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Categoria 2: Posicionamento das ONGD face aos ODM VI.2.1.3 Categoria 3: Projetos ODM das ONGD

VI.2. As ONGD e os ODM

VI.2.1.2. Categoria 2: Posicionamento das ONGD face aos ODM VI.2.1.3 Categoria 3: Projetos ODM das ONGD

Olhando para os projetos das ONGD entrevistadas, verificamos que surgiram de diferentes motivações. Para algumas ONGD, como a FGS, o conhecimento e a vontade de trabalhar com os ODM surgiu de uma parceria com uma ONGD que já tinha projetos que trabalhavam a agenda e o que a organização fez foi trazer esse modelo e aplica-lo em Portugal. Para a Par – Respostas Sociais o projeto com os ODM surgiu através da Campanha do Milénio. Outras organizações como a Aidglobal e IMVF referiram que faz parte do seu trabalho estarem atentas aos enquadramentos internacionais, sendo que esta última também criou projetos na fase final dos ODM devido aos resultados do Eurobarómetro que concluíam que havia um grande desconhecimento sobre o tema em Portugal.

Devido ao seu posicionamento crítico em relação aos ODM o CIDAC não teve nenhum projeto criado com o propósito de trabalhar os ODM embora afirme que os seus projetos de cooperação para o desenvolvimento acabassem por tocar em alguns dos temas dos objetivos.

Podemos verificar que as ONGD que se posicionam como menos críticas em relação aos ODM são aquelas que acabam por criar projetos específicos para trabalhá-los, enquanto que as moderadas e mais críticas apenas adaptam projetos que já estivessem a decorrer.

Em relação aos projetos, de forma a facilitar a exposição dividimos em quatro categorias:

- Projetos Originais em educação para o desenvolvimento (projetos dentro da área de ED que foram especificamente criados com o objetivo de sensibilizar, educar e refletir sobre os ODM)

- Projetos adaptados em educação para o desenvolvimento (projetos dentro da área de ED que já existiam nas ONGD, mas que passaram a integrar o tema dos ODM)

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- Projetos Originais em cooperação para o desenvolvimento (projetos dentro da área de cooperação para o desenvolvimento originalmente criados para concorrer para a realização das metas dos ODM) - Projetos Adaptados em cooperação para o desenvolvimento (projetos dentro da área de cooperação para o desenvolvimento que já existiam e que passam a integrar metas dos ODM, ou concorrem para alguns dos seus temas)

Das ONGD entrevistadas a primeira a ter um projeto criado de raiz para divulgar os ODM em Portugal foi a Fundação Gonçalo da Silveira, embora tenha trazido um modelo de projeto de uma ONGD espanhola. O seu projeto “M=” procurou abordar os ODM em escolas e foi um projeto financiado pelo AICIDI (Alto Comissariado para as Migrações e Diálogo Intercultural) e pelo IPAD (atual Camões). Mais tarde, foram contactados pela Agência Objetivo 2015, que foi a representante da Millennium Campaign em Portugal, com a qual trabalharam 4 anos e que apoiou o projeto sobretudo com materiais e algum tipo de financiamento. Depois destes quatro anos esta ONGD direcionou o projeto para a Campanha Global pela Educação (CGE) trabalhando apenas o ODM ligado à Educação. Este foi um projeto muito importante para a FGS pois permitiu ter pela primeira vez na sua organização um projeto ligado à educação para o desenvolvimento.

De 2006 (um ano depois da sua fundação) até 2014, a Aidglobal, apesar de nunca tenha criado nenhum projeto especifico sobre os ODM, começou a integrar os objetivos na sua formação de professores e em sessões de workshops que desenvolvia com jovens: “Começamos a trabalhar os ODM porque respondiam muito à ED, e nós, conhecendo a agenda internacional, porque somos do sector do desenvolvimento, e à semelhança do que as outras ONGD parceiras e do sector faziam, achamos que podíamos trazer esta agenda para enquadrar e falar dela nos nossos projetos” (entrevista E).

Apadrinhada pela Campanha do Milénio das Nações Unidas em Portugal, a Par-Respostas Sociais desenvolveu um projeto “Agência ODM” que começou em 2007 com a ação “Desperta contra a Pobreza”. Esta ação realizou inúmeras atividades na área de ED e organizou várias ações de formação (para mais de 400 jovens) que tinham como mote os ODM.

