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4. PERMACULTURA E AS COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS

5.5 CATEGORIA E: PRODUÇÃO LOCAL DE ALIMENTOS

Nesta categoria, propõe-se a implantação de um sistema de produção local de alimentos apresentado em dois níveis complementares: produção coletiva em áreas de uso comum (hortas comunitárias, paisagismo produtivo e piscicultura) e individual nos lotes (hortas domésticas, espiral de ervas e galinheiros móveis). Com isso, visa-se garantir segurança alimentar aos moradores, a partir do cultivo local, bem como a geração de fonte de renda, com a comercialização dos excedentes (ver Diretriz G.1.5). Este objetivo encontra-se diretamente relacionado aos princípios da Permacultura, em razão das suas propostas de alta eficiência associadas à diversidade policultural, trabalhando em busca da autoprodução, ou seja, cada cidadão gerando uma parcela do seu próprio alimento (MOLLISON, 1998).

Outrossim, essa proposta vem ao encontro do que Caldas e Pinheiro (2004) colocam como alternativa para atender a população urbana com alimentos de melhor qualidade, diminuindo custos e com possibilidade de retorno financeiro para a população envolvida, posto que o aumento da oferta e da qualidade dos alimentos permite reduzir o impacto dos gastos com alimentação no orçamento familiar (autoconsumo) e aumentar os ganhos familiares por meio da venda, quando o plantio gera um excedente de produção.

Além dos aspectos citados acima, existem outras vantagens com a agricultura urbana, dentre elas destacam-se: o consumo da produção diretamente por quem cultiva ou então por mercados próximos, diminuindo os gastos com transporte (e o conseqüente consumo de combustíveis fósseis) e as perdas por deterioração; as técnicas regenerativas de produção são facilmente adaptadas para a agricultura urbana, visto que esta quase sempre é intensiva e faz pouco uso de produtos químicos ou maquinário pesado; faz parte de sistemas regenerativos maiores utilizando fontes urbanas de recursos, como a água reciclada oriunda do esgoto doméstico e o composto orgânico gerado pelos resíduos orgânicos; a possível amenização das amplitudes térmicas nas cidades; o embelezamento da área; a garantia do consumo de alimentos saudáveis, livres de defensivos químicos; a amenização do estresse urbano através do contato com a terra; o benefício cultural e educativo advindo do resgate e transmissão de

valores e conhecimentos ligados a terra e à produção de alimentos para as gerações posteriores.

5.5.1 Subcategoria E.1: Produção Comunitária de Alimentos

DIRETRIZ E.1.1: implantar paisagismo produtivo com plantas comestíveis, e árvores frutíferas e medicinais. Ademais, devem-se criar áreas específicas para a produção coletiva de alimentos, tais como as hortas comunitárias.

Conforme Sattler (2007), o paisagismo produtivo baseia-se principalmente no aproveitamento dos recursos hídricos, do solo, relevo, e, principalmente, da vegetação, onde a idéia é fornecer aos moradores produtos naturais, cultivados e colhidos na própria área, livres de intermediários e inseridos na paisagem natural, tornando-a produtiva sem agredi-la. Este tipo de paisagismo pode ser estabelecido nas praças, parques e passeios públicos, desde que não entrem em conflito com as funções de lazer e passagem dessas áreas, e que possuam ciclo perene, visem à biodiversidade e exijam pouco manejo.

Ao passo que, as hortas comunitárias podem se localizar nas zonas de integração entre as vias de penetração das quadras de malhas abertas (Diretriz A.3.8), servindo aos grupos de moradores de cada quadra, bem como na área central do loteamento, onde se instaure além das hortas, também pomares, viveiros de mudas e pequenos animais para o fornecimento de carnes, ovos e leite. Tal ambiente deve se localizar próximo ao lago aquacultural (Diretriz C.3.1) e a lagoa de retenção de águas pluviais (Diretriz C.2.1), aproveitando essas águas para a irrigação e agregando a função paisagística e de contemplação da paisagem. Da mesma forma, necessita estar próxima do biodigestor (Diretriz C.3.1) e de algumas composteiras coletivas, porquanto utilizará o biofertilizante gerado nesses elementos (Diretriz B.2.1).

As hortas podem ser do tipo mandala (ou hortas permaculturais), onde as práticas de cultivo são mais fáceis e conferem um aspecto interessante à paisagem (MOLLISON; SLAY, 1998). A distribuição das mudas nos canteiros nesse modelo de horta deve localizar nas margens as ervas culinárias e medicinais, pois são continuamente podadas para o uso e necessitam estar em acesso próximo e direto ao usuário. Nas bordas dos caminhos, tem-se uma linha de hortaliças, incluindo todas as verduras que requerem colheita constante. Sattler (2007) sugere ainda misturar os plantios de forma concentrada, de acordo com as necessidades das plantas companheiras (que auxiliam umas às outras no seu desenvolvimento), criando-se um controle melhor de insetos. Atrás dessas faixas, o autor aconselha plantar, em canteiros largos, outras culturas, criando uma barreira para gramíneas

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invasoras e insetos. As combinações de culturas são organizadas de modo que possam permitir a oferta da produção durante todo o ano (Figuras 5.27a e 5.27b).

Figura 5.27 – (a) Vista aérea de uma horta-mandala; (b) Detalhe da horta-mandala; (c) Viveiro de mudas.

