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Capítulo 2 ENQUADRAMENTO DA ÁREA DE ESTUDO

2.1 ENQUADRAMENTO TERRITORIAL

2.1.1 Localização

A área de estudo selecionada corresponde a uma freguesia do concelho de Barcelos chamada Barqueiros, com um território com cerca de 8 km2

, tal como se pode ver na

Fig. 2.1, e que se localiza na charneira entre o Minho e o Douro Litoral. Confronta a sudoeste e nascente com o concelho de Barcelos (freguesias de Cristelo e Vila Seca), a norte e poente com o concelho de Esposende (freguesias de Apúlia, Fonte Boa e Rio Tinto), e a sul e sudoeste com concelho de Póvoa de Varzim (freguesias de Laúndos e Estela) (ver Anexo 1, Fig. A1.1). A área em estudo localiza-se no território anteriormente designado por Entre-Douro-e-Minho e que Ribeiro (1987) caraterizou como possuindo fronteiras algo indefinidos e suscetível a múltiplas influências, provenientes do Minho, do Douro e da área urbana do Porto.

2.1.2 Morfologia Territorial

Hidrografia

Contrariamente ao Alto Minho caraterizado pela montanha, pelas grandes oscilações altimétricas e respetivas lógicas de ocupação territorial, na faixa litoral minhota predominam os vales e planaltos de suaves oscilações altimétricas expostos ao Atlântico e às suas dinâmicas de ocupação costeiras, assim como, no caso específico da área de estudo, às influência ribeirinhas, neste caso do Cávado. Segundo Carvalho (2003), um braço do seu proto-estuário (de origem no período Holocénico) alcançaria uma parte da área a nordeste próxima do núcleo primitivo de Barqueiros, designada por Lagoa de Barqueiros, e que se estendia a áreas vizinhas como o Marachão e mais a sudeste designadas por Ponte de Estreito ou Lagoa das Necessidades, todas na freguesia vizinha de Rio Tinto, e que até ao séc. XIX ainda ficavam submersas durante o inverno. Segundo o estudo apresentado pelo mesmo autor referente às oscilações da linha de costa nesta região, no período de tempo compreendido entre os séc. II e a atualidade, esta terá sofrido inúmeras alterações de entre as quais se destacam as oscilações na localização da foz do Cávado e que certamente influenciaram decisivamente o modo de ocupação respetivas atividades produtivas do território em estudo.

Orografia

Em termos de orografia e altimetrias, como se pode ver na Carta Militar (Anexo 1, Fig. A1.2), tem-se um território constituído por uma área central mais alta de norte para sul, composta pelo planalto das Necessidades (34 m), do Lugar de Telheiras (33 m), e parte dos Lugares de Lagoa Negra (41 m) e Andorinhas (51 m), prolongando-se e ganhando cota em direção a sul e sudeste, rodeada por veigas a cota inferior. De nordeste tem-se mais a norte o vale da Ponte de Estreito ou Lagoa das Necessidades (4 m), os vales de Jouve (22 m) e da Lagoa de Barqueiros (2 m).

A construção vernacular em xisto entre o Cávado e o Ave – o caso de Barqueiros

Mais a nascente tem-se os vales de Bassar e Cerqueiras (15 m), a noroeste o vale dos Vilares (22 m) e a sudoeste parte dos Lugares de Lagoa Negra e Criás (25 m) (ver Anexo 1 Fig. A1.3, Fig. A1.4, Fig. A1.5).

Nas áreas mais baixas e planas, providas de grande abundância de água e de acumulação de sedimentos, assim como de proteção aos ventos conferida pela configuração em vale ou de “veiga”, localizavam-se as principais áreas de produção agrícola. Contrariamente, as áreas mais altas, menos planas e com solos mais pedregosos e menos férteis, com menos água e mais expostas ao vento, eram parceladas em áreas de produção florestal ou bouças, e utilizadas para a produção de matos e demais produtos florestais complementares à agricultura, constituindo exceção apenas o planalto das Necessidades que era ocupado em parte por grandes quintas.

Geologia e recursos minerais

A área de estudo localiza-se numa faixa costeira, em cuja constituição geológica predominam os afloramentos de xistos e demais materiais como os saibros, as argilas e os caulinos, tal como se pode ver nas Cartas Geológicas (Anexo 1, Fig. A1.6 e Fig. A1.7).

Esta faixa estende-se por toda a costa minhota, penetrando mais ou menos intensamente para o interior, intensificando-se nas imediações do Cávado e do seu estuário, e afastando-se da costa em direção sudeste para o Ave, prolongando-se depois para a região do Douro. Bastos et al. (1943), a propósito da problemática dos limites do Entre-Douro-e-Minho, caracteriza esta faixa como “faixa de

terrenos xistosos do silúrico e do câmbrico ( de constituição agrológica muito diferente da dos solos graníticos que a circundam) e disposta transversalmente desde a foz do Cávado até às proximidades da confluência do Douro com o Tâmega.”.

Também referente a esta área, segundo a descrição geológica constante do Plano de Ordenamento e Gestão do Parque Natural do Litoral Norte, a área de estudo e limítrofes inserem-se numa área geológica denominada Zona Centro Ibérica, parte integrante do Maciço Hespérico. Em termos de composição litológica esta é apresentada como muito heterogenia, com a presença de vários tipos de xistos e materiais aluvionares.

Uma observação da carta geológica e da informação contida nos diferentes instrumentos de gestão territorial em vigor para a zona, nomeadamente o estudo referido acima e os Planos Directores Municipais de Barcelos e Póvoa de Varzim, revela-se a predominância dos xistos argilosos, de cinzentos a amarelados ou avermelhados, bem como grauvaques de várias cores e xistos ampelitosos provenientes do silúrico, de nordeste até sudeste. Numa área mais central e na mesma direção surgem xistos provenientes do Ordovícico que se diversificam entre xistos argilosos, xistos grauvacoides, grauvaques e quartzitos intercalados, como se pode ver na Fig. 2.2.

A construção vernacular em xisto entre o Cávado e o Ave – o caso de Barqueiros

Coberto Arbóreo

Apesar de atualmente o coberto vegetal da área de estudo se encontrar significativamente desgastado e alterado pela introdução de espécies parasitárias onde predomina o Eucalipto (Eucalyptus), segundo Cunha (1931) o coberto vegetal nas primeiras décadas do séc. XX era composto essencialmente por Pinheiros (Pinus pinaster), Carvalhos (Quercus robur), Castanheiros

(Castanea sativa), Salgueiros (Salix atrocinérea, Brot. Salix salvifolia, Brot.) e Choupos (Populus nigra). Menos frequentes, mas também existentes na área surgem Oliveiras (Olea europaea, L.),

Nogueiras (Carya illinoinensis) e também Sobreiros (Quercus suber).