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3. CASUÍSTICA E MÉTODOS

3.1 Casuística

Foram avaliadas 45 pacientes oriundas da clínica de endoscopia ginecológica e endometriose do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Santa Casa de São Paulo e da clínica privada dos autores. As mesmas foram submetidas a cirurgia entre o período de junho de 2007 e setembro de 2008.

Este projeto de pesquisa foi encaminhado previamente ao Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, sendo aprovado para sua realização (Apêndice 1).

As mulheres foram orientadas, verbalmente e por meio de documento informativo específico, quanto ao diagnóstico de endometriose pélvica profunda, aceitaram participar do estudo e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (Apêndice 2)

Todas procuraram voluntariamente o serviço, apresentando sinais e sintomas sugestivos de endometriose profunda com provável comprometimento intestinal. Foram submetidas à avaliação clínica com preenchimento de questionário específico em que constavam dados epidemiológicos e sintomas. Foram considerados sugestivos de endometriose profunda os achados dos dados previamente estabelecidos por Ribeiro em 2002(30): dismenorreia, dispareunia, dor

posterior.

As pacientes seguiram em investigação e foram submetidas a ressonância magnética da pelve e a ecoendoscopia baixa por hipótese diagnóstica de comprometimento intestinal pela endometriose. Os exames revelaram sinais da presença da enfermidade em topografia intestinal em todas as pacientes.

Na sequência todo o grupo foi submetido a tratamento laparoscópico, com ressecção segmentar de reto e sigmoide, segundo técnica padrão em nossa instituição(75), havendo a subsequente avaliação macroscópica e histológica da

peça cirúrgica, segundo os critérios de Cornillie et al(24). Em todos os casos houve

a confirmação histológica de endometriose.

Foram considerados critérios de inclusão para o estudo as pacientes com endometriose profunda com comprometimento de reto sigmoide pela endometriose (camada muscular ou mais interna), sugerido por queixa clínica e por exames subsidiários, e confirmadas durante ato cirúrgico e subsequente estudo anatomopatológico da lesão ressecada. Todas as pacientes estavam em idade reprodutiva, sendo a inclusão independente de raça, paridade, nível de instrução e de realização de cirurgia prévia para tratamento da enfermidade, mas sendo necessário não ter sido feito uso de medicação hormonal para o tratamento clínico da enfermidade nos três meses anteriores à cirurgia (incluindo análogos do GnRH, progestagênios e contraceptivos hormonais).

Foram critérios de exclusão as pacientes menopausadas, portadoras de endometriose acometendo apenas a serosa intestinal e sob o uso de medicação

hormonal (análogos do GnRH, progestagênios e contraceptivos hormonais) para tratamento da doença na ocasião da cirurgia e nos três meses anteriores a esta.

Após a cirurgia ou durante o primeiro mês de pós operatório, todas as pacientes receberam uma dose de acetato de goserelina com concentração de 10,8mg.

Quarenta pacientes concluíram um ano de seguimento, sendo que cinco pacientes descontinuaram o estudo por perda do contato, com mudança de endereço e ausência de retorno às convocações realizadas.

3.1.1 Dados epidemiológicos

A idade das pacientes variou entre 24 anos e 48 anos, com média de 36,3 anos (desvio padrão de 5,83). O peso das pacientes variou de 48,5Kg a 85kg, com média de 62,5 kg (desvio padrão de 8,39), e o IMC oscilou entre 19,7 e 31,2, com media de 23,1 (desvio padrão de 2,55) (Tab. 1) .

TABELA 1 - Distribuição da média e desvio padrão das variáveis idade, peso e IMC em mulheres portadoras de endometriose profunda intestinal, submetidas a tratamento cirúrgico laparoscópico. (Santa Casa de São Paulo, 2010)

Variável Média Desvio padrão

Idade (anos) 36,3 5,83

Peso (Kg) 62,5 8,39

IMC (peso2/altura) 23,1 2,55

Quanto à distribuição racial houve, na amostra, 32 mulheres de raça branca (80%), 2 orientais (5%) e 6 negras (15%) (Tab. 2). Vale lembrar que em

nosso trabalho não diferenciamos o impacto da endometriose sobre estes diferentes grupos raciais. Sendo assim, não foi realizado estudo para diferenciação genética da população da amostra.

TABELA 2 - Distribuição das freqüências da variável raça em mulheres portadoras de endometriose profunda intestinal, submetidas a tratamento cirúrgico laparoscópico. (Santa Casa de São Paulo, 2010)

Frequência

Raça Absoluta Relativa (%)

Branca 32 80

Negra 6 15

Orientais 2 5

Total 40 100

Dentre as pacientes, 39 referiam dismenorreia (97,5%), 31 dispareunia (77,5%) e 26 (65%) relatavam dor ao evacuar (Tab. 3)

TABELA 3 - Distribuição das frequências da variável sintoma em mulheres portadoras de endometriose profunda intestinal, submetidas a tratamento cirúrgico laparoscópico. (Santa Casa de São Paulo, 2010)

Frequência

Sintomas Absoluta Relativa (%)

Dismenorréia 39 97.5

Dispareunia 31 77.5

Dor ao evacuar 26 65

Dezesseis pacientes (40%) expressavam desejo de gestação, sendo que duas já haviam realizado procedimentos de reprodução assistida (fertilização in

vitro) sem sucesso. Dez (25%) já haviam engravidado, das quais oito (20%) pacientes atingiram o término da gestação e duas (5%) evoluíram com abortamento.

Uma avaliação cirúrgica prévia com observação de endometriose já havia sido realizada em 28 das pacientes (70%). A laparoscopia exclusiva foi técnica descrita em 18 destas. Oito pacientes tiveram, associado ao método laparoscópico, também o procedimento laparotômico e duas relatavam apenas cirurgia tradicional (Tab. 4).

TABELA 4 - Distribuição das frequências da variável antecedente cirúrgico em

mulheres portadoras de endometriose profunda intestinal

submetidas a tratamento cirúrgico laparoscópico. (Santa Casa de São Paulo, 2010)

Frequência

Antecedente cirúrgico Absoluta Relativa (%)

Ausência de cirurgia prévia 12 30

Cirurgia prévia 28 70 Laparoscopia 18 45 Laparotomia 2 5 Laparoscopia + Laparotomia 8 20 Total 40 100

Três pacientes foram submetidas durante o ato cirúrgico à histerectomia, em concomitância ao tratamento proposto para endometriose, em função de patologia uterina benigna. Das 37 pacientes restantes, todas retomaram seu ciclo menstrual, em média, cerca de seis meses após a cirurgia (variação de quatro meses a oito meses). Ou seja, aproximadamente entre um mês e cinco meses

após o término do efeito do bloqueio gonadal induzido pela goserelina utilizada no pós-operatório imediato.

Durante o período de seguimento do grupo não foi observado recidiva nas pacientes. Seja pela referência a sintomas descritos, seja por achados sugestivos em exames de imagem,

Trinta (75%) pacientes tinham formação secundária concluída; cinco (12,5%) apresentavam graduação terciária e cinco (12,5%) pacientes relatavam ter concluído pós graduação.

3.2 Método

3.2.1 Coleta de dados

As pacientes foram submetidas à entrevista individual com a autora durante seu período de hospitalização (pós operatório imediato), interrogadas sobre seus sintomas, evolução de sua doença e responderam ao questionário de qualidade de vida Brasil-SF 36 (Apêndice 3). Somente após esta entrevista receberam o acetato de goserelina para tratamento clínico.

