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Casa Elementar Composta – Casa do Pequeno Lavrador ou Caseiro

Capítulo 3 EDIFICAÇÃO E LÓGICAS DE APROPRIAÇÃO TERRITORIAL DA ÁREA DE ESTUDO

3.4 EDIFICADO DE LÓGICA RURAL AGRÍCOLA

3.4.3 Casa Elementar Composta – Casa do Pequeno Lavrador ou Caseiro

Pelas observações realizadas “in situ” e de acordo com os testemunhos recolhidos, esta casa seria propriedade ou arrendada por pequenos lavradores, regra geral conjuntamente com um quinteiro ou parcela de cultivo já com dimensão para instalação de uma pequena produção agrícola com fins comerciais.

Caracterização volumétrica

Em termos volumétricos, surgem edificações com maior desenvolvimento horizontal e com áreas significativamente maiores em que a habitação cresce (Fig. 3.4a), e os anexos agrícolas aumentam em número e tamanho dando origem aos complexos agrícolas compostos por telheiros, dependências para animais ou cortes, sequeiros, eiras, adegas, etc.

Em termos de implantação, a habitação mantém a sua perimetralidade, mas frequentemente afastada das extremas, o que lhe permite ganhar mais duas frentes, mas mantendo-se voltada para o interior da propriedade, sendo muito frequente apenas apresentarem postigos de ventilação para o exterior da mesma. Nos exemplares mais próximos de meados do séc. XIX, começam a surgir ao nível da habitação, as janelas abertas para a via pública.

Os acessos continuam a fazer-se pelo quinteiro, sendo que o acesso ao interior do complexo, agora murado por muros altos (cerca de 2,5 m), se faz por um portal com cerca de 2 m de largura e com a altura do muro, por vezes alpendrado para o exterior e frequentemente localizado num dos telheiros do complexo que confronte com a via pública (Fig. 3.4b).

Complexo agrícola

Nesta morfo-tipologia, o anexo agrícola dá lugar ao complexo agrícola formado pela associação de várias dependências acessíveis pelo exterior e abertas para um quintal de maiores dimensões agora denominado quinteiro.

O número de dependências é muito variável, desde um único telheiro até uma complexa estrutura constituída por somatório de volumes, em que a casa ocupa uma percentagem inferior a 50% do total do edificado, e implantando-se frequentemente em disposição de “L”. Estes complexos são frequentemente compostos por telheiros para albergar haveres agrícolas, pelos anexos para animais e pela eira.

A eira desempenhava um papel fundamental na produção dos cereais, sendo um espaço destinado à sua preparação ou separação pelo processo do malho e para a secagem do grão. Regra geral, correspondia a uma lajeado rígido, que na área de estudo é sempre em granito, frequentemente elevado cerca de 20 cm do solo para se afastar de águas e vegetação superficial. Possuía também um rebordo lateral cerca de 20 a 40 cm mais alto que o pavimento, interrompido e rampeado num dos lados para permitir a entrada de carros no seu interior.

Orgânica interior

Com proporções interiores mais generosas, a compartimentação torna-se mais complexa, surgindo quartos e uma sala independentes da cozinha. Apesar da ligação praticamente direta entre sala e quartos se manter, em alguns exemplares de maiores dimensões surgem os corredores e consequentemente, ainda que ténues, as áreas de circulação interiores diminuindo a permeabilidade entre os diferentes espaços que compõem a habitação. Com a repartição da vida familiar por outros espaços da habitação, a sala passa progressivamente a adquirir um carácter mais nobre e cerimonial.

A cozinha

Nos exemplares observados, a cozinha surge como um compartimento autonomizado variando de dimensão consoante o número de elementos da família ou trabalhadores afetos à exploração agrícola, e dispondo frequentemente da sua própria porta para o exterior. Em termos da sua localização, frequentemente mantém-se junto a uma das empenas ou fachada lateral utilizando-as para a exaustão dos fumos, sendo que os casos registados em que esta surge ocupando outra posição na composição, resultam normalmente de ampliações ou alterações ao conjunto edificado. Em outras morfo-tipologias de grandes dimensões tais como as apresentadas seguidamente, particularmente nas que dispunham de criados de servir e operários rurais residentes na exploração, a cozinha autonomiza-se e desloca-se fora do volume da habitação, regra geral para um corpo coalescente ou independente, de modo a eliminar por completo do interior da habitação os fumos provocados pela sua deficiente exaustão.

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Segundo Oliveira et al. (1992), a chaminé apenas começou a surgir já em pleno séc. XIX, sendo a solução mais frequentemente observada na área de estudo a chaminé simples executada em tijolo maciço, rebocada e ornamentada. As chaminés de fumeiro, que segundo o mesmo autor se transformaram em marca identitária do mundo rural da área de Esposende, surgem apenas em explorações de maiores dimensões com a dupla função de permitir a exaustão da cozinha mas também de produzir produtos alimentares pela técnica da defumação.

Habitabilidade e salubridade

Na generalidade das suas vicissitudes, os exemplares mais pequenos não diferem muito da casa do

jornaleiro, mantendo-se muitas das suas particulares tais como a ausência de retretes no interior, e a

presença constante de humidades e de uma generalizada insalubridade nos compartimentos. Nas habitações de maiores dimensões e com maior número de frentes praticáveis, regista-se um aumento do número de vãos e de compartimentos, que conjugado com uma menor presença de fumos no interior corresponde a um claro melhoramento das condições de habitabilidade gerais.

Fig. 3.4 (a) Casa Elementar Composta (LN2); (b) Casa Elementar Composta com complexo agrícola com a mesma área que a habitação (CQ1)

Seguidamente apresenta-se na Fig. 3.5, um resumo esquemático das soluções de implantação tipo, e na Fig. 3.6, das organizações interiores tipo mais frequentes das Casas Elementares, observadas e caracterizadas acima.

Fig. 3.6 Exemplos esquemáticos da organização interior tipo de Casas Elementares Básicas e Compostas