• Nenhum resultado encontrado

A partir, portanto, dos instrumentos utilizados nesta pesquisa, uma gama bastante significativa de achados foi gerado. Sendo assim, para a análise e a discussão desse material - após uma leitura minuciosa do mesmo, na qual destacou- se as idéias e questões que se relacionavam com a temática da pesquisa -, criou-se categorias de análise.

As categorias que orientam as discussões dos achados deste estudo foram elaboradas pela pesquisadora de acordo com o referencial teórico que embasa a pesquisa, tendo-se como finalidade compreender como a interação grupal entre pares favorece os avanços conceituais das crianças em relação ao processo de alfabetização formal inicial.

Sendo assim, considerando o estudo desenvolvido compreende-se que as ações das docentes das turmas A e B, como promotoras ou não de situações que oportunizassem a interação entre as crianças, demarcaram três tipos de interações entre os sujeitos de pesquisa, apontadas em um total de três grandes categorias.

Portanto, a seguir, apresenta-se as categorias de análise do estudo.

3.8.1 Interação grupal entre pares com predomínio de trabalho cooperativo

Dentro desta categoria, pode-se observar duas subcategorias, sejam elas: Interação grupal entre pares por reciprocidade e Interação grupal entre pares conflitante.

3.8.1.1 Interação grupal entre pares por reciprocidade

Tipo de interação entre pares no qual os sujeitos do grupo, na busca de resolução de um desafio referente a leitura e a escrita, apresentam suas hipóteses

conceituais aos colegas que as escutam e as consideram, demonstrando também as suas.

Há um compartilhamento de concepções, portanto, que leva a [re]significações e, conseqüentemente, a construção de esquemas mentais mais elaborados. Ou seja, ocorrem reflexões significativas sobre os pontos de vista dos outros sujeitos por meio de um trabalho cooperativo, uma vez que havia um engajamento mútuo através da participação conjunta que as levava a construção de conhecimento compartilhado.

Além de haver compartilhamento de hipóteses acerca da construção de palavras, há também a participação ativa de todos os membros do grupo no sentido de auxiliarem o colega em sua produção escrita, uma vez que o que vale para os sujeitos que interagem de modo cooperativo, é que todos do grupo desenvolvam sua atividade satisfatoriamente. Com isso, destaca-se que a interação grupal entre pares

por reciprocidade não gera competição entre as crianças, mas sim, um engajamento

mútuo, no qual todos se sentem sujeitos cognoscentes e co-participes do processo de aprendizagem da língua escrita.

3.8.1.2 Interação grupal entre pares conflitante

Esta subcategoria caracteriza-se pelo trabalho conjunto cooperativo estabelecido entre os sujeitos do grupo no desenvolvimento de atividades referentes a leitura e a escrita. Nessa interação há auxílio mútuo e trocas de concepções, assim como, na categoria apresentada anteriormente, porém, o que difere entre essas duas categorias é a questão de que nesta aqui há escritas que são confrontadas, visto as diferentes hipóteses conceituais as quais se encontram os sujeitos envolvidos.

Esse confronto de escritas, de hipóteses, caracterizam os conflitos sociocognitivos, essenciais no processo de apropriação de um conhecimento compartilhado, uma vez que fomentam a (re)elaboração de concepções.

Portanto, pode-se dizer que a interação grupal entre pares conflitante consiste basicamente em um intercâmbio de idéias que tem como base o conflito sociocognitivo, sendo que esse conflito é gerado como conseqüência das

divergências e nuances existentes entre as hipóteses compartilhadas, pois, muitas vezes, os pontos de vista sobre o assunto discutido e a forma de construir uma determinada escrita, de acordo com os níveis conceituais dos sujeitos, são de natureza distinta e, por isso, há confrontações entre os esquemas mentais acionados. Assim, na busca pela resolução da discordância, visando então, um acordo mútuo e um estado de equilíbrio, as crianças [re]significam suas hipóteses apresentando concepções mais elaboradas sobre a construção da escrita.

3.8.2 Interação grupal entre pares com predomínio de trabalho individual

Categoria demarcada por um apenas “estar junto”, uma vez que as crianças, mesmo estando sentadas em grupos, desenvolvem todo um trabalho individual.

A principal característica dessa categoria são as falas monológicas realizadas pelos sujeitos, que consistiu no ato de dizer oralmente para si mesmo as suas concepções acerca da lecto-escrita na busca por resolver, de forma individual, um desafio. Sendo assim, não há, nesse processo, compartilhamento de pontos de vista ou de informações e hipóteses referente ao sistema de escrita, isso porque, cada criança se concentra no seu trabalho e, portanto, interage pouquíssimo com seus companheiros de grupo.

Portanto, mesmo sentados em grupos, os sujeitos que estabelecem esse tipo de interação falam consigo mesmos como uma maneira de organizar seu pensamento na resolução de atividades envolvendo a leitura e a escrita. Entretanto, são monólogos que, na maioria dos casos, foram censurados pela professora Laura, a qual acreditava que a linguagem oral em sala de aula atrapalha todo o processo de apropriação de conhecimento.

Ou seja, nessa categoria, interação grupal entre pares com predomínio de

trabalho individual, estão bastante presente as seguintes características: negação

total das hipóteses dos demais membros do grupo, uma vez que apenas as concepções individuais são consideradas e, aparente ausência de conflitos sociocognitivos, pois como as hipóteses não são compartilhadas pelas crianças, todo o processo interacional é marcado por um apenas “estar junto”.

3.8.3 Interação grupal entre pares com predomínio de imitação

Do mesmo modo como na categoria anterior, esta categoria, interação grupal

entre pares com predomínio de imitação, é demarcada por um apenas “estar junto”,

uma vez que as crianças são organizadas em grupos em sala de aula, no entanto, não são autorizadas e, por isso, estimuladas pela alfabetizadora, a compartilharem concepções em um trabalho cooperativo.

O que caracteriza essencialmente essa categoria são as tentativas de cópia apresentadas pelos sujeitos. Cópia essa feita de modo bastante discreto pelas crianças, com o intuito de que a professora não percebesse o que estavam fazendo. Isto é, como não podiam pedir auxílio aos colegas durante o desenvolvimento das atividades propostas em sala de aula, as crianças, buscando resolver um desafio, procuravam imitar, copiando, a produção dos colegas de grupo, normalmente daquele colega que está sentando ao seu lado.

Entretanto, esse ato imitativo apresentado pelos sujeitos não se consistiu, em nenhum momento, em uma cópia meramente mecânica, mas em uma cópia reflexiva, na qual a criança, durante a realização dessa prática, estabelecia monólogos que deixaram evidente todo seu raciocínio sobre as produções dos colegas.

CATEGORIAS CARACTERIZAÇÃO

1. Interação grupal entre pares com predomínio de trabalho cooperativo:

1.1 Interação grupal entre pares por reciprocidade

1.2 Interação grupal entre pares conflitante

 Trabalho cooperativo: todos se

ajudam mutuamente buscando

conjuntamente resolver um desafio;

 As concepções dos membros do

grupo são consideradas por todos; os pontos de vista de todos são levados em conta para o desenvolvimento das atividades;



Conhecimento compartilhado: trocas conceituais que levam os sujeitos a construção de conhecimento de modo conjunto.

 Trabalho conjunto cooperativo: no desenvolvimento das atividades há auxílio mútuo; as concepções de todos são levadas em consideração;

 Conflitos sociocognitivos: escritas confrontadas; na busca de um consenso de opiniões, há (re)elaboração de

concepções e construção de

conhecimento compartilhado.

2. Interação grupal entre pares com predomínio de trabalho individual

 Processo de interação marcado por um apenas “estar junto”;



Falas monológicas: as concepções são ditas oralmente para si mesmo, como forma de organizar o pensamento e resolver uma atividade.

3. Interação grupal entre pares com predomínio de imitação

 Processo de interação marcado por um apenas “estar junto”;

 Cópia: buscando resolver uma

atividade, da qual precisa de auxílio e esse não é permitido, a criança tenta imitar a produção do colega;



Conflito cognitivo: no ato de imitar a produção do colega, o sujeito entra em conflito com suas próprias concepções.

4 ANÁLISE DOS ACHADOS

Tendo como base a temática do presente estudo, bem como seus objetivos, neste capítulo é realizada a descrição e a análise dos achados obtidos a partir dos instrumentos utilizados e referidos no desenho da pesquisa. Nesse sentido, os resultados são apresentados da seguinte forma: primeiramente, define-se, por meio de categorias de análise, os diferentes tipos de interação grupal observados durante o desenvolvimento de atividades referentes a leitura e a escrita por parte dos sujeitos da pesquisa. Sendo assim, descreve-se e analisa-se os achados de cada turma categorizando-os.

Nessa etapa, busca-se compreender especificamente o tipo de interação grupal entre pares vivenciada pelas crianças das Turmas A e B, objetivando respaldar o que se pretende entender na segunda parte da discussão.

Na segunda e última parte deste capítulo, faz-se uma discussão comparativa entre as duas turmas. Nesse momento, portanto, se discute os achados a partir do referencial teórico abordado na pesquisa.

Assim, são relacionados aspectos dos achados da Turma A com os da Turma B, com a finalidade de se compreender qual a repercussão da interação grupal entre pares na evolução conceitual de crianças em processo de alfabetização inicial.

4.1 Achados por turma: categorização dos diferentes tipos de interação