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4 DESCREVENDO E ANALISANDO OS DADOS ENCONTRADOS

4.1 Caracterizando as organizações pesquisadas

4.1.1 Organização com Características de Autogestão

A Organização com Características de Autogestão tem sua origem relacionada às Comunidades Eclesiais de Base66, pois os cincos jovens responsáveis pela fundação do empreendimento, faziam parte desses grupos da igreja católica. Esses jovens acreditavam que era necessário buscar alternativas mais concretas que pudessem realmente contribuir para a transformação da sociedade. Sua atuação política acabou tendo como conseqüência a perda de seus empregos.

Sendo assim, a necessidade de sobrevivência e garantia de renda serviram como impulso para que esses cinco jovens (uma mulher e quatro homens – um casal e três solteiros), dois com o terceiro grau concluído e os outros três cursando a faculdade, iniciassem um pequeno empreendimento de produção de telas para quadros de pintura a óleo. Pedrini (1998), que também promoveu um estudo nessa organização, destaca que o grupo inicialmente se propunha a trabalhar em conjunto “sem exploração, sobreviver com dignidade, poder militar com liberdade sem ter a insegurança do desemprego, vivenciar novas

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Num contexto de grandes debates acerca da realidade social que caracterizava o Brasil nos anos 80, surge na igreja católica uma corrente relacionada à teologia da Libertação – movimento surgido na América Latina nos anos 60 com a proposta de questionar a injustiça e a exclusão social que caracterizava os países desse continente. Na década de 80, essa corrente agregava muitos jovens (as Comunidades Eclesiais de Base), que se reuniam para estudar teologia e promover ações com o objetivo de contribuir para a transformação da sociedade. Esses pequenos grupos organizados em torno da paróquia (urbana) ou da capela (rural), por iniciativas de leigos, padres ou bispos contribuíram efetivamente na criação de canais de politização das relações sociais, favorecendo uma formação política e articulação de forças mediante o debate crítico sobre as condições sociais. Para Betto (1981, p. 23), é “a partir da reflexão sobre os problemas do bairro, da família e do trabalho que as CEBs ajudaram a criar e recriar os movimentos populares autônomos”.

relações humanas e trabalhistas para, desta forma, ter elementos concretos de contribuição à sociedade” (p. 117).

Desde o início, a propriedade dos meios de produção foi coletiva. No processo de fundação, em 1986, cada um dos cinco sócios, contribuiu com os bens que possuía, independentemente do valor monetário. Isso não influenciou nas cotas a que cada um tinha direito, todos tiveram um percentual igual a 20% (PEDRINI, 1998).

Após alguns meses do início das atividades da empresa de telas, entrou em vigência, em 1986, o Plano Cruzado, contribuindo para que o empreendimento entrasse numa grave crise financeira. Dessa forma, o grupo resolveu buscar alternativas e uma delas foi a oportunidade de adquirir maquinário para a fabricação de cordas e cadarços a um preço acessível, pois pertenciam ao pai de um dos integrantes67. Sendo assim, durante um tempo o grupo produzia não só telas, mas cordas também (produção que alimentava a indústria têxtil da região).

As máquinas de fabricação de cordas foram instaladas num galpão, construído no terreno do casal, onde ainda hoje se localiza a sede do empreendimento. Segundo Pedrini (1998), o galpão foi construído em mutirões organizados pelos jovens da Pastoral da Juventude, que acompanhavam o processo de organização de seus cinco colegas, e que também auxiliaram na produção das cordas.

A partir de 1988, os associados optaram por dedicarem-se somente à produção de cordas e cordões, pois perceberam que a produção de telas não era viável em função das dificuldades de produção e inserção no mercado.

Com o tempo, os associados foram ganhando experiência, conquistando uma posição no mercado, era um sinal de que o empreendimento estava prosperando. Em 1992, novos sócios foram convidados a ingressar no empreendimento e foi feito o registro da organização

como empresa de sociedade limitada, da qual todos os trabalhadores são sócios. Dorneles (2003)68 destaca que deforma alguma os sócios viam-se como simples empresários. Para eles, a organização era uma EAPS - Empresa Alternativa de Produção Socializada, a qual encerrava seus ideais e os impulsionava a uma atuação mais ampla nos movimentos sociais dos quais faziam parte.

A Organização com Características de Autogestão é uma pequena empresa localizada na cidade de Brusque, o maior pólo têxtil do estado de Santa Catarina. Especializada na produção de cordas, cordões, cadarços, fitas e elásticos, conta atualmente com 16 sócios trabalhando efetivamente e um contratado via CLT. Os 17 integrantes estão divididos numa estrutura organizacional que compreende os seguintes setores: produção (11), expedição (4), comercial (1) e financeiro (1).

