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3. INSTITUTOS FEDERAIS: TRABALHO DOCENTE NA VERTICALIZAÇÃO

3.2 A categoria trabalho

Na produção da vida material, o trabalho é categoria fundante do ser social. O homem, ao nascer, carrega consigo o patrimônio genético da espécie, mas é por meio do trabalho que se humaniza. A categoria do trabalho, para Marx, é o que diferencia o ser humano do reino animal.

Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. [...] Atuando assim sobre a natureza externa e modificando- a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza” (MARX, 1989, p.202).

Distinto do animal, que apenas adapta-se à natureza, o ser humano por meio da sua ação consciente, transforma o meio natural em seu benefício. O trabalho tem, “portanto, [...] uma intenção ontologicamente voltada para o processo de humanização do homem em seu sentido amplo” (ANTUNES, 1999, p. 142).

O homem planeja a ação antes de executá-la, trata-se da prévia ideação, ou seja, um “momento de planejamento que antecede e dirige a ação” (LESSA 1996, p. 24). Mas a prévia ideação precisa ser concretizada na prática para ser considerada como tal, a prévia ideação quando se materializa, torna-se objetivação. No entanto, o objeto previamente idealizado e objetivado não pode ser confundido com o sujeito detentor da prévia ideação. Essa “distinção entre o sujeito, portador da prévia-ideação, e o objeto criado no processo de objetivação, Lukács denominou alienação (Entäusserung)”. Para Lukács, Ser humano “significa uma crescente capacidade de objetivar/alienar – isto é, transformar o mundo segundo finalidades socialmente postas” (LESSA, Ibid. p. 26). O trabalho é então, componente fundante da sociabilidade humana, enquanto processo histórico é a “[...] utilização e transformação progressivamente mais eficazes da natureza pela humanidade [...]” (HOBSBAWN, 1998, p. 173).

O trabalho, enquanto gênese do ser social existe para responder a situações concretas das necessidades do ser humano. O conhecimento histórico acumulado possibilita “a continuidade da reprodução do mundo dos homens” (LESSA, op. cit., p. 61). De acordo com o momento social o trabalho tem diferentes significados e, sendo determinado, “assume formas históricas específicas nos diferentes modos de produção da existência humana” (FRIGOTTO, 2009). No sistema de produção capitalista, no qual os homens se dividem em detentores e não detentores dos meios de produção, o trabalho se assume como mercadoria, uma vez que aqueles que não detêm os meios de produção nada mais possuem além da sua própria força de trabalho. Dessa forma, o capital acumula-se em poucas mãos, e os trabalhadores vendem a única coisa que possuem. Os produtos desse trabalho sob a condição da expropriação não pertencem ao trabalhador, mas ao capitalista. Esse tipo de trabalho, no sentido econômico (KOSIK, 2002) não mais se configura como humanização do homem, mas como alienação.

Nesse sentido, trabalho é diferente de emprego. O trabalho enquanto princípio ontológico de humanização do homem é distinto do trabalho realizado sob o modo de produção capitalista, na forma de emprego ou trabalho assalariado. O capitalista detém a força de trabalho, pois a adquiriu no mercado, assim “o trabalhador trabalha sob controle do capitalista, a quem pertence seu trabalho” (MARX, 1989, p. 209). Em um sistema determinado pela divisão social do trabalho, a força de trabalho é mercadoria que o trabalhador vende em troca de uma quantidade de meios de subsistência, eliminando sua autonomia. Assim, “Ao apropriar-se individualmente de objetos naturais para prover sua vida, é ele (o trabalhador) quem controla a si mesmo; mais tarde, ficará

sob o controle de outrem” (MARX, Ibid., p. 584). O trabalho, antes uma forma de humanização do ser social, passa a ser fonte de alienação e desumanização.

Ao tratar sobre trabalho assalariado, a classe trabalhadora é um conceito presente na obra de Marx e que foi ampliado por Antunes (1999) utilizando a expressão classe-que-vive-do-trabalho, ou seja, todo aquele que vende sua força de trabalho, e que engloba o trabalho assalariado. Essa classe que vive do trabalho incorpora tanto os trabalhadores produtivos – aqueles que produzem mais-valia e valorizam diretamente o capital – quanto os trabalhadores improdutivos – aqueles cujo trabalho é consumido como serviço –, seja para uso público ou para o capitalista.

Sobre o trabalho produtivo, Marx afirma que

A produção capitalista não é apenas produção de mercadorias, ela é essencialmente produção de mais valia. O trabalhador não produz para si, mas para o capital. Por isso não é mais suficiente que ele apenas produza. Ele tem de produzir mais valia. Só é produtivo o trabalhador que produz mais valia para o capitalista, servindo assim à auto- expansão do capital (MARX, 1989, p. 584).

O trabalho improdutivo é também trabalho, porém, não gera valor

Nas esferas de circulação, distribuição e consumo, a teoria é clara em estabelecer que o valor não e produzido, e sim redistribuído. Assim o trabalho em atividades comerciais e atividades que permitem o consumo das mercadorias não produz novos valores, somente permite a circulação e a realização de valores já criados (DAL ROSSO, 2014). O trabalhador improdutivo está em franca expansão no capitalismo contemporâneo e envolve uma massa de assalariados do setor de serviços, tais como bancos, comércio e serviços públicos.

No modo de produção capitalista, as alterações no mundo do trabalho, referentes às concepções de trabalho como princípio ontológico acometem o sistema econômico, político e influenciam a organização de toda uma sociedade, inclusive a organização do sistema educacional como um todo e, particularmente, do trabalho escolar, enquanto parte integrante do setor de serviços. Nessas circunstâncias, a gestão educacional se aproxima de uma administração gerencial ignorando as especificidades das instituições de ensino, bem como a natureza do trabalho pedagógico (OLIVEIRA; MORAIS; DOURADO, 2005). O trabalho docente, como parte constituinte da totalidade do trabalho no capitalismo, está sujeito também a sua lógica de exploração e contradições.