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3 CONTEXTUALIZANDO O PARQUE TECNOLÓGICO ITAIPU OBJETO DE

3.3 Categorias Essenciais do Materialismo Histórico Dialético

Segundo Triviños (1992, p.54), as categorias existem objetivamente, isto é, não são expressões subjetivas nem apriorísticas da consciência humana. Elas se

formaram no processo de desenvolvimento histórico do conhecimento e da prática social, características do devenir da humanidade.

Elas são formas de conscientização nos conceitos dos modos universais da relação do homem com o mundo, que refletem as propriedades e leis mais gerais e essenciais da natureza, a sociedade e o pensamento. (TRIVIÑOS, 1992, p.55).

A opção por uma metodologia qualitativa dialética para esta pesquisa significa esforço para apreensão do singular em seus limites/ possibilidades e contradições/mediações articulados à totalidade mais ampla, tornando produtiva a associação de ideias antagônicas que são, também, complementares.

O estudo utilizou-se de categorias analíticas a priori da dialética para melhor objetivar a escolha das interpretações da pesquisadora.

Para Kant (apud CHEPTULIN, 1982, p.10) “as categorias são formas da atividade do pensamento próprias da consciência social anterior a qualquer experiência de conhecimento, anterior a toda ação cognitiva, a priori. É apenas assimilando-as que um indivíduo pode pensar de acordo com sua época e assim conhecer a realidade que o rodeia.”.

Para Hegel (apud CHEPTULIN, 1982, p.11) “as categorias apareciam não no decorrer do processo do reflexo da realidade na consciência dos homens, mas em decorrência do desenvolvimento da ideia, que existe anterior e independentemente da existência do mundo material, das coisas sensíveis.”.

As categorias não possuem um número definido. Aparecem novas categorias em razão das atividades que desenvolve o homem atuando sobre a natureza e a sociedade, em seu afã de conhecer e transformá-las. “O conteúdo mesmo das categorias muda e se enriquece com os progressos do conhecimento”. (TRIVIÑOS, 1992, p.55). As categorias refletem as leis universais do ser, as ligações e os aspectos universais da realidade objetiva, constituindo um tipo de conceito.

Para o materialismo histórico o ponto de partida para o desenvolvimento do conhecimento é a prática e a tese sobre as categorias, constituindo-se o princípio de identidade da dialética, da lógica e da teoria do conhecimento. “Assim, as categorias de partida, na análise das categorias, devem ser aquelas que refletem o fator

fundamental e determinante do desenvolvimento do conhecimento, isto é, as categorias da prática.” (CHEPTULIN, 1982, p. 60).

Considerando que categorias são graus do desenvolvimento do conhecimento possíveis de um determinado momento da história do pensamento humano, ali refletidos e fixados.

A categoria essencial do materialismo histórico, segundo Triviños (1992) é a contradição que se apresenta na realidade objetiva e estabelece uma interação entre aspectos opostos, distingue os tipos de contradições (interiores e exteriores, essenciais e não-essenciais, fundamentais e não-fundamentais, principais e acessórias). Determina o papel e a importância que ela tem na formação material e ressalta que é a origem do movimento e do desenvolvimento.

Há uma diferença entre autores que exemplifiquem essa categoria, por equívocos de linguagem, como Demo (2000, p. 109) explica: “o termo correto é contrário, não contraditório, embora na linguagem comum usemos o termo contraditório com sentido de contrário”. O conceito de contradição não seria dinâmico, porque se aplica a uma exclusão estanque. Mas ambos a conceituam de formas similares.

Segundo Demo (2000, p. 108) a categoria unidade de contrários significa o reconhecimento de realidade intrinsecamente dinâmica, porque atravessada por forças polarizadas de componentes que, ao mesmo tempo formam e instabilizam o todo. Trata-se de modo de inclusão, maneira de fazer parte, mas sempre de teor polarizado.

Essa categoria funda, ademais, o reconhecimento de que as mudanças provêm de dentro das coisas. O ser humano não torna a realidade dialética, porque esta já o é, inclusive o próprio ser humano. Toda formação da natureza e mais visivelmente as sociais são suficientemente contrárias para que gerem mudanças mais radicais. Seria contraditório dizer que a realidade é e não é ao mesmo tempo, mas é dialético afirmar que é e não é contrariamente, referindo-nos a suas incompletudes, complexidades e ambivalências.

Para Demo (1995, p.97) as totalidades históricas se mantêm processo e por isso se transformam, porque contêm dinâmica interna essencial, baseada na

polarização. As realidades sociais não são apenas complexas; são sobretudo complexidades polarizadas. São campo magnetizado, onde qualquer presença provoca ação e reação, e mesmo a ausência é maneira de polarizar.

