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Para tratar da pesquisa empírica, faz-se necessário ainda, reafirmar a questão do método científico, que acompanha as perguntas: como deve agir o sujeito para traduzir teoricamente a realidade? Tonet (2013) nos alerta de que não é o método, elaborado prévia e autonomamente pelo sujeito, que irá prescrever como se deve proceder na pesquisa. É a realidade objetiva, o objeto em si, no seu modo próprio de ser que indicará quais devem ser os procedimentos metodológicos.

Ainda, para desvendar a verdade, pressupõe que o pesquisador se entenda como ser histórico e social interaja com o objeto. A responsabilidade do pesquisador com o método se dá no “conhecimento da realidade histórica é um processo de apropriação teórica - isto é, de crítica, interpretação e avaliação de fatos – processo em que a atividade do homem, do cientista é condição necessária ao conhecimento objetivo dos fatos”. (Kosik, 1976, p.45). O autor expõe que a atividade que revela o conteúdo objetivo e o significado dos fatos é o método científico. O método é tanto mais eficiente segundo a maior riqueza de realidade – contida objetivamente no PEC. Isso pressupõe descobrir, explicar e elaborar.

Como Gatti (2007) nos relembra que o método tem vida, é concreto, que se revela nas nossas ações, na nossa organização do trabalho investigativo, na maneira como olhamos as coisas do mundo. É a partir da ontologia da pesquisadora, que se busca o máximo de determinações no campo empírico.

A pesquisa de campo aconteceu em dois momentos: o primeiro nos anos de 2014 e 2015, no contato e o reconhecimento do campo empírico, na Seduc e nas seis escolas que foram contempladas com o Programa Estrada do Conhecimento – PEC, acompanhada do diário de campo; no segundo momento, entre os meses de junho e setembro do ano de 2016, com dois instrumentos: entrevistas semiestruturadas e o diário de campo.

A pesquisa caminhou também, por meio dos depoimentos e dos registros no diário de campo como para Brandão (1982) num pensado e o vivido do homem e seus símbolos, seus mundos, sua vida. No diário escrevemos o que não dissemos, o que ouvimos, aferimos nossas emoções, nossas lacunas, nosso pensar, nosso ser, sim nosso ser pesquisadora. “O

51 diário são as folhas de trás dos cadernos de anotações de pesquisas, de viagens, de reuniões. São folhas de uma fala oculta. Escritos carregados de afeição [...], que nunca conseguiram neles um lugar seu”. (Brandão, 1982, p. 12).

Além de entrevista, que segundo Pádua (2011), é um dos procedimentos mais utilizados em pesquisa de campo “e se constitui como técnica muito eficiente para obtenção de dados” (p.70), nesse estudo para a educação. Nas entrevistas semiestruturadas, utilizadas como procedimento da pesquisa, compete ao pesquisador organizar um conjunto de questões sobre o estudo e permite e até incentiva que o entrevistado fale sobre aspectos que vão surgindo no decorrer da entrevista, como desdobramentos do tema principal, que é o PEC.

O critério de escolha dos interlocutores se deu essencialmente pelo envolvimento com o Programa Estrada do Conhecimento, que atuam ou atuaram na gestão do Programa, no sistema e na gestão das Unidades Escolares selecionadas.

Assim, as instituições selecionadas, foram: a Seduc, as Unidades Escolares contempladas no Programa Estrada do Conhecimento – PEC e o Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado do Tocantins – Sintet. Para a coleta de dados do campo empírico, inicialmente eram doze sujeitos, sendo sete, das unidades escolares, três oriundos da Secretaria de Educação do Estado – Seduc, um do Sindicato dos Trabalhadores em Educação – Sintet e um do Banco Mundial, sendo que este último sujeito, não foi entrevistado.

No momento da entrevista semi-estruturada, os informantes recebiam o Termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo 1) para ser assinado e o roteiro com as questões de entrevistas (Anexo 2). Além da explicação em que consistia o objeto de estudo e as razões para a escolha como entrevistado, bem como a anuência para o procedimento da gravação. A cada entrevista, procedia-se a revisão, na medida em que a prioridade era não divagar e que as informações estivessem encadeadas, fazendo sentido para a pesquisa. Com o material das entrevistas transcrito, passamos ao movimento de análise, na busca do concreto pensado, na apreensão do objeto do estudo.

Assim, foram validadas dez entrevistas, que foram divididas em três grupos, conforme o vínculo, a função e atuação na gestão da educação pública do Estado, e, especialmente pela relação com o Programa Estrada do Conhecimento. No Grupo A, estão os docentes gestores das seis unidades escolares, participes do Programa. No Grupo B, os três gestores da Seduc que respondem ou respondiam diretamente pelo Programa Estrada do

52 Conhecimento – PEC. No Grupo C, um membro diretor do Sindicato, perfazendo dez interlocutores. Assim, o quadro 2, apresenta os sujeitos da pesquisa.

Quadro 2 - Sujeitos da pesquisa.

Grupo Código

Formação Experiência

Quant.

