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Prof. Doutor José Manuel Pereira da Silva - Um Professor que gostava dos seus alunos

Ao recordar o Senhor Professor José Manuel Pereira de Silva, o “Perêrê” como era carinhosamente conheci- do entre os alunos da Universidade de Lourenço Mar- ques, ou o “Zéco” para familiares e amigos de longa data, sinto-me impelido a dizer que era um professor que gostava genuinamente dos estudantes e estes, sen- tindo esse sentimento, bem como o gosto e o saber sólido do que ensinava, retribuíam-lhe generosamente de igual modo. Para muitos dos seus estudantes fê-los descobrir o interesse pela Genética e Melhoramento Animal e pela investigação. Transmitia com o seu olhar directo e o ar calmo uma confiança de quem era ami- go e de quem poderíamos contar consigo sempre. No meu caso, e no de muitos alunos da Universidade de Lourenço Marques, isso foi uma verdade indesmentí- vel. Na sua casa em Lourenço Marques, ali na Avenida Massano de Amorim, não muito longe da sede da As- sociação Académica, as portas estavam sempre abertas para muitos dos estudantes de vários cursos que aí se reuniam à tarde para estudar. Recebia-os como amigos, quase com um agradecimento por terem vindo. Gosta- va da vida e sobretudo gostava da sua terra natal: Mo- çambique.

Confidenciou-me certa vez que, quando regressado a Moçambique com o PhD em Genética obtido na Uni- versidade de Edimburgo, a maneira como o Prof. Veiga Simão, à altura Reitor dos Estudos Gerais Universitá- rios de Moçambique, o convenceu a aceitar o convite para ingressar na carreira universitária, foi dizer-lhe: - «Quem deve estar interessado numa Universidade em Moçambique é o Doutor, não sou eu. Afinal esta será a Universidade que irá formar os quadros técnicos ne- cessários para desenvolver a terra onde o Doutor nas- ceu». Não foi preciso dizer nada mais para dar o seu assentimento.

Na Faculdade de Veterinária da Universidade de Lourenço Marques, mesmo em frente aos laborató- rios do Instituto de Investigação Veterinária, lá para a Avenida de Moçambique, um pouco além das Facul- dades de Engenharia, de Agronomia e Silvicultura e de Biologia, separada destas por campos de cajueiros que na época própria deliciavam com as peras de cajú, (doces e aromáticas se bem maduras ou adstringentes se ainda fora do tempo) os alunos que como eu íamos ter aulas à Veterinária, ficava o “seu” Laboratório de Genética onde desenvolvia investigação usando a dro- sophila como modelo. «A Genética e o Melhoramento Animal devem imenso a esta mosquinha» dizia-nos nas suas aulas. Numa altura em que as práticas de Genéti-

ca noutras Faculdades eram apenas preenchidas com a resolução de enunciados de problemas, quão aliciante e que inveja nos fazia a nós, alunos de outros cursos, saber que os colegas de Veterinária comprovavam com cruzamentos que realizavam em drosophila as leis de Mendel, construíam mapas cromossómicos de recom- binação, determinavam, experimentalmente, o ganho genético fruto da intensidade da selecção no número de cerdas da drosophila e que, pelo teste de Muller-5, detectavam mutações induzidas. Os seus estudos sobre limites da resposta à selecção, que desenvolvia em dro- sophila, eram tornados, pelas suas explicações claras, evidentes para nós, e as relações entre heritabilidade e resposta à selecção, conceitos ligados e familiares, que eram extrapolados para a selecção animal e vege- tal. Foi Professor Catedrático de Genética, de Melho- ramento Animal e de Zootecnia Especial nos Cursos de Medicina Veterinária e de Agronomia e Silvicultura da Universidade de Lourenço Marques e também esteve ligado a disciplina de Anatomia. Era reconhecido por todos como um excelente e competente Professor sem- pre disponível para os alunos.

