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Gasto Aluguel Social PMPA

4.2.1 Casa de passagem ou casa de “ficagem”

Uma das estratégias adotadas para viabilizar as obras de reestruturação urbana da região de abrangência do PIEC foi a implantação da Casa de Passagem, localizada na Rua Frederico Mentz, 857. Quando construída, em 2004, a instalação contava com 214 módulos de 20m² para habitação provisória, havia o compartilhamento dos banheiros, divididos por blocos de moradia. Em 2006, a Casa de Passagem passou por uma reforma a fim de melhorar as condições de habitabilidade. O espaço das moradias foi aumentado e os sanitários foram individualizados, chegando a uma unidade de 36m², muito próxima da metragem das unidades habitacionais dos loteamentos construídos pelo DEMHAB. No momento, a estrutura possui 109 unidades que são ocupadas pelas famílias que estão em processo migratório, aguardando o reassentamento promovido pelo PIEC. No projeto inicial estava prevista a transformação desse equipamento, a partir de uma nova reforma, em loteamento para moradia definitiva como a última intervenção do programa.

41 Disponível em: <http://www.portoalegre.rs.gov.br/smf/relfins/saida.asp>. Acesso em janeiro de 2015.

No final de 2013, houve a decisão de antecipar o processo de desativação da Casa de Passagem. Entre outros motivos, a possibilidade de realizar o empreendimento através do MCMV reduziria sobremaneira o custo do loteamento, pois, nesse caso, o município tem a posse da área. A partir dessa tomada de decisão, não mais houve encaminhamentos para essa modalidade de moradia transitória. À medida que os módulos ocupados são liberados, o DEMHAB providencia a sua demolição ou integra-os ao módulo vizinho.

Quando questionados sobre a casa de passagem, trabalhadores, lideranças e Gestor fizeram menção ao excessivo tempo de permanência e à ausência de

controle de fluxos de entrada e saída de famílias. Ao longo das falas, os

entrevistados foram relatando exemplos de encaminhamentos de famílias que foram para a Casa de Passagem em períodos dissociados dos prazos de obras do programa. São diversos os motivos relembrados pelos entrevistados para que houvesse o encaminhamento para a casa de passagem: incêndio, enchente, situação de risco, convite do próprio DEMHAB para fins de evitar ocupações irregulares, entre outras.

Aqui na comunidade só teve duas ou três [famílias] que foram para a Casa de Passagem, mas elas foram bem antes de mexer na vila, porque as

casas delas eram muito precárias. Eles pagavam aluguel, era bem difícil,

caiu a casinha deles então tivemos que botar na Casa de Passagem. (L1) Tem gente na casa de passagem da vila “x” que já faz 4 ou 5 anos, então isso ai não é vida, isso ai tinha que ser mais rápido, pegar e já dentro de um ano e meio de dois anos. A gente sabe o que fazer, mas é que vão levando, bota gente que está doente, sem casa, então isso ai vai demorando muito mais. (L2)

Tem cinco famílias (da comunidade representada) que foram em 2008

quando deu a enchente. Até queriam me colocar para lá e eu disse que

não queria. (L3)

Atualmente, as famílias que estão na Casa de Passagem aguardando a conclusão de obra em andamento não correspondem a 10% dos módulos ocupados. Nesse sentido, apesar de ter sido concebida para esse fim, a alternativa deixa de ser uma possibilidade exclusiva de viabilizar o fluxo migratório do programa. Conforme é evidenciado nas falas:

Tu as colocas lá, para fazer uma passagem, e pensa-se que isso se dará em no máximo 24/36 meses e de repente tu te depara com famílias que

As famílias só deveriam sair da área no momento em que nós

estivéssemos com a licitação pronta e a obra para começar para ter um período mais curto de transitoriedade. Agora se tira as famílias e a

obra sequer tem projeto é impossível ter uma perspectiva de retorno de atendimento. (T1)

A questão da desarticulação entre os encaminhamentos e o período de execução da obra foi mencionada em relação a todas as alternativas de moradia transitória, e, com maior ênfase, a casa de passagem, em razão do tempo de existência no programa que é superior às outras. Portanto, conforme a fala do Gestor, a casa de passagem apresenta situações gritantes de períodos de transitoriedade que completam uma década.

Ao que parece, o município tem tentado “aproveitar” o cenário de fortes investimentos do Governo Federal, através dos programas de aceleração do crescimento, para solucionar antigos problemas urbanísticos. Assim, aprovam-se projetos de grande porte com a Caixa Econômica Federal e, depois, busca-se sanar os seus impactos nos locais de intervenção. Apesar de todos os repasses realizados a partir do PAC exigirem um projeto social prévio, para o município a atual configuração da política habitacional facilita o apontamento de soluções para possíveis remoções de famílias, especialmente aquelas com renda de até três salários mínimos: as famílias serão encaminhadas para aluguel social e terão prioridade no atendimento do programa MCMV.

Quando se decide fazer a rua já se sabe que lá em cima tem famílias e bom, tinha que ter sido feita concomitante a obra das casas. O ideal seria que fosse antes da obra da rua fazer a casa tira e leva para lá. Mas digamos assim, no extremo que as duas obras andassem juntas e que nesse período as famílias ficassem no aluguel social, só que não é isso que acontece. Então assim, se tu tira as família do local e tu não tem uma obra acontecendo, pra mim tanto faz casa de passagem, aluguel social, é tudo a mesma coisa, é tudo descaso com a família que tem que ser atendida. (T1)

Essas situações de aceleração do processo de remoção para viabilizar outras obras têm sido recorrentes, por exemplo o caso já mencionado da Vila Tronco e o movimento chave por chave. De fato, ainda que se compreenda a intenção do município em querer sanar grandes problemas urbanísticos da cidade, esse processo não pode colocar em segundo plano a situação das famílias que vivem em áreas de interesse de intervenção municipal, que se ressalta, são muitas.

Os trabalhadores relatam que nas fases iniciais do programa, antes da construção do empreendimento que se tem hoje, a casa de passagem era uma “fita”

de módulos habitacionais estruturados no próprio local da obra, e as casas eram desmanchadas assim que a obra era concluída.

Esse é o pulo do gato, porque se está dentro da obra ela existe enquanto a obra está sendo feita e depois evidentemente tu colocas as famílias para dentro das unidades e aquela área onde tinha a casa de passagem vai ser urbanizada como praça, ou enfim. Aqui no condomínio dos Anjos foi feita a construção de duas etapas, então na primeira etapa, ficou pronto as pessoas foram para dentro dos apartamentos, e os outros estavam de aluguel por conta própria (não tinha aluguel social na época). Então pra mim, casa de passagem funciona se estiver dentro da obra, fora da obra é pra sempre, ou por muito tempo. (T1)

Na fala de T1 constata-se a centralidade na garantia do fluxo da obra na avaliação sobre as distintas estratégias. Compreende-se que a garantia de vinculação entre o período de moradia transitória e a execução da obra do futuro loteamento é premissa para um processo migratório adequado. Contudo, dada a semelhança dessa estrutura, mencionada na fala de T1, com as Casas de Emergência e o fato da localização ser no interior do canteiro de obras, questiona-se se de fato seria essa a melhor alternativa para viabilizar o fluxo de famílias, sob o ponto de vista da habitabilidade. De qualquer forma, atualmente, com o método construtivo — que exige áreas totalmente livres para a execução das obras — já tornaria inviável essa estratégia.

A disponibilidade de módulos habitacionais acabou se tornando, conforme mencionado nas falas, uma estratégia fácil e rápida para atender distintas necessidades. Com frequência são utilizados os módulos da casa de passagem para contornar conflitos com lideranças comunitárias ou como forma de minimizar os efeitos do desgaste entre comunidade e gestor em relação ao atraso do programa. Da mesma forma, a disponibilidade desses módulos serviu para viabilizar obras viárias nas regiões do entorno, ligadas ou não ao PIEC. Com encaminhamentos distintos, muitos sem previsão de atendimento em reassentamento definitivo, o controle do fluxo de liberação dos módulos foi sendo comprometido. A seguir, no Quadro 8, conforme as entrevistas realizadas com os moradores da Casa de Passagem, consta o tempo de permanência no espaço, o motivo do encaminhamento e a previsão de conclusão do fluxo migratório.

Quadro 8 - Famílias entrevistadas Casa de Passagem

Entrevistados de Passagem Tempo Casa Motivo do Encaminhamento Previsão de Reassentamento