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Caso Prático 1

No documento 09 OF Dissertação HFinal (páginas 99-103)

4. Proposta de Modelo

4.2. Validação do Modelo

4.2.1. Caso Prático 1

4.2.1.1 Entrevistas

Para se validar, primariamente, o presente modelo de Cyber Intelligence, aplicado à gestão de crises no ciberespaço, a metodologia seguida foi a técnica de entrevista semiestruturada. As entrevistas seguiram um processo de planeamento, formulação do guião e respetivas questões, realização da entrevista propriamente dita, transcrição, análise de conteúdos e elaboração do relatório (Oliveira, 2000; Boni e Quaresma, 2005; Costa, et al., 2004). Após a revisão de literatura dos modelos existentes de Cyber Intelligence, em particular os modelos de análise de informações obtidas a partir de fontes abertas no ciberespaço, sendo estes os dados objetivos de pesquisa, foi possível obter dados subjetivos, através do recurso às entrevistas, que se relacionam com valores, atitudes e opiniões dos sujeitos entrevistados (Boni e Quaresma, 2005).

Para o método de investigação presente neste trabalho, o tipo de entrevista mais adequado é a entrevista semiestruturada, pois pretende-se verificar e aprofundar um estudo efetuado pelo pesquisador (Costa, Rocha, Acúrcio, 2004). A entrevista semiestruturada foi realizada com perguntas abertas e fechadas, previamente definidas. No plano prático, criou-se um ambiente muito semelhante ao de uma conversa informal, pois a interação entre o entrevistador e o entrevistado favoreceu respostas mais espontâneas (Boni e Quaresma, 2005).

Na fase de preparação da entrevista, foram definidos os objetivos gerais e o formulário com as questões importantes, que se materializaram no guião da entrevista, conforme Apêndice V. Nesta fase foram, ainda, selecionados os entrevistados, de acordo com dois critérios: familiaridade com o tema e setor de atividade. Pretendeu-se entrevistar especialistas de informações e/ou entidades relacionadas com a segurança da informação no ciberespaço, de cada uma das seguintes áreas: Militar, Governo, Setor Privado e Académico.

A principal vantagem da entrevista semiestruturada é que nesta técnica as respostas espontâneas dos entrevistados fizeram surgir questões, que foram de grande utilidade na pesquisa. De realçar, também, que as entrevistas foram realizadas nos locais de trabalho dos entrevistados, sem condicionamentos. Não houve nenhuma limitação digna de registo,

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para além, da possível insegurança do entrevistado em relação ao seu anonimato e por esse motivo possa ter omitido algumas informações importantes.

4.2.1.2. Análise de conteúdo das Entrevistas

Após a realização das entrevistas, foram elaborados os respetivos relatórios, contendo os objetivos da entrevista, os principais pontos abordados e as opiniões dos entrevistados. Os entrevistados, ora são militares do CISMIL, ora especialistas ligados à área dos Serviços de Informações do Estado ou à Inteligência Competitiva (Competitive Intelligence).

De seguida, serão descritos os aspetos mais relevantes a fixar nestas entrevistas e qual o seu contributo na validação do modelo que se apresenta.

O Sr. Tenente Coronel Lima Alves é militar e presta serviço no CISMIL, há mais de 20 anos, sempre ligado às Informações Militares, particularmente na área de análise de informações. Hoje em dia, a sua área de atuação é extensa, desde África, ao Médio Oriente, até mesmo América Latina. Tendo em conta, a sua experiência como analista, foram-lhe colocadas algumas questões relacionadas com o tema Cyber Intelligence.

Assim, os temas abordados foram os seguintes: a importância da OSINT e a relação com o ciberespaço; os tipos de fontes OSINT, que utiliza e as ferramentas de recolha de informação “em linha"; o que entendia por Fontes Abertas (Open Sources) e Fontes Livres (Free Sources); e as vulnerabilidades do serviço de informações, nomeadamente, a falta de recursos humanos na análise de informações.

Esta entrevista (Apêndice VI) serviu, principalmente, para reforçar a importância do ciberespaço na análise de informação, pois é evidente a dependência dos analistas na informação que veicula na Internet, nomeadamente nos “Blogs”, por exemplo, na questão dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

Contudo, toda esta informação é integrada e analisada segundo outras fontes ou disciplinas, sobretudo através dos Adidos Militares, colocados nessas regiões, e as operações de HUMINT. Por outro lado, estes analistas têm acesso a redes internas classificadas da OTAN, que, por sua vez, também validam, ou invalidam, toda a informação recolhida por fontes abertas.