Termos contrários são especificamente dialéticos, porque constituem os componentes essenciais das totalidades históricas. Formam um todo dinâmico de “repulsa e necessitação”. O autor exemplifica que subdesenvolvimento é o contrário de desenvolvimento: no que se afastam, porque exploração de um sobre outro, necessitam-se, porque um não se faz sem o outro.

Ele também argumenta que a formação social é a realidade que se forma processualmente na história, indigitável como fase, que de um lado apresenta nível de organização social, como por exemplo, a fase feudal, capitalista, colonial, industrial; e de outro lado apresenta o aspecto formativo histórico, sempre dinâmico, na unidade dos contrários, ou seja, gesta dentro de si as condições de aparecimento da nova fase.

Então, Demo (1995) expõe que formação histórica está sempre em transição, o que supõe visão intrinsecamente dinâmica da realidade social, no sentido da produtividade histórica. O que acontece na história é historicamente condicionado, e por isso não se produz o totalmente novo que não tivesse condicionamento histórico. A história produz transformações radicais, de extrema profundidade.

Não se produz fase final, definitiva, que já não tivesse razão histórica de superação. Dialéticas que forçam um “porto seguro” traem concepção conjuntural de conflito social, tomando-o como manifestação histórica passageira, o que redunda geralmente na montagem de impunidade para determinadas fases, definidas contraditoriamente como não antagônicas. Se a dinâmica provém do antagonismo, cassa-lo da história significa inventar uma história aposentada, que não passa de proteção suspeita de regimes e privilégios (DEMO, 1995, p.90).

A dialética possui maneira interessante de retratar a totalidade do real, que não se capta, segundo Demo (1995, p.93), bem repartido em pedaços, como quer a análise positivista.

A realidade concreta, segundo o autor, é sempre uma totalidade dinâmica de múltiplos condicionamentos, onde a polarização dentro do todo lhe é constitutiva. Por isso, indivíduo em si não é realidade social, porque é gerado em sociedade, educado em sociedade, socializado em sociedade. Isolar é artifício ou patologia. É possível, por artifício metodológico, isolar um componente, para vê-lo em si, desde que não se perca a perspectiva de que o todo é maior do que a soma das partes.

A dialética, por entender que a realidade é complexa e ambivalente, não estabelece, como regra, categorias dicotômicas, mas preferentemente complementares, como: teoria e prática, objetivo e subjetivo, qualidade e quantidade, linear e não linear. (DEMO, 2000, p.111)

Neste sentido, as principais dimensões reveladas nas categorias a priori que deram sustentação teórica à análise de dados e ao estabelecimento de critérios de aprofundamento do estudo de caso foram: totalidade/fragmentação, teoria/prática, criticidade/alienação.

Totalidade/Fragmentação: a totalidade, para Demo (2000, p. 108), não é

totalmente lisa, com partes tranquilamente justapostas, estática, mas incompleta, aproximada, imprecisa; forma um todo porque existe dinâmica comum, mas mostra rachaduras constantes, por onde sempre pode entrar a anti-dinâmica da mudança. Assim, para o autor, a totalidade não possui apenas a dinâmica circular, que é sempre a mesma e lhe permitiria recuperar-se eternamente. Ao contrário, a dinâmica é feita de dinâmicas contrárias, feitas de convergências e divergências. Sobrepondo- se as convergências, a totalidade continua; do contrário, se tem outra totalidade. Toda totalidade é dinâmica e seu movimento resulta do caráter contraditório das diferentes totalidades que a compõe de forma inclusiva e macroscópica. Sem as contradições, as totalidades seriam inertes e não teríamos transformações. Cabe à pesquisa desvelar os processos dinamizadores destas transformações, os quais geram novas totalidades diferenciadas – “a unidade do diverso” (LUKÁCS apud NETTO, p. 58, 2011).

Teoria/Prática: Demo (1995, p.100) coloca que prática é condição de

historicidade, e teoria é maneira de ver, não de ser. Para transformar a história, a prática é condição fundamental, pelo menos tão importante quanto a crítica teórica. Uma das marcas mais centrais da dialética é a de reconhecer a essencialidade da

prática histórica ao lado da teoria, não aceitando a disjunção entre estudar problemas sociais e enfrentar problemas sociais. Uma das características fundamentais da prática, segundo o autor, é de ser sempre uma opção da teoria que está por trás. Possui traço concreto, ao contrário da teoria, que é generalizante. Assim, teoria necessita de prática e vice-versa, embora cada termo tenha sua lógica; teoria tem pretensões universalizantes, enquanto prática é localizada; esta, ao mesmo tempo em que diminui a teoria, tem a possibilidade de realizá-la. Toda prática carece em retornar para a teoria, onde descobre que sua prática é sempre incompleta. A pretensão de completude da teoria é apenas pretensão, mas como utopia negativa exerce o papel de crítica permanente às histórias concretas, pois elas nunca encerram a riqueza disponibilizada na teoria.

