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2 A PRISÃO PREVENTIVA E OS CRITÉRIOS PARA A VERIFICAÇÃO DA

2.4 OS CRITÉRIOS PARA VERIFICAÇÃO DA DILAÇÃO INDEVIDA DA PRISÃO

2.4.3 Caso Suárez Vs Equador (CIDH)

No dia 22 de novembro de 1995, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos apresentou perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos uma demanda contra a República do Equador para que a referida Corte decidisse se houve violação, por parte do Equador, dos artigos 5 (Direito à Integridade Pessoal), 7 (Direito à Liberdade Pessoal), 8 (Garantias Judiciais) e 25 (Proteção Judicial), todos eles em relação ao artigo 1 (Obrigação de Respeitar os Direitos) da Convenção, em detrimento do senhor Rafael Iván Suárez Rosero. (Corte Interamericana de Direitos Humanos, 1997).

A referida demanda tratava da prisão e da detenção do senhor Suárez Rosero em contravenção a uma lei pré-existente, bem como da não apresentação do preso perante um funcionário judicial após a sua prisão. Tratava também da incomunicabilidade do senhor Suárez Rosero por 36 (trinta e seis) dias. Foi motivo da demanda também a falta de resposta adequada e efetiva às tentativas de Suárez Rosero de invocar as garantias judiciais internas. Além disso, tratava da não liberação do senhor Suárez Rosero, ou a ausência da intenção de o fazê-lo por parte do Estado, em um prazo razoável, bem como de assegurar que ele seria ouvido dentro de um tempo igualmente razoável no processamento das acusações que pesavam contra ele. (Corte Interamericana de Direitos Humanos, 1997).

A Comissão solicitou à Corte que declarasse que a República do Equador havia violado o artigo 2 da Convenção, por não ter adotado as disposições de direito interno destinadas a tornar efetivos os direitos mencionados do senhor Suárez Rosero, mencionando, dentre outras solicitações que o Estado: a) deveria adotar as medidas necessárias para liberar o senhor Suárez Rosero e lhe garantir um processo exaustivo e diligente; b) deveria assegurar que violações como aquelas denunciadas não se repetiriam no futuro; c) deveria iniciar uma investigação rápida e exaustiva para estabelecer a responsabilidade pelas violações e punir os responsáveis; e d) deveria reparar o senhor Suárez Rosero pelas consequências das violações contra ele cometidas. (Corte Interamericana de Direitos Humanos, 1997).

Em 15 de março de 1996, a Comissão solicitou que tomasse as medidas necessárias para assegurar que o senhor Suárez Rosero fosse posto imediatamente em liberdade, mantendo-se o processo contra ele. O fundamento de tal pedido foi o fato de o senhor Suárez Rosero havia estado em prisão preventiva por aproximadamente três anos e nove meses. Além disso, o senhor Suárez Rosero não havia sido separado dos presos condenados e que existia uma decisão judicial que ordenava a sua liberdade. (Corte Interamericana de Direitos Humanos, 1997).

Em 12 de abril de 1996, a Comissão solicitou à Corte que as medidas urgentes fossem ampliadas à esposa do senhor Suárez Rosero, senhora Margarita Ramadán de Suárez, e sua filha, Micaela Suárez Ramadán, em razão de um suposto atentado contra a vida do senhor Suárez Rosero, ocorrido no dia 1º de abril de 1996 e, em razão às ameaças e perseguições que haviam contra ele e sua família.

Assim, por meio de resoluções de 12 e 24 de abril de 1996, o Presidente da Corte solicitou ao Estado que adotasse, sem demora, todas as medidas que fossem necessárias para assegurar, de maneira eficaz, a integridade física e moral, não somente do senhor Suárez Rosero, bem como de sua esposa e de sua filha. Então, em 28 de junho 1996, a Corte decidiu por suspender as medidas urgentes em razão das informações recebidas, tanto da Comissão, quanto do Estado de que Suárez Rosero havia sido posto em liberdade e que não havia mais riscos para ele e sua família. (Corte Interamericana de Direitos Humanos, 1997).

Ao fim do procedimento, a Comissão afirmou, dentre outras coisas, que o Estado, ao submeter o senhor Suárez Rosero a uma prolongada detenção preventiva, violou: a) o direito a um julgamento dentro do prazo razoável, estabelecido n artigo 7.5 da Convenção; b) o direito a ser ouvido por um tribunal competente, estabelecido no artigo 8.1 da Convenção; e c) o princípio da inocência, estabelecido no artigo 8.2 da Convenção. (Corte Interamericana de Direitos Humanos, 1997).

O Estado do Equador, por sua vez, apresentou suas alegações finais escritas, nas quais afirmou que não se podia deixar de lado que os juízes atuaram com a maior agilidade possível e que deveriam ser levadas em consideração as limitações de pessoal e econômicas enfrentadas pelo Judiciário. Além disso, que o trabalho foi ampliado diante do volume dos autos processuais integrados por mais de 43 (quarenta e três) partes, constituídos por mais de 4.300 (quatro mil e trezentas) folhas, devido ao alto número de acusados no referido caso e na operação denominada “Ciclone”. (Corte Interamericana de Direitos Humanos, 1997).

O Estado do Equador assumiu que fosse possível que houvesse algum descumprimento nos termos e prazos previstos para a fundamentação do juízo ou que se tenha

deixado de observar alguma das formalidades dentro das instâncias processuais, mas que seria necessário deixar claro que de nenhuma maneira o Estado equatoriano limitou a ação do senhor Suárez Rosero. Afirmou que lhe foi permitido permanentemente exercer de forma adequada seu direito à legitima defesa. Que não houve atentado contra seus direitos inalienáveis e nem houve condenação injusta, pois esta foi confirmada, em última instância, pela Sala da Corte Superior de Justiça de Quito. (Corte Interamericana de Direitos Humanos, 1997).

Afirmou, ainda, em alegações finais, que o princípio do prazo razoável a que fazem referência os artigos 7.5 e 8.1 da Convenção Americana tem como finalidade impedir que os acusados permaneçam um longo tempo sob acusação e assegurar que esta seja decidida rapidamente. (Corte Interamericana de Direitos Humanos, 1997).

A Corte utilizou-se de três elementos para determinar a razoabilidade do prazo, conforme o critério do Tribunal Europeu de Direitos Humanos: a) a complexidade do assunto; b) a atividade processual do interessado; e c) a conduta das autoridades judiciais. (Corte Interamericana de Direitos Humanos, 1997).

Assim, realizando um estudo global do procedimento na jurisdição interna equatoriana contra o senhor Suárez Rosero, a Corte advertiu que o procedimento demorou mais de 50 meses. Portanto, entendeu a Corte que o período excedeu em demasia o princípio de prazo razoável consagrado na Convenção Americana. (Corte Interamericana de Direitos Humanos, 1997).

Além da decisão pela duração demasiado longa do processo, a Corte também decidiu acerca do tempo de prisão preventiva à qual o senhor Suárez Rosero foi submetido.

A Corte considerou que o fato de que o tribunal equatoriano tenha declarado o senhor Suárez Rosero culpado pelo crime de ocultação não justificaria que tivesse sido privado da sua liberdade por mais de três anos e dez meses, uma vez que a lei daquele Estado previa um máximo de dois anos como pena para esse crime. (Corte Interamericana de Direitos Humanos, 1997).

Com base nisso, a Corte declarou que o Estado do Equador violou o direito do senhor Rafael Iván Suárez Rosero, estabelecido nos artigos 7.5 e 8.1 da Convenção Americana, a ser julgado dentro de um prazo razoável ou ser colocado em liberdade. (Corte Interamericana de Direitos Humanos, 1997).

Tem-se, portanto, dessa decisão, que a Corte Interamericana de Direitos Humanos considerou que a prisão preventiva do senhor Suárez Rosero teve uma duração superior a que seria razoável, utilizando-se dos critérios do Tribunal Europeu de Direitos Humanos: a) a

complexidade do assunto; b) a atividade processual do interessado; e c) a conduta das autoridades judiciais; mas de forma global.

No entanto, embora tenha decidido pela dilação indevida da prisão preventiva, a Corte enfrentou o critério de forma global. Não há enfrentamento de todos os elementos do critério de forma individualizada, o que dificulta a análise sobre a definição de cada elemento e o peso de cada um na decisão da Corte.

2.5 OS CRITÉRIOS DOUTRINÁRIOS PARA A VERIFICAÇÃO DA DILAÇÃO