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Nesse sentido, o que orienta a pesquisa, como uma bússula, são três eixos: Banco Mundial, PEC e gestão. Dessa forma, na sistematização no estudo impôs cinco sub-eixos de análise: Estado Tocantins; Gerencialismo/Nova Gestão Pública; Banco Mundial, PEC e Diretores Escolares, esses, imbricados e partes da totalidade do estudo, compostos nos capítulos, não como um todo, constituído por partes, mas como uma totalidade concreta, permeado de contradições presentes no Programa Estrada do Conhecimento - PEC.

A partir dos elementos de análise, reafirma-se as categorias metodológicas como universais e, portanto, podem ser utilizadas para desenvolver qualquer pesquisa. Assim, tornou-se necessário as categorias de conteúdo que no dizer de Kuenzer (2005) são específicas para cada pesquisa, sendo determinada a partir de seus objetivos. “Cada categoria de conteúdo, [...], configurando-se assim um movimento que vai do geral ao particular na exposição, e do particular ao geral na investigação e na exposição”. (idem, p. 66). É a partir

47 delas, das categorias de conteúdo, que também nos amparamos, surgidas do real concreto, do nosso objeto de estudo, são elas: gestão -gerencialismo - nova gestão pública – patrimonialismo - autoritarismo e diretores escolares, conforme figura 2 visualiza-se as categorias metodológicas e de conteúdo deste estudo.

Figura 2 - Categorias de análise da pesquisa.

Fonte: Elaborado pela autora (abril/2017).

A articulação entre as categorias metodológicas e de conteúdo desencadeou o movimento dialético buscando revelar a finalidade da implementação do Programa Estrada do Conhecimento, em seis escolas públicas do Tocantins (o apregoado). Na gestão das escolas, como o gerencialismo altera as práticas do diretor nas relações patrimonialistas e autoritárias (o vivido); na atuação dos secretários, gestores e diretores escolares (o interpretado). Na nova gestão pública o controle das escolas públicas (o introduzido pelo Banco e anuência da Seduc).

48 Comecemos pela Nova Gestão Pública. Um breve detour, a partir de 1995, marcado pela Reforma do Estado Brasileiro, movimento ocorrido em toda a América Latina, na concretização de políticas neoliberais20, primando por um Estado capitalista regulador. Foi nesse tempo que se originou no Reino Unido a NGP, que segundo Paula (2005), são medidas organizativas e administrativas, atribuindo características de gerência, observemos: a) descentralização do aparelho de Estado, é a tônica empreendida, e separou as atividades de planejamento e execução do governo transformando “as políticas públicas em monopólios dos ministérios; b) a privatização das estatais; c) terceirização dos setores públicos; d) regulação estatal das atividades públicas conduzidas pelo setor privado e e) uso de ideias e ferramentas gerenciais advindas do setor privado”. (p. 47).

Nos estudos sobre a gestão, sobretudo a gestão escolar pública no Tocantins, e com a criação do Estado (1988), o que é peculiar são os preceitos da gestão democrática e autônoma, nos documentos produzidos pela Seduc, presentes no PEAGC21 e PECGC22 desde os anos de 1997 até 2016. Percebe-se a condução da educação por meio desses programas que modifica a participação do Estado, ampliando as atribuições e responsabilidades da comunidade escolar.

No gerencialismo as escolas subjugadas às práticas gerencialistas pressupõe assumirem o ônus da dita descentralização, na falácia da autonomia, quando o que está em jogo é a desresponsabilização do Estado nas questões sociais. Para isso, é necessário o controle e diminuição com os gastos públicos. Além do mais, a avaliação passa a ser determinante em todas as esferas do estado, a partir dos anos 1990, mas é na educação básica que se faz imprescindível, atrelada ao desempenho das escolas, quando o foco é o econômico e os diretores incumbidos dos melhores resultados.