Quando iniciei em Portugal em 1976 aulas práticas de Genética no que é hoje a Universidade de Trás-os- Montes e Alto Douro, estas tinham, obviamente, de seguir as que eram dadas pelo Prof. Doutor Pereira da Silva, bem como o uso do livro de exercícios de Gené- tica de Stansfield, da Colecção Schaum, que também usava nas suas aulas. A Genética é para mim, e para muitos dos que tiveram o privilégio de o ter como pro- fessor (embora eu só o tivesse tido como docente em “Zootecnia Especial”, disciplina na qual incluía conhe- cimentos de Genética e de Melhoramento Animal), um campo científico fulcral e excitante que é integrado no sistema da produção animal e na produção agrícola.

Contou-me o Prof. Pereira da Silva, que um dia, re- gressado do seu Doutoramento em Genética do Reino Unido, foi apresentar-se ao Secretário de Agricultura de Moçambique o qual logo de início lhe disse: «O Dou- tor desculpe-me, mas isso de Genética e genes nunca me convenceu!». Com a delicadeza, mais a clareza, que lhe eram peculiares respondeu-lhe: «Sr. Secretá- rio desculpe-me também o que lhe vou dizer. Eu ainda compreenderia que um colega meu, veterinário, fizesse essa afirmação. Afinal no fenótipo dum animal temos tido tantos ganhos devido a uma melhoria da alimen- tação, do estado sanitário, etc. que eles podem talvez questionar-se qual é a parte devida a esses factores e qual é a resultante do ganho genético. Mas vindo de um agrónomo, como é o Sr. Secretário, que tem no reino vegetal, como exemplo flagrante do que é a aplicação da Genética, o êxito conseguido no milho híbrido com o ganho devido à heterosis, custa-me a aceitar essa afir- mação».

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No final do meu Curso de Agronomia, quis trabalhar em “Efeitos Mutagénicos das Aflotoxinas” sendo a se- gunda parte do trabalho sobre “Indução de mutações em Drosophila melanogaster”, realizada sob a orienta- ção do Prof. Pereira da Silva.

Sei que alguns dos meus professores de Agronomia torceram o nariz pelo facto de ir estagiar fora da Facul- dade, ainda para mais na Veterinária. Mas a vontade de trabalhar em Genética no Laboratório do Prof. Pereira da Silva era grande e este disponibilizou-se de imedia- to. Pouco a pouco, tomou conta de mim a convicção que agrónomos, biólogos, veterinários, médicos, etc., somos todos biólogos aplicados a espécies diferentes, apenas com formações mais ou menos orientadas pro- fissionalmente, é verdade, mas basicamente biológicos. Por isso, os conflitos entre classes profissionais sempre me passaram ao lado, olhando-os como questões ridí- culas de menoridade intelectual científica de quem as desfralda. O valor do cientista e de profissional está em si próprio, na qualidade da sua investigação e do traba- lho e no seu conhecimento. Esta foi também outra lição que o Prof. Pereira da Silva me deixou.

Foi o Professor Pereira da Silva que me propôs, pela primeira vez, oficialmente para assistente da Univer- sidade de Lourenço Marques. Eram tempos políticos difíceis em 1971. Ser-se dirigente académico, como eu, com actividade bastante intensa na representação dos estudantes em estruturas pedagógicas, na Direcção da Associação Académica, no Teatro dos Estudantes Universitários de Moçambique, na Rádio Universida- de, no Cine Clube Universitário, era caminho directo para uma lista de activistas académicos rotulados de assaz “perigosos”. O Prof. Pereira da Silva sabia disso, e mesmo assim avançou a proposta para a minha ad- missão. A sua proposta oficial nunca teve seguimento. Mas, talvez, em resposta, veio a sugestão para pôr ter- mo à minha contratação como técnico auxiliar de labo- ratório em que estava já como aluno estagiário. Graças ao parecer dado pelo Prof. Pereira da Silva pude con- tinuar a trabalhar no seu laboratório até ingressar no Serviço Militar.

Entretanto, a um mês de ser integrado na tropa foi com a sua esposa, meu padrinho de casamento, como o foram aliás de mais de uma meia dúzia dos seus estu- dantes. A todos disponibilizaram a sua casinha na Na- maacha, junto à fronteira da Suazilândia, entre pinhais que a altitude do local já permitia.

