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1 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NOS PAÍSES DESENVOLVIDOS E AMÉRICA LATINA

1.2 A MÉRICA L ATINA

1.2.5 Causas do Fracasso

À luz dos dados sobre os esforços com P&D e patentes na América Latina, é necessário perguntar por que as políticas tecnológicas implementadas durante a década de 90 não tiveram tanto êxito

14 No que se refere ao número de patentes registradas em diversos escritórios, segundo os dados da RICYT, a participação de patentes de não-residentes sobre o total de patentes registradas na América Latina e Caribe foi de aproximadamente 74,55%, enquanto para os Estados Unidos foi de 45,33% no mesmo ano.

15 Para o caso brasileiro, a participação de estrangeiros nas patentes domésticas, considerando o período pós-real, passou de 21,54% em 1994 para 39,68% em 1999. 0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00 % Panamá Equador Uruguai Porto Rico Peru Chile México Brasil Argentina Colômbia Venezuela Costa Rica Gráfico 1.11

Participação de Estrangeiros nas Patentes Domésticas 1999

25 nas economias da América Latina. Erber (2000, pg. 188) destaca algumas causas para esse fracasso:

i) composição desfavorável da estrutura produtiva, na qual os setores intensivos de tecnologia apresentam pouca importância na região;

ii) predominância da importação de tecnologia em detrimento ao desenvolvimento local, que teve como origem o aumento da participação das transnacionais e o tamanho reduzido das domésticas;

iii) incapacidade, ou falta de vontade, dos mercados de capitais locais em atender a demanda de investimentos de alto risco, como os tecnológicos.

De outro lado, na visão dos formuladores de política econômica na década de 90, o aumento da produtividade da economia – núcleo do processo de desenvolvimento para eles – seria alcançado principalmente pela importação de bens de produção e de tecnologia. Assim, o desenvolvimento da Ciência e Tecnologia local era vista como secundária, sendo no máximo complementar. De todos modos esperava-se, a médio e longo prazos, um aumento progressivo do esforço tecnológico, principalmente por parte das empresas transnacionais que, por sua vez, estimulariam as empresas domésticas.

Erber (2000, pp. 188-189) não partilha dessa visão otimista:

“Neste caso, mesmo que desempenhando um papel secundário, os investimentos das empresas em C&T aumentariam, tanto em função do crescimento geral dos investimentos como do aumento de competição nos mercados. (....) o ‘piso’ dos gastos em ativos de C&T aumentariam. Quanto ao ‘teto’ destes gastos, é duvidoso que aumentasse; a globalização tende a eliminar muitas das idiossincrasias locais, que respondiam por forte parcela dos programas mais ambiciosos de P&D, ao mesmo tempo em que aumenta a pressão para que processos e produtos regionais rapidamente sejam os mesmos do exterior – o que estimula a importação de tecnologias, que requer um ‘teto de gastos relativamente baixo. O papel de demiurgo do crescimento atribuído ao capital estrangeiro, que em muitos países entrou adquirindo algumas das empresas locais (estatais e privadas) mais dinâmicas tecnologicamente, agrava a tendência a importar tecnologias. Ou seja, provavelmente, os círculos virtuosos levariam a um achatamento do ‘teto’.”

26 Já em relação ao papel das empresas transnacionais, Cassiolato e Lastres (2000, pg. 244) afirmaram que:

“Durante a década de 90, as políticas industriais e tecnológicas dos países latino-americanos foram ancoradas num duplo eixo. Por um lado, supunha-se que, à semelhança do período anterior, as tecnologias seriam passíveis de aquisição no mercado internacional. Por outro lado, considerava-se que as subsidiárias das empresas transnacionais teriam um papel chave no processo de catch up industrial e tecnológico: (i) trazendo os novos investimentos necessários para integrar as economias locais ao processo de globalização; (ii) ‘transferindo’ suas novas tecnologias para as economias atrasadas e pressionando os concorrentes locais a se modernizarem. Assim, para atrair um novo fluxo de investimentos estrangeiros bastavam serem seguidos os preceitos de liberalização, desregulamentação e privatização, deixando que o mercado tomasse conta do resto.”

Ao mesmo tempo, Gomes (2003, pp. 180-181, grifos meu) fez a seguinte proposição:

“O cenário que desenhamos esboça um processo de forte mudanças nas estratégias das ETNs (empresas transnacionais) das atividades tecnológicas. A internacionalização da P&D está deixando de ser um fenômeno restrito à esfera produtiva e limitado aos países centrais. Em razão do acirramento da concorrência entre os oligopólios mundiais e do processo de globalização, a descentralização das atividades tecnológicas vêm conquistando dinâmica própria. Algumas subsidiárias das ETNs em economias emergentes estão sendo agregadas ao processo de descentralização da P&D. Em alguns casos no Brasil, esta integração parece estar sendo processada em condições similares às que ocorreram historicamente com os países centrais de reconhecida reputação em uma área específica do conhecimento científico.”

Como visto acima, os resultados ficaram aquém do esperado. Isso não foi motivo de surpresa para vários autores de linha mais heterodoxa como Cassiolato e Lastres (2000), e Katz (1999), entre outros, que destacaram principalmente:

i) a homogeneização dos processos produtivos e produtos ao redor do mundo, que fez com que fossem diminuídos consideravelmente os gastos de adaptação do produto ou processo às condições locais;

ii) apesar da internacionalização do processo de inovação, esse tipo de globalização se concentrou mais nos Países Desenvolvidos e nos tigres asiáticos;

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iii) o investimento externo tecnológico nos Países em Desenvolvimento se concentrou mais em atividades que utilizaram tecnologias consideradas estáveis e maduras.

Assim, pode-se concluir que os problemas mostrados acima, aliados à instabilidade macroeconômica vivida pelos países da América Latina durante a década de 90, resultaram em um baixo investimento em Ciência e Tecnologia em comparação aos Países Desenvolvidos, que conduziu à pouca absorção e difusão das transformações tecnológicas e organizacionais ocorridas nos últimos anos; tendo como conseqüência, por exemplo, o baixo número de atividades inovativas relevantes nos países da América Latina que são passíveis de patenteação, quando comparados com os países de fronteira.

Cabe, entretanto, perguntar se o Brasil teve um desempenho inovativo semelhante aos dos outros Países da América Latina. Como será visto no próximo capítulo, o desempenho tecnológico do Brasil continua insatisfatório. E, pelos resultados empíricos presentes na parte final deste trabalho, nota-se que, ao contrário que Gomes (2003) acreditava, as atividades de P&D das filiais das empresas transnacionais continuam muito mais para adaptação do que criação de produtos e processos essencialmente novos.

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