Fonte: Marcos (2005).

Quanto aos pomares, estes precisam ser consorciados com plantas rasteiras e trepadeiras, para criar um sistema policultural, onde as espécies interagem positivamente entre si, além de valorizar a biodiversidade. E o viveiro de mudas (Figura 5.27c) serve para o abastecimento da demanda por mudas do loteamento (inclusive dos lotes) e, eventualmente, a comercialização do excedente (SATTLER, 2007). Quanto à criação de animais, estima-se que possam ser galinhas, marrecos, cabras leiteiras, coelhos, codornas e peixes (sendo este último tratado na diretriz subseqüente – Diretriz E.1.2). As técnicas de cultivo empregadas devem ser baseadas nas filosofias de produção ligadas ao paradigma da agricultura sustentável, ou seja, aproveitando recursos locais (como emprego da mão-de-obra local), utilizando adubação orgânica (composto orgânico proveniente de resíduos oriundos de podas, limpeza de áreas coletivas e da purificação do esgoto), utilização de técnicas de controle de pragas e doenças sem a aplicação de defensivos químicos, dentre outros (SATTLER et al, 2003).

DIRETRIZ E.1.2: implantar uma piscicultura comunitária para garantir carne fresca e saudável aos moradores, podendo o excedente ser comercializado.

Na piscicultura, há o controle do crescimento, reprodução, quantidade e qualidade dos peixes, constituindo-se assim em uma atividade técnico-econômica. A principal forma de cultivo é em viveiros (tanques), os quais se caracterizam por possuir uma pequena quantidade de água doce disponível, porém capaz de uma alta produtividade (MORROW, 2002).

O Banco Mundial tem incentivado a atividade piscícola. Na sua visão, há uma série de vantagens no desenvolvimento da aqüicultura. Considera que, além de contribuir com proteínas para a dieta humana, a aqüicultura tem sido benéfica de outros modos: beneficia os

consumidores pela obtenção de produtos frescos, reduzindo a deterioração quando a produção está localizada próxima; pode aumentar o número de empregos de forma descentralizada; diversas das suas tecnologias proporcionam um amplo campo de aplicações potenciais, muitas das quais são manejadas diretamente por mulheres; e ainda, a exportação de alguns produtos da piscicultura pode gerar trocas externas (SEBRAE, 2001).

A recente e rápida expansão da produção, incluindo a cultura de numerosos peixes e espécies de plantas aquáticas, tem sido acompanhada pelo desenvolvimento de tecnologias confiáveis, as quais requerem apenas algum treinamento de práticas simples de manejo. Ademais, a prática da integração da piscicultura com outros sistemas agrícolas (como o cultivo de peixes conduzido em tanques com ligação direta à criação animal e à agricultura) permite que os produtos de cada componente sejam reciclados como recursos para outros: a água fértil dos tanques irriga as plantações sobre os seus diques, os resíduos de colheita alimentam os peixes e a criação de animais, e o esterco das criações de animais fertilizam os tanques. Este tipo de sistema de produção freqüentemente inclui o cultivo de muitas espécies de peixes que se alimentam de capim, legumes, invertebrados e detritos.

5.5.2 Subcategoria E.2: Produção Individual de Alimentos

DIRETRIZ E.2.1: implantar áreas de produção de alimentos individuais nos pátios das habitações, os quais podem contemplar hortas domésticas, pomares, espiral de ervas, e pequenos galinheiros móveis.

As hortas domésticas podem adotar o modelo de mandala (já comentado na Diretriz E.1.1), onde as espécies são dispostas de acordo com o seu porte e a necessidade de manejo, tendo uma preocupação com princípios de ergonomia ao facilitar o acesso aos canteiros para operações de plantio, manutenção e colheita.

Enquanto que, a espiral de ervas trata-se de outro elemento permacultural e consiste em um canteiro, no formato de uma espiral ascendente, para o cultivo de ervas medicinais e temperos culinários, no qual as espécies são cultivadas de acordo com as necessidades de luz e de água (por exemplo, espécies mais exigentes em luz e drenagem do solo são plantadas em posição elevada na espiral, e as ervas que requerem um solo mais úmido são localizadas na base da espiral, conforme se observa nas Figuras 5.28a e 5.28b). As dimensões da espiral de ervas são estabelecidas de modo a permitir o fácil acesso às diversas espécies e, portanto, são adaptadas às particularidades físicas e à flexibilidade de cada usuário (SATTLER, 2007).

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Por fim, os galinheiros móveis tratam-se de pequenos galinheiros que podem ser deslocados facilmente sobre o solo fornecendo aos moradores ovos e carne, e ainda proporcionando o efeito chamado de "trator galinha", que consiste na aragem do solo provocada pelo hábito de ciscar da galinha e na fertilização do solo, com os seus excrementos. O projeto dos galinheiros móveis sugere que a área onde circulam as galinhas seja dividida em quatro piquetes, de forma que as galinhas, ali permanecendo por determinado período, possam limpar, adubar e arar o solo para as culturas posteriores (Figura 5.28c).

Figura 5.28 – (a) e (b) Espiral de ervas; (c) Galinheiro móvel.

Fonte: Agroecologia (2007).

5.6 CATEGORIA F: ESCOLHA DOS MATERIAIS E DOS SISTEMAS