Triviños (1992, p.63) também esclarece a relação da teoria e prática, como segue:

A teoria e a prática são categorias filosóficas que designam os aspectos espiritual e material da atividade objetiva sócio histórica dos homens: conhecimento e transformação da natureza e da sociedade. A teoria é resultado da produção espiritual social que forma os fins da atividade e determina os meios de sua consecução e que existe como noções em desenvolvimento sobre os objetos da atividade humana. Diferente dos pontos de vista empírico e positivista, a filosofia marxista não enfoca a prática como experiência sensorial subjetiva do indivíduo, como experimento do científico etc., mas como atividade e, antes de tudo, como processo objetivo de produção material, que constitui a base da vida humana, e também como atividade transformadora revolucionária das classes e como outras formas de atividade social prática que conduzem à mudança do mundo.

Criticidade/Alienação: Alienação antes de tudo é uma forma de relação

entre os sujeitos e, ao mesmo tempo, entre os sujeitos e determinados objetos ou coisas que lhes são exteriores. Essa forma de relação não é natural. Ela surge em um determinado momento, no processo do desenvolvimento histórico das sociedades humanas. Embora esse desenvolvimento seja criação e exteriorização dele próprio, o sujeito é aprofundamento afetado pelo processo: aliena-se. O termo, originalmente da Psiquiatria designava uma forma de perturbação mental, como a esquizofrenia, uma perda de consciência ou de identidade pessoal. Para Hegel, segundo Marx, o ser humano, o sujeito, é igual à consciência de si "Toda a alienação do ser humano não é, por conseguinte, senão a alienação da consciência de si".

Em seus famosos Manuscritos da Juventude, Marx dá um caráter e um conteúdo econômico-social a alienação. Pois o sujeito perde não apenas a identidade de si mesmo, a consciência de si, mas passa a pertencer ao objeto, à coisa, ao outro. É ainda uma doença do eu, no sentido psiquiátrico, mas com raízes econômico-sociais: uma forma de esquizofrenia, no sentido de que essa alienação não impede o prosseguimento das relações que se estabelecem entre os sujeitos e as coisas, ocultando uma alienação real.

Assim a alienação, do ponto de vista econômico-social, é a perda da consciência de si, em virtude de uma situação concreta. O sujeito perde sua consciência pessoal, sua identidade e personalidade, o que vale dizer, sua vontade é esmagada pela consciência do outro, ou pela consciência social - a consciência do grupo. É uma forma de para-consciência, ou seja, uma consciência particular incompleta, pela qual o sujeito perde parcial ou totalmente sua capacidade de decisão. É ainda sua integração absoluta no grupo: ele se massifica, passa a pertencer à massa e não a si mesmo.

Diz-se ainda que o sujeito está alienado quando deixa de ser seu próprio objeto e passa a se tornar objeto de outro. Deixa de ser algo para si mesmo. Sua vontade é assim a vontade de outro: ele é coisificado deixa de ser sujeito, criatura consciente e capaz de tomar decisões, para se tornar coisa, objeto.

Não podemos imaginar o sujeito totalmente consciente, racional e clarividente, até porque em grande parte ele faz história de modo inconsciente, levado por razões que a razão desconhece, realizando o contrário do que planeja fazer, acertando sem querer, em por vezes, conquistando também o que bem queria que ocorresse (DEMO, 2000). A criticidade significa a tomada de consciência por parte do sujeito acerca de sua força transformadora que passa a reivindicar com maior firmeza as coisas que lhe convém, ou seja, passam a reconhecer a existência de uma alternativa e que a organização da produção pode ser diferente. Por alienação, compreende-se a dificuldade humana em pensar os seus próprios problemas e para encará-los de um ângulo mais amplamente universal, deixando-se influenciar pelo ponto de vista dos exploradores do trabalho, na medida em que o produto do trabalho, antes mesmo de o trabalho se realizar, pertence à outra pessoa que não o trabalhador, por isso, ao invés de realizar-se no seu trabalho, o ser

humano se aliena nele; em lugar de reconhecer-se em suas criações, o ser humano se sente ameaçados por elas; e, em lugar de libertar-se, acaba enrolado em novas opressões.

A coerência da crítica está na autocrítica, pois não é possível, por lógica e por justiça, criticar sem apresentar-se como criticável. Depois, a crítica se completa na contraproposta, de cunho prático também. “Não é sustentável a mera crítica, destrutiva, virulenta, sem compromisso com alguma construção concreta, que, por sinal, será também criticável” (DEMO, 1995, p.127).

3.4 Quadro teórico e superação nos fundamentos adotados da delimitação