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3 EXPERIÊNCIA SOCIAL

3.2 RELATO DAS EXPERIÊNCIAS: A CONVERGÊNCIA DE CAMINHOS

3.2.1 O caso da Vila Olímpica

Existiu uma proposta por parte do grupo de educação ambiental de Águas Emendadas de criar no Parque Sucupira um núcleo de educação aproveitando casinhas de madeira disponíveis no Palácio do Jaburu. Para discutir a possibilidade e a parceria foi marcada uma reunião em que participaram representantes da Secretaria de Educação, do Instituto Brasília Ambiental, da Universidade de Brasília, da Estação Ecológica, da Secretaria de Esportes e de membros da comunidade (anexo 6).

uma Vila Olímpica no Parque e que o Distrito Federal disponibilizaria mais de sete milhões de reais para esse fim. Sabendo que para a cidade de Planaltina uma Vila Olímpica é um bom investimento social, nos perguntamos se o Parque seria o local adequado. Optamos por investigar melhor as possibilidades e no dia seguinte à reunião parte do grupo se encontrou com técnicos do Instituto Brasília Ambiental, para fazer um estudo da área e pensar o que seria melhor para a cidade e para o Parque.

Figura 16 – Planta da Vila Olímpica.

Fonte: Secretaria de Esportes do Distrito Federal

Nesse encontro surgiu a possibilidade de aproveitar o módulo esportivo da cidade, que se localiza ao lado da rodoviária, portanto, de mais fácil acesso a toda a cidade. Este espaço se encontrava ocioso, com problemas de infra-estrutura e com espaço suficiente para comportar a vila. Essa possibilidade foi levada pelo grupo ao administrador da cidade que depois de alguma negociação disse que levaria a questão ao governo distrital.

Nesse momento ficou marcada uma reunião com o secretário de meio ambiente para mostrar o estudo e a possibilidade de transferência da Vila Olímpica para outro local. Tal reunião nunca aconteceu, mas alguns meses depois o governo anunciou a construção da Vila Olímpica no módulo esportivo da cidade.

Não podíamos deixar de considerar o levantamento florístico feito por técnicos do próprio governo, que indicou que a área de cerrado destruída seria uma das mais conservadas do Sucupira, mesmo sabendo do interesse dos moradores do bairro em comportar a vila.

As necessidades do bairro em que está o Parque são relacionadas com segurança, infra-estrutura básica como coleta de lixo, saneamento, tráfico e consumo de drogas. É fácil imaginar que uma área abandonada, sem luz, sem pessoas utilizando pode ser tomada por tais problemas. No entanto esses problemas são resolvidos com políticas públicas financiadas pelo Estado em atendimento à necessidades imediatas da população e não repassando o problema para que outra secretaria ou instituição resolva.

O dinheiro necessário para a colocação das casas no Parque era de aproximadamente 300 mil reais, quantidade bem menor do que a disponibilizada pelo governo para a secretaria de esportes. A questão ambiental é invisibilizada pelo governo quando é do seu interesse a auto-promoção. Mais de uma Vila olímpica foi implantada em outros Parques do Distrito Federal.

Não há, nesse caso, uma ausência de informação sobre as necessidades do Parque e da cidade, existe o desinteresse do governo em destinar recursos para a área ambiental, o que faz sentido dentro seu do jogo de poder. O interesse é a manutenção e não a transformação. A visão reducionista e pouco ética de representantes do governo coloca a questão da arrecadação de votos em detrimento a da qualidade de vida. Isso configura um desrespeito à liberdade das pessoas reduzindo o número de oportunidades de manifestação de direitos.

A Vila olímpica é uma obra monumental que pretende alterar a vida da cidade, o Parque Sucupira é um local isolado quem não necessita de grande montante de recursos públicos para funcionar. A opção do governo é pelo que pode ser visto pelo público votante. Há, ainda, o interesse pela especulação imobiliária e reserva de terras para tal.

A luta do movimento social é integrada às realizações do Estado opressor, que manipula informações e toma para si realizações importantes invisibilizando a luta e a participação social. Essa estratégia fortalece a idéia da eficácia da democracia representativa que se mostra como interessada na qualidade de vida da população e não no poder que, em geral, é seu objetivo. A divulgação feita pelo governo sobre a inauguração da

da Vila Olímpica é um claro exemplo da produção de não-existência da luta do movimento social.

O jornal em que vimos a divulgação da construção da Vila Olímpica (anexo 7), o carro de som que anunciara tal fato na cidade e a página da secretaria de meio ambiente em nenhum momento relataram a história das pessoas envolvidas nessa decisão. A notícia exaltava a Vila Olímpica como útil para a cidade e como mais uma realização do governo do Distrito Federal.

Esse é um claro exemplo de integração da luta do movimento social na propaganda política do governo. Ao não revelar a luta da comunidade envolvida na decisão dos representantes do governo, uma parte da história foi sonegada à população, exatamente a parte que mostra uma possibilidade de atuação concreta e cidadã.

A estratégia de quem quer permanecer no poder é invisibilizar a luta de outro grupo e incorporar as realizações ao seu currículo. A intenção não é apenas ter para si o mérito da causa, mas também desestimular a participação escondendo por meio da manipulação de informações essa possibilidade.

Também, as ações em torno da questão da Vila Olímpica, mostram um caminho de participação efetivo e rápido. Fica evidente que a participação social organizada surte efeito nas decisões políticas. Elucidar essa questão é mostrar à população possibilidades de atuação presentes que precisam da participação popular para a construção de um futuro mais justo e coletivo.

As noções de democracia, de participação e de cidadania complexas estão em evidência nesse caso. Esse caso ilustra uma transformação que atinge o cotidiano da cidade, mas que ainda não muda a lógica de atuação do governo que insiste em responder apenas sob pressão popular.

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