Esta organização desenvolveu ainda mais dois projetos sobre os ODM: o ODM Campus Challenge, um projeto financiado pelo Camões que colocou em competição jovens universitários em prol dos ODM e o projeto “Agência ODM para jovens universitários” entre 2008 e 2011 que foi reconhecido na World Summit Youth Awards 2011.Este projeto procurou capacitar um grupo de jovens (de Portugal Guiné e Cabo Verde) em torno de temas como os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio e foi financiado pela CPLP

Após nove anos de vigência dos ODM, o Eurobarómetro Development Aid in times of Economic Turnoil (2009) revelou que, apesar de ter havido alguns progressos, existia um considerável desconhecimento da população europeia sobre os ODM: menos de 24% dos inquiridos nesta sondagem conhecem a existência dos mesmos.

Curiosamente Portugal encontrava-se acima da média europeia com 35% dos portugueses a responderem afirmativamente à pergunta “alguma vez ouviu falar dos ODM?”. Segundo o Peer Review 2010 Portugal elaborado pelo Comité de Ajuda ao Desenvolvimento (CAD) da OCDE, estes valores

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podem justificar-se com a campanha de sensibilização para os ODM financiada pelo IPAD (OECD, 2010: 32).

A partir de 2011, o contexto europeu e português no que se refere à cooperação para o desenvolvimento não foi nada favorável para as ONGD. Num comunicado de imprensa “Portugal longe de cumprir os seus compromissos relativamente à Ajuda Pública ao Desenvolvimento” a Plataforma Portuguesa das ONGD refere que “A maioria dos Estados membros da União Europeia (EU) incluindo Portugal, não alcançou os objetivos a que se propuseram em termos de ajuda pública ao desenvolvimento (APD), comprometendo assim os esforços globais para alcançar os ODM” (Plataforma Portuguesa das ONGD, 2011: 1).

Este cenário não se alterou nos anos seguintes. Em junho de 2012 (três anos antes de acabar o prazo de cumprimento dos ODM) foi notória, em Portugal, a redução das verbas destinadas ao cofinanciamento de projetos de ONGD. Segundo Oliveira (2013) em 2012 e 2013 assistiu-se a um corte abrupto de cerca de 53% do financiamento de projetos a ONGD portuguesas através da linha disponibilizada pelo Camões (quando comparado com 2011). O mesmo documento afirma que para os dois anos o montante disponibilizado para projetos de cooperação para o desenvolvimento rondou os 1,2 milhões de euros enquanto as iniciativas de educação para o desenvolvimento se fixaram nos 400 mil euros, revelando um desinvestimento total nesta área. Segundo Oliveira (2013) o volume de financiamento total (que engloba o montante disponibilizado por via de concurso anual e também por adjudicação direta) sofreu um corte de cerca de 30% em 2012. Estes cortes aconteceram na sequência das restrições que foram feitas ao orçamento de Estado e da necessidade de controlo do défice público. Todo este contexto levou a que, dois anos antes de terminar o prazo dos ODM, o Eurobarómetro EU Development Aid and the Millenium Development Goals concluísse que havia um elevado desconhecimento relativamente aos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio. Neste ano, apenas 6% dos inquiridos da União Europeia tinha ouvido falar nos ODM e sabia do que se tratavam. Relativamente a Portugal, 74% dos inquiridos declarou que nunca tinha ouvido falar dos objetivos, 20% reconheceu que ouviu falar e não sabia o que eram, e apenas 5% afirmou que os conhecia.

Foi na sequência dos resultados deste último Eurobarómetro que o IMVF implementou o projeto “Estilos de vida mais sustentável”

(…) este projeto foi criado para que as pessoas tivessem uma informação mais forte sobre os ODM, porque segundo os Eurobarómetros e ao fim de 12 anos de implementação ninguém sabia o que eram os ODM em Portugal e o projeto foi feito para fazer aquele boost no final do tempo e ver se conseguíamos contrariar o conhecimento porque já sabíamos que vinha aí outra coisa (entrevista B).

Este projeto obteve financiamento europeu e consistia em desenvolver ações de rua, onde eram dadas pequenas pistas às pessoas sobre os temas dos ODM que depois podima ser complementadas com informação no site, caso os participantes quisessem saber mais sobre o tema.