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Na década de 1930, ocorreu no país um movimento em prol do Estado Leigo. Esse movimento foi encabeçado pela Coligação Nacional Pró-Estado Leigo, fundada em maio de 1931 no Rio de Janeiro. Os seus objetivos eram garantir as disposições do artigo 72 da Constituição de 1891, que mantinha separados a Igreja e o Estado. Essa Coligação Nacional queria manter o princípio da absoluta separação entre os poderes temporal e espiritual. Ele se estendeu para vários estados brasileiros, como Rio Grande do Sul e São Paulo. Em Florianópolis, teve a participação de Altino Flores, Gustavo Neves, Almiro Caldeira de Andrade e Osvaldo Melo.

Desde 1891, a Igreja Católica não era mais a Igreja oficial do Brasil. Mas, nos anos seguintes, surgiram tentativas de fazer revisões

203 Entrevista realizada com Yara Lentz Alves em novembro de 2017, em sua

constitucionais, no sentido de a Igreja Católica ter uma influência novamente no governo brasileiro. Conforme os pesquisadores Alessandro Carvalho Bica e Elomar Tambara,

As discussões sobre o ensino religioso nas escolas públicas ressurgem com maior intensidade no final do século XIX, após a promulgação da Constituição da República de 1889, com o estabelecimento da separação do Estado e da Igreja e a laicização do ensino.

Como continuidade da crise iniciada com a Constituição de 1891, no ano de 1925, em face da revisão constitucional prevista pelo governo do presidente da República, Arthur Bernardes (1922- 1926), ocorreu uma das questões mais deliciadas sobre a incorporação do Ensino Religioso nas escolas do Brasil. A polêmica maior deu-se em torno de duas emendar sugeridas pelo Deputado Plínio Marques.

A primeira delas planejava tornar o Ensino Religioso facultativo para os alunos, sujeitando o poder público a permitir a sua inclusão no currículo das escolas que assim a desejassem; a segunda emenda, igualmente polêmica, tornava como religião oficial do Brasil a Igreja Católica Romana. Tais emendas causaram um grande alvoroço na sociedade, principalmente nos grupos que defendiam a idéia de “Escola Laica”. 204

O historiador Pedro Paulo Amorim, em sua tese de doutorado, também escreve sobre a reforma que aconteceu na constituição brasileira na década de 1920, dando maior influência ao catolicismo no Brasil. Ainda, esse autor analisa a Liga Espírita do Brasil, instituição na qual Osvaldo Melo fazia parte quando foi fundada a FEC em 1945. Segundo Pedro Paulo Amorim205,

204 BICA, Alessandro Carvalho, TAMBARA, Elomar. O Ensino Religioso em Pelotas na Perspectiva do Jornal Estandarte Cristão (1925-1935). 2004,

p. 1.

205 AMORIM, Pedro Paulo. As Tensões no Campo Espírita Brasileiro em Tempos de Afirmação (Primeira Metade do Século XX). 2017. Tese (Doutorado em História) – Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Florianópolis, UFSC, 2017.p. 96.

A reforma parcial da Constituição Brasileira de 1925 -1926, realizada durante o governo de Artur Bernardes (1922 - 1926), possibilitou uma reação de correntes ligadas ao Catolicismo no interior do Poder Legislativo Federal, em que destacamos a criação de emendas, dispondo sobre o ensino religioso, caracterizando a tentativa de definir o Catolicismo como religião oficial do povo brasileiro. Destacou-se nesse sentido o deputado católico, Plínio Marques, representante do Estado do Paraná, ao introduzir, na reforma, emendas oficializando o estudo do Catolicismo nas escolas do país, o que ficou conhecido como Emendas Plínio Marques ou Emendas Católicas.

De acordo com o historiador Alexandre Rosa Luz, entre as décadas de 1920 ocorreram alguns movimentos “(...) quando oligarquias rurais passam a exercer pressão política, ao mesmo tempo em que nos ambientes urbanos começam a surgir as greves operárias e manifestações culturais e dos militares”206. Conforme esse autor, a Igreja Católica passou a ter uma atuação maior nos últimos governos da Primeira República, se aproximando do poder “(...) e a subida ao poder de Getúlio Vargas e Francisco Campos, nomeado para o Ministério da Educação e Saúde”207. “(...) a importância dessa nomeação se evidencia quando em 1931 dentro da ampla ‘Reforma Francisco Campos’ no ensino, vai passar a ser facultado o ensino religioso nas escolas públicas, através do decreto nº 19.941 de 30 de abril de 1931”208

. Alexandre Rosa Luz escreve que “(...) em decorrência (...) vai surgir a Liga Catarinense Pró Estado Leigo (...) como oposição ao pretendido pela Igreja e com o objetivo de manter o atual Estado leigo”209.

Em Florianópolis, foi criada a Liga Catarinense Pró-Estado Leigo, uma ramificação da Coligação Nacional Pró-Estado Leigo. Segundo o historiador Alexandre Rosa Luz, “(...) A Liga Catarinense

206 LUZ, Alexandre Rosa. Entre a Cruz e a Espada: A Liga Eleitoral Católica e a Liga Catarinense Pró Estado Leigo no início da década de 1930 em Florianópolis. 2002. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História), UDESC, Florianópolis, 2002. p. 5.

207 Ibidem. p. 6. 208 Ibidem. p. 6. 209 Ibidem, p. 6.

Pro Estado Leigo, entidade de caráter especialmente político, composta principalmente por espíritas, presbiterianos e maçons”210

. Os seus membros mais atuantes e que se candidataram aos cargos eletivos foram Osvaldo Melo, Altino Flores, Gustavo Neves e Laércio Caldeira de Andrada. Os quatro faziam parte de diversas instituições juntos. Osvaldo Melo, Gustavo Neves e Altino Flores eram espíritas. Laércio Caldeira de Andrada era presbiteriano. Com relação a Laércio, deve haver algum parentesco entre ele e Osvaldo Melo, já que o sobrenome da mãe desse último era Caldeira de Andrada. Os quatro chegaram a concorrer para a Assembleia Constituinte de Santa Catarina, representando a Liga Catarinense Pró-Estado Leigo, mas não foram eleitos. Atendendo às orientações da Coligação Nacional, a Liga Catarinense defendia, dentre outros assuntos, o casamento civil e o ensino religioso nas escolas sem estar atrelado a uma religião específica. A Liga Catarinense Pró Estado Leigo se tornou um partido político. Conforme o historiador Alexandre Rosa Luz, “(...) os políticos defensores do Estado leigo, colocam--se como defensores da liberdade e da tolerância religiosa, acusando a Igreja de estar depondo contra o Estado de direito do país”211

. Os membros da Liga Catarinense Pró Estado Leigo, ainda segundo Alexandre Rosa Luz, procuraram mostrar que (...) “o correto neste momento era manter o deliberado durante a República Velha, ou seja, uma completa separação da Igreja e do Estado”212

. Nesses primeiros anos da década de 30, em Florianópolis, a Liga Eleitoral Católica e a Liga Catarinense Pró Estado Leigo teriam trocado farpas na imprensa. A Liga Eleitoral Católica no jornal “O Apóstolo” e a Liga Catarinense Pró Estado Leigo no jornal “A Seara”. Osvaldo Melo se colocou à frente contra a Liga Eleitoral Católica no sentido de defender a separação entre a Igreja e o Estado.

3.2.3 Dois momentos de Osvaldo Melo em Blumenau (1934 e 1952)

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