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4. PERMACULTURA E AS COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS

4.3 COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS

5.1.4 Subcategoria A.4: Uso e Ocupação do Solo

DIRETRIZ A.4.1: permitir o uso misto do loteamento, implantando, além das habitações, comércios e prestação de serviços nas vias coletoras e principais.

A adoção do uso misto no loteamento favorece a proximidade dos elementos, o que reduz o consumo de materiais, energia, tempo e solo. Além disso, a convivência de diversos usos, numa mesma área, favorece a urbanidade, já que se têm em diferentes horários a garantia da vitalidade urbana e o aproveitamento máximo dos espaços. Com isso, reduzem-se os locais não movimentados à noite, minimizando a violência e a degradação dos espaços. No mais, o uso misto gera oportunidades de sociabilidade e de emprego para a comunidade local. Na visão de Rueda (2000), a diversidade é crucial para manter a complexidade das trocas dentro de um ecossistema, sendo então fundamental em um loteamento permacultural.

DIRETRIZ A.4.2: implantar um centro no loteamento voltado ao comércio e à prestação de serviços, atendendo às demandas locais, e cuja distância possibilite o acesso a pé da maioria das habitações do loteamento.

A ausência de um centro comercial e de serviços é um dos incentivos às pessoas usarem veículos automotores, o que tem efeito negativo na interação social com a vizinhança devido à ausência de oportunidades das pessoas se encontrarem. Segundo Vaz, J. (1994), estes centros devem ser considerados positivos, pois reduzem a quantidade e extensão dos deslocamentos, diminuindo a necessidade de transporte automotor, e facilitam o acesso aos serviços públicos e ao comércio. Mais ainda, tais centros assumem um papel importante na constituição da identidade das comunidades locais, funcionando como um ponto de referência e expressão simbólica das condições de vida e das aspirações dos seus moradores.

DIRETRIZ A.4.3: em cada lote, adotar a menor taxa de ocupação possível para garantir mais espaços livres no terreno que favoreçam a permabilidade do solo e a produção local de alimentos (ver diretriz E.2.1). Neste momento, também se deve definir a taxa mínima de permeabilidade nos lotes, evitando a alta impermeabilização dessas áreas.

Assim sendo, sugere-se como ideal a adoção de uma taxa máxima de ocupação de 40%, sendo que dentro dos 60% restantes (área não construída do lote) defina-se o mínimo de 70% como área permeável (USGBC, 2008).

DIRETRIZ A.4.4: definir a densidade populacional do loteamento com base em um estudo das características da área a ser ocupada (como clima, tipo de solo e infra- estrutura), de forma a não exaurir a capacidade de suporte da região, mas aproveitando de forma racional as benfeitorias urbanas e buscando aumentar o convívio social.

Assim, deve-se inicialmente distinguir a densidade líquida da bruta. A primeira é uma variável que incorpora as áreas privadas residenciais e vias frontais de acesso residencial. Este tipo de densidade deve favorecer a compacidade habitacional, a qual permite a otimização do uso do espaço e da infra-estrutura, a utilização racional das zonas naturais, a organização eficaz do transporte público, a redução da necessidade de deslocamentos e gastos de energia com transporte, e a diminuição da quantidade de áreas pavimentadas nas vias (ANDRADE, 2005). Afora, a alta densidade líquida tem a vantagem de estimular o contato social. Contudo, devem-se prever adequadamente o dimensionamento entre os espaços ocupados e livres (taxa de ocupação - Diretriz A.4.3), vegetação e os afastamentos laterais entre edificações (REGISTER, 2002), buscando-se minimizar algumas das desvantagens que podem surgir com a alta densidade, tais como a redução da privacidade, o aumento do ruído urbano e a alta taxa de impermeabilização nos lotes (ACIOLY; DAVIDSON, 1998). Já a densidade bruta incorpora a incidência de todas as áreas do solo urbanizado e construído do loteamento. Quanto maior esta densidade, menores são as áreas verdes, de uso comum e de lazer, o que

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reduz a qualidade ambiental da localidade. Nisso, pode-se concluir que a densidade bruta não deve ser alta. Todavia, a expansão urbana de baixas densidades causa impacto no âmbito planetário, com a diminuição da biodiversidade e o aumento dos deslocamentos, contribuindo para a emissão de CO2 na atmosfera. Conforme a Agenda Habitat (ONU, 1996), as cidades não podem crescer linearmente e indefinidamente sobre o seu entorno natural sem colocar em risco os recursos naturais essenciais a sua própria existência e à sustentabilidade. Assim, segundo Mazzaferro e Sattler (2002), o ideal é propor densidades brutas médias com tipologias variadas de forma a estimular o convívio entre grupos, promovendo maior integração social, sem que isso implique na redução da privacidade e perda de qualidade ambiental. No trabalho de Freitas (2005), estima-se que a densidade bruta de 72 habitantes por hectare é o valor limite na caracterização de bairros de baixa densidade, sendo uma densidade alta caracterizada a partir de 144 habitantes por hectare.

DIRETRIZ A.4.5: definir o coeficiente de aproveitamento e o gabarito máximo das construções dos lotes consoante com a densidade populacional líquida desejada para o loteamento (Diretriz A.4.4).

Considerando uma densidade populacional líquida de 200 habitantes por hectare (alta densidade), o coeficiente de aproveitamento pode ser de 2 vezes a área do terreno, com gabarito máximo de 15m, e permitindo a construção de edifícios multifamiliares de até 4 pavimentos. Essas restrições, além de limitarem a densidade populacional da localidade, ajudam a integrar as comunidades das diferentes tipologias habitacionais, posto que em edifícios altamente densificados (com uma quantidade elevada de pavimentos) existe uma propensão à criação de guetos, onde as crianças, por exemplo, tendem a brincar somente no pátio interno do lote de seu edifício, cerceando-as de um convívio social mais amplo.

DIRETRIZ A.4.6: prever os recuos segundo o estipulado pelos códigos de edificações e urbanismos das cidades, os quais devem levar em consideração a privacidade dos moradores, e as condições de ventilação, iluminação e insolação das moradias.

DIRETRIZ A.4.7: propor tipologias habitacionais variadas, espaçadas entre si e com diferentes alturas, para melhorar a qualidade ambiental em termos de iluminação e ventilação.

Nesse sentido, sugere-se intercalar várias tipologias habitacionais (isoladas, geminadas a dois e multifamiliares com 4 pavimentos, sendo o térreo, neste último caso, composto por pilotis ou por atividades comerciais). A distância entre os prédios verticais, os quais se

intercalarão com as outras tipologias habitacionais, será dada de acordo com cálculos bioclimáticos para beneficiar a ventilação natural nos mesmos.

5.1.5 Subcategoria A.5: Preservação da Biodiversidade e Uso de Vegetação