Seu órgão máximo de decisões é a assembléia geral (realizada uma vez por mês), seguido do conselho administrativo, composto por três sócios, eleitos a cada dois anos. Os direitos e deveres dos sócios e os objetivos do empreendimento estão descritos em um estatuto, que rege as atividades organização.

Além da sede, que ocupa um espaço de 420m2, o patrimônio da organização é composto de 85 trançadeiras, duas ponteadeiras, quatro espuladeiras, uma embaladeira, dois teares e quatro medidoras, dois veículos (uma kombi e uma caminhoneta saveiro). A organização também aluga um galpão na entrada da cidade, onde estão instalados os teares.

4.1.2 Organização Heterogerida

A história da Organização Heterogerida tem início em 1977, ano em que dois empresários (Sr. S e Sr. L) fundaram em Mafra, uma empresa fabricante de barbantes, que

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A condição para a venda das máquinas era de que não pertencessem ao coletivo, mas que as maquinas ficassem em nome do seu filho e de sua esposa. O grupo aceitou, mas internamente a idéia era de que as máquinas pertenciam a todos (DORNELLES, 2003, p.62) .

iremos chamar de empresa Alfa. A empresa expande suas atividades e um ano após sua fundação abre uma loja de armarinhos também na cidade de Mafra. Entre os anos de 1980 e 1982, período em que a Alfa vive uma nova fase de expansão, dois imóveis industriais foram adquiridos - um galpão vazio em Rio Negro (PR) e uma antiga tecelagem às margens da Rodovia BR 116, em Mafra (atual sede da empresa).

Posteriormente, a Alfa compra o maquinário de uma tecelagem que fabricava fitas rígidas na cidade de São Bento do Sul (SC). Esse maquinário era composto por: teares de madeira, uma rocadeira, uma meadeira e máquinas de tinturaria. As maquinas de tinturaria foram instaladas no galpão de Mafra, e o restante do maquinário no galpão em Rio Negro.

Em 1984 ocorre a divisão da sociedade da empresa Alfa entre os dois empresários. Ambas as partes acordaram que a loja de armarinhos e seu estoque, o galpão de Mafra (com a tinturaria) e o maquinário instalado em Rio Negro ficariam sob a administração do Sr. S. Por outro lado, a Alfa e o galpão de Rio Negro (sem maquinário) ficariam com Sr. L, contudo o galpão de Rio Negro seria utilizado pelo Sr. S por dois anos.

No mesmo ano, Sr. S funda o que iremos chamar de empresa Beta, fabricante cadarços e com sede na cidade de Rio Negro. Para dar início às atividades da Beta, foi adquirido um tear automatizado, com tecnologia muito superior aos antigos teares de madeira utilizados pela empresa.

As atividades da empresa Beta não obtiveram o êxito esperado e em 1986 ela fecha as portas, devolvendo o galpão de Rio Negro à Alfa. Dessa forma, todo o maquinário da antiga Beta é instalado no galpão de Mafra, e assim é fundada, em 16 de junho de 1986, a Organização Heterogerida.

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Dorneles (2003), realizou um estudo nesta mesma organização intitulado “Autogestão e Racionalidade Substantiva”.

Em 1987 são adquiridas cerca de 40 trançadeiras para a confecção de fitas rígidas e cordões e a partir de 1988 passa a ocorrer a aquisição periódica de teares automatizados, desativando em 1990, os antigos teares de madeira.

Especializada na produção de cordões, cadarços e aviamentos, a organização conta atualmente com 19 pessoas, divididos numa estrutura organizacional que compreende os seguintes setores: produção (13), expedição (1) e administrativo (5).

A estrutura organizacional da empresa é a seguinte:

Direção

Gerência

Administração Produção

Escritório Expedição Tinturaria Preparação

Tecelagem Empeçamento

Além da sede, o patrimônio da organização é composto de 11 teares automáticos, 01 rocadeira, 01 urdideira (onde os fios são esticados e preparados), 01 retorcedeira, 02 trançadeiras de agulha, 01 armário de tingimento, 01 engomadeira, 01 centrífuga, 01 calandra, 01 tear de crochê, 01 meadeira, 01 metradeira, 04 trançadeiras (cordão redondo), 18 trançadeiras (cordão chato), 02 estufas de secagem, 01 preparadora de goma, 01 caldeira e 01 carreteleira.