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A Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul teve um percurso histórico singular, de defesa de território, o que culminou numa denominação diferenciada do resto das polícias militares brasileiras em que Brigada significa uma Divisão do Exército. Sua singularidade também se manifesta na sua identidade e imagem junto a seus públicos e nas características estaduais.

O estudo foi desenvolvido junto a um grupo de 22 alunos sargentos do Curso Básico de Administração Policial Militar, de formação de nível intermediário da Polícia Militar do Rio Grande do Sul escolhidos de forma aleatória, dentre o total de alunos do curso, em número de 147, compreendendo profissionais de todas as regiões do estado.

Estes alunos – sargentos -, concluindo o curso estarão habilitados a ser promovidos a 1o Tenente, posto de nível intermediário na hierarquia policial militar,

considerado elo de ligação entre os oficiais, gestores da instituição e a tropa diretamente envolvida com a população.

Assim, para poderem realizar este curso, os sargentos passaram por um processo seletivo do qual constaram provas escritas, exames de saúde, testes físicos e exame profissiográfico, este com o objetivo de verificar se o candidato possuía ou não perfil para exercer o posto de Tenente.

O número total de sargentos no Estado é de aproximadamente 10500. A opção pelo critério de inclusão/exclusão tempo de serviço igual ou superior a 20 anos deveu-se ao fato destes profissionais terem atualmente a possibilidade de aposentarem-se aos trinta anos de trabalho. Assim, o limite em vinte anos significa um mínimo de dois terços de tempo na ativa e a possibilidade dos respondentes terem no mínimo trinta e cinco anos.

A decisão sobre a amostra - 22 participantes - manteve-se nos limites considerados na literatura consultada para a realização de atividades de coleta de

dados em nível coletivo, pela saturação dos dados (critério de confiabilidade e relevância), o que encontra suporte em Flick48 e Bauer e Gaskel47..

Flick denomina de “amostragens teóricas” as que podem ser tomadas quando se pretende comparar sem ter como base uma amostragem estatística. Os participantes foram selecionados de acordo com o que era esperado de dados emergentes para o conhecimento que estava sendo construído48 e foi a construção do corpus (indicador de confiabilidade e relevância) o critério que permitiu uma coleta sistemática de dados, o que exigiu transparência nos procedimentos e nos critérios utilizados47.

O tamanho da amostra permitiu atender à tendência de saturação, pois a generalização pretendida foi a analítica (análise teórica), o que significa que os resultados encontrados foram referentes aos componentes do corpus e poderão ser transpostos para novos contextos sob a forma de hipóteses,47 desde que seja realizada análise criteriosa do novo contexto de aplicação.

Aos policiais foi entregue um roteiro para depoimento por escrito, cuja primeira parte constava de questões fechadas, com o objetivo de caracterização. Na segunda parte constavam 11 questões abertas sobre envelhecimento e formação profissional, que foram analisadas numa abordagem fenomenológica. As questões e as respostas dadas constam dos anexos deste estudo.

Uma destas perguntas solicitava que citassem objetos ou descrevessem imagens que associavam ao envelhecimento e, sobre as respostas dadas a esta pergunta, foi realizada análise semiológica, utilizando-se a análise proposta por Penn49.

O valor cognitivo das metáforas foi utilizado, pois através destas os entrevistados revelaram seu imaginário.

A metáfora freqüentemente fornece precisões que a língua puramente objetiva ou denotativa não pode fornecer. Ao estabelecer uma comunicação analógica entre realidades diversas, a metáfora dá intensidade afetiva à inteligibilidade que apresenta.50 Assim sendo, quando os participantes citaram bom vinho, bom livro, bengala e ferrugem, por exemplo, possibilitaram uma melhor compreensão da qualidade atribuída ao envelhecimento.

Identificar concepções de envelhecimento e identificar sob que imaginário se foram construindo, é condição para qualquer intervenção que vise à reconstrução de concepções de envelhecimento que possibilite olhar a velhice (etapa do

processo) a partir de uma visão sistêmica, de sua “arquitetura complexa”, que é construída sobre pilares não só biológicos como, também, sociológicos, psicológicos, culturais e educacionais.

