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4 APLICAÇÃO DO SELO CASA AZUL EM HIS

4.3 CATEGORIA 2 – PROJETO E CONFORTO

Esta categoria aborda os aspectos relacionados ao planejamento e à concepção do projeto do Loteamento Leonel Brizola, que considera: (a) as ações relativas à adaptação da edificação às condições climáticas; (b) às características físicas e geográficas locais, e; (c) a previsão de espaços na edificação destinados a usos e fins específicos.

Dessa forma, a categoria trata de questões que envolvem: (a) o projeto paisagístico; (b) a flexibilidade do projeto arquitetônico; (c) local para coleta seletiva; (d) equipamentos de lazer, e; (e) desempenho térmico das edificações, conforme o Apêndice C. Entre os métodos apresentados, a flexibilidade do projeto encontra-se entre os seis critérios opcionais escolhidos para a verificação do atendimento da gradação prata. Através das visitas em outros locais e que precederam a escolha da HIS desse estudo de caso, foi possível verificar que essas residências muitas vezes não atendem a necessidade de seus moradores, justificando, assim, a escolha desse critério.

O uso das espécies arbóreas na faixa de mobiliário dos passeios foi realizado de acordo com o plano de arborização urbana do município de Santa Maria. As distâncias entre a arborização e as esquinas (Quadro 10), se encontram dentro da normativa prevista pelo Programa Caminhe Legal (SANTA MARIA, 2011). A importância do cumprimento da adoção de espécies e porte adequado evidencia-se pela maior durabilidade das calçadas e passeios.

O projeto de arborização da HIS conta com uma muda de árvore em frente a cada residência (Figura 24), além do plantio de espécies arbóreas nas áreas verdes. No manual do proprietário, são disponibilizadas as devidas orientações sobre a preservação das espécies recebidas.

Figura 24 – Mudas de árvores plantadas em frente a cada residência do Residencial Leonel Brizola

Fonte: Elaborado pela autora.

A estratégia de utilização de vegetação com folhas caducas, permitindo uma maior insolação no inverno e sombreamento no verão, foi empregada de forma predominante no empreendimento. O plantio de espécies arbóreas de porte médio a alto contribuem para o conforto térmico nas paredes orientadas no sentido leste/oeste, influenciando na redução dos ganhos de calor no verão.

A escolha de espécies nativas, adequadas ao clima regional, prevaleceu sobre as exóticas, contribuindo para o desenvolvimento da fauna local. Portanto, o empreendimento atende aos indicadores e a documentação necessária referente ao paisagismo. Logo, atende ao critério do Selo Casa Azul quanto à existência de arborização que auxilie no conforto térmico e visual do empreendimento.

Para o critério de Flexibilidade de Projeto, o manual do proprietário orienta as possibilidades de mudança aos moradores. Essas informações contemplam o pátio lateral da edificação, informando que pode ser utilizado para estacionamento ou ampliação, desde que seja construído um muro de arrimo, drenos e impermeabilização. A Figura 25 apresenta a área disponível para ampliação.

Figura 25 – Espaço destinado a ampliação

Fonte: Elaborado pela autora.

O manual do proprietário também elucida de forma clara quanto a retirada de paredes, aberturas e perfurações, indicando os locais de passagem de rede de água, esgoto, elétrica e telefonia. No entanto, não é disponibilizado aos moradores um projeto arquitetônico para futuras ampliações. Nesse contexto, analisando o perfil da população, quanto ao nível de instrução e escolaridade, e os relatos sobre os problemas enfrentados por falta de conhecimento e espaço, prospecta-se uma descaracterização rápida do lugar, acarretando em problemas de infraestrutura e estruturais. Com base nessa análise, esse indicador não foi atendido.

Quanto ao critério que aborda a coleta seletiva e o tratamento do lixo gerado no loteamento, foi identificado a existência em projeto de um espaço destinado a colocação de lixeiras, conforme apresentado na Figura 26. Porém, essa responsabilidade fica a cargo do proprietário da residência. Na ocasião em que esses dados foram levantados, abril de 2016, não havia sido providenciado, em sua maioria, um lugar adequado para esse depósito.

Figura 26 – Espaço em projeto destinado para a colocação de lixeira pelo proprietário

Fonte: Adaptado do Projeto Residencial Leonel Brizola (2014).

Segundo informações da Construtora X, a coleta seletiva deve ser efetuada pela prefeitura três vezes por semana. Conforme as exigências do Selo Casa Azul, toda comunidade deve destinar um local adequado para seleção e armazenamento dos resíduos gerados (CAIXA, 2010). Desse modo, o loteamento não apresentou desempenho satisfatório nesse critério e o atendimento aos indicadores ficou abaixo de 50%.

Essa categoria também trata da existência e qualidade das áreas de lazer, sociais e esportivas. A infraestrutura entregue junto as residências conta com um centro comunitário, playground e um campo de futebol. Totalizando três equipamentos, dos quais podem ser definidos como: (a) um equipamento social; (b) um de lazer, e; (c) um equipamento esportivo, atendendo ao indicador desse critério. A Figura 27 apresenta e infraestrutura do lugar.

Figura 27 – Centro comunitário, playground e campo de futebol

Fonte: Elaborado pela autora.

Para o atendimento total desse critério, o empreendimento deveria entregar mais um equipamento de lazer, conforme explicitado no Apêndice C. No entanto, de acordo com a LUOS, Art. 82, da cidade de Santa Maria, na área destinada a esses empreendimentos, é obrigatório a transferência ao município de, no mínimo, 35% da área total da gleba para

instalação de equipamentos urbanos e comunitários, bem como sistemas de circulação e espaços livres de uso público (SANTA MARIA, 2009).

Ainda conforme o LUOS, Art. 83, do percentual destinado ao município, 5%, deve ser reservado aos equipamentos urbanos e comunitários e 10% para os espaços livres de uso público (SANTA MARIA, 2009). Dessa forma o empreendimento atende as exigências municipais, quanto aos espaços e suas destinações e parcialmente ao indicador do Selo Casa Azul.

O critério referente ao desempenho térmico das vedações visa propiciar maior bem-estar ao morador, independentemente da estação do ano. Para o seu atendimento, o projeto deve estar de acordo com a zona bioclimática onde está localizado o empreendimento. O Brasil é dividido em oito zonas bioclimáticas, como mostra a Figura 28 (NBR 15220-3, 2005). A cidade de Santa Maria, localiza-se na zona bioclimática dois.

Figura 28 – Zoneamento bioclimático brasileiro

Fonte: NBR 15220-3 (2005).

Todas as casas do loteamento foram moldadas in loco, possuem paredes de concreto com espessura de dez centímetros, densidade de 2300 kg/m3 e pintura em cores claras. Essas características fazem a absortância solar média ser de 0,3α (alfa). A absortância pode ser definida como a radiação solar absorvida quando essa incide em uma superfície. Seus

parâmetros variam de zero – menor valor, até um – maior grau de calor absorvido (CAIXA, 2010).

A cobertura do empreendimento possui as seguintes características: (a) telha de barro - espessura de 15 milímetros e densidade de 1700 quilos/metro cúbico sobre ático; (b) isolamento com manta de subcobertura aluminizada em uma das faces, e; (c) forro de PVC. (policloreto de vinila).Segundo as informações disponibilizadas pela Construtora X, todas as decisões projetuais foram baseadas nos critérios de desempenho da NBR 15575 (2013). Além disso, as áreas disponíveis para iluminação e ventilação estão de acordo com as exigências do código de obras da cidade de Santa Maria (SANTA MARIA, 2009a).

Apesar dos dados técnicos e da afirmação do cumprimento a NBR 15575, a empresa não disponibiliza de nenhum método de medição quanto ao conforto térmico de seus projetos. Dessa forma, o critério Desempenho Térmico das Vedações não atendeu a nenhum indicador. O último critério a ser analisado nessa categoria diz respeito a orientação ao sol e ventos. Seu objetivo é proporcionar ao usuário condições de conforto térmico mediante estratégias de projeto, conforme a zona bioclimática do local do empreendimento. Desse modo, considera-se: (a) a implantação da edificação em relação à orientação solar; (b) aos ventos dominantes, e; (c) à interferência de elementos físicos do entorno, construídos ou naturais (CAIXA, 2010).

Um projeto de arquitetura bioclimática faz uso de estratégias passivas que estão relacionadas com o clima no qual está inserido, podendo, com isto, proporcionar maior conforto aos moradores. Além disso, quando a estratégia está de acordo com o clima local ela contribui para a redução dos gastos energéticos para resfriamento e/ou aquecimento da habitação. Em decorrência, propicia-se uma melhor utilização da renda daqueles que a habitam e, ainda, contribui-se para a redução na emissão de gases causadores do efeito estufa (CAIXA, 2010).

