• Nenhum resultado encontrado

2 DESENVOLVIMENTO, TECNOLOGIAS E TURISMO NO PARQUE

2.1 Na trilha dos complexos caminhos de teorias sobre as diferentes concepções

2.1.4 Desenvolvimento Territorial

O termo desenvolvimento tem uma vasta amplitude de acepções e conceitos que se inter-relacionam e/ou se complementam. Recorrentemente é usado na fundamentação de documentos oficiais nas políticas governamentais e tem servido de base para o desenvolvimento de estudos empíricos. Por isso mesmo tem ocupado um espaço significativo no âmbito de pesquisas acadêmicas caracterizando-se um complexo, polissêmico e por vezes polêmico conceito. Da mesma forma o termo território também tem se inserido nos debates e tomado as mesmas características de diversidade e complexidade conceituais que o próprio desenvolvimento. A utilização de tais conceitos conjugados implica a eles pautas para efervescentes disparidades teóricas. Para Lima (2013):

O conceito desenvolvimento territorial é complexo, constituído pela associação de dois conceitos de similar complexidade (desenvolvimento e território), e com ampla discussão na academia, especialmente na Sociologia, na Geografia e na Economia. Desenvolvimento é um conceito clássico das ciências econômicas, mas pelo seu caráter, polêmico e

controverso, de muitas adjetivações (social, econômico, sustentável, regional, local, rural, urbano, territorial), foi incorporado no debate de outras áreas do conhecimento. O conceito de território, por sua vez, vem sendo objeto de vários estudos, na tentativa de compreender as relações da sociedade com o espaço.

Para Boisier (2001, p.7), talvez "desenvolvimento territorial " seja o mais amplo de seus sentidos. Considerado um conceito associado com a ideia de recipiente e não a ideia de conteúdo. O território enquanto um corte da superfície da Terra, pode ser visto como um "território natural”, espaço intocado, sem intervenção humana; o "território equipado" com algum tipo de intervenção humana, como a infraestrutura de transportes, construção, qualquer atividade extrativa; “território organizado", considerado aquele que tem um sistema de assentamentos humanos - a existência de uma comunidade que reconhece e cujo principal auto referência seu próprio território, com algum tipo de mecanismo ou a administração do governo. Neste, Boisier (2001, p.7) afirma: "O desenvolvimento territorial refere-se à escala geográfica de um processo e não a sua substância".

Sobre o conceito de território, Milton Santos afirma que:

O território deve ser entendido como território usado, não o território em si. O território usado é o chão mais a identidade. A identidade é o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é o fundamento do trabalho; lugar da residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida (2007, p.14).

Para Albuquerque3 (2013), o território está para além do espaço geográfico no qual estão alocadas as atividades. Para ele, o território é o conjunto de atores e agentes que o habitam, com sua organização social e política, sua cultura e instituições, assim como o meio físico e o meio ambiente que formam parte dele. O território se configura como um sujeito (ou “ator”) fundamental do desenvolvimento, ao incorporar as distintas dimensões deste, ou seja, o desenvolvimento social e humano, o desenvolvimento econômico, o desenvolvimento institucional, e o desenvolvimento ambientalmente sustentável. O desenvolvimento funda-se, portanto

3 Conceito amplamente debatido em Palestra do BID/FOMIN “O Papel das Estatais e seus Instrumentos no Processo de Desenvolvimento Local”, realizada dia 03 de setembro de 2013, no auditório César Lattes, Parque Tecnológico Itaipu Brasil, em Foz do Iguaçu – Paraná.

no aproveitamento das capacidades do próprio território para melhoria da sua competitividade, através da inovação; igualdade no acesso a bens e serviços essenciais ao exercício pleno da cidadania; e oportunidade de inserções sócio produtivas.

Isto resultará no alcance da autonomia, liberdade e qualidade de vida dos cidadãos. Tal processo envolve, minimamente, cinco dimensões, a saber: a) social e humano; b) institucional, político e cultural; c) ambiental; e d) econômica, conforme Figura 2.1 (ALBUQUERQUE, 2013).

