconceitos, linguagens e simbologias prevalecentes no trato de uma dada questão por pessoas que partilham alguns traços em comum, relevantes para o estudo do problema visado (GATTI, 2005, p. 11).

No nosso estudo, optamos por mais um instrumento metodológico, que deu subsídios à nossa coleta de dados, a “Entrevista reflexiva”. Para Szymanski (2004), esse instrumento tem sido empregado em pesquisa qualitativa como uma solução para os estudos de significados subjetivos e de tópicos complexos demais para serem investigados por instrumentos fechados num formato padronizado.

Para Lakatos (apud SZYMANSKI, 2004, p. 10), convencionalmente a entrevista tem sido considerada como “encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante conversão de natureza profissional”. Por outro lado, o entrevistado, ao aceitar o convite de participar da pesquisa, está aceitando os interesses de quem está fazendo a pesquisa, ao mesmo tempo em que descobre ser o dono de um conhecimento importante para o outro.

Para Szymanski (2004), uma forma de refletir sobre a questão da desigualdade de poder na situação de entrevista é aceitar o pressuposto de que todo saber vale saber (FREIRE, 1992), e a proposta de, pelo diálogo, buscar condições de horizontalidade ou igualdade no poder da relação.

Exatamente para Szymanski (Idem, p. 14), “o processo de produção de significados é tão importante para pesquisa social quanto o significado que está sendo produzido”.

Por isso, na compreensão da autora há algo que o entrevistador está querendo conhecer, utilizando de um tipo de interação com quem é entrevistado, possuidor de um conhecimento, mas que irá dispô-lo de uma forma única, naquele momento, para aquele interlocutor. Muitas vezes, esse conhecimento nunca foi exposto numa narrativa, nunca foi tematizado. O movimento reflexivo que a narração

exige acaba por colocar o entrevistado diante do pensamento organizado de uma forma inédita até para ele mesmo.