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O conceito de carga mental do trabalho é um produto conceitual originado da noção de carga de trabalho, entendida genericamente como um campo de interação entre as exigências da tarefa e a capacidade de realização humana.

Welford (1977) comenta que é muito mais fácil definir-se o conceito fundamental de carga mental de trabalho através de uma analogia com a carga de trabalho observada nos esforços musculares; para tanto, Welford cita dois exemplos: No primeiro, o sujeito faz uma força máxima instantânea sobre uma carga pré-estabelecida, no segundo, verifica-se a quantidade de trabalho executada em um período, determinando assim as taxas de carga de trabalho muscular nos dois casos, as cargas dependem da interação das exigências das taxas e da capacidade do sujeito. A performance do sujeito é limitada pelas exigências da taxa, ou o operador vence as taxas ou as taxas são maiores que a capacidade do operador, a carga mental de trabalho funciona de modo análogo.

De acordo com Leplat (1977), é essencial distinguirmos que a carga mental é uma característica da taxa per si, das obrigações e constrangimentos impostos ao trabalhador. A carga mental vem como consequência do fato, do trabalhador executar a tarefa em si, levantando toda uma questão de ambiguidade.

O conceito de carga mental relaciona-se com a Ergonomia Cognitiva, pois este ramo trata dos aspectos cognitivos relacionados à tarefa. Dentro da Ergonomia Cognitiva encontra- se um conceito central denominado de Arquitetura Cognitiva que associado ao termo carga mental possibilita o aumento da validade e extensão das análises feitas dessa maneira.

A Arquitetura Cognitiva refere-se à descrição dos diferentes elementos que constituem o sistema cognitivo e suas relações (CORREA, 2003).

A associação entre Arquitetura Cognitiva e Carga Mental foi proposta por Richard (1990) e pode ser observada na figura 11.

Figura 11 - Arquitetura Cognitiva de Richard associada ao conceito de carga mental.

No modelo apresentado faz-se a consideração de que raciocínios automatizados tenham uma carga mental menor do que aqueles associados à resolução de problemas. Esta suposição inicial poderá ou não ser confirmada em determinada situação de trabalho.

Em uma pesquisa de campo realizada por Correa e Rinaldi (2001) na área de tele atendimento apontou como questão de pesquisa na Análise Ergonômica à utilização do Raciocínio Automatizado produz efetivamente uma carga mental menor do que durante a resolução de problemas. Nestes serviços observa-se uma larga utilização de Raciocínios Automatizados. É de se supor que, a princípio, aplicando-se os métodos de Carga Mental SWAT ou NASA (devidamente adaptados às nossas peculiaridades), encontrássemos um valor de Carga Mental bem menor do que aqueles que encontraríamos em um serviço de atendimento a reclamações na mesma Central de Atendimento.

Esta é uma questão que procuraremos investigar a partir de nossa pesquisa em campo. Ou seja, qual o grau de influência do conteúdo do trabalho em função das exigências mentais sobre a Carga Mental de trabalho.

Neste ponto temos uma interface de aspectos cognitivos e psíquicos. Pode-se assumir, por exemplo, que os raciocínios automatizados produzem uma Carga Mental menor do que os raciocínios não automatizados ou de resolução de problemas. Entretanto, isto talvez não seja verdade se os executores desta tarefa automatizada possuírem uma formação e capacitação muito acima das exigências da tarefa.

Rasmussen (1991) propõe um conceito de carga mental associado à Arquitetura Cognitiva em que não se tem uma ordenação crescente da carga mental que possa ser proposta a partir da própria arquitetura. Neste caso, não se pode associar a Carga mental a uma distribuição linear e crescente associada à arquitetura cognitiva como no caso de Richard (1990), mas calcula-se a sobrecarga em cada etapa proposta pela arquitetura, como se observa na figura 12.

Figura 12 - Arquitetura Cognitiva de Rassmussem.

Moray (1998, apud CORRÊA, 2003) apresenta um interessante paralelo entre a construção de modelos mentais por parte dos operadores em sistemas complexos e a carga mental de trabalho. Neste trabalho ele mostra que o operador costuma dividir seu local de trabalho em diversos modelos e submodelos e afirma: o efeito dos níveis de modelagem é reduzir a carga mental do operador.

O que se procura salientar é que a utilização dos métodos subjetivos para avaliação da Carga Mental proporciona aos pesquisadores uma base para comparação entre momentos diferentes na execução de uma mesma tarefa ou entre tarefas diferenciadas. A partir desta base, pode-se fazer uma série de investigações, inclusive transpondo-se a barreira psíquica e de aspectos organizacionais.

3 O SETOR ELÉTRICO

Na história da sociedade, a energia elétrica, desde a sua descoberta, sempre ocupou lugar de destaque, tendo em vista a dependência da qualidade de vida e do progresso econômico da qualidade do produto e dos serviços relacionados à energia elétrica, que por sua vez dependem de como as empresas de eletricidade projetam, operam e mantêm os sistemas elétricos de potência.

A energia elétrica proporciona à sociedade trabalho, produtividade e desenvolvimento, e aos seus cidadãos conforto, comodidade, bem-estar e praticidade, o que torna a sociedade moderna cada vez mais dependente de seu fornecimento e mais suscetível às falhas do sistema elétrico. Em contrapartida esta dependência dos usuários vem se traduzindo em exigências por melhor qualidade de serviço e do produto.

A energia elétrica é uma das mais nobres formas de energia secundária. A sua facilidade de geração, transporte, distribuição e utilização, com as consequentes transformações em outras formas de energia, atribuem à eletricidade uma característica de universalização, disseminando o seu uso pela humanidade. No mundo de hoje, eletricidade, como alimento e moradia, é um direito humano fundamental tendo como propósito assegurar a promoção de condições dignas de vida humana e de seu desenvolvimento. Eletricidade é a dominante forma de energia moderna para telecomunicações, tecnologia da informação, e produção de bens e serviços.

3.1 EVOLUÇÃO DO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO

O formato do setor elétrico até o início da década de 1980 produziu um sistema de padrão de qualidade de energia em nível internacional (SAUER, 2002), sendo esse modelo mesmo exportado para o exterior, com incentivo e patrocínio do Banco Mundial (BIRD) e do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID). Observa-se que essa estrutura setorial descentralizava efetivamente a execução dos serviços, ao contrário das tendências normalmente observadas nas soluções institucionais brasileiras, fortemente orientada à centralização. Para isso, foi necessário transferir empresas nacionalizadas às concessionárias estaduais, mas também conter parcialmente as pressões dos Estados mais fortes para construir usinas geradoras sem correlação com seus mercados como nos casos de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná.