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Caraterísticas Pessoais do Agressor, da Vítima e dos Espetadores

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2. Revisão da Literatura

2.6. Causas que Intervêm no Mobbing

2.6.3 Caraterísticas Pessoais do Agressor, da Vítima e dos Espetadores

As caraterísticas pessoais do agressor, da vítima e dos espetadores podem predispor ao

mobbing. Segundo Akar et al. (2011) os agressores podem ter transtorno de personalidade

(agressividade, hostilidade, egoísmo, covardia, etc.). O agressor tem uma personalidade psicopata e controladora, com alteração do sentido da norma moral (Gil-Monte, 2014).

Geralmente são indivíduos mentirosos e compulsivos, com grande capacidade de improvisar. O agressor age de forma intencional e tenta arranjar desculpas para os seus atos, culpabilizando o outro (Hirigoyen, 2002). Peña (2010) carateriza o agressor como ambicioso e com medo de perder alguns privilégios, pelo que age de forma consciente e voluntária, com o objetivo de eliminar quem se coloca no seu caminho. O agressor é motivado por sentimentos de inveja e rivalidade interpessoal, frustração e insegurança (Akar et al., 2011).

Neste contexto, João (2011) salienta que 77,8% das vítimas de mobbing mencionam como principal causa a inveja ou o ciúme. Posteriormente o mesmo autor (João, 2013) refere que as causas deste tipo de condutas estão associadas a inveja ou ciúme (55,6%) e ao “não ceder nem deixar-se influenciar por chantagens ou servilismo” (54,1%).

Szigety (2012) também relatou antecedentes relacionados com a personalidade do agressor que predispõem para o mobbing, tais como: mentiroso; caráter manipulador; tipo sedutor; opressivo; plágio de palavras de outras pessoas, atitudes, ideias; sede de poder e sucesso; comunicação do agressor caraterizada por monólogos, provocando mal entendidos, indelicado verbalmente ou rude.

Existem alguns comportamentos dos supervisores que podem favorecer as condutas de

mobbing, entre os quais: supervisores agressivos, hostis e violentos para com as vítimas,

tentam excluir esta da vida social da organização. Os comportamentos anteriores podem servir de modelo para alguns subordinados que se convertem em agressores ao adotarem esses comportamentos. Os supervisores podem também promover o mobbing se tolerarem ou recompensarem estas ações (Mathisen, Einarsen & Mykletun, 2011).

Geralmente no mobbing existe uma assimetria de poder entre o agressor e a vítima. Os agressores utilizam o seu estatuto ou poder para agirem contra as vítimas (Hirigoyen, 2002). A vítima é escolhida em função das suas caraterísticas pessoais mais do que profissionais, muitas vezes a vítima reage contra o autoritarismo de um chefe e recusa-se a ser escravizada (Hirigoyen,2002). Existem casos em que o agressor não está interessado em pessoas serviçais ou antipáticas (Peña, 2010). Assim o perfil da vítima é descrito por pessoas demasiado competentes; produtivas e motivadas pelo trabalho; pessoas atípicas (cor da pele); pessoas isoladas e fragilizadas. O agressor elege a vítima intencionalmente e procura a sua destabilização a ponto de comprometer a sua comunicação, o objetivo é desacreditar ou desprestigiar a mesma, por meio do controlo das suas funções ou tarefas (Carvalho, 2010), outra forma é o agressor atacar os pontos fracos da vítima para que esta perca a confiança em si própria (Hirigoyen, 2002), por fim consegue a sua destruição e eliminação mediante todo o tipo de estratégias (Carvalho, 2007; Akar et al., 2011; Qureshi et al., 2013; Ertürk & Cemaloğlu, 2014). Luongo et al. (2011) também descrevem as caraterísticas da vítima, geralmente estas diferem dos padrões estabelecidos, estão sujeitos a: discriminações sociais,

Também o género, a raça, a forma de vestir, de ser, de falar ou reagir são fatores determinantes para a inclusão num grupo, e podem favorecer as condutas de mobbing (Hirigoyen, 2002).

A estrutura e valores patriarcais em algumas sociedades podem conduzir à violência e ao abuso das mulheres (Akar et al., 2011; Tekin & Bulut, 2014).

A vítima na maioria dos casos apresenta traços de personalidade forte (confiabilidade, honestidade, autoconfiança) (Akar et al., 2011), são bem sucedidas e atraentes (Carnero et

al., 2012), também segundo João (2011) 66,7% das vítimas são inovadoras ou empreendedoras

de novas formas ou perspetivas de trabalho. No entanto, outros autores descrevem a vítima como vulnerável, sensível, ingénua, menos assertiva (Szigety, 2012). O agressor escolhe profissionais com mérito e êxito, pois estes despertam em si inveja (Peña, 2010).

Carvalho (2010) e João (2013) consideram que os profissionais que caraterizam o ambiente de trabalho como negativo, percecionam em média mais condutas de mobbing comparativamente com os que o caraterizam como positivo. Os primeiros vivenciam ainda, as condutas com mais intensidade e experienciam níveis mais elevados deste fenómeno. João (2013) carateriza o ambiente de trabalho negativo como sendo conflituoso, cheio de agressividade e incidentes pessoais. Segundo Amazarrary (2010) a satisfação com a chefia, com os colegas, comprometimento organizacional afetivo e a satisfação com a natureza do trabalho, são variáveis preditoras de mobbing. A satisfação tem relação inversa com o

mobbing, ao seja quanto mais insatisfeitos estiverem os sujeitos, maior o mobbing. Também

os estudos de López-Cabarcos, Vázquez-Rodríguez & Montes-Piñeiro (2010) corroboram com os anteriores, pois segundo estes o número de comportamentos mobbing está relacionado de forma negativa com duas dimensões de satisfação no trabalho (supervisão e remuneração), enquanto que, o índice global mobbing está relacionado de forma negativa com a satisfação do ambiente físico. Desta forma, a perceção do ambiente de trabalho, a satisfação com a profissão e a valorização do desempenho pelos superiores quando percecionados negativamente indiciam comportamentos favoráveis à prática de condutas hostis e desprovidas de ética (Carvalho, 2010).

Além do agressor e da vítima nas condutas de mobbing muitas vezes estão presentes os espetadores, os quais podem ser colegas de trabalho do mesmo nível hierárquico ou de um nível hierárquico superior. Segundo Peña (2010) os espetadores são testemunhas conscientes de que a vítima está a ser injustiçada, no entanto, estes calam-se, olham para o outro lado ou desfrutam da agressão. Assim, as testemunhas podem ser mudas ou não mudas. As primeiras também designadas de coagressores pensam que a vítima é alguém perigoso, pelo que exercem pressão psicológica de forma a neutraliza-la. As segundas não participam na agressão e não intervêm com medo de se constituírem vítimas.

Após a longa, e nem sempre linear, identificação das causas do mobbing, torna-se necessário identificar as suas consequências.