Com seis meses (variação de seis meses a sete meses) e novamente com 12 meses de pós-operatório (variação de 12 meses a 14 meses), as pacientes foram reavaliadas, com revisão de dados e sintomas, e aplicação, uma vez mais, do questionário de qualidade de vida. Nessas duas ocasiões foi feito contato telefônico prévio com entrevista informal e envio subsequente dos questionários, por correio.

3.2.2 Questionário Brasil SF-36

Para a avaliação da qualidade de vida optou-se pelo uso deste questionário validado no Brasil, por Ciconelli em 1999.

Na obtenção da pontuação referente aos domínios do SF 36, foi utilizada a equação construída na validação do questionário no Brasil. Multiplicando-se o valor obtido nas questões pertinentes a este pelo limite inferior do domínio e este valor por cem. Sendo procedida ainda a divisão do número obtido pelo Score Range também do domínio em estudo. Os valores do limite inferior e do Score Range utilizados foram previamente determinados no trabalho de validação do questionário no Brasil (Apêndice 4).

3.2.3 Métodos estatísticos

Os dados foram coletados e armazenados utilizando o software Excell-2007, o qual realizou ainda o cálculo dos resultados finais para cada domínio e Raw Scale.

Para os dados demográficos calculou-se a frequência absoluta e relativa, a média, o desvio padrão e o intervalo de confiança quando indicado. A distribuição normal desta variância foi avaliada pelo teste de Komolgorov-Smirnov.

Para a análise estatística dos resultados obtidos foi utilizado o teste de ANOVA (análise de variância).

Quando o ANOVA foi significante, fez-se uso das comparações múltiplas de Tukey para obter as diferenças e estabelecer a hierarquia entre os momentos

quanto à resposta de cada domínio.

Para determinar ainda o poder estatístico da amostra calculou-se o erro alfa/tipo I (falso positivo) e o erro beta/tipo II (falso negativo) .

Para facilitar a descrição dos dados nos intervalos zero, seis e doze meses, referentes a cada domínio, utilizaremos a abreviatura T0 para início do estudo, T1 para seis meses e T2 para doze meses, respectivamente.

A análise descritiva dos dados relativos ao Domínio um (Capacidade Vital) demonstrou resultados iniciais (T0) com mediana de 20 (range 100). Aos 06 meses de seguimento (T1) a mediana foi de 80 (range 50) e aos 12 meses (T2) ,de 97,5 (range 30).

A análise estatística destes resultados, comparando os tempos T0, T1 e T2 evidenciou diferença significante na comparação entre T0 e T1 (p= 0,001) e entre T0 e T2 (p= 0,001), enquanto entre T1 e T2 não foi evidenciada diferencia significante (p= 0,0645) (Tab. 5).

TABELA 5 – Análise da Capacidade Vital (Domínio 1/SF 36) em mulheres portadoras de endometriose profunda submetidas a tratamento laparoscópico e seguimento de 6 meses e 12 meses. (Santa Casa de São Paulo, 2010) Momento N = 40 T0 T1 T2 Mediana 20 80 97,5 Desvio-padrão 9,9 2,9 1,5 Range 100 50 30 IC 95% 19,4 5,7 2,9

Teste de ANOVA (p)<0,0001 * Significante. Por meio de comparações múltiplas de Tukey

Para o Domínio dois do SF 36 (Aspectos físicos), evidenciou-se na análise descritiva, mediana em T0 de 0 (range 100), em T1 de 75 (range 75) e em T2,mediana de 100 (range 25).

A análise estatística destes dados evidenciou diferença significante para todos os intervalos,ou seja, entre T0 e T1 (p= 00001), entre T0 e T2 (p=0,0001) e entre T1 e T2 (p=0,0003) (Tab. 6).

Comparações Comparações múltiplas (p)

T0 x T1 0,0001

T0 x T2 0,0001

TABELA 6 – Análise da variável Aspectos Físicos (Domínio 2/SF 36) em mulheres portadoras de endometriose profunda, submetidas a tratamento laparoscópico e seguimento de 6 meses e 12 meses. (Santa Casa de São Paulo, 2010)

Momento N = 40 T0 T1 T2 Mediana 0,0 75 100 Desvio-padrão 7,3 7,3 0,0 Range 100 75 25 IC 95% 14,3 14,3 0,0

Teste de ANOVA (p)<0,0001 * Significante. Por meio de comparações múltiplas de Tukey

O estudo do domínio três – Dor, evidenciou na análise descritiva do momento T0 mediana de 21 (range 74), no momento T1, mediana de 74 (range 70) e no momento T2, mediana de 82 (range 59).

A análise estatística deste domínio demonstra na comparação entre T0 e T1 que p= 0,0001, observando-se o mesmo resultado observado na comparação dos intervalos T0 e T1, com T1 x T2 mostrando p= 0,0003 (Tab. 7).

Comparações Comparações múltiplas (p)

T0 x T1 0,0001

T0 x T2 0,0001

TABELA 7 – Análise da variável Dor (Domínio 3/SF 36) em mulheres portadoras de endometriose profunda submetidas a tratamento laparoscópico e seguimento de 6 meses e 12 meses. (Santa Casa de São Paulo, 2010) Momento N = 40 T0 T1 T2 Mediana 21 74 82 Desvio -padrão 7,5 5,7 3,8 Range 74 70 59 IC 95% 14,8 11,2 7,5

Teste de ANOVA (p)<0,0001 * Significante. Por meio de comparações múltiplas de Tukey.

Já a análise descritiva do domínio quatro – Estado Geral de Saúde obteve para T0 mediana de 37,5 (range 82); para T1, mediana de 60 (range 60) e para o momento T2, aos 12 meses de seguimento, mediana de 77 (range 35).

A análise estatística demonstra para o intervalo T0 e T1 p= 0,0001, para o intervalo T0 e T2 p= 0,0001 e para o intervalo T1 e T2 p = 0,0440 (Tab. 8).

Comparações Comparações múltiplas (p)

T0 x T1 0,0001

T0 x T2 0,0001

TABELA 8 – Análise da variável Estado Geral de Saúde (Domínio 4/SF 36) em mulheres portadoras de endometriose profunda submetidas a tratamento laparoscópico e seguimento de 6 meses e 12 meses. (Santa Casa de São Paulo, 2010)

Momento N = 40 T0 T1 T2 Mediana 37,5 72 77 Desvio-padrão 5,2 2,0 2,5 Range 82 60 35 IC 95% 10,1 3,9 4,9

Teste de ANOVA (p)<0,0001 * Significante. Por meio de comparações múltiplas de Tukey.

A análise descritiva dos dados referentes ao domínio cinco – Vitalidade evidenciou, no momento inicial (T0), mediana de 27,5 (range 75), para a avaliação em 6 meses (T1) obteve-se 65 de mediana (range 65) e para a avaliação anual (T2), a mediana foi de 75 (range 45).

Ao realizar-se a análise estatística dos resultados foi notado na comparação entre os momentos T0 e T1 (p= 0,0001), T0 e T2 (p= 0,001) e no intervalo T1 e T2 (p= 0,0011) diferença significante (Tab. 9).

Comparações Comparações múltiplas (p)

T0 x T1 0,0001

T0 x T2 0,0001

TABELA 9 – Análise da variável Vitalidade (Domínio 5/SF 36) em mulheres portadoras de endometriose profunda submetidas a tratamento laparoscópico e seguimento de 6 meses e 12 meses . (Santa Casa de São Paulo, 2010) Momento N = 40 T0 T1 T2 Mediana 27,5 65 75 Desvio-padrão 4,4 4,2 1,5 Range 75 65 45 IC 95% 8,6 8,2 2,9

Teste de ANOVA (p)<0,0001 * Significante. Por meio de comparações múltiplas de Tukey.

No domínio seis – Aspectos Sociais, a análise descritiva obteve no momento T0 mediana de 37,5 (range 75); no momento T1 mediana de 68,8 (range 75) e no momento T2, mediana de 87,5 (range 50).

A análise estatística destes resultados para os intervalos T0 x T1, T0 x T2 e T1 x T2 obteve p de 0,0001 (Tab. 10).

Comparações Comparações múltiplas (p)

T0 x T1 0,0001

T0 x T2 0,0001

TABELA 10 – Análise da variável Aspectos Sociais (Domínio 6/SF 36) em mulheres portadoras de endometriose profunda submetidas a tratamento laparoscópico e seguimento de 6meses e 12 meses. (Santa Casa de São Paulo, 2010)

Momento N = 40 T0 T1 T2 Mediana 37,5 68,8 87,5 Desvio-padrão 5,5 3,7 3,7 Range 75 75 50 IC 95% 10,8 7,2 7,2

Teste de ANOVA (p)<0,0001 * Significante.Por meio de comparações múltiplas de Tukey.

Os dados obtidos para os momentos do domínio sete - Aspectos Emocionais tiveram, na sua análise descritiva, mediana de zero para o momento T0; 66,7 (range 100), para o momento T1 (range 100), e mediana de 100 para o momento T2 (range 66,7).

A análise destes resultados ao serem comparados os momentos T0, T1 e T2 evidencia diferença estatisticamente significante em todos os intervalos (Tab. 11).

Comparações Comparações múltiplas

T0 x T1 0,0001

T0 x T2 0,0001

TABEELA 11 – Análise descritiva e analítica da variável Aspectos Emocionais (Domínio 7/SF 36) em mulheres portadoras de endometriose profunda submetidas a tratamento laparoscópico e seguimento de 6 meses e 12 meses. (Santa Casa de São Paulo, 2010)

Momento N = 40 T0 T1 T2 Mediana 0,0 66,7 100,0 Desvio-padrão 4,9 4,9 4,9 Range 100 100 66,7 IC 95% 9,6 9,6 9,6

Teste de ANOVA (p)<0,0001 * Significante. Por meio de comparações múltiplas de Tukey.

No oitavo domínio – Saúde Mental – do SF 36, observou-se na análise descritiva mediana para T0 de 36 (range 68); para o momento T1, de 58 (range 44) e, por fim, para o momento T2, mediana de 68 (range 40).

A análise estatística destes dados nos intervalos T0 x T1, T0 X T2 obteve diferença significante (p= 0,0001), o que também foi observado no intervalo T1 x T2 (p= 0, 0001) (Tab. 12).

Comparações Comparações múltiplas (p)

T0 x T1 0,0001

T0 x T2 0,0001

TABELA 12 – Análise da variável Saúde Mental (Domínio 8/SF 36) em mulheres portadoras de endometriose profunda .submetidas a tratamento laparoscópico e seguimento de 6meses e 12 meses. (Santa Casa de São Paulo, 2010) Momento N = 40 T0 T1 T2 Mediana 36 58 68 Desvio-padrão 2,8 2,3 1,2 Range 68 44 40 IC 95% 5,5 4,6 2,3

Teste de ANOVA (p)<0,0001 * Significante. Por meio de comparações múltiplas de Tukey.

Podemos visualizar abaixo os dados agrupados (Fig. 1) com a avaliação

dos oito domínios em seus diferentes momentos.

FIGURA 1 - Comparação entre os oito domínios do SF 36 em T0, T1 e T2

Comparações Comparações múltiplas (p)

T0 x T1 0,0001

T0 x T2 0,0001

Para o grupo estudado foi observado erro alfa de 0,05 e erro beta de 0,15, com poder estatístico da amostra de 85%.

Endometriose é, como já foi dito, uma moléstia ginecológica definida pela presença de glândulas endometriais e estroma fora do útero(1). Endometriose

profunda e intestinal são menos frequentes do que a superficial/peritoneal e ovariana, mas podem trazer importante desconforto e alterar a qualidade de vida das pacientes(65).

Endometriose colorretal possui diagnóstico difícil em virtude da natureza não específica dos sintomas e dos parcos achados em exame físico(76). A

incidência de endometriose na população em geral é de 3%-10%. Em pacientes inférteis esta ocorrência chega a variar entre 20%-68% do grupo(77).

Ainda que a frequência da endometriose profunda com acometimento colorretal fique entre 5,3% e 12% dos casos, esta modalidade da doença acaba trazendo importante impacto na qualidade de vida das portadoras(74).

Entendemos qualidade de vida neste momento, como todos os aspectos e valores da vida do individuo, sejam estes emocionais, físicos e/ou sociais. Observamos que para este grupo de mulheres a qualidade de vida segue muito comprometida, com sentimentos de fragilização pelo diagnóstico, quadro físico, desastre emocional e falta de apresentação de perspectivas para sua doença.

Não existe um consenso médico sobre o melhor tratamento para a endometriose. Em muitas mulheres a doença manifesta-se de forma cíclica,

possibilitando que a paciente alterne momentos em que age normalmente e não experimenta sintomas, com situações de grande restrição física e emocional(37).

A evolução da moléstia é tida por muitos como incerta(78), não existindo

cura apenas pela erradicação das lesões, mas também por ceder maior credibilidade aos relatos das portadoras. Ao receberem maior atenção ao seu status de dor, a experiência destas pacientes pode melhorar(37). Isto porque a falta

de reconhecimento da sua doença como algo físico e real por muitos, sejam médicos, familiares ou empregadores, intensifica o impacto dos sintomas sobre a paciente.

A endometriose profunda infiltrativa cria um desafio aos cirurgiões habilitados a lidar com a doença, ao provocar um tipo de acometimento que distorce a anatomia da paciente com as lesões existentes. É necessária a busca de novas técnicas para manejar uma potencial condição de dificuldade operatória. Devendo ponderar, no momento da escolha da tática terapêutica, não apenas na busca por adquirir o maior sucesso, mas principalmente na obtenção do menor índice de recorrência da doença, junto com as menores taxas de complicações(64).

Muitos autores advogam o tratamento cirúrgico para a doença retovaginal. Entre eles estão Donnez et al.(26) que defendem a cirurgia como primeira opção

terapêutica, baseados na relativa ineficácia do tratamento clínico para este tipo de acometimento. A excisão radical das lesões e a correção dos distúrbios de anatomia parecem reverter esses sintomas num curto intervalo de tempo(79),

alcançando índices de até 86% de melhora nos sintomas de dor deste grupo. Nota-se, ainda, na endometriose intestinal a ocorrência de uma grande reação fibromuscular ao redor das glândulas e estroma ectópicos, os quais são os

marcadores histológicos da doença. Este tipo de acometimento parece não responder a nenhuma forma de tratamento hormonal. Observa-se um índice de recorrência da enfermidade em um ano após a parada do tratamento clínico com Danazol e análogos do GnRH de 50% a 74,4% quando não associados à cirurgia(53, 80). Para Chapron e Fauconnier, a presença dos efeitos colaterais das

medicações (análogos do GnRH e progestógenos) e o risco de recorrência da doença ao cessar o efeito da administração destes significam que a cirurgia é o tratamento de referência(2). Outros autores ainda acrescentam que o uso do

análogo do GnRH pode obter remissão dos focos da moléstia, mas que a cicatriz resultante da fibrose na parede muscular intestinal pode provocar a persistência dos sintomas(77).

Muitas pacientes com a doença profunda encontram benefício para o seu quadro álgico com o uso de contraceptivos de forma contínua e dispositivos hormonais intrauterinos(81). Observa-se, porém, que os efeitos positivos dessas

medicações sobre os sintomas ocorrem durante o período do uso das mesmas, raramente estendendo-se além dos seis meses que seguem o término do tratamento. Esta modalidade de controle clínico impede a gestação como ação do próprio tratamento, uma condição que impacta a vida de muitas destas mulheres que planejam engravidar(81-82).

O uso da laparoscopia como técnica para o tratamento do envolvimento retal por endometriose é relativamente recente se comparado à laparotomia, sendo necessária uma significante curva de aprendizado para o ganho da experiência adequada à realização da cirurgia de forma segura. Respeitando esta

necessária formação, muitos centros têm executado este procedimento de forma controlada e multidisciplinar(13, 83).

Existe ainda muita controvérsia por parte do meio médico, quanto à indicação da cirurgia de maior porte para pacientes portadoras de endometriose intestinal. Ainda assim, revisando publicações dos últimos anos, encontramos opiniões favoráveis à mesma. Remorgida et al relatam em 2005(84), que a simples

nodulectomia não remove toda a lesão de endometriose em cerca de 40% dos casos, sendo referido também o potencial que as lesões intestinais por endometriose carregam de danificar o sistema nervoso entérico mesmo à distância (de até 5 cm) do nódulo endometriótico(28). Observa-se para estes casos

que a ressecção incompleta parece associar-se ao retorno ou persistência dos sintomas da afecção, situação que pode acarretar nova abordagem cirúrgica no futuro.

As publicações de Dubernard et al, Darai et al, Thomassin et al, Redwine et al, Anaff et al e Ribeiro et al, entre os anos de 2003 e 2008, mostraram relativo baixo índice de complicações em suas séries de pacientes operadas com a excisão de segmento colorretal acometido pela doença. As mais frequentes são: necessidade de conversão laparotômica, retenção urinária prolongada e o aparecimento de fístulas retovaginais nos dez primeiros dias de pós-operatório(1, 4,

13, 66, 69, 75, 85)

. Os índices de Darai et al (10%), Marpeau et al (12.5%) e Thomassin et al são equivalentes, enquanto Ribeiro et al mantêm os mesmos em 5,6% e, destes, são 1,6% fístulas intestinais e 2,4% retenção urinária (69, 75, 83).

Em estudos mais recentes inicia-se uma preocupação em quantificar a melhora induzida pelo tratamento não apenas no quesito anatomia, mas também

em todos os aspectos da vida da paciente. Trabalhos publicados em 2006 e 2009 por Dubernard et al e Darai et al fazem uso do questionário SF 36 como forma de predizer a melhora da paciente ao ser submetida à ressecção radical por endometriose profunda(1, 76). Estes trabalhos quantificaram o impacto do

tratamento cirúrgico nos diferentes aspectos da vida da doente, tendo sido observado melhora durante o período pós-operatório de seguimento em todos os parâmetros avaliados pelo SF-36. É interessante notar nestes trabalhos, que as pacientes com pior escore tiveram as modificações mais positivas induzidas pela cirurgia, e esta melhora foi vivenciada mesmo pelas pacientes que tiveram complicações cirúrgicas(1, 85).

A literatura mostra que a endometriose é uma enfermidade que faz as mulheres experimentam diferentes problemas em seu dia a dia. Convivendo com dor pélvica crônica, sendo submetidas a múltiplas cirurgias para o tratamento, experimentando estresse e frustração quando a moléstia traz - além de todos os sintomas restritivos - também infertilidade(86-87). Existe a necessidade de não

apenas quantificar o impacto da endometriose sobre a vida das pacientes, mas, principalmente, faz-se necessário demonstrar qual é a modificação induzida pelo tratamento cirúrgico radical nas portadoras de endometriose infiltrativa intestinal.

Acreditando na técnica videolaparoscópica cirúrgica como forma de tratar a doença e melhorar a qualidade de vida das portadoras, por meio da remoção total da área acometida (no caso deste estudo, o segmento colorretal), achamos

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