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Construction of different types of sail craft along Ceará State’s coastline

3.4 Principais madeiras utilizadas

Os carpinteiros mais antigos mencionam que se utilizava madeiras nativas, tais como tucunduba, pau d’arco, jurema, sucupira, entre outras, mas atualmente toda madeira, já legalizada, vem do Pará. Para o tabuado do convés havia o “freijó”, que tinha boa durabilidade e considerado superior ao louro. Portanto, os carpinteiros entrevistados confirmaram que as madeiras nativas foram substituídas pelas importadas de outras regiões, com relação de espécies conforme sua citação (Tabela 2) e seu emprego por secção da embarcação (Tabela 3).

Segundo Nivaldo, pode-se construir um bote utilizando-se apenas quatro tipos de madeira: piqui, piquiá, louro vermelho e angelim vermelho com as seguintes aplicações: o piqui para as caverna e latras; o piquiá em pranchas serve para caverna, latras e espelho de popa; e o angelim vermelho, madeira dura e que resiste bem à água salgada, é apropriada para a quilha, cintado, volta de proa; a catanduba é madeira mole mas aguenta bem o mar pode ser utilizada na volta de proa; o leme é feito de piquiá ou louro vermelho.

Cabe frisar que as denominações de piquiá e pitiá representam a mesma madeira que tem o nome cientifico de Caryocar villosum, pesada e dura ao corte, proveniente da região norte do Brasil, e muito utilizada em todo o litoral cearense na construção de embarcações. A quilha de um bote de comprimento total em torno dos

Tabela 2 - Relação dos nomes vulgar e científico das madeiras utilizadas pelos carpinteiros navais artesanais.

Nome vulgar Nome cientifico

Acento de candeia Plathymenia foliosa Benth Algaroba Prosopis juliflora (Sw) DC Andiroba Carapa guianensis Aubl. Angelim vermelho Dinizia exelsa Ducke

Barbatimão Stryphnodendron coriaceum Benth Cajueiro Anacardium occidentale Linn

Cedro Cedrella odorata L.

Embira de caçador Guatteria vilosíssima St.Hileire Eucalipto Nectandra pichurim (H. B. & K.) Favela Cnidoscolus bahianus Pax & K. Hoffn. Freijó Cordia goeldiana Huber

Gororoba Caraipa densiflora Mart. Guarubatinga Centrolobium sp

Imburana Torresia acreana Ducke Jatobá Hymenaea courbaril L.

Jurema Chloroleucon foliolosum (Benth.) G.P.Lewis Louro vermelho Nectandra rubra (Mez) C. K. Allen

Maçaranduba Manilkara huberi (Ducke) A.Chev.

Macucu Couepia elata Ducke

Mangue Aguncularia racemosa (L.) C.F.Gaertn Mangue botão Conocarpus erectus L.

Maracatiara Astronium lecointei Ducke Matamata Eschweilera juruensis Knuth Oiticica Licania rígida Benth

Pau branco Tabebuia elliptica (DC.) Sandwith Pau d'arco Tecoma conspícua DC

Pau ferro Caesalpinia ferrea Martius Piquí Carycar glabrum (Aubl.) Pers. Piquia ou pitia Caryocar villosum (Aubl.) Pers.

Quixabeira Bumelia obtusifolia excelsa (A.DC.) Cronq. Sucupira Bowdichia nítida Benth

Tamanqueira Tabebuia cassinoides (Lam.) DC. Tatajuba Bagassa guianesis Aubl.

Para a construção de um bote de oito metros de comprimento se utiliza 8 m3 de madeira. Pela experiência os carpinteiros acreditam que a perda de madeira devido aos recortes é cerca de 30%. Na parte superior do costado as perdas são maiores devido ao contorno e menores na parte do fundo por terem a forma das tábuas mais retas.

O peso específico da madeira quando chega do Pará, ainda verde, dependendo do tipo, é cerca de 1 t/m3 pois ainda se encontra com muita umidade.

carpinteiro Nivaldo calcula que um bote de 8 metros de comprimento pese cerca de 3 a 4 t tomando com base a capacidade dos macacos hidráulicos utilizados para suspender e colocar a embarcação no berço de transporte. Afirma que uma embarcação deste porte tem capacidade de transportar 7 a 8 t de peso com segurança. Complementa, ainda, que com a madeira ainda verde pode-se fazer as cavernas, a volta de proa e quilha. As demais partes têm que estar secas como o tabuado do fundo, colocando a tábua de louro de pé para ir secando e jogar água em cima para acelerar o processo de secagem.

