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A saúde dos jornalistas também é uma categoria que incita olhar atento, principalmente quando se trata de doenças que ainda não são tão perceptíveis (ao menos pelos empregadores), como estresse, síndrome de Burnout, entre outras.

Em 2012, uma pesquisa brasileira pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em convênio com a Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ mostrou alguns dados sobre a profissão. O levantamento apontou que 40,3% dos jornalistas do país trabalham diariamente entre de 8 a 12 horas. Outra parte, 43,3% dedicam-se de 5 a 8 horas; 11,6% trabalha até 5 horas diárias e 4,8% atua por mais de 12 horas ao dia. A pesquisa também revelou que 27% dos jornalistas têm mais de um emprego. O site americano CareerCast.com8, especializado em tema como profissões e empregos, avalia a cada ano 200 profissões, indo da melhor até a pior. A pesquisa afere ambiente de trabalho, nível de estresse, exigência física, salário e as condições de contratação. Nos últimos anos a profissão de jornalista (repórter de jornal) estava sendo considerada a pior de todas (ao menos em 2015, 2016 e 2017). Já em 2019 e no ano anterior, o cargo manteve-se como o terceiro pior emprego, perdendo apenas para motorista de táxi e lenhador.

Os processos de convergência da mídia no Brasil, na migração do veículo impresso para o digital (ou somado a ele) promoveram cortes de cargos nas redações. Aos jornalistas que ficaram sobrou uma acumulação de serviços não tão regulamentados, pois muitos relatam que já que escreviam para o impresso, então poderiam fazer o mesmo pelo digital. Muitos dos conglomerados de comunicação economizaram custos, desdobrando seus conteúdos em várias plataformas com as mesmas (ou menores) equipes de trabalho.

O mesmo corpo de jornalistas, arrochado pelas demissões, tem de produzir conteúdo nos mais diferentes formatos para o impresso e para a internet. Diagramadores e editores de arte estão sendo treinados para produzir infográficos animados e layout para o papel e para a internet; os repórteres-fotográficos agora têm que fazer cursos de técnicas de filmagem e edição de vídeos. (Bodenmüller; Fonseca; Viana, 2013)

Com o passar dos anos a convergência afunilou ainda mais e muitas das atribuições, como layout digital ou fotografia foram absorvidas pelo mesmo profissional. Novos afazeres, alta carga de trabalho, salários baixos, medo de perder o emprego, plantões sem pagamento extra, nos faz entender a degradação da profissão. Ao mesmo tempo é possível perceber também o

predomínio da velocidade, a pressionar o ambiente de trabalho. Assim como Rosa (2019), é possível encontrar em outros autores como Harvey (2008) a premissa do capitalismo orientado para o crescimento e a exploração do trabalho vivo. “A fronteira entre vida no trabalho e pessoal torna-se cada vez menos delineada” (Heloani, 2006).

Setenta por cento dos executivos entrevistados pelo ISMA/Brasil responsabilizaram as novas tecnologias como principais causadoras de estresse. O suposto bem-estar, apregoado pelos entusiastas da tecnologia, não foi apenas substituído por cargas de trabalho excessivas e invasão da vida pessoal dos executivos, mas também por desconfortos físicos: olhos irritados, dores no pescoço e nas costas, e talvez o mais sério, lesões por esforços repetitivos (LER/DORT) (Heloani, 2006).

Heloani (2006) realizou uma pesquisa com jornalistas, no sentido de verificar questões relativas às condições de trabalho dessa categoria. A metodologia incluiu questões de um Manual do Inventário de Sintomas de Stress para Adultos. Dos 44 profissionais pesquisados, 24 apresentaram a clara sinalização de sintomas de estresse em fase de exaustão e resistência. Outros 20 “aprenderam” a suportar os elementos estressores. “A maioria absoluta dos sujeitos que se submeteram à nossa pesquisa apresenta estresse.”

Para Heloani (2006) “a deterioração da qualidade de vida no trabalho banalizou-se, ou melhor, naturalizou-se.” Ele complementa dizendo que no atual sistema de produção o jornalista é forçado a negociar a sua força de trabalho para a sua subsistência. Acrescenta-se ainda à pesquisa uma série de depoimentos dos profissionais, voltados a escassez de tempo em longas rotinas, falta de folgas ou dinheiro para lazer, excesso de informações a verificar e alta carga de trabalho.

A jornalista da TV Globo (SP), Izabella Camargo foi demitida da emissora em meados do ano de 2017. Estava atuando nos turnos da madrugada quando começou a esquecer de coisas básicas como qual era a capital do Paraná (estado onde ela nasceu). Seu caso, diagnosticado como síndrome de Burnout, foi parar na justiça e a empresa foi obrigada a recontratá-la. Em meados de setembro de 2019 ela voltou à programação, mas em outro horário. "Eu chamo isso de armadilha da competência. Você começa abrir mão de alguma coisa da sua vida para encaixar essas novas funções — seja alimentação, lazer, tempo com a família, horas de sono — e quando vê, já é tarde".9 Deuze & Witschge (2016, p. 16) também confirma que “os profissionais têm, hoje em dia, no jornalismo, cada vez mais contratos, não carreiras, e o estresse e o burnout estão em ascensão”.

9 Depoimento da jornalista para matéria: Burnout não é o fim/UOL Viva Bem (05/07/19). Disponível em

A velocidade das máquinas, e principalmente o fôlego delas, nem sempre pode ser imitado pelos seres humanos. No entanto, como verificado por diversos autores, o modelo da rapidez tem sido imposto ao trabalho, ainda que de forma subjetiva. O sociólogo francês Dominique Wolton compara a velocidade técnica e a humana da comunicação. Para ele, estamos menos humanos hoje por causa da internet, pois “queremos que a comunicação tenha um valor de emancipação, mas é preciso dissociar a informação técnica da comunicação humana. Não existe outra rede: a rede humana é a mais importante. O mais complicado são os homens e a sociedade.” (Wolton, 2017).