O conceito de desenvolvimento territorial abarca a totalidade das dimensões com a totalidade dos relacionamentos de forma que não se pode conceber o desenvolvimento pretendendo avançar em apenas uma das dimensões, pois elas estão interligadas. Contudo, também há que se reflexionar que o desenvolvimento não é um processo linear, porém, dialético. Denota observar que os processos relacionais entre as dimensões do desenvolvimento são causadores de desequilíbrios, portanto, fica difícil, ao mesmo tempo, a plena realização e satisfação de todos os elementos constitutivos do Desenvolvimento em níveis iguais.

Nesta ampliação do entendimento e na adoção de uma postura mais sistêmica de sua análise, cabe a contribuição de Amartya Sen sobre o processo. Em sua obra, Desenvolvimento como Liberdade, ele aborda que o desenvolvimento pode ser encarado “como um processo de expansão das liberdades reais que as pessoas desfrutam.” (SEN, 2000, p.55).

Figura 2.1 – Desenvolvimento e as suas multidimensões Fonte: Albuquerque, 2013

Ao demonstrar que tal processo está essencialmente conectado às oportunidades que ele oferece à população de fazer escolhas e exercer sua cidadania, incluindo não somente a garantia dos direitos sociais básicos, como saúde e educação, mas também segurança, liberdade, habitação e cultura.

"Vivemos um mundo de opulência sem precedentes (...), mas também de privação e opressão extraordinárias. Ver o desenvolvimento como expansão de liberdades substantivas dirige a atenção para os fins que o tornam importante, em vez de restringi-las a alguns dos meios que, inter alia, desempenham um papel relevante no processo (Sen, 2000, p.16).

Mais uma concepção que corrobora com a ampliação no entendimento sobre desenvolvimento, elencando a ele outras dimensões na análise de seu processo, conhecida como Desenvolvimento em Escala Humana. Publicada em espanhol em um número especial na revista Development Dialogue (1986), traz no seu bojo aspectos pertinentes para uma abordagem mais ampliada. Na transcrição

dos autores Mafred Max-Neef, Antonio Elizalde e Martin Hopenhayn (apud BOISIER, 2001, p. 4)4:

Tal desenvolvimento (desenvolvimento em escala humana) se concentra e se sustenta na satisfação das necessidades humanas fundamentais, na geração de níveis crescentes de autoconfiança e articulação orgânica dos seres humanos com a natureza e tecnologia, dos processos globais com os comportamentos locais, do pessoal com o social, de planejamento com a autonomia da Sociedade Civil com o Estado.

Esse avanço na subjetivação do desenvolvimento, leva a um avanço do entendimento deste processo. Segundo Boisier (2001, p.5):

(...) Entender o desenvolvimento requer enfoques holísticos, sistêmicos e recursivos. Morin, Prigogyne, Capra, Drucker, Fukuyama, Habermas, Maturana e outros, são alguns dos nomes que começam a estar por trás de um novo paradigma. A questão prática, o que deveria interessar aos praticantes do desenvolvimento, entre os quais os mais importantes são precisamente as autoridades locais, é que se requer um verdadeiro re- treinamento mental para poder intervir com alguma possibilidade de êxito no fomento do desenvolvimento, não só do crescimento. Há pela frente uma tarefa gigantesca imprescindível para a comunidade acadêmica, para instalar na estrutura curricular de pré e pós-graduação paradigma próprio da complexidade.

Entende-se, portanto, que uma análise consistente do desenvolvimento se faz a partir de um olhar multi e interdisciplinar, com abordagens relacionadas aos saberes econômicos, sociológicos, políticos, antropológicos, entre outros. Para compreender e caracterizar esse processo, uma série complexa de fatores precisa ser considerada, bem como suas dinâmicas de inter-relação. Para Ferreira de Lima (2011, p. 48):

(…) quando se insere a concepção do espaço e dos territórios, como elementos dinâmicos e de análise no escopo da economia, deve-se considerar a cultura, a política, a história, a tecnologia e os sentimentos de parceria e orgulho dos povos como questões importantes nos estudos das regiões e de seudesenvolvimento.

Com os elementos elencados até aqui, afirma-se que o processo de desenvolvimento está imbuído de uma série de características, fatores e dimensões

4 Tradução da pesquisadora.

internos e externos ao território ou região onde ocorre. E, que para uma compreensão mais ampla e consistente, precisa ser apreendido como algo complexo. Ainda, que é um processo dinâmico e está intrinsecamente vinculado aos movimentos do tecido social que o compõe, tanto no estabelecimento de sua expansão ou retração.