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CARTOGRAFIA SIMBÓLICA DOS MOVIMENTOS DE CULTURA E EDUCAÇÃO POPULAR DA DÉCADA DE

Foto 3: Brincadeira de roda Acampamentos Escolares no Bairro das Rocas, 1961.

4.7 CARTOGRAFIA SIMBÓLICA DOS MOVIMENTOS DE CULTURA E EDUCAÇÃO POPULAR DA DÉCADA DE

A cartografia simbólica é compreendida como estratégia metodológica em cuja abordagem é possível se fazer a tradução da realidade, permitindo-nos discorrer sobre o objeto de estudo, tendo a nossa subjetividade como operadora imaginativa para interpretar a realidade estudada, através de cartografias que consideramos como mapas.

Reafirmamos que encontramos em Santos (2001) a possibilidade da instrumentalização de mapas/quadros para colaborar com a compreensão da realidade histórico-cultural em investigações nas ciências humanas e sociais e aqui a utilizamos para interpretação na área de educação popular. Sendo assim, assumimos que nesta investigação histórico-cultural são compreendidos como mapas o que Santos (2001) nos diz:

Os mapas são distorções reguladas da realidade, distorções organizadas de territórios que criam ilusões credíveis de

correspondência. Imaginando a irrealidade de ilusões reais, convertemos correspondências ilusórias em orientação pragmática (SANTOS, 2001, p. 198).

Salientamos, contudo, que estas características são operacionalizadas por meio de mecanismos determinados pelo cartógrafo/pesquisador, ou seja, por nós que também distorcemos de certo modo a realidade tornando-a determinável pelas variáveis da realidade a ser visualizada pelo leitor. No caso da pesquisa em pauta, as distorções foram provocadas no momento em que extraímos dos Movimentos de Cultura e Educação Popular da década de 1960 suas características para transformá-las em objeto de análise, traduzindo-as no tempo e no espaço.

Sobre esta distorção, encontramos a justificação dessa necessidade cartográfica, quando observamos a história do

[...] imperador que encomendou um mapa exacto do seu império. Insistiu que o mapa devia ser fiel até ao mínimo detalhe. Os melhores cartógrafos da época empenharam-se a fundo neste importante projecto. Ao fim de muitos trabalhos, conseguiram terminá-lo. Produziram um mapa de exactidão insuperável, pois que coincidia ponto por ponto com o império. Contudo, verificaram, com grande frustração, que o mapa não era muito prático, pois que era do tamanho do império (Borges 1974 apud Santos, 2001, p. 200).

Nessa contraperspectiva, construímos quadros analítico-sintéticos, tidos por nós como mapas de uma cartografia simbólica, com a intenção de fazer com que estes, mesmo que distorçam a realidade daqueles Movimentos de Cultura e Educação Popular, sejam vistos como no exemplo acima, pois seria inviável representarmos todas as suas características em um trabalho como este.

Vemos, assim, que de acordo com Santos (2001), a utilização dos mapas/quadros como cartografia simbólica é tida como uma forma de distorção da realidade, com o intuito de organizar uma visualização, facilitando a leitura e a explicação da mesma para que possamos analisá-la.

Como dissemos, nesta pesquisa os quadros analítico-sintéticos por nós elaborados são como mapas, que também têm características constituintes dos mapas, tais como projeção, escala e simbologia. Para que essa cartografia simbólica fosse

possível, retomamos esses conceitos desenvolvidos por Santos (2001) para demonstrar como as utilizamos para construir uma cartografia simbólica dos Movimentos de Cultura e Educação Popular da década de 1960:

a) A escala, dependendo de seu grau, influencia na quantidade de detalhes do símbolo, apontando, também, a sua eficiência. É considerada a distância, no mapa, das representações e a correspondente distância da fração da realidade que pretende representar. A escala que utilizamos é convertida em palavras que representam ecologias em substituição de monoculturas e tem o intuito de possibilitar análise/síntese de recortes da realidade daqueles Movimentos;

b) A projeção faz referência ao manuseio e armazenamento dos mapas. Todas as projeções distorcem a realidade na tentativa de realçar uma determinada característica da fração da realidade cartografada. Consiste no tipo de representação simbólica que o cartógrafo/pesquisador pretende privilegiar no seu trabalho. Os quadros analítico-sintéticos são a forma de distorção da realidade e a centralização do enfoque dessa representação a partir da sociologia das ausências é determinante para que possamos, sob a luz do pensamento de Boaventura de Sousa Santos, nos debruçar com mais flexibilidade analítica sobre este trabalho. Logo, nosso mapa se constitui em quadros, e neles se encontram as palavras- chave, através das quais descrevemos sua relação com os Movimentos, para podermos traduzi-los;

c) A simbolização é o mecanismo de distorção que se detém em um determinado significante (signo) para representar a realidade, possibilitando, assim, uma gama de elementos analíticos. Ou seja, é a capacidade de utilizar símbolos gráficos para assinalar características da fração da realidade que se pretende simbolizar. Esse mecanismo cartográfico possibilita ao cartógrafo pesquisador construir mapas para leitura escrita. Escolhemos usar a escrita como sinais gráficos visto que, o que representamos cartograficamente é a substituição de monoculturas por ecologias presentes no desenvolvimento desses Movimentos.

Consideramos, pois, essa estratégia cartográfica como um procedimento metodológico que nos levou à tradução da realidade histórico-cultural daqueles Movimentos de Cultura e Educação Popular. Encontramos nas palavras-chave: ignorante, inferior, residual, local e improdutivo o símbolo dos referenciais metafóricos

da intenção educativa dos referidos Movimentos de Cultura e Educação Popular no início da década de 1960.

Para a cartografia deste trabalho, levantamos fundamentalmente questões relacionadas com a construção de racionalidades voltadas para a luta contra a razão indolente, para a desconstrução da inferioridade no plano do colonizado promovida pelos Movimentos de Cultura e Educação Popular em tela e pela experiência das 40 horas de Angicos/RN, portadores de características românticas do ideário nacional- reformista preconizado pelos intelectuais e dirigentes desse Movimento.

A seguir os apresentamos para que possamos ter uma visualização sistemática e panorâmica do ideário nacional-reformista em suas perspectivas românticas expressas na produção de novas racionalidades, ligadas à uma razão cosmopolita, em contraposição às advindas de uma razão indolente no seio destes Movimentos.

Dessa forma, elaboramos cinco quadros analítico-sintéticos para a composição da cartografia simbólica dos Movimentos de Cultura e Educação Popular da época.

É, portanto, nesta perspectiva crítica que a cartografia simbólica dos Movimentos de Cultura e Educação Popular da década de 1960, aqui traduzidos, será apresentada em cinco quadros analítico-sintéticos, conforme Quadro Sinóptico da Cartografia Simbólica a seguir: