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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 CATEGORIA 1: REPRESENTAÇÕES DE MEIO AMBIENTE

Essa categoria identifica as representações de meio ambiente que os professores entrevistados possuem. Justificamos a presença dessa categoria por ser fundamental a identificação das representações de meio ambiente antes de partirmos para um trabalho de educação ambiental, pois compactuamos com o pensamento de Reigota (1998, p. 14), ao argumentar que “[...] o primeiro passo para a realização de uma educação ambiental deve ser a identificação das representações das pessoas envolvidas no processo educativo”. Portanto, somente a partir do que os professores entendem por meio ambiente é que se torna possível fazer associações desse termo ao seu trabalho em sala de aula. No quadro 4, encontram-se as subcategorias que identificam as representações de meio ambiente que os professores possuem.

Quadro 4 - Subcategorias e unidades de análise obtidas dos depoimentos dos professores entrevistados com relação às representações de meio ambiente que os professores possuem

CATEGORIA SUBCATEGORIAS UNIDADES DE

ANÁLISE 4.1- REPRESENTAÇÕES

DE MEIO AMBIENTE

4.1.1 Conservacionista/Preservacionista

4.1.2 Representações Resolutivas

4.1.3 Representações socioambientais

4.1.4 Antropocêntricas

P02-Q1, P07-Q1, P10-Q1 P05-Q1, P12-Q1

P01-Q1, P03-QI-Q8 P11-Q1 P04-Q1, P06-Q1,

P08-Q1, P09-Q1, P13-Q1

4.1.1 Representações Conservacionistas/Preservacionistas

Para alguns dos professores entrevistados, as representações identificadas possuem caráter conservacionista, pois há uma preocupação em “cuidar dos recursos” do meio ambiente.

Afinal, disso depende a qualidade de nossa vida agora e no futuro e também para as próximas gerações, conforme explicitado nos relatos abaixo:

[...] É o local onde a gente vive. Na verdade, o que eu penso em meio ambiente é a atmosfera que a gente respira, se o ar está poluído ou não está poluído... Se o meio ambiente tá mais conservado, se tem uma vegetação, se

tem arborização no local... É... Se você tem rios limpos, despoluídos, se você tem animais convivendo junto... É esse o meu pensamento de meio ambiente.

[...]. (P02, 16 anos de experiência no ensino de química).

Eu gosto muito de natureza, né, eu sou um bicho bem mateiro, eu sou uma pessoa assim bem... Gosto muito de acampar..., então a minha família inteira, então a gente cresceu já aprendendo a lidar com o meio ambiente, desde pequenininha, né, não jogar lixo pelos cantos... a gente acampa desde pequena... a não estragar a árvore porque a gente quer colocar alguma coisa ali... [...] quando eu penso em meio ambiente, assim, lembro de muita coisa boa da minha vida, e eu fico triste, porque eu vejo falta de consciência. Falta de consciência, né... Falta de consciência nossa na hora de consumir, falta de consciência nossa na hora de descartar dejetos, falta de consciência em tudo, porque nada impede [...]. (P07, 12 anos de experiência no ensino de química).

Eu penso em preservação, mas eu não penso em meio ambiente só fora da sala, que o meio ambiente é dentro da sala também, né, a convivência dos alunos é meio ambiente, e como eles cuidam, tratam da sala de aula, sou bem exigente nessa parte assim. Não gosto de lixo no chão, arrancar folha de papel por qualquer motivo, né, então essa parte eu sempre procuro trabalhar. Quantas árvores foram destruídas pra eles ficarem se jogando bolinha de papel um no outro, nessa parte eu sou bem (risos)... (P10, 06 anos de experiência no ensino de química).

As representações que identificam o meio ambiente como recurso para ser cuidado, gerido, repartido implicam uma educação ambiental “[...] para a conservação e para o consumo responsável e para a solidariedade na repartição eqüitativa dentro de cada sociedade, entre as sociedades atuais e entre estas e as futuras” (SAUVÉ, 2005b, p. 317). Trata-se de proposições centradas na conservação quantitativa e qualitativa da natureza-recurso, característica da corrente conservacionista/recursista de educação ambiental (SAUVÉ, 2005b).

Destacamos ainda que o professor P07 também revela conceber o meio ambiente como objeto de valores, pois ele identifica em sua fala um “conjunto de valores mais ou menos conscientes e coerentes entre eles” (SAUVÉ, 2005a, p. 26). Quando o professor relaciona, por exemplo, a consciência para o consumo e o descarte, ele está nos revelando sua intenção de EA, que é prescrever um código de comportamento desejável, característica da Corrente Moral/Ética, descrita por Sauvé (2005a).

4.1.2 Representações Resolutivas

Alguns professores associam o meio ambiente primeiramente a algum problema ou dano ambiental, e acabam por relacionar imediatamente esse problema à química. É o caso de P05 e P12, como observamos nos relatos a seguir:

Natureza... Você quer bem específico ou? E: Você pode falar como for melhor para você... P: Meio ambiente... Eu posso relacionar com a química, poluição... Os efeitos naturais que acontecem no meio ambiente...

Os ciclos biogeoquímicos, todos os ciclos... A natureza em si, e os efeitos que o homem tem... (P05, 02 anos e meio de experiência no ensino de química).

A primeira coisa que me vem à cabeça e eu acho que também da maioria:

poluição. Não vem... É depois questionando, conversando mais aí vêm as outras questões, talvez agrotóxicos, ou é... o lado bom deles também, não só o lado ruim, a maioria das pessoas vê só o lado ruim da química. E se tratando de meio ambiente, então a primeira coisa é justamente essa: é poluição e o mal que causa. [...]. (P12, 09 anos de experiência no ensino de química).

Essa concepção de meio ambiente é definida por Sauvé (2005b) como problema a ser resolvido. Para a mesma autora, proposições tais como as de P05 e P12, que consideram o meio ambiente como um conjunto de problemas, podem ser agrupadas em uma corrente de EA denominada Resolutiva. Nessa corrente, o principal objetivo é desenvolver habilidades voltadas para a resolução desses problemas. Assim, caso P05 e P12 abordem a poluição causada pela química, ou explicada pela química, em sala de aula, eles precisam, em seguida, fornecer informações suficientes para que os alunos consigam compreender o problema e, na sequência, identificar uma solução.

4.1.3 Representações socioambientais

Outros professores nos revelaram possuir representações socioambientais de meio ambiente.

Para esses professores, o meio ambiente significa bem mais do que a natureza, ou o que é

“natural”; significa também as relações entre sociedade e ambiente.

Pra mim, meio ambiente é o todo. O todo desde... o ambiente que me cerca, a minha casa, o local onde eu trabalho... E é dessa maneira que eu levo para o aluno também, o ambiente, o meio ambiente, é o local onde nós vivemos, é o nosso habitat. (P01, 10 anos de experiência no ensino de química).

Meio ambiente... A natureza... O homem... Cidade... Rios, florestas... Tudo.

Pra mim meio ambiente é tudo. Não é só a parte de árvores, florestas, meio ambiente pra mim é qualquer lugar onde tenha um ser habitando. [...] o meio ambiente não são só as plantinhas, não são só as árvores, os rios, os mares... (P03, 07 anos de experiência no ensino de química).

Na verdade, eu penso no todo, mas o pessoal sempre bate na questão água, água, água, água, água. E: Como no todo? P: Eu penso em meio ambiente como um todo, né. E queira ou não queira, foi uma área que eu sempre estudei muito, né. Então, se fala em meio ambiente, eu associo a tudo. Aos vários ecossistemas e aos componentes destes. É que nem quando eu vou dar aula, começo a falar da problemática ambiental, como que isso evoluiu e tudo mais [...]. (P11, 06 anos de experiência no ensino de química).

Esses trechos refletem uma EA Socioambiental, norteada por uma postura epistemológica que [...] teve por base a interação sujeito, natureza e conhecimento; é indutiva, eminentemente eco-sócio-construtivista criativa e crítica, que reconhece as relações sociedade-natureza como uma totalidade complexa, como o contexto dos objetos do conhecimento mediados pelas relações pessoais e sociais e inclui ainda as relações com os outros seres vivos e fenômenos dos ecossistemas devido à natureza e à cultura que se mesclam dentro das realidades ambientais, vitais e cognitivas (FLORIANI e KNECHTEL, 2003, p.54).

Essa representação de meio ambiente é muito importante, pois não considera apenas um dos aspectos da temática ambiental. Partindo-se dessa representação, que permite a inserção da dimensão social na questão ambiental, é que possibilitamos uma abordagem CTSA.

Como já explicitamos, a abordagem CTSA faz referência às inter-relações entre ciência, tecnologia e sociedade, destacando tanto os fatores sociais que influenciam as mudanças científico-tecnológicas, como também as consequências ambientais e sociais dessas mudanças (von LINSINGEN, 2007).

4.1.4 Representações Antropocêntricas

Parte dos professores entrevistados revela possuir representações de meio ambiente antropocêntricas, ou seja, o meio ambiente como algo a serviço do homem, à sua volta.

Enfim, é aquilo que o cerca, característica de uma concepção de mundo em que o homem é o centro de tudo. Isso se evidencia nos relatos abaixo:

[...] O espaço físico que a gente ocupa... A natureza, a nossa casa, os lugares que a gente frequenta... isso pra mim... é claro que a gente sabe o conceito da palavra meio ambiente, mas o que representa o meio ambiente pra cada pessoa é o que ela vivencia, o que ela vive, o que ela utiliza, é a sua casa, o seu trabalho, a sua escola... Isso é meio ambiente. E: Que conceito de meio ambiente você disse que conhece? P: Meio ambiente. O que é o meio ambiente? É o espaço que todo mundo ocupa. Este é o conceito de meio ambiente. (P04, 02 anos de experiência no ensino de química).

Meio ambiente... Vem a parte do lixo... a parte ambiental... dos gases que a gente lança na atmosfera... E toda esta situação da gente manter... uma melhor qualidade de vida pra nós, pra nossos filhos... Tudo. É o meu conceito. (P06, 20 anos de experiência no ensino de química).

O meio ambiente...? É tudo o que cerca a gente. Tudo que nos cerca tá relacionado com o... o ar... a água... o solo... tudo. (P08, 08 anos de experiência no ensino de química).

[...] eu acho que o conceito de meio ambiente devia ser mudado, podia ser a casa ecológica, ou a sua casa, o nosso planeta, ficaria mais interessante do que meio ambiente. Essa é minha opinião, né. Se pegarmos os livros, é lógico, tá lá o conceito de meio ambiente, as relações etc., mas um linguajar mais popular é melhor, é a sua casa mesmo, “você está cuidando da sua casa?”, “Qual casa?”, “O planeta”. Eu penso dessa forma. (P09, 30 anos de experiência no ensino de química).

O meio ambiente em si. O meio em que vivemos... E: O que é o meio ambiente em si? P: É todo o todo o meio que você... vive... o ar que você respira... o chão que você pisa... o nosso habitat, né. Claro que pro ser humano é um habitat e pro resto da natureza é outro, então tem que haver uma conciliação entre os dois. (P13, 08 anos de experiência no ensino de química).

As representações antropocêntricas de meio ambiente, assim como a atual crise ambiental, têm suas origens na concepção antropocêntrica, utilitarista e instrumentalizadora da natureza, que, por sua vez, possui raízes na tradição judaico-cristã, substrato dos paradigmas humanista e mecanicista, formulados na Europa, no período entre os séculos XV e XVIII (SAFFIATI, 2005). Assim, o homem assume a postura de senhor da natureza, centro das relações.

Nessas representações, o meio ambiente é definido, principalmente, como um recurso para a sobrevivência do homem, para garantir sua qualidade de vida. Os termos grifados nos relatos acima revelam o sentimento de posse desses professores, como se o meio ambiente existisse unicamente para nossa utilização (GRÜN, 2004).

Consideramos o relato de P08 como uma representação antropocêntrica, mas não por considerar o meio ambiente como algo que lhe pertença, e sim por se colocar no centro de

tudo, como se o “resto” existisse em função do homem. Quanto ao relato de P09, mesmo tendendo a ser conservacionista quando fala em “cuidar” do planeta, ele se refere “à nossa casa”, “nosso planeta”, nosso bem, característica de uma representação antropocêntrica. De maneira semelhante, consideramos o trecho destacado por P13 como uma representação antropocêntrica por separar o habitat do ser humano do habitat da natureza, mesmo dizendo que ambos devam se relacionar, ou seja, salienta a dicotomia entre ser humano e natureza (GRÜN, 2004).

4.2 CATEGORIA 2: EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL