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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.8 Catamarã e modificações tecnológicas segundo os carpinteiros

Dentre os objetivos deste tópico destaca-se o levantamento da opinião dos carpinteiros sobre o barco-catamarã, um tipo de embarcação introduzido na comunidade Prainha do Canto Verde, município de Beberibe. A pequena frota consistia da embarcação “Esperança”, construída no Maranhão em 1999 e de mais cinco unidades construídas em 2006 por meio do projeto denominado “Estaleiro- Escola”, envolvendo a participação de 10 construtores de várias localidades do Ceará com responsabilidade de incorporar novos conhecimentos tecnológicos e difundi-los junto às suas respectivas comunidades (GOMES; VIEIRA NETO, 2010).

Sobre esse tema, os mestres carpinteiros entrevistados se manifestaram da seguinte maneira: nove afirmaram não conhecer, quatro não conhecem mas já ouviram falar, oito não sabem informar e os quinze restantes deram opiniões sem muito conhecimento sobre essa embarcação, até porque o catamarã ainda tem uma

No universo de 36 profissionais que lidam ou lidaram com construção de embarcações, o fato de 21 (58,3%) não manifestarem opinião sobre um novo modelo pode ter essas explicações: (a) a difusão sobre as transformações socioeconômicas nas praias é lenta; (b) a resistência a mudanças pode resultar da falta de informações e contatos; (c) o desinteresse decorre da falta de inclusão social e da incapacidade tecnológica quanto ao desenvolvimento dos processos de construção e manipulação desse equipamento.

Mesmo assim, 15 deles se manifestaram dizendo o que pensam e ouviram falar, com opiniões favoráveis e contrárias sobre a adoção do catamarã extraídas das entrevistas. As opiniões favoráveis se distribuíram em:

 bom para pescar (8);  bom para passeio (4);  veloz (4);

 confortável (1);  boa estabilidade (1).

As opiniões contrárias se apresentaram como:  não sendo bom para a pesca (4);  ser caro (3)

 difícil manuseio (2);

 ruim para pescar com rede (1);

 não caiu no agrado dos pescadores (1);  frágil (1)

 problemas de construção no Iguape (1)

As opiniões favoráveis quanto a ser veloz, confortável e ter boa estabilidade condizem com a realidade das potencialidades do catamarã, segundo HOLZHACKER et al. (1975), e favorecem o consenso de “ser bom para a pesca”. Já as desfavoráveis sobre ter um custo elevado, incerteza de ser bom para a pesca e dificuldades de manuseio trazem as seguintes conseqüências: demora na implantação do equipamento durante um tempo suficiente para o convencimento de

localidades pesqueiras que vai se adequar, a exemplo de outros tipos de embarcação de uso já consolidado.

O fato de ter um custo de construção elevado pesa nesta possível transição, já que com pouca renda e as dificuldades enfrentadas com a situação atual da pesca artesanal, assumir compromisso com investimento em novo modelo de embarcação apresenta-se como empreendimento de alto risco e sem uma garantia de retorno.

Nesse contexto, o Instituto Federal do Ceará (IFCE), sede de Acaraú, no dia 31/10/2012 inaugurou um catamarã de 7 metros, construído sob a coordenação do professor e engenheiro naval Mauricio Oliveira com fins didáticos, com repercussão junto aos pescadores, proprietários e construtores artesanais da região quanto a possíveis potencialidades de seu emprego na pesca.

No que concerne às sugestões dos carpinteiros de como melhorar a segurança, o conforto e as condições de trabalho no mar e qual seria o melhor tipo de embarcação para isto, a maioria se pronunciou de forma evasiva, pois parecem não se preocupar com detalhes fora do seu âmbito de trabalho. Assim, quatorze não apresentaram sugestões referindo-se superficialmente que não tem o que mudar; que as formas são boas; que sendo maiores e mais largas seria melhor ou sendo maior a embarcação tem mais conforto, seis não opinaram e os dezesseis restantes explanaram sugestões conforme seu conhecimento e sua realidade local.

A sugestão de maior fundamento parece ser a do construtor de botes Nivaldo, de Redonda, que vê alguns pontos de ajuste, como utilização de menos madeira na construção dos botes, com redução da espessura das cavernas de 7 cm para 5 cm (Figura 7) e revestimento com resina para aumentar a durabilidade da madeira, providências com influência direta na redução dos custos e peso da embarcação. Mesmo assim, ele próprio construindo bote com material próprio para posterior venda, não ousa ou se arrisca a inovar tomando a iniciativa, mesmo sabendo que isto é possível e que não vai alterar a segurança do bote.

Na opinião de três construtores, a canoa paquete aparece como a embarcação para pescar, navegar e oferecer conforto ao pescador. Com o comprimento de 27 a 30 palmos (6 a 6,5 m) pode ser adaptada para dormida e permite a instalação de aparelhos eletrônicos (GPS e eco-sonda) e de um motor

No litoral oeste reportam que a jangada ocada foi aos poucos sendo substituída pelo paquete forrado de isopor, pois o paquete ocado é considerado uma embarcação que não oferece segurança na pesca. A jangada ocada aparece como confortável na Prainha-Aquiraz, está sendo revestida de fibra de vidro em experiência recente que está dando bons resultados, conforme informa o carpinteiro Chico da Enedina.

Figura 7- Medição da largura da caverna com escala métrica. (Fonte: foto do autor, ano 2012)

As vantagens do uso da canoa decorrem de fatores como facilidade de instalação de aparelhos eletrônicos (GPS e eco-sonda), colocação de motor rabeta, melhor aproveitamento dos painéis para abrigo e conforto do pescador, e forramento das bordas e parte superior dos painéis com isopor, o que atribui maior segurança aos pescadores ao evitar o naufrágio em caso de emborcamento da embarcação.

Dentre estes comentários, um citou o catamarã como bom para a pesca, por ter incentivo construtivo e contar com o estaleiro na Prainha do Canto Verde (Figura 8), e outro lembrou o insucesso da experiência de barcos a motor de fibra

Figura 8 – Estaleiro de catamarã na Prainha do Canto Verde-Beberibe, Ceará. (Fonte: foto do autor)

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