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O castigo na escola

No documento 2007DilceMariaSturmer (páginas 113-115)

3. A PRODUÇÃO COLONIAL E A VIDA DOS IMIGRANTES E TEUTO-

4.7. O castigo na escola

A cara feia, a mão pesada, a paciência curta eram tidas como melhor forma para a educação das crianças e adolescentes. Possivelmente os pais e professores passaram por esse mesmo “aperto” e não lhes foi mostrado outro modo de agir diante das travessuras dos filhos. Os castigos eram violentos e humilhantes tanto em casa quanto na escola. Por isso, a aceitação dos pais de alguma atitude mais severa ou brutal dos professores. Os mais antigos lembram que sofriam agressões físicas na escola. Assim ocorreu com Albino Friedrich: “Na escola eles botavam grão de milho no chão, daí botavam de joelho no chão, em cima. Daí eles tinham uma varinha de marmelo né. E o professor, ele costumava batê assim, a mão na cabeça [mostrou com as mãos].”333 Flora Meinke, também sofreu com essas repreensões na escola: “Eles surravam. A gente tinha que botá as mãos e surravam em cima com régua e até vara.”334

Para o senhor Osvaldo Persch, a figura do professor era lei. Por isso ninguém se rebelava contra essas atitudes: “A professora tinha a vara de marmelo. Naquela época as professoras tinha a lei né. Podiam castigá criança né. Podia surrá e segurá numa repartição fechada. Eles podiam fechá os alunos e depois largá de meio-dia. Era um tipo de castigo.

331 Depoimento de Regina Arlete Trein, 52 anos, residente em Ibirubá. Registro 08-12-2006.

332 AZAMBUJA, Lissi Bender. Língua alemã: um legado dos imigrantes alemães para Santa Cruz do Sul –

RS. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2002. p.88.

333 Depoimento de Albino Friedrich, 98 anos, residente em Ibirubá. Registro 25-9-2006.

Agora, aconteceu num lugar, o professor boto o aluno num poron fechado e tinha uma cobra. E, quando viram tava morta. Eu me lembro ainda.”335

Eram várias as maneiras de castigar um aluno, como contou Vilma Persch: “Na escola nóis também ganhava castigo. Ficava uma tábua erguida, uma hora sem baixá os braços. Quando baixava, ele [o professor] dizia: ‘Levanta os braço!’ Ficava lá. Tinha que ficá com a tábua pesada, segurando.” Vilma continua dizendo que: “O professor, aquele, pegava e botava a cabeça do piá no meio das pernas e ó [batia]. Um rapaiz ele surrô tanto, que ele fico oito dia de cama.”336

Olemar Friedrich, de 60 anos, casou-se anos depois com a filha de seu professor, mas não hesitou em comentar sobre o tratamento dado aos alunos: “Olha, se é pra dizê a verdade, na escola o professor não era fácil. Ele abria a mão assim e dava com régua e tinha que ajoelhá na tampinha de garrafa. Quem não respeitava, era assim.”337

Os castigos não se restringiam aos alunos mal comportados, mas também àqueles que não entendiam o conteúdo. Esses também eram agredidos fisicamente, o que levava a “classe” a reagir com medo diante do professor austero. Ninguém gostava de presenciar os maus tratos com os colegas. Assim colocou Eli Welzer: “Ah, ele [professor] surrava. Até ele tirava o chinelo do pé e atirava com chinelo quando não prestavam atenção. Isso ele fazia. Ele era enérgico. Nóis tinha medo do nosso professor. Agora, o meu [professor], ele exagerou. Porque tinha alunos que não compreendiam né, que não tinha as idéias, não aprendiam fácil né. Eu sei que tinha um tal de Paulo lá. Pra esse era difícil tudo. Ele não aprendia. Aí, o professor queria que ele estudasse e ele [professor] pegava na nuca e batia na parede. Isso ele fazia. Ele era muito enérgico e nóis ficava com ‘dó’ dele [colega] e nóis ficava olhando. Nóis tinha medo.”338

Anos depois, essa situação humilhante não mudou muito. A régua na classe da professora era uma ameaça e inibia qualquer atitude inadequada, como colocou Lenir Lamb de Campos: “Por comportamento, eles [os alunos] recebiam castigo; tinha que ficá na escola, tinha dois degraus bem largos, viravam assim pra rua [mostrou os braços abertos] ajoelhados e quem passava já sabia que aquele aluna tava de castigo. E por falta, às vez, por dificuldades de estudo, ganhavam castigo também. Tinha que estudá. Eu, por exemplo, eu não sabia a tabuada do sete, então eu esquecia sempre e ficava ajoelhada até

335 Depoimento de Osvaldo Persch, 83 anos, residente em Ibirubá. Registro 01-6-2006. 336 Depoimento de Vilma Persch, 78 anos, residente em Ibirubá. Registro 01-6-2006. 337 Depoimento de Olemar Friedrich, 60 anos, residente em Ibirubá. Registro 05 -9-2006. 338 Depoimento de Eli Welzer, 71 anos, residente em Ibirubá. Registro 11-7-2006.

decorá a tabuada. E nós não colava do outro porque a professora, na mesa dela tinha a vara ou uma régua grande.”339

Conforme depoimento de Frederico Antônio Schüsller, havia um lugar especial para os alunos mal comportados, segundo a visão dos professores que trabalhavam na escola dirigida por freiras: “Na escola, bastava virar prô lado ou qualquer coisinha, bastava pra ganhá uma reguada na mão. Se um dos alunos criava contrariedades, era castigado. Existia na casa das freiras, a escadaria que subia no quarto delas. Embaixo dessa escada existia o quartinho escuro. Então, qualquer desvio de conduta do aluno era levado prô quartinho escuro.”340

Os procedimentos usados nas escolas para ensinar, resultavam numa criança introvertida e sem coragem para desenvolver sua criatividade e expor suas opiniões. Muito diferente das idéias defendidas pelos teóricos da pedagogia crítica, que definem a escola como um empreendimento na vida política e cultural do ser humano. Em A vida nas

escolas, Peter McLarem escreve: “Os teóricos educacionais críticos argumentam que os

professores devem entender o papel que a escolarização representa ao unir conhecimento e poder, para usar este papel no desenvolvimento de cidadãos críticos e ativos.”341

No documento 2007DilceMariaSturmer (páginas 113-115)

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