Concordamos com Silva e Carvalho (2014) que com o acirramento do gerencialismo23, a partir dos anos 1995 que se demarcam “as bases, os fundamentos, estratégias e instrumentos da nova gestão pública, compreendida como uma das faces do

20 [...] A redefinição do papel do Estado na perspectiva neoliberal, a partir dos anos de 1990, se desenvolveu

no contexto de reestruturação do modo de produção capitalista, tendo, como eixo central, a globalização. (Silva, Carvalho, 2014, p.214).

21 Programa Escola Autônoma de Gestão Compartilhada. 22 Programa Escola Comunitária de Gestão Compartilhada.

23 Para alguns autores tem sua origem na reforma da década de 1990, para outros, se acirra, o fato é que refere-

se ao: “compartilhamento de responsabilidades pela educação pública com a sociedade, o que levou a uma reconfiguração das relações dos governos com a comunidade e, [...] das relações institucionais nas escolas [...]”. (Krawczyk; Vieira, 2012, p.65). O diretor escolar deverá atuar na lógica do gerente da empresa. (grifo nosso).

49 gerencialismo na organização e funcionamento do Estado na atualidade, e seus desdobramentos no campo da gestão da educação”. (Silva; Carvalho, 2014, p.218).

Assim, com os diretores escolares e, nas escolas públicas, essa nova forma de gestão se concretiza. Por isso, os diretores escolares desde a criação do Estado estão em evidencia, no que se refere à atenção das políticas voltadas para a gestão eficiente. O envolvimento do diretor e responsabilização para a gestão se dá por meio de cursos e capacitações, além dos prêmios, a exemplo do Prêmio Gestão Escolar, difundido nas escolas públicas.

Deste modo, nas relações patrimonialistas24 e autoritárias25 se assentam e se constroem no Estado do Tocantins, práticas conformadas nas escolas públicas e tem no diretor indicado e na interferência político partidário, os instrumentos de pressão sobre os diretores. É neste terreno de contradições que se dá a implementação do Programa Estrada do Conhecimento - PEC.

Contudo, não basta discernir os modelos de gestão presentes no processo educacional do Estado, para descortinar o PEC. Tornou-se necessário, também, desvendar como os gestores atuam junto com outros organismos multilaterais, que se inserem na educação, também, via aplicação de recursos, com a ação efetiva do Estado. Essas relações vão do governador, à secretaria de educação, passando pelos diretores regionais, e finalmente aportam nas escolas públicas. Nelas os diretores escolares, o alvo do Banco Mundial, para que se cumpra efetivamente o seu projeto, ou os preceitos da nova gestão pública.

Perseguimos o propósito de atingir a essência do Programa Estrada do Conhecimento, concebido a partir da constatação dos altos índices de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, às margens da Rodovia BR - 153, isto é, “a coisa em si”, que necessitava ser desvendada. São seis as escolas públicas, sendo cinco Unidades Escolares que funcionam os anos finais do ensino fundamental e ensino médio e uma com os anos finais do ensino fundamental. “Captar o fenômeno de determinada coisa significa indagar e descrever como a coisa se manifesta, naquele fenômeno, e como, ao mesmo tempo,

24 “O domínio tradicional se configura no patrimonialismo, quando aparece o estado-maior de comando do

chefe [...] subordinando muitas unidades políticas. (Faoro, 2012, p.823). “A realidade histórica brasileira demonstrou a persistência secular da estrutura patrimonial, resistindo galhardamente, inviolavelmente, à repetição em fase progressiva, da experiência capitalista. (idem, p.822).

25“[...] aparece como a conexão inevitável de uma política econômica de linha dura (o Estado não é tão forte

para pairar em tudo acima das classes privilegiadas; contudo, ele precisa saturar várias funções diretas e indiretas, da qual dependem: a incorporação, com a implantação de um novo padrão de acumulação capitalista; a expansão estrangeira e nacional, pública ou privada; [...] excedente econômico para o exterior; criação de uma nova infra-estrutura econômica; [...]”. (Fernandes, 1979, p.43).

50 nele se esconde. [...] Sem o fenômeno, sem a sua manifestação e revelação, a essência seria inatingível”. (Kosík, 1976, p.12). Assim, perseguimos no estudo que une essas escolas públicas que se apresenta na escolha para o PEC, a vulnerabilidade social.

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