Os profissionais policiais militares caracterizam-se por:

a) idade entre 36 e 51 anos, sendo que, destes, 2 entre 30 e 39 anos, 19 entre 40 e 49 anos e 1 entre 50 e 59 anos (tabela 1 – Anexo 2).

b) estado civil: 11 casados, 4 solteiros, 2 divorciados, 2 separados (tabela 2- Anexo 2).

c) escolaridade: 6 com curso superior incompleto e 9 completo, 4 com curso de especialização, 8 com Ensino Médio completo (tabela 3- Anexo 2).

d) formação: 12 fizeram curso téçnico-operacional, 5 de cultura geral, 2 pedagógica, 2 recursos informatizados (tabela 4- Anexo 2).

e) tempo de exercício na função: entre 16 e 30 anos (tabela 5- Anexo 2). f) tempo em exercício de policiamento ostensivo: 3 participaram por 3 anos, 2 por 5 anos, 1 por 6 anos, 3 por oito anos, 1 por 10 anos, 1 por 14 anos, 1 por 15 anos, 1 por 17 anos, 1 por 18 anos, 1 por 19 anos, 2 por 20 anos, 3 por 21 anos, 1 por 22 anos e 1 por 23 anos (tabela 6- Anexo 2).

g) Doenças crônicas: 18 afirmaram não ser portador de doença crônica, 2 referiram-se a problemas na coluna vertebral e 1 a diabetes (tabela 7- Anexo 2);

h) Uso de medicação: 17 aasseveraram não utilizar medicação e dos 4 que declararam que sim 1utiliza medicamento para problema de pressão arterial, 2 utilizam analgésicos e 1 não informou) (tabela 8- Anexo 2).

i) Internação para tratamento emocional: 1 informou já ter sido internado; 19 afirmaram não ter se submetido a psicoterapia, 2 declararam que sim e 1 que está em acompanhamento psicológico (tabelas 9 e 10 - Anexo 2).

Considerando-se que situações do cotidiano policial têm potencial para gerar estresse o que pode levar à ansiedade e depressão, julgou-se importante a aplicação do Inventário de Depressão de Beck51 para verificar se os participantes encontravam-se com traços de depressão, pela potencial de influência nos resultados.

O Inventário de Depressão foi desenvolvido por Aaron T. Beck e colegas, para medir manifestações comportamentais da depressão. A opção pela inclusão deste teste foi pelo fato de referências bibliográficas aludirem à relação deste fator com a ansiedade e à aprendizagem de novos domínios como possibilidade de gerar

ansiedade ante a novidade52 (os policias militares que participaram da pesquisa

encontravam-se em fase final de curso de formação de nível intermediário).

O inventário compreende categorias de sintomas e atitudes, com afirmações com um grau crescente de severidade da depressão. O escore total é composto da soma dos escores de 0 a 3 para cada item. O indivíduo testado deve marcar a alternativa que mais se aproxima do seu estado de humor. A auto-administração do teste é feita em, aproximadamente, 15 minutos.

Três dos 22 entrevistados obtiveram escore zero, quatro obtiveram escore 1,um obteve escore 2, dois obtiveram escore 5, dois obtiveram escore 6, cinco obtiveram escore 7, dois obtiveram escore 8, um obteve escore 12 e um obteve escore 20. (Tabela 11 - Anexo 2)

De acordo com Beck et al.51, escores entre 0 e 4 estão abaixo do normal e podem significar negação da depressão; escores entre 5 e 12 são considerados como não significativos; escores entre 13 e 20, moderados e entre 26 e 36, denotam quadros severos.

De acordo com esta tabela, dentre os policiais entrevistados, 8 apresentaram índice considerado indicativo de possível negação da depressão; 12 estão na faixa de escores considerados não significativos e um encontra-se na faixa considerada depressão moderada.

Tratando-se de policiais militares, cuja missão é zelar pelo bem da comunidade em situações de risco relacionado à segurança e que exigem repressão e/ou prevenção, os cursos de formação e aperfeiçoamento têm como conteúdo transversal a atitude de enfrentamento e a leitura e gestão situacional em alto risco. Assim sendo, os profissionais são treinados para controlar o medo e a ansiedade, que podem contribuir para a depressão e o estresse52.

Os fenômenos que compõem o mundo humano atendem à prerrogativa da complexidade. Impossível pensá-los sem pensar sobre suas relações de interdependências:8 é conveniente discutir resultados de uma pesquisa sobre envelhecimento realizada junto a policiais militares, considerando bibliografia de áreas pertinentes,o que encaminhou para a necessidade de busca de sintomatologia da depressão e uso decorrente de medicamentos como também, do estresse e da ansiedade. Estes dois últimos não fizeram parte do presente estudo e podem impulsionar a continuidade e o aprofundamento da pesquisa em relação ao cruzamento de dados, podendo ajudar a esclarecer relações de interdependência e

a romper com posicionamentos científicos simplificadores e reducionistas da realidade humana.

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