Dessa forma, para a zona dois, a orientação norte é uma boa opção, pois permite a maior incidência de raios no inverno. Nesta estação, os ambientes voltados para norte recebem sol o dia todo e ficam sempre aquecidos. Nos meses de dezembro e janeiro, os ambientes com face norte recebem a incidência solar das nove horas (h) às 15h. Com isso, o sol forte do final da tarde é evitado. Por estes motivos, o mais aconselhável é que ambientes como sala de jantar e dormitórios tenham aberturas voltadas para as orientações norte, nordeste e leste (PROCEL, 2016).

A orientação sul costuma não recebe sol durante o inverno e, no verão, os raios incidem somente nas primeiras horas da manhã e nas últimas horas da tarde. Desse modo, ambientes secundários ou de permanência transitória, como depósitos e garagens, são ideias para terem sua face voltada a essa orientação. As orientações leste e oeste apresentam características

parecidas em relação à incidência dos raios solares, mas em horários diferentes do dia. A fachada voltada para o leste recebe sol pela manhã. Já na fachada direcionada para o oeste, o sol bate à tarde. Ambientes voltados para o oeste, no entanto, costumam ser mais quentes, já que o sol da tarde é mais intenso e deixa o imóvel com temperaturas mais altas à noite. A Figura 29 apresenta a orientação solar do empreendimento através da seta indicativa de sentindo Leste/Oeste.

Figura 29 – Orientação do Loteamento Leonel Brizola

Fonte: Adaptado do Projeto Residencial Leonel Brizola (2014).

Algumas unidades habitacionais apresentam cômodos de longa permanência orientados nos quadrantes sudeste e sudoeste, o que apesar de não ser o ideal não se configura em um em empecilho para o atendimento ao indicador do Selo, já que nenhum dos ambientes encontra-se voltado diretamente para a face sul. Desse modo, o loteamento atende aos requisitos quanto à orientação ao sol e ventos, porém não atende os requisitos quanto à documentação. A Figura 30 apresenta o resultado da análise dessa categoria.

Figura 30 – Análise dos indicadores da categoria Projeto e Conforto

Fonte: Elaborado pela autora.

Para o critério Projeto e Conforto, verifica-se que 39% dos indicadores são deferidos. No entanto, ao observar os resultados do checklist, Apêndice C, verifica-se que uma maior parcela não é atendida, perfazendo 56,52% do total, ao passo que 4, 35% são atendidos de forma parcial.

Considerando-se a parcela de indicadores que não são atendidos na categoria Projeto Conforto, constata-se que o desempenho térmico e vedações, item obrigatório, representa 38,46% desse total. Esses valores relacionam-se com o fato da empresa não possuir equipamentos ou parceria com laboratórios de pesquisa regionais, que possam testar o desempenho térmico de suas edificações e, assim, atender as especificações da NBR 15575.

O engenheiro responsável pelo empreendimento afirma que segue as diretrizes dessa norma, escolhendo materiais com baixa absortância e através de decisões arquitetônicas que contribuam para o conforto térmico dos empreendimentos que gerencia. No entanto, não é possível a comprovação dessas ações por meio de seus gestores, uma vez que não realiza-se testes ou apresenta-se documentação comprobatória da eficiência térmica das edificações.

O critério flexibilidade do projeto, também não foi atendido em sua maioria, representado 15,38% da amostra. A documentação recebida pelos moradores, manual do proprietário, orienta quanto aos cuidados a serem tomadas em caso de reforma, retirada de aberturas e ampliações. No entanto, esse guia não oferece uma proposta de projeto para seus

SIM 39% NÃO 57% PARCIAL 4%

moradores. O Loteamento Leonel Brizola é o terceiro empreendimento dessa região com as mesmas características de projeto. Apesar dos problemas serem recorrentes, a Construtora X não disponibiliza o suporte necessário para que a população possa adequar a residência recebida as suas reais necessidades de espaço e conforto.

Quanto aos critérios conformes, o paisagismo atende todos os indicadores solicitados pelo Selo Casa Azul. Esse fato relaciona-se com as exigências municipais, LUOS e o Caminhe Legal, quanto a arborização dos espaços e a qualidade dos passeios públicos (SANTA MARIA, 2009;2011). Averígua-se também que a documentação representa 60,87%, dos itens analisados nessa categoria e que 64,29% desses critérios não são atendidos.