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A euforia que caracterizou a evolução do mercado foi quebrada pela crise fi nanceira, que iniciada pelos Estados Unidos, espalhou-se rapidamente por todo mundo

Principais características de cada fase

Fase 10. A euforia que caracterizou a evolução do mercado foi quebrada pela crise fi nanceira, que iniciada pelos Estados Unidos, espalhou-se rapidamente por todo mundo

e, como não podia deixar de ser, afetou o Brasil e o nosso mercado. A crise de liquidez e de confiança que se alastrou mundo afora, obrigou a venda maciça de ações por parte de fundos estrangeiros. É a história de sempre: o gestor de um fundo busca liquidez onde ela existe. Assim é que nosso mercado foi muito afetado pela venda dos investidores es- trangeiros que tinham sido os grandes compradores nos anos anteriores pela dimensão do nosso mercado. Lembro que os investidores brasileiros não foram vendedores líqui- dos em 2008, e aguentaram a barra quando os estrangeiros pularam fora.

Entramos em 2009 ainda sob o impacto dos traumas do ano anterior, e o que aconte- ceu durante o ano surpreendeu.

As empresas de capital aberto eram 443 em outubro de 2008, 62 a mais que em 2005. O ápice que ocorreu em 2007.

O ano de 2009, nossa Bolsa teve o melhor desempenho entre diferentes mercados e particularmente entre os BRIC’s.

A valorização ofereceu condições para a retomada dos lançamentos dos IPO’s que também causou surpresa positiva, pois não se imaginava que o mercado pudesse dar essas condições para novos lançamentos. A Bolsa atingindo e superando os 72.000 pontos também foi surpresa.

As mesmas condições que justificaram o crescimento do mercado nos anos anterio- res, explicaram o comportamento da Bolsa.

A liquidez tendo voltado, ofereceu condições favoráveis para aplicação de capitais de risco. Anotamos também a volta de investidores de private equity!

Anos 2015 e 2016

Olhando retrospectivamente, nesse exercício cronológico, fico me perguntando as razões que não permitiram seu crescimento de forma contínua para que o mercado desempenhasse instrumento dinâmico que consideramos ser fundamental para o País? Tivemos espasmos de crescimento, mas não uma continuidade que o tornasse um instrumento que fosse usado permanentemente pelas empresas.

Infelizmente, anos recentes tem sido marcado por dificuldades para o nosso país e que obviamente tiveram reflexo no mercado. Ao invés de constatarmos progressos marcantes no seu acesso pelas empresas, estamos em regressão.

Fatos e números apresentados a seguir, levantados pelo Centro de Estudos do Insti- tuto IBMEC (CEMEC), confirmam essa situação. Verificamos praticamente uma pa- ralização de novos lançamentos (IPOs) e o que assistimos foi um número expressivo de companhias abertas fechando seu capital. É perfeitamente explicável pela relação custo/benefício, como também pelo fato que muitas empresas estão entendendo que os preços que suas ações vêm sendo negociadas no pregão são incompatíveis com o que entendem ser seu valor real. Assim, sua liquidez é utilizada parcialmente na compra de suas próprias ações.

Eis alguns números e fatos:

1 - Do total de 64% da poupança financeira, somente 11,9% aplicada em títulos de

dívida corporativa.

2 - Retorno acumulado de julho de 1994 a abril de 2016 (R$ 1.000,00 investidos)

a. BOVESPA – 14.275 b. CDI – 42.006

Isso aponta claramente a desvantagem competitiva do mercado de renda variável 3 - Brasileiros investem pouco em renda variável, conforme se constata:

a. Japão – 31% b. Hong Kong – 29% c. Inglaterra – 15% d. EUA – 13% e. França – 11% f. China – 5% g. Índia – 0,70% h. Brasil – 0,30%

4 - Carteira de Investimentos dos Fundos Mútuos (+/- R$ 3 trilhões)

Região Renda Variável Renda Fixa

BRASIL 11% 89%

MUNDO 40% 60%

5 - Mercado de capitais brasileiro: participação no financiamento das empresas é

limitada.

a) 70% das empresas abertas podem ser consideradas grandes (faturamento bruto acima de R$400 milhões);

b) De todas as empresas classificadas como grandes na economia, somente 7,4% são abertas e 9,0% emitiram debentures e notas promissórias (2009/2015);

c) Mercado de capitais no financiamento do investimento privado é de 9,6% (2015) e no BNDES 11,2%(2015);

d) Participação dos títulos de dívida corporativa no financiamento das empresas cresce até 14% (2011) e cai para 11,5% (2015), e no BNDES aumenta 17,8% (2015).

6 - Após o ciclo positivo de IPOs de 2006/2007, caiu número de empresas listadas na

Bovespa.

2000 449

2015 359

7 - Capitalização do Mercado Bovespa (em % do PIB)

Crescimento 2000/2008 Chegou a 93,6% Crescimento 2009/20015 Caiu para 32,2%

8 - Pessoas Físicas – Participação nas negociações (Bovespa)

Dez/2007 22,5%

Nov/2009 Ponto Máximo 32,5%

Dez/2015 Caiu para 17,5%

A crise de confiança, o retrocesso no crescimento, a incerteza política e, principal- mente, uma taxa de juros que, como dissemos, é um desincentivo à aplicação de ca- pital a longo prazo, explicam o quadro.

O retorno do fator confiança é fundamental e, consequentemente, dá maior previ- sibilidade para os agentes econômicos. Os mercados antecipam o futuro e passam a acreditar que teremos mudanças, agirão de acordo e anteciparão efetivamente o que possa vir pela frente.

Que benefícios e reformas os agentes econômicos gostariam de ver discutidos e im- plementados?

1 - Lançar as bases para o crescimento da Economia 2 - Contas públicas mais transparentes e confiáveis 3 - Recuperação da credibilidade fiscal

5 - Reafirmação da autonomia do BACEN

6 - Micro reformas para retirar entraves aos negócios e abertura de empresas e maior liberdade para acordos trabalhistas entre patrões e empregados.

7 - Reforma Tributária 8 - Reforma da previdência

9 - Maior integração ao mundo globalizado 10 - Aprimorar políticas sociais

Portanto, são questões básicas e a maneira como forem encaminhadas no futuro serão determinantes para a volta da confiança.

Quanto ao mercado de capitais, repetimos, a variável fundamental será o compor- tamento da inflação. As medidas que forem tomadas para coloca-las nos trilhos e baixar dos 7% atuais projetados para o centro da meta, serão de grande relevância para o mercado de capitais, pois implicarão na queda da taxa de juros.

Mas será que essas medidas estruturantes darão uma maior base para que o mercado de capitais de longo prazo possa ser um poderoso instrumento para o desenvolvi- mento econômico?

Seria muito bom se o fosse, mas estou convencido que reformas culturais e educacio- nais terão que ser programadas para que possamos realmente ver o papel do mercado com outros olhos, não como uma janela de oportunidades, mas como algo que as empresas e investidores se acostumarão a utilizar.