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Após a leitura de todas as respostas, observamos alguns assuntos em comum entre os entrevistados, o que contribuiu com o direcionamento deste trabalho. Criamos então sete categorias desta pesquisa e compilamos nas respostas as informações sobre cada uma delas. Estas informações foram comparadas e, muitas vezes, já observadas nas citações dos autores da literatura escolhida.

Tabela 7 – Categorias da análise 1) Rotinas

Questões: como divide as horas do dia, onde vai, quando dorme, o que faz?

Objetivo: descobrir a soma de atividades do profissional para dimensionar as suas ações no tempo. 2) Percepção da aceleração

Questões: sente ou não os dias acelerados, como percebe e o que/por que acelera?

Objetivo: verificar se reconhece a aceleração ou se já considera o dia veloz como uma coisa normal. 3) Como lidam com o tempo e a aceleração?

Questões: se sente os dias acelerados, o que faz para lidar com isso?

Objetivo: perceber se esboça alguma reação ou convive em paz com a aceleração 4) Como se relacionam com as tecnologias?

Questões: as tecnologias aceleram ou não? O que representam em seu trabalho? Objetivo: verificar o grau de adaptação e peso do uso de aparatos tecnológicos e digitais. 5) Qualidade e velocidade

Questões: sente pressão pela velocidade? A velocidade atrapalha a qualidade?

Objetivo: entender se o profissional desenvolve suas tarefas livremente ou sente a pressão do relógio 6) Transformação da profissão e futuro

Questões: como sentiu a transformação da profissão? Como imagina o futuro?

Objetivo: refletir sobre a percepção profissional das transformações temporais e expectativas no desenvolvimento desta profissão

7) Tempo, trabalho e saúde

Questões: não havia pergunta sobre saúde e qualidade de vida, mas percebemos que o tema foi abordado de forma recorrente nas respostas.

Objetivo: avaliar o grau de estresse, sobrecarga ou medo desencadeados pela aceleração.

Procedemos então com o tratamento do material, no formato da enunciação, descrito por Guerra (2006, p.63) “Entende-se a entrevista como um processo. Usa-se sobretudo para entrevistas longas e muito abertas em que se desprezam os aspectos formais da linguagem, centrando-se na análise de conteúdos”.

O tratamento do material foi criado a partir de grelhas para cada um dos tópicos (categorias). Da leitura do material transcrito buscava-se somente aquela questão central em cada entrevista (rotina, aceleração, qualidade...), que era colocado junto da opinião dos outros participantes. Ao final ficávamos com 12 respostas para cada tema. Descreveremos em seguida as opiniões entre o contexto e alguns comentários e excertos dos entrevistados. Também iremos incluir literatura relevante como complemento dos comentários.

4 DISCURSOS E PRÁTICAS DO TEMPO (RESULTADOS)

O tempo sempre foi considerado uma categoria importante para os jornalistas. O desafio constante de sempre noticiar o “agora”, pautou a história das redações, nas disputas da informação e o “vale-tudo pela notícia”. A velocidade já influenciou contratações, demissões, fatores ligados cada vez mais às temporalidades esperadas para o momento e contexto da profissão.

A partir da internet, redes sociais e tecnologias digitais verifica-se que a velocidade na produção e distribuição de notícias, mensagens e outras peças, aumentou muito mais de forma geral.

As entrevistas foram divididas em alguns tópicos, após a análise do material bruto dos relatos, que foi transcrito e tabulado. Procuramos inserir o contexto e confrontações entre a literatura pesquisada e as práticas relatadas pelos profissionais da pesquisa.

Lembramos também que a nossa questão central foi descobrir se os entrevistados sentiam o tempo acelerar e como conciliavam as suas atividades, com a velocidade e as diferentes temporalidades vividas. Em torno dessas respostas foram abertas arestas em subtemas, que se relacionam com as respostas principais, na visão de cada um, e que são também essenciais para o entendimento da pesquisa como um todo.

O processo empírico e os relatos sobre a questão do tempo, que se mostra tão atuais, jogam luz em um cotidiano que nem sempre é sistematizado ou elaborado pelos jornalistas. Em uma sociedade em constantes mudanças, muita coisa é simplesmente experienciada por eles, praticamente de forma automática.

Embora longe de esgotar a temática, acreditamos que os relatos a seguir, sinalizam um objeto de extrema importância, não apenas por se tratar do registro de profissionais experientes, que atuam hoje no segmento. Em seu discurso, cada um representa muitas vozes, imagens e letras que rotineiramente se comunicam com variados públicos, mas em poucas oportunidades refletem sobre a sua própria dinâmica de tempo.

Na questão do mercado profissional, percebe-se uma linha de atuação comum, que baliza toda a concorrência na mesma disputa de sempre: a audiência. Fatores como a compressão do tempo, somada a falta de vagas e oportunidades no setor proporcionam nessas empresas um ambiente de “regras subjetivas”, que nos últimos anos tem se imposto e degradado constantemente a profissão, como veremos na investigação.

Optamos por dar uma visão geral das respostas tabuladas para cada tópico, seguindo o caminho natural das entrevistas. Portanto cada assunto dispõe de uma abertura com o contexto da questão diante do tema.

Mencionaremos exemplos das situações reais coletadas, em excertos, na voz dos entrevistados, para depois acrescentarmos alguns cruzamentos com a literatura pesquisada. Também é importante relembrar que o tópico intitulado “saúde do profissional”, foi criado após as entrevistas. Apesar de não constar originalmente na lista de perguntas aos entrevistados, o assunto foi mencionado por todos eles em algum momento da conversa. Assim consideramos prudente criar uma sessão para o registro dessas constatações.

Dividimos o material na análise de categoriais, que constituem os próximos temas: Rotinas; Percepção da aceleração; Modos de lidar com o tempo e a aceleração; Relevância e lugar das tecnologias; Qualidade e velocidade; Transformação da profissão e futuro; Tempo, trabalho e saúde.