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Objetivos

Ao longo do estágio, realizei diversos exames andrológicos (um com Dr. André Parada e cinco com Dr. Rui Silva). Desta forma, esta discussão tem como objetivo a demonstração dos resultados dos exames andrológicos que realizei e tirar conclusões acerca destes, tendo em conta certos fatores, como a idade, raça, história, volume de ejaculado, diâmetro da circunferência escrotal, cor do ejaculado, exame do aparelho reprodutor, mobilidade massal, mobilidade individual, concentração, vitalidade e percentagem de anomalias morfológicas. Só foi utilizada a ultrassonografia num caso (touro 5), uma vez que este apresentava atrofia testicular direita e atrofia do epidídimo direito. Os outros touros apresentaram um exame andrológico normal, com exceção do touro 4 que apresentou uma percentagem de anomalias morfológicas superior a 30%.

Materiais e Métodos

Os bovinos examinados (seis no total) são provenientes de explorações diferentes, com exceção dos touros 3, 4 e 6. O touro 1 pertencia a uma vacada na região da Estremadura e os outros touros faziam parte de explorações da Costa Vicentina.

Os touros analisados tinham idades compreendidas entre os 20 meses e 7 anos e os exames andrológicos foram todos efetuados à pré-entrada, ou seja, antes da época de cobrição. Os exames andrológicos foram realizados com a seguinte sequência:

- Contenção do touro em manga e sua identificação;

- Exame físico geral: exame da visão, do olfato e da audição, assim como a avaliação da condição corporal. Foi também efetuado o exame dos membros e cascos e foram despistados outros defeitos do foro hereditário ou de desenvolvimento, como por exemplo, tilomas, hérnias umbilicais entre outros;

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- Exame do aparelho reprodutor, onde foi examinado: o escroto, para verificar se continha aderências ou espessamentos, os testículos para examinar se havia atrofia, fibrose ou algum testículo ectópico, a cabeça, corpo e cauda dos epidídimos para verificar padeciam de epididimites, e finalmente, o prepúcio para verificar se se encontrava prolapsado e se o pénis continha hematomas, abcessos ou aderências. Nesta fase, também foi medida a circunferência escrotal. As glândulas sexuais acessórias foram examinadas via transretal, tendo como principal objetivo o despiste de vesiculites.

- Colheita de sémen por eletroejaculação, com a utilização de um eletroejaculador (“Eletrojac 6” - Neogen, modo manual- 40 ciclos no total, cada um com 2 segundos, seguidos de 2 segundos de pausa- voltagem variável consoante a resposta do touro). A colheita de ejaculado foi feita para um tubo de ensaio que ia rapidamente para um recipiente em banho-maria a 35ºC.

- Análise macroscópica do sémen: cor e volume.

- Análise microscópica: Mobilidade massal- colocou-se uma gota de sémen sobre uma lâmina e com a ampliação de 200× avaliou-se o sémen em relação à mobilidade massal. O método de avaliação da mobilidade massal foi diferente da técnica mencionada na revisão bibliográfica. Assim, este foi avaliado numa escala de 1 a 5, onde 5 se apresentava com ondas rápidas e escuras, os espermatozoides batiam na “parede” (fim de lamela) e voltavam, 4 se continha ondas mais lentas, os espermatozoides batiam na “parede” e permaneciam na parede, 3 sem ondas, mas com movimento individual proeminente, 2 com pouco movimento individual e 1 sem movimento (Cottle & Kahn, 2014). Mobilidade Individual- colocou-se uma gota de sémen sobre uma lâmina com uma lamela por cima, e com a ampliação de 400× avaliou-se a mobilidade progressiva dos espermatozoides. O sémen foi classificado de “Muito bom” quando apresentava mobilidade individual superior a 70 %, “Bom” entre 50-69%, “Razoável” entre 30-49% e “Pobre” com mobilidade inferior ou igual a 29%.

- A concentração foi calculada com a utilização da câmara de Neubauer. Inicialmente a amostra foi diluída com o fator de diluição 1:2 em Equipro (solução de enriquecimento). Depois esta cultura celular foi diluída numa solução fixadora (vermelho de fenol 2mg, citrato de sódio 1%, 2 ml de formol) na diluição 1:200. Posteriormente, foi colocada uma lamela sobre a câmara de Neubauer e preencheu-se o espaço entre a lamela e o hemocitómetro com uma gotinha da solução resultante em cada lado. Observou-se ao microscópio na ampliação de 400× e calculou- se a concentração com a fórmula:

Fator de diluição x nº de espermatozoides contados x 1000 x 50.

- Anomalias morfológicas - foi depositada uma gota de sémen e uma gota de eosina-negrosina numa lâmina. Procedeu-se à mistura das gotas para depois fazer um esfregaço. Secou-se a lâmina e depois observou-se ao microscópio ótico na ampliação de 400×. A percentagem de

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anomalias morfológicas foi contabilizada através do registo das diversas anomalias em 100 espermatozoides (como por exemplo, cabeças destacadas, gota citoplasmática proximal ou distal, cauda enrolada ou partida, entre outras), tanto em espermatozoides vivos, como em espermatozoides mortos.

- A percentagem de vitalidade foi calculada através das lâminas do esfregaço, onde se contaram no mínimo 100 espermatozoides em cada lâmina e foi assinalado se os espermatozoides estavam vivos ou mortos (eosina penetra células com membranas não viáveis ou espermatozoides mortos, exibindo cor rosa). Foram analisadas 2 lâminas de esfregaço por touro, e foi efetuada a respetiva média das duas lâminas.

- Exame ecográfico touro 5 – Utilização do ecógrafo “Imago”, com sonda linear, frequência 5-7,5 MHz, em modo B. Foi realizado o exame dos testículos em corte transversal e longitudinal e os epidídimos foram observados com a colocação da sonda perpendicularmente à face longa do testículo.

Em relação ao touro 1, a vitalidade, a concentração e a percentagem de anomalias morfológicas não foram calculadas.

Resultados

Tabela 4 - Dados dos touros que foram submetidos a exames andrológicos durante o meu período de estágio

Touro 1 Touro 2 Touro 3 Touro 4 Touro 5 Touro 6

História/motivo Pré- entrada Pré- entrada Pré- entrada Pré- entrada Pré- entrada Pré- entrada Idade 2 anos 20 meses

3,5 anos 20 meses 7 anos 1,5 anos

Raça X

Limousine

Charolês X Limousine

Sallers Limousine Limousine

C.C. 7 6 5 6,5 5 6

Diâmetro C. E. 41 cm 39,5 cm 42 cm 40,5 cm 40,5 cm 39 cm

Exame ao aparelho reprodutor

Normal Normal Normal Normal

Atrofia testicular direita e atrofia do epidídimo direito Normal Volume ejaculado (ml) 5 ml 3 ml 5 ml 5 ml 6 ml 4 ml

Cor ejaculado Leitoso/

Marfim

Marfim Marfim Leitoso/ Marfim

Leitoso/ Marfim

Leitoso

26 Mob. Individual 70% 60% 65% 50% 50% 60% Concentração espermatozoides/ ml - 160x106 200x106 312x106 100x106 770x106 Vitalidade % - 59,55% 67,5% 61,35% 58,4 % 63,2 % % de anomalias morfológicas - 25,75% 22,8% 36,2% 27,7% 25,95% Discussão

Os touros avaliados tinham circunferências escrotais superiores aos valores mínimos requeridos para cada idade, pelo que foram todos aprovados neste aspeto, com exceção do touro 5 que no exame ao aparelho reprodutor apresentou atrofia testicular direita e atrofia do epidídimo direito.

Na avaliação da mobilidade massal, pode-se aferir que todos os touros tiveram resultados superiores a 2,5, ou seja, praticamente todos os touros continham sémen com espermatozoides com movimento individual proeminente e, no touro 1 os espermatozoides conseguiam fazer ondas lentas. Em relação à mobilidade individual dos touros foram avaliados como “Bons”, visto que todos os touros tiveram percentagens compreendidas entre os 50% e 70%.

Segundo Youngquist & Threfall, o touro 6 foi considerado “Muito bom” em relação à concentração de espermatozoides, o touro 4 Razoável e os restantes touros Pobres. No entanto,

Figura 12-Imagem de corte longitudinal do testículo direito do touro 5. Atrofia testicular. 1-

Rede testis dilatada e hipoecóica, com pontos de hiperecogenecidade - fibrose. (Imagem

ecográfica da autoria de Dr. Rui Silva)

Figura 13 – Imagem de corte transversal da cauda do epidídimo do touro 5. 2- Cauda do epidídimo com zonas hiperecoicas, sugestivas

de fibrose. (Imagem ecográfica da autoria de Dr. Rui Silva)

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este parâmetro não é eliminatório, uma vez que o método de recolha utilizado foi o eletroejaculador, que é considerado intrusivo e nem todos os touros respondem bem a este. Além disso, a recolha pode não ter sido a mais indicada, podendo resultar num ejaculado com oligospermia ou azoospermia porque se recolheu uma quantidade elevada de líquido prostático.

A percentagem de anomalias morfológicas é um parâmetro eliminatório, sendo que a percentagem das células normais deve ser no mínimo 70%. Desta forma, apenas o touro 4 é insatisfatório neste parâmetro, pelo que foi marcada uma reavaliação para 60 dias depois (tempo de uma nova espermatogénese). Pensou-se no envolvimento de um processo febril que possa ter afetado aquela espermatogénese.

Concluindo, todos os touros foram avaliados como satisfatórios no geral, com a exceção do touro 4 devido à percentagem de anomalias morfológicas e o touro 5 que apresentou atrofia testicular direita no exame do aparelho reprodutor. Para os touros satisfatórios, espera-se que durante um período de cobrição de 9 semanas, num efetivo de 50 vacas cíclicas, estes consigam 94% de gestações, sendo 60% resultantes das 3 primeiras semanas de cobrição (Penny, 2009). O caso mais relevante deste relatório de estágio foi o touro 5. Apresentava à palpação no exame do aparelho reprodutor, atrofia do epidídimo direito e atrofia testicular direita. Desta forma, recorreu-se à ultrassonografia testicular para visualizar e diagnosticar o problema do animal.

Nas imagens ecográficas presentes nos resultados, é possível observar-se diminuição da ecogenecidade com pontos hiperecoicos sugestivos de fibrose na rede testis (Figura 12). A cauda do epidídimo encontra-se aumentada com zonas hiperecogenicas, também compatíveis com fibrose (Figura 13). Apesar de não terem sido feitos mais exames complementares (como citologia, por exemplo), segundo Harry Momont and Celina Checura, a imagem ecográfica pode ser correspondente a um granuloma da cauda do epidídimo. Doenças traumáticas, congénitas e inflamatórias são habituais neste local anatómico, onde há estase do sémen e consequentemente formação de granulomas (Chapter 9, Hopper, 1987). Apesar da patologia, este touro apresentou um espermograma normal, visto que o outro testículo funcionava bem e conseguia compensar a anomalia apresentada. Crê-se que sempre que este ejaculava, o sémen que provinha do testículo direito passava o corpo do epidídimo, batia no granuloma da cauda do epidídimo e voltava para trás. A atrofia do testículo teve origem neste processo que já era crónico.

Em teoria, este touro seria reprovado no exame andrológico devido à atrofia testicular, no entanto, o dono gostava dele pelo seu historial genético, pelo que este ficou como cobridor de poucas fêmeas (10-15) sem cios concentrados, e o retorno ao cio das vacas deve ser posteriormente avaliado.

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CONCLUSÃO

Com a realização deste relatório de estágio tornou-se ainda mais evidente a importância do exame andrológico e a utilização da ultrassonografia neste. Para além de nos ajudar a diagnosticar touros inférteis ou subférteis, ajuda também a identificar animais com bons resultados no exame andrológico mas com patologias não visíveis no exame físico, apenas diagnosticadas com auxílio do ecógrafo. Este meio complementar de diagnóstico, melhora a acuidade do diagnóstico e podemos definir as hipóteses de recuperação do animal.

O Médico Veterinário tem um papel muito importante na identificação de bons touros férteis e no melhoramento da fertilidade em explorações, de forma a que as explorações diminuam o intervalo entre partos e os períodos de cobrição e, consequentemente, aumentem o número de vitelos desmamados por ano.

É de referir que com este estágio os meus objetivos foram conquistados, visto que adquiri técnicas de maneio com animais com os quais raramente tinha contacto (bovinos de carne). Também adquiri mais conhecimentos teóricos e competências para além da formação académica, que me vão ajudar no diagnóstico de patologias em animais com que futuramente irei trabalhar.

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ANEXOS

Imagem 1- Parto distócico, desproporção Imagem 2 – Sutura da pele após feto- materna de origem materna cesariana

Imagem 3 – Prolapso uterino com rutura Imagem 4 – Sanidade em suínos da artéria uterina

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Imagem 5 – Descorna de novilho Imagem 6 – Tala de Thomas

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