Graduação Pós-Graduação Gestão

(ano - início) Tempo na Educação (anos) A

GD1 Pedagogia Psicopedagogia e Gestão escolar (Pró – Gestão)

2014 27 1

GD2 Pedagogia Administração Escolar. Gestão escolar (Pró – Gestão)

2011 20 1

GD3 Pedagogia Orientação Educacional. Gestão escolar (Pró – Gestão)

201426 30 1

GD4 História Gestão, Orientação Supervisão Escolar.

Gestão escolar (Pró – Gestão)

2014 14 1

GD5 Pedagogia Gestão escolar (Pró – Gestão) 2016 16 1

GD6 História Ensino de História 2012 15 1

B

GS1 Pedagogia Educação +15 1

GS2 Sociologia Geografia +15 1

GSC1 Pedagogia Tecnologias Digitais 2011 +15 1

C DS1 Pedagogia 2012 +15 1

TOTAL 10

Fonte: Elaborado pela autora, a partir de dados coletados nas entrevistas entre os meses, de junho e setembro (2016).

Para a construção dos dados, utilizou-se o diário de campo, entrevistas semiestruturadas como técnica, e na perspectiva de enriquecimento da investigação nos ancoramos, concomitantemente com a análise documental nas determinações que envolvem a educação pública no Tocantins, via Programa Estrada do Conhecimento, visando ainda, compreender e desvelar as condicionalidades políticas e sociais envolvidas no financiamento do Banco Mundial para o Estado e implicações na gestão escolar.

53 Buscamos nos documentos e nas publicações específicas sobre educação, referentes ao PEC, os documentos do Banco Mundial, publicações federais e estaduais, deste último do governo do Estado e da Seduc, bem como das Unidades escolares pesquisadas. O quadro 3 apresenta alguns dos principais documentos utilizados na pesquisa.

Quadro 3 - Principais documentos analisados no desenvolvimento da pesquisa.

DOCUMENTO ORIGEM ANO/

Publicação Nº do Relatório: 63731 - BR Estratégia de Parceria de País

para a República Federativa do Brasil, exercícios fiscais (2012 a 2015)

Banco Mundial 2011

Nº do Relatório: 121495 - BR Projeto de Desenvolvimento

Regional Integrado e Sustentável – PDRIS Banco Mundial 2011

N° do Relatório: 56261- BR Documento de Avaliação do Projeto com Empréstimo proposto no montante de US$ 300 Milhões ao Estado do Tocantins com a garantia da República Federativa do Brasil para o Projeto de Desenvolvimento Regional Integrado e Sustentável (PDRIS)

Banco Mundial 2012

Lei Estadual/TO nº 2.538/2011 Estado do

Tocantins

2011

Programa Estrada do Conhecimento – PEC Seduc - TO 2011

Atas27 Unidades Escolares 2011 a

2012 Fonte: Elaboração da autora. (2017).

Analisamos os documentos, na busca de decifrá-los com o objetivo de compreender o PEC enquanto política, como se articula ao projeto hegemônico burguês, bem como se dá o impacto da luta de classes, como também a busca de uma sociedade que supere o modo de produção capitalista, de quem detêm o capital, dele o poder de mando. Para Evangelista (2012), esse terreno de disputas não é apenas conceitual. Como alertam Shiroma, Campos e Garcia (2005) quando se estuda a realidade pelos documentos é preciso atentar que os interesses em disputa impregnam os textos das condições e intenções políticas do tempo histórico em que são produzidos.

Além de que, as intenções políticas são marcadas por ambiguidades, contradições e omissões, que de certa forma dão pistas, mas também escondem. Nisso reside o papel da pesquisadora, de desvendar nos documentos estudados, referentes também a legislação brasileira na Constituição Federal de 1988, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

27 Coletadas dezoito Atas nas escolas pesquisadas, documentos esses, produzidos, no período dos meses de

54 – LDB 9394/96, Diários Oficial da União e do Estado do Tocantins, acordos, programas e projetos do Banco com o Estado, relatórios, bem como a bibliografia pertinente na área de políticas para a educação, com o foco na gestão.

Desta forma, os teóricos que lastreiam nossa tese, são: Marx (1982; 1985); Marx & Engels (1986, 1988); Fernandes (1960; 1966; 1975a; 1975b; 1979); Mészáros (2007, 2009) e entre os pesquisadores que nos ajudam a pensar o objeto do estudo, o Programa Estrada do Conhecimento no Estado do Tocantins, na sociedade capitalista estão: Fonseca (1998; 2001a; 2001b; 2011; 2013), Silva (1999; 2002), Souza (2009), Faoro (2012), Saviani (1991; 2012), Behring e Boschetti (2011), Castro (2008) e Frigotto (1999).

Assim, a tese que este estudo defende é que o Banco Mundial se insere na Educação básica pública, com a anuência e mediação da Secretaria Estadual de Educação, com propósito de reafirmar a nova forma de gestão nas escolas públicas, via diretores escolares. O Programa Estrada do Conhecimento – PEC é um projeto piloto, elaborado pela Seduc, orientado pelo Banco Mundial vem sendo implementado em conformidade com o projeto econômico do Banco, dispensando recursos para a educação, sob mote da vulnerabilidade social em seis municípios do Tocantins, consolidando espaços de exploração e expropriação no âmbito social.

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