De seguida, foi entrevistado o Sr. Tenente Coronel Gonçalves, que é, também, militar do CISMIL, que, neste momento, está a trabalhar na área da pesquisa e da disseminação de informação.

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Nesta entrevista foi possível conhecer o quadro orgânico do CISMIL, a sua missão e responsabilidades (Apêndice IX); quais as suas áreas de interesse e de influência e, deste modo, conhecer os Priority Intelligence Requirements (PIR’s); quais as redes e plataformas usadas para obter informação; que ferramentas ou agregadores de informação são utilizados; as vantagens e desvantagens na utilização de OSINT; a falta de cultura e de uma Escola de Informações; e da importância do CISMIL, na gestão de crises no ciberespaço. Através desta entrevista (Apêndice VII), foi possível ver o outro lado das informações - o

“Antes” e o “Depois”, ou seja, o que acontece antes e depois da fase de análise. Por outras

palavras, fala-se das responsabilidades, das fontes, da cultura, das vantagens e desvantagens, da gestão de crises no ciberespaço.

Sem desprimor pela análise de dados, que tem uma enorme importância no processo de informações, existem outras variáveis que são, também, importantes, tais como as origens da informação, as áreas de atuação, as fontes, as pessoas, a formação, a cultura, a cooperação e a integração interdisciplinar, com outras fontes não classificadas e classificadas.

Rumando para o mundo empresarial, foi fundamental ouvir a voz de um especialista de informações ligado ao setor privado. O Prof. Dr. Pedro Borges Graça é professor associado do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade Técnica de Lisboa, docente de vários cursos ligados às Informações e à Estratégia. As suas atividades de investigação estão relacionadas com Estudos de Informações e de Segurança, Estudos Africanos, História Contemporânea, Relações Internacionais, Estratégia e Geopolítica. Em comissão de serviço, foi Diretor de Departamento do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa e Militares.

Na entrevista (Apêndice VIII) foram abordados alguns assuntos pertinentes que ajudam a entender a problemática da Cyber Intelligence e da livre e segura partilha de informações, entre o setor público (serviços) e o setor privado (empresas). Assim, são de realçar alguns pontos mais relevantes abordados nesta entrevista.

a. Inteligência Competitiva. No mundo empresarial fala-se neste conceito para abordar as informações no meio empresarial.

b. “Correspondant Honorable”. Figura de ligação, dos “serviços” a determinadas “empresas”.

c. As relações de confiança (ou promíscuas) entre serviços de informações e uma componente empresarial.

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d. O caso da Ongoing. Se uma empresa é conhecida no mercado por ter relações privilegiadas com um serviço de informações, de que país for, à partida, poderá ter efeitos nefastos para a imagem da empresa.

e. Espionagem económica. Todos os serviços, sem exceção e de acordo com as suas capacidades, têm um correspondente muito secreto de espionagem económica. Não transparecem cá para a opinião pública, a não ser quando acontecem escândalos e se deslumbram um pouco as operações em curso.

f. O célebre caso “Vallery Plan” é um caso típico de uma operação de espionagem económica.

g. Tecnologia e investigação. Os grandes desenvolvimentos tecnológicos são feitos no ambiente militar. Existem relações ou contratantes privados para preencher determinadas necessidades.

h. Libertação de informação desclassificada. O segredo de Estado está mal desenhado e consagrado, juridicamente, em Portugal, ao não permitir a “desclassificação” de informação.

i. Valorização das informações. Do ponto de vista das empresas não existe uma valorização do valor das informações.

j. O “Pronto-a-vestir” das informações. É muito fácil, hoje, ir buscar informação por fontes abertas à Internet, se bem que com recurso a uns pequenos truques e bem orientado.

k. Células de informações. É importante que cada empresa tenha a sua célula de informações. Se for bem organizada, essa célula deverá estar fisicamente à parte e estará disfarçada com outro nome e função (por exemplo a consultadoria ou a análise estatistica).

l. Unidade sectorial de informações. Poderá existir uma unidade sectorial que interligue a informação do privado e do Estado, com uma plataforma de informação

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