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1 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NOS PAÍSES DESENVOLVIDOS E AMÉRICA LATINA

1.2 A MÉRICA L ATINA

1.2.2 Reformas Estruturais

No início da década de 90, dado o esgotamento do modelo de substituição de importações, a América Latina foi conduzida a uma visão de desenvolvimento inspirada nos preceitos ortodoxos da economia que privilegiava a transformação institucional como indutor do desenvolvimento. Essa transformação institucional consistia na diminuição do Estado na economia em contraposição ao aumento da importância do setor privado, fazendo com que o último se tornasse o ‘motor’ do desenvolvimento econômico. Nessa visão o mecanismo de mercado seria o ideal na resolução de conflitos. Nesse período, foi aplicada a homogeneização das políticas de desenvolvimento econômico nos países da América Latina, apesar das diferenças existentes entre eles11.

Em relação às políticas científicas e tecnológicas, essa nova visão de desenvolvimento econômico utilizada durante a década de 90 tinha como objetivo aumentar a participação do setor privado no processo de inovação dos Países em Desenvolvimento bem como torná-lo o principal indutor do desenvolvimento tecnológico.

Porém, para Erber (2000), essa preocupação em aumentar o papel do setor privado no desenvolvimento tecnológico não era nova, pois já existia no período de substituição de importações, mas não deu certo, já que, entre outros fatores, como já foi destacado, privilegiou as empresas transnacionais que, ao invés de propiciar um desenvolvimento significativo da capacidade inovativa do setor privado, importaram mais máquinas e equipamentos e até mesmo processos produtivos para suprir a carência tecnológica do país.

Em um primeiro momento, a análise dos dados sobre os esforços com inovação tecnológica na América Latina leva a concluir que as reformas estruturais implementadas no campo da tecnologia da década de 90 tiveram sucesso. Segundo Erber (2000, pg. 190), em relação aos

11 Essa nova visão de desenvolvimento foi originada das reformas estruturais propostas pelo ‘Consenso de Washington’. Nessa visão, segundo Erber (2000, pg. 186), caberia ao estado: i) a busca do equilíbrio fiscal; ii) defender-se do aprisionamento de interesses privados; iii) diminuir o seu papel na produção direta de bens e, finalmente, iv) orientar sua regulação para a defesa de concorrência nos mercados.

20 gastos com Ciência e Tecnologia (C&T) no México, Argentina e Brasil para o período 1993- 1996:

“Exceto para o caso mexicano, ainda afetado pela crise de 1995, verifica-se uma expansão de gastos espetacular: na Argentina à taxa anual de 9,8% e no Brasil a 12,7% ao ano. Nestes casos, o gasto com C&T teria subido de 0,39% para 0,46% do PIB na Argentina e de 0,96% para 1,23% do PIB no Brasil. Nos dois casos, parte substancial da expansão de gastos em C&T é explicada pelo aumento de dispêndios empresarias (42% na Argentina e 46% no Brasil).”

1.2.3 Pesquisa e Desenvolvimento

A evolução dos gastos com P&D em porcentagem do PIB para a América Latina e Caribe na década de 90 pode ser verificada pelo gráfico 1.7 abaixo, onde se percebe que o nível de esforços passa de um patamar de 0,52% do PIB em 1990 para 0,58% em 2000 e 0,62% do PIB em 2001.

Já no gráfico 1.8 abaixo é visível o aumento da participação do setor empresarial – em sua maioria privado – no financiamento dos gastos com Pesquisa e Desenvolvimento no México, resultado pelo qual era esperado pelos formulados de política econômica durante a década de 90. Nesse gráfico, a participação do setor empresarial passou de 17,58% em 1995 para 23,58% em 1999. 0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 % 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Gráfico 1.7

Evolução dos Esforços com P&D em porcentagem do PIB na América Latina e Caribe

Fonte: El Estado de la Ciencia. Principales Indicadores de Ciencia y Tecnología Iberoamericanos / Interamericanos 2002, Red Iberoamericana de Indicadores de Ciencia y Tecnología (RICYT), Buenos Aires, 2002.

21 Para Katz (2000, pg. 31), o aumento da participação do setor privado tanto no financiamento como nos gastos de P&D nos países na América Latina durante a década de 90 se deveu:

i) à privatização das empresas estatais de serviços públicos, que resultou no fechamento dos departamentos de Pesquisas e Desenvolvimento destas e da redução dos gastos locais de engenharia em setores como energia, telecomunicações e transporte.

ii) à política tecnológica implementada nesse período que passou da ‘oferta al

subsidio’ para a demanda de recursos, forçando os laboratórios de Pesquisa e Desenvolvimento público buscarem cada vez mais o financiamento junto ao setor privado.

Nesse contexto, observa-se no gráfico 1.9 a evolução da participação dos setores nos gastos com P&D na Argentina. De acordo com esse gráfico, em 1993 o setor empresarial representava 21,0% dos gastos totais com P&D, já em 1997 esses gastos representava 30,2%. Porém, nota-se também pelo gráfico abaixo que a participação do setor empresarial em 2001 teve uma redução drástica em 2001, retrocedendo para 23,9%; contudo, esse fato pode estar relacionado com a crise

66,18 17,58 9,49 6,74 71,06 16,92 9,48 2,54 61,26 23,58 9,82 5,34 0 20 40 60 80 100 % 1995 1997 1999 Gráfico 1.8

Participação dos Setores no Financiamento dos Esforços com P&D México

Exterior

Outras Fontes Nacionais Empresas

Governo

22 econômica vivida por esse país durante o final dos anos 90 e início do século XXI 12.

1.2.4 Patentes

Apesar da evolução dos gastos com P&D na América Latina e das transformações ocorridas no financiamento e na execução dos gastos, a região não conseguiu aumentar consideravelmente sua participação nas patentes registradas na USPTO. No gráfico 1.10 nota-se que, para os três maiores países em termos de inovação tecnológica na América Latina, a participação aumentou apenas de 0,11% em 1990 para 0,14% em 1999.

O que se observa no gráfico abaixo é que o aumento no número de patentes registradas verificado na década de 90 serviu mais para recuperar o espaço perdido na década de 80, conhecida como década perdida. Nota-se também que a queda durante a década de 80 se deveu principalmente ao México.

12 Dados da Red Iberoamericana de Indicadores de Ciencia y Tecnología (RICYT) mostram que, para o caso brasileiro, a participação do setor empresarial na execução dos gastos com P&D passou de 24,2% em 1990 para 45,5% em 1996. Será analisado como mais detalhe o caso brasileiro no próximo capítulo