Foi no período em que estive na tropa, que o Prof. Pereira da Silva foi convidado para Vice-Reitor da Uni- versidade de Lourenço Marques. O convite surgiu sem dúvida pelo seu muito mérito, mas certamente também pela sua grande aceitação e popularidade entre os estu- dantes. Era a tentativa de compensação da grande reac- ção negativa entre os estudantes à nomeação do novo Reitor, após a saída do Reitor Prof. Vitor Crespo, e a evidente passagem do poder de decisão sobre as Uni- versidades no Ultramar do Ministro da Educação, Prof. Veiga Simão, para o Ministro do Ultramar. Poucos anos

depois da Independência de Moçambique o Prof. Perei- ra da Silva veio para Portugal com a sua família. A par da família (e sobretudo da “Bébé”, como era e é cha- mada pelos amigos a sua esposa com quem namorou 7 anos desde o Liceu), Moçambique era um dos seus amores. E foi também uma Saudade sempre presente depois da sua vinda para Portugal. Para trás ficaram as ilusões de que nunca abandonaria aquelas paisagens e gentes que tanto amava. Trouxe consigo as memórias das savanas, das impalas, das acácias vermelhas, das praias, do calor húmido e do cacimbo. Ficou a presença férrea de uma Saudade sempre presente. «Desde que saiu de Moçambique, o meu pai não vivia, sobrevivia», dizia-me a Magda, uma das suas duas filhas.

Dos tempos conturbados pós independência fa- lou-me das reuniões políticas na “sua” Faculdade de Veterinária, em que alguns colegas e ex-alunos mais radicais preconizavam para Moçambique a morte da bovinicultura («o boi esse animal colonialista») e a im- plementação da impala e do cudo, a par de outros tipos de ataques. Não me falava desses intervenientes com rancor ou ódio, mas quase com compreensão e com tolerância, desculpando-os.

Todos os antigos alunos da ULM o saudavam com sinceridade e emoção, já em Portugal, nas reuniões anuais dos antigos alunos e funcionários da Associação Académica e da Universidade de Lourenço Marques.

Passou pela Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa mas, após algum tempo, não quis lá ficar. Foi Presidente do Instituto Nacional de Investigação Agrá- ria (INIA). Encarou o desafio com muita alegria e de- dicação inexcedíveis e propôs uma nova lei orgânica do INIA. Nessa altura, como Presidente da Direcção da Sociedade Portuguesa de Genética, pedi-lhe uma audi- ência da qual resultou a inscrição do INIA como sócio benemérito da Sociedade Portuguesa de Genética. Com a mudança do partido político no Governo, o Prof. Pe- reira da Silva saiu da Presidência do INIA. Atravessou nessa altura um momento de grande frustração pessoal. Confessou-me que se sentia “posto na prateleira”, não aproveitado, e atribuía tal situação ao facto de se ter as- sumido publicamente como apoiante de Mário Soares. Triste país este, digo eu, em que continua a existir essa possibilidade de cargos de direcção serem substituídos não pela competência técnica, científica e de gestão, mas por eventuais opções partidárias...

Dos longos meses em que “o deixaram” em casa sem nenhumas funções ou actividade, veio-lhe o gosto pela feitura de tapetes de Arroiolos para ocupar tempo. E que gosto, e bom gosto, revelou nesses trabalhos que embelezaram o seu apartamento em Nova Oeiras.

Voltei a encontrar o Prof. Pereira da Silva já na Es- tação Zootécnica Nacional dirigida pelo seu amigo de longa data o Prof. Vaz Portugal e contando aí com al- guns colegas e ex-alunos como o Tito Fernandes, o Rui Leitão, o Artur, a “Milocas”, o “Cheps”, a Isabel Fazen- deiro, etc.. Foi, nesse período, responsável pelo módu- lo de Genética dos Mestrados em Produção Animal aí

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leccionados. Convidou-me para dar aulas de Genética Qualitativa, Citogenética e Introdução à Genética Mo- lecular, o que fiz com imensa alegria pela possibilidade de poder de novo contactar com o Prof. Pereira da Silva e corresponder ao que me solicitava. Devo confessar que preparar e actualizar as cercas de 36 horas de aulas leccionadas em menos de duas semanas, foi um desafio que me foi muito proveitoso para a minha própria for- mação como docente recém doutorado. Também nesse aspecto estou muito reconhecido pelo que lhe devo e pelas conversas que tivemos com os mestrandos no fi- nal dessas aulas, a que assistia.

Responsável na Estação Zootécnica Nacional pelo sector de pequenos ruminantes não perdeu a sua paixão pela Genética e pelo Melhoramento Animal. Porém, esbarrava com a realidade portuguesa. «Henrique», dizia-me, «estar a tentar fazer melhoramento genético nestas condições com tão pequeno número de animais é como tentar tirar a água do mar com um balde fura- do. Isto tinha de ser um plano nacional em que todos os animais estivessem inventariados e com registos zootécnicos de confiança. Mas, o criador português não adere a isto. Trabalhar assim, com apenas algumas centenas de cabeças, é uma perda de tempo».

Teve a sua homenagem na EZN quando se refor- mou, cheia de manifestações de reconhecimento do seu mérito como Professor e Investigador pelos muitos colegas e antigos alunos. Aí tive o prazer, a emoção e a honra de estar presente e de lhe manifestar a muita admiração, apreço e amizade. O Prof. Vaz Portugal, pegando numa afirmação minha disse: «É isto mesmo que o “Zéco” é: um Mestre para os seus ex-alunos». E era-o na verdade.

Já reformado, desenvolveu actividade como colabo- rador no Jardim Zoológico de Lisboa. Durante mais de 15 anos foi Professor regularmente convidado para aulas pontuais nas disciplinas de Genética dos Cursos de Medicina Veterinária, Engenharia Zootécnica, Bio- logia/Geologia e Engenharia do Ambiente e dos Recur- sos Naturais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto

Douro. Integrou também muitos júris de provas aca- démicas realizadas nesta Universidade e, até aos seus últimos dias, dava colaboração desinteressadamente às linhas de investigação do Departamento de Genética e Biotecnologia sobre relações filogenéticas entre espé- cies animais e estudos de citogenética animal em espé- cies selvagens. Ao vê-lo a dar aulas, sentia como que uma cadeia de gerações em que eu era o elo intermé- dio. Era importante para mim aperceber-me que sobre novos aspectos da genética de que não tínhamos nun- ca discutido antes, havia uma grande coincidência de opinião. Eram momentos intensos e, também escassos esses, sobretudo nos últimos anos em que minha activi- dade como Vice-Reitor me limitava, por vezes, o tempo que gostaria de ter disponível para estar com o Profes- sor Pereira da Silva quando vinha à UTAD. No último ano não veio. Telefonou-me dizendo que não estava em condições para vir. Combinámos a próxima visita para o ano seguinte, que já não veio a realizar-se.

- «Quantos anos tinha o Prof. Pereira da Silva?» per- guntaram-me, comentando a divulgação do seu faleci- mento por E-mail à Universidade. - «Não sei», respon- di. Não sei mesmo. Para mim terá sempre a idade com que o conheci quando foi meu professor em Lourenço Marques. Uns trinta e tal ou talvez quarenta anos. Os mestres, os amigos verdadeiros, não têm idade. Julgo eu. Ficam com a idade que têm na nossa memória e deixam atrás de si uma terrível saudade. O vasto nú- mero dos seus ex-alunos e amigos não podem deixar de recordar com saudade e uma opressiva tristeza o Professor que gostava de ser genuinamente amigo dos estudantes, e que lhes transmitia o gosto pela Genética e pela investigação.

A título pessoal, perdi um amigo, um conselheiro de inúmeras ocasiões da minha vida, que foi meu orienta- dor do estágio final de curso e padrinho de casamento, e de quem aspirei poder um dia também seguir o seu exemplo como Docente Universitário.

Professor Doutor Henrique Guedes-Pinto Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

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A natureza e a vida selvagem estão a ser destruídas a um ritmo cada vez mais acelerado. A causa principal do problema é o rápido crescimento da população hu- mana.

No século que agora terminou a população humana aumentou três vezes e a economia mundial aumentou vinte e nove vezes. Quatro quintos deste crescimento económico teve lugar desde 1945. Os impérios colo- niais desapareceram na segunda metade do século. Em muitas, previamente menos desenvolvidas regiões tro- picais, verificou-se a ocorrência de modificações polí- ticas e da expansão económica dando lugar a profun- das alterações dos habitats naturais. Florestas e fauna selvagem desapareceram ou foram altamente reduzidas (Robinson, 1995).

Paralelamente, com a aceleração galopante da eco- nomia dos países mais desenvolvidos tem-se verifica- do os conhecidos fenómenos do buraco do ozono na atmosfera das zonas polares, o aquecimento global, o incontrolável aumento da poluição atmosférica. Os oceanos, os rios e os lagos estão a ser poluídos.

O aumento explosivo da população humana tem con- dicionado a restante vida do planeta. Muitos animais e plantas têm passado à situação de ameaçados de extin- ção, e isto tem ocorrido a um ritmo dramático. Para as próximas décadas a perspectiva é pior.

Aliás, os especialistas em conservação são unânimes no seu pessimismo. Por exemplo John Robinson, vice- presidente da Wildlife Conservation Society e que no terreno estudou por mais de duas décadas a degradação da floresta húmida tropical do Congo afirmou que mui- tas das florestas estão agora a ser esvaziadas de vida selvagem e reforça a afirmação dizendo: a floresta está vazia e sinistramente silenciosa.

A última crise global da conservação é o resultado do abate de mamíferos, aves, répteis indiscriminadamente, para consumo humano, o chamado comércio de bush-

meat. Vastas áreas de florestas virgens foram invadidas por estradas abertas por madeireiros e grandes áreas foram deixadas ao abandono por gigantescas empresas multinacionais de corte de madeira. Por estas estradas os caçadores têm agora acesso a áreas anteriormente inacessíveis, caçam (com cabos de aço) e matam a tiro desde roedores até elefantes e transportam a carne para

o mercado. O processo começou há 20 anos na Ásia, dando origem a um novo conceito conservacionista: o síndroma da floresta vazia.

As estimativas mais optimistas falam em 20 anos até que se processe a extinção dos grandes macacos antropóides (gorilas, chimpanzés, bonobos) e dos pró- prios elefantes, na floresta húmida equatorial africana (Pearson, 2000). O mesmo processo está a ter lugar na floresta indonésia e malaia pelo que o orangotango está igualmente ameaçado, como ameaçado está o tigre da Sumatra.

Os mais pessimistas falam em extinção da fauna da floresta equatorial africana dentro de 10 anos como por exemplo Sir David Attenborough afirmou num relató- rio apresentado na Câmara dos Comuns, no comité de peritos no Westminster Central Hall, em 28 de Setem- bro de 2000, onde foram discutidos os dados actuais apresentados por especialistas de Primatologia (Pear- son, 2000).

Em 12/09/2000, o New York Times publicava um artigo intitulado: “Um Macaco do Ocidente Africano, um Colobo Vermelho, foi declarado extinto” (Revkin, 2000). O artigo refere o trabalho de cinco autores, lide- rados por John F. Oates, um antropologista do Hunter College de Manhatan, e conclui: «A extinção do Colo- bo Vermelho, pode ser a primeira e obvia manifestação dum espasmo de extinção que bem cedo afectará outros grandes animais nesta região a não ser que de imediato se apliquem medidas de protecção mais rigorosas». A extinção deste primata é a primeira documentada desde os anos 1700, e o mesmo autor, afirma que estimativas recentes sugerem que 10% das 608 espécies ou subes- pécies de primatas que se encontram distribuídas por três continentes estão severamente ameaçadas.

E se esta é a situação que se vive em termos de vida animal o que se passará no mundo vegetal? Se em ter- mos relativos a situação pode não ser tão angustiante em termos absolutos é decerto ainda mais dramática. Se pensarmos que em termos de vida animal os mamí- feros, as aves e os répteis representam somente 10% do total e que os restantes 90% são representados por insectos e outros invertebrados (Maruska, 1995) e se tivermos presente que a vida tal como a conhecemos é uma rede muito complexa e interdependente como afirma Durrel (1990): «O mundo é tão delicado e com- plicado como uma teia de aranha. Se tocares num fio lanças arrepios em todos os outros fios. Mas não esta-