Tabela 3 – Tipos de madeira utilizada por secção nas jangadas, canoas e botes.

(Fonte: elaborada pelo autor)

Secção Madeira Secção Madeira Secção Madeira Mastro envira de caçador, 

macucu,matamata, gororoba,  eucalipto, mangue

Mastro mangue, catanduba Mastro eucalípto

Cavernas piquiá, pau d'arco, pau branco,  louro  Cavernas piquiá, piqui, mangue botão,  jurema, tatajuba, favela,  acento de candeia Cavernas piqui, piquiá, favela

Bordas (tábua da) louro vermelho, pitiá, pau branco Bordas maçaranduba, pau d'arco,  louro, pau branco, piqui

Bordas piquia, louro vermelho

Cadaste piquia cadaste pau d'arco, macaranduba,  piqui

Cadaste piquia

Carlinga piquiá, pau branco, pau d'arco Carlinga piquiá Carlinga piquiá

Patião piquiá patião pau branco Patião piquiá

Convés louro vermelho Convés louro tatajuba, maracatiara

Quilha maçaranduba, louro, piqui,  angelin.

Quilha Pau d'arco, angelin vermelho

Cintado maçaranduba Cintado pau d'arco, piquia, jatobá,  maçaranduba

Banco de governo maracatiara Tabuado louro vermelho, piquiá Tabuado louro vermelho, frejorge

Bico de proa pitia, maçaranduba talhamar pau d'arco Talhamar angelin vermelho, piqui

Bolina maracatiara, tatajuba

Cabeços piquia quilha  arvoramento

favela, pau d'arco, mangue Sobre quilha piquia

sarretas pau d'arco, maçaranduba Tabica piquiá

Calçadores maçaranduba, pau d'arco,  pau  ferro

costado maracatiara, louro, piquia Volta de proa sucupira, jaquira, algaroba, piqui,  angelin vermelho

Calço da bolina piquiá painel de popa maracatiara, piqui Espinha piquiá, pau d'arco, algaroba

Forra maçaranduba mediania pau d'arco, macaranduba,  maracatiara

Latra piquiá labassa piqui, pau branco

Leme piquiá verdugo maçaranduba

Mão da tranca cajueiro dormente maçaranduba

Painel de popa piquiá

Remo piquiá, tatajuba

Tabuado louro vermelho

Tirante piquiá

Tranca guaruba, cedro, guarubatinga,  tamaquira

Pernas dos bancos maçaranduba, pau d'arco 

JANGADAS CANOAS BOTES

O construtor deve conhecer as características de cada tipo de madeira e ter os cuidados necessários quando ainda verde, expostas a certas condições. A

sombra na posição de galga, pois se deixar deitado têm que ser isolados por barrotes.

A quantidade necessária para a construção de um bote com tamanho de 7 m é 7m3, assim distribuídos: 3 m3 de louro vermelho para fundo; 0,5 m3 de angelim vermelho para quilha (com 6,5 m de comprimento por 20 x 8 cm.); 0,5 m3 de tatajuba para o convés; e 3 m3 de piquiá para as cavernas. O piquiá vem em pranchas de 7 cm de espessura com tamanhos diversos. O louro vermelho com a espessura de 3 cm vem com largura variadas de 20, 25, 30 e até 40 cm. O piquiá vem em prancha e serve para fazer as cavernas. Uma prancha de 6 metros de comprimento por 96 cm de largura por 7 cm espessura esta custando R$ 1.250,00 nas serrarias de Fortaleza (informação obtida em 21 de dezembro de 2012).

Segundo muitos carpinteiros, entre eles Nivaldo, Josibias, José Carpina, Possidonio e Luciano, pode-se construir uma embarcação utilizando poucos tipos de madeira, com destaque para o louro vermelho, piqui, piquiá e maçaranduba. No entanto, deve-se considerar a possibilidade de que haja variações quanto a disponibilidade destes de acordo com as oportunidades de oferta, além do fato de que a tradição local pode favorecer o uso de espécies nativas mesmo que em pequenas quantidades.

Antonio Latão, do município de Barroquinha, comenta as dificuldades de aquisição da madeira desde quando se iniciou na profissão há 50 anos pois, nessa época, era prática corriqueira o carpinteiro acompanhar o cortador ao interior da mata, para escolher o tipo adequado. Manuel Pedro, de Camocim, também se refere àquela época como muito difícil, principalmente quanto ao tempo consumido na preparação da madeira, a não ser quando esta era adquirida nas serrarias já devidamente cortada, o que facilitava bastante o trabalho.

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