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2. BASES TEÓRICAS DA FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL DA REGIÃO

2.2 A FORMAÇÃO SOCIoESPACIAL DA REGIÃO METROPOLITANA DE

2.2.4 O caso de Biguaçu

Com uma área de 325 km² , Biguaçu situa-se às margens da BR 101, limita-se, ao norte, com os municípios de Canelinha e Tijucas, ao Sul, com São

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FARIAS, Vilson Francisco de. Op. cit., 2004a.

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JORNAL A NOTÍCIA, 04/08/2006, p. 09.

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José, a leste, com Governador Celso Ramos e o Oceano Atlântico, e, a oeste, limita-se com Antônio Carlos e São João Batista.

Consta que foi fundado oficialmente em 1833, quando se emancipou do município de Nossa Senhora do Desterro e se chamava na época São Miguel.

Como nos demais municípios litorâneos, os indígenas foram os primeiros povos da região, mas, de acordo com historiadores, seu povoamento começou em 1748, com a chegada dos portugueses açorianos no vilarejo de São Miguel, antiga sede do município.

Porém, existem diversos relatos de que a origem do povoado de Armação da Piedade, na época pertencente a Biguaçu, ocorreu antes da chegada dos açorianos, como descreveu Lauro Locks (1997):

Pouco se tem falado da origem mais remota do Povoado de São Miguel, alguns anos antes da chegada dos açorianos. Tudo indica que os primeiros moradores, em número reduzido, ali chegaram a partir de 1746, quando se instalou na localidade, hoje denominada Armação da Piedade, no município de Governador Celso Ramos, um pequeno empreendimento pesqueiro-industrial, ligado à pesca da baleia.

Dessas famílias, os homens eram todos, ou quase todos, ligados à pesca e, por certo, continuaram vinculados profissionalmente à empresa da Armação.107

Sobre São Miguel, relata Piazza (1970) que as notícias da ocupação de suas terras prende-se à própria ocupação da Ilha de Santa Catarina e, mais tarde, com a fixação da “Armação de Baleias” de Nossa Senhora da Piedade, onde, em 1746, ergueu-se uma capela, e que, ali, “se pretendeu aglutinar a novel povoação.” 108

A pesca da baleia muito representou para a economia da região litorânea catarinense e, principalmente, para o município de Biguaçu. Bastos, quando publicou o Ensaio sobre a Urbanização, Comércio e Pequena Produção Mercantil Pesqueira na Ilha de Santa Catarina, assim escreveu:

[...]. Sem dúvida, os interesses convergiam para a pesca da baleia, pois surgiram cerca de seis armações no litoral catarinense. Nunca é demais lembrar que o óleo extraído da baleia era uma espécie de ‘petróleo’ no século XVIII e XIX, que era utilizado na construção civil,

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LOCKS, Lauro. São Miguel breves considerações. In: São Miguel da Terra Firme 250 anos (1747 – 1997) Ana Lucia Coutinho organizadora. Biguaçu: EDEME Ind. Gréfica e Comunicação S/A, 1997, p. 55.

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na conservação da madeira, na iluminação e nas mais diversas manufaturas como lubrificante. 109

No século XVIII, o município resumia-se, basicamente, apenas à Vila de São Miguel, que chegou a ser sede do Governo da Província, de 1º de maio a 30 de junho do ano de 1778, quando os espanhóis tomaram a Ilha de Santa Catarina. Ressalta-se que a Vila foi fundada como parte de uma estratégia militar pela Coroa Portuguesa, com o intuito de defender o sul do Brasil, como ocorreu, também, com Palhoça e São José. Estes povoamentos, que eram incentivados pelo governo, visavam à criação de novas cidades, com colonos portugueses na região em litígio.

Neste século de rivalidades entre Portugal e Espanha pela disputa das terras do sul do Brasil forçavam os portugueses a aumentar a população do litoral de Santa Catarina. Nessa época vários núcleos se estabeleceram a partir de famílias do Arquipélago dos Açores e Madeira. No ano de 1748, chegam à Ilha de Santa Catarina 461 açorianos, e uma parte foi encaminhada para fundar a povoação de São Miguel da Terra Firme. A Vila, na época, servia de anteposto de abastecimento de água doce para navios de viagem. O vigor econômico de São Miguel ficou muito bem caracterizado no cenário colonial que se edificou na Vila, cujo ponto mais destacado é o conjunto composto pelo Sobrado, Capela e Aqueduto, incluindo ainda uma chácara com área de 154.704 m². 110

De acordo com a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, elaborada pelo IBGE (1959), três foram as correntes na formação da população de Biguaçu: portugueses, negros e alemães. O primeiro e o maior núcleo, o açoriano, localizou-se inicialmente em São Miguel e se espalhou pelo litoral oeste da baía norte da antiga Desterro. “Este núcleo de puros açoritas foi mesclado, com o tempo, com o preto vindo da África.” Também, para o sul de São Miguel, espalhou-se a corrente açorita, e negros para a barra de Biguaçu, Três Riachos e Amãncios. O segundo núcleo foi o dos colonos alemães, que, de início, se localizaram na colônia São Pedro de Alcântara e depois passaram para o Alto Biguaçu, Rachadel, Santa Maria e Três Riachos. “Dos dois núcleos principais, São Miguel e Alto Biguaçu é que irradiaram o povoamento do município e é nestes centros que vamos buscar as suas origens tão

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BASTOS, José Messias. Op. cit., 2000, p. 128-129.

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diversas”.111 .

Mesmo sendo o primeiro povoado de Biguaçu, São Miguel da Terra Firme acabou decaindo economicamente devido aos frequentes surtos de malária na região.

O vilarejo de Biguaçu surgiu por volta 1840, quando as primeiras casas foram construídas. O local era uma área de mangue, porém, num pedaço de área seca, foi construída uma igreja, no mesmo local onde hoje se encontra a Igreja Matriz. Assim, como na maioria das cidades portuguesas e católicas, foi em torno da igreja que se desenvolveu a cidade.

Ao mesmo tempo em que São Miguel estagnava-se, Biguaçu evoluía economicamente, pois foi crescendo paulatinamente o número de comerciantes na cidade da foz do rio Biguaçu, como também o número de habitantes nas proximidades da foz do rio, onde eram comercializados muitos produtos, dentre eles a madeira, originários do meio rural da região.

O adensamento da população no Alto Biguaçu (hoje Município de Antônio Carlos) elevou a produção de bens de consumo, como açúcar, milho, feijão, farinha de mandioca, raízes tuberosas, cachaça, etc. o que fez surgir, no início do século, um razoável tráfego fluvial, já que os caminhos existentes eram precaríssimos, tornando-se intransitáveis por ocasião de grandes chuvas. Os negociantes adquiriram embarcações, iniciando um serviço de navegação fluvial que floresceu do início deste século até 1918. [...]

Quatro comerciantes, estabelecidos na cidade de Biguaçu, adquiriram, desde o início do século, as mercadorias transportadas por chatas e canoas a partir de Alto Biguaçu, Três Riachos, Sorocaba, etc., e as exportavam para Florianópolis, ou mesmo para outros Estados do Brasil, através de cabotagem, cujos grandes navios fundeavam ao largo das Ilhas Ratones. 112

O Rio Biguaçu foi a mola propulsora do desenvolvimento do município quando da colonização de seu interior, por ser o canal de escoamento da produção, era uma via de deslocamento potencial, poucos lugares dispunham na época de uma ligação tão eficaz entre o litoral e o meio rural por meio fluvial. Apesar de encontrar-se assoreado, foi navegável por muitos anos em toda sua extensão. 113

A chegada dos açorianos proporcionou uma produção agrícola extensiva, sendo que a época áurea do município foi até o ano de 1910, que caracterizou o final da produção extrativa da madeira.

111

FERREIRA, J. P. Op. cit., 1959, 26-27.

112

REITZ , Raulino. Vida e Agonia do Rio Biguaçu in Notícia Histórica de Biguaçu. Fascículo 3, Biguaçu, 1983, p. 75.

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A extração e o beneficiamento da madeira foram atividades econômicas, ao lado da agricultura e da pesca, de grande importância para Biguaçu. A madeira ali extraída serviu para a construção de muitos edifícios e casas em Florianópolis. Surgiu até um bairro com o nome de Serraria, que hoje fica parte no município de São José e parte em Biguaçu. 114

Relata Soares (1998) que, no século XIX, os principais produtos da economia do município eram: a farinha de mandioca, o milho, o corte de madeira e a pesca. Grande parte da economia da Província se assentava na exportação da farinha de mandioca e do milho, sendo que mais da metade da produção se destinava a atender aos mercados de Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Províncias do Prata.115

Com a expansão da agricultura, especialmente nas áreas de colonização alemã do Alto Biguaçu, o município começa seu período de prosperidade, ao mesmo tempo que na Barra do rio, à margem direita, cresce a povoação de Biguaçu. Em 1874, João Nicolau Born já é um comerciante importante, representando, de certa forma, os interesses econômicos da gente das cabeceiras do rio, que em grande parte, como ele, descende dos primeiros teutos da região. [...] Além da atividade agrícola, em 1904, Biguaçu já contava com algumas indústrias, como engenhos de serra de madeiras, beneficiamento de arroz, café, açúcar, alambique para fabricação de aguardente, além de uma boa parcela de exportação de bananas para Montevidéu. 116

A produção industrial e extrativista de Biguaçu, por volta dos anos 50 do século passado, era composta, basicamente, por palmito enlatado, conserva de camarão, refrescos e refrigerantes, vassouras e aguardente, areia, tijolos, carvão vegetal, pedras para a construção e camarão fresco, além de outros produtos de origem animal, como leite, ovos e manteiga.

Conforme Ana Lúcia Coutinho e Catarina Rüdiger (2001),117 o crescimento da cidade está orientado a partir de três fases distintas. A primeira se deve à evolução do comércio litorâneo dos municípios catarinenses na área de exportação, a atuação dos imigrantes desenvolvendo as cidades, a conclusão da rodovia para Tijucas com realização da ponte férrea sobre o Rio

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PREFEITURA MUNICIPAL DE BIGUAÇU. Op. cit., 1999.

115

SOARES, Iaponan. História do Município de Biguaçu:. Florianópolis: AAA - SC, 1998, p. 62.

116

SOARES, Iaponan. Op. cit., 1998, p. 64.

117

COUTINHO, Ana Lúcia; RÜDIGER, Catarina. Grupo Arcos idéia que deu certo. Biguaçu: Grupo Arcos, 2001, p.17-19.

Biguaçu, na primeira metade do século XX, e a chegada da energia elétrica. A segunda ocorreu na década de 70, com a instalação de empresas como a INPLAC – Indústria de Plásticos S/A, Postes CAVAN S/A e SULTEPA S/A, que deram um novo impulso à cidade. Já a terceira fase acontece nas décadas de 80 e 90, quando novas indústrias apareceram, além da instalação do campus universitário da UNIVALI, surgindo, a partir deste momento, novos equipamentos urbanos, levando o município a crescer gradativamente. Novos bairros surgiram, formando aglomerados urbanos, estabelecendo um novo traçado urbano.

Salienta-se que, até o ano de 1963, os municípios de Antônio Carlos e Governador Celso Ramos faziam parte de Biguaçu.

Até o ano de 1970, sua economia era calcada na agricultura, na pecuária e na pesca, e transformou-se, na atualidade, em importante polo industrial e comercial da Região Metropolitana. A indústria já responde por grande parte dos empregos gerados, junto com o comércio em expansão. Atualmente o município dispõe de áreas próprias para instalação de plantas industriais.

De acordo com o IBGE, o município possui, em 2009, uma população estimada de 56.395 habitantes, sendo, aproximadamente, 90% residentes na área urbana.

Hoje a cidade tem acesso a gás natural e possui uma distribuidora da Petrobrás. A indústria de transformação também tem crescido no município. Dentre os principais produtos industrializados no município, pode-se apontar a indústria de plástico e de alimentos. O setor terciário gradativamente está se tornando independente da Capital do estado, tanto no comércio como na prestação de serviços. Dentre as principais atividades, destaca-se o turismo, que vem se destacando na região, e o comércio. Dados do IBGE indicavam, em 2003, a existência de 1.436 empresas formais no município, das quais 49,9% eram comerciais. Já o setor primário tem certa representatividade na economia local e está voltado, principalmente, para hortifrutigranjeiros, plantio de arroz, grama em leiva, flores, árvores ornamentais, e a pesca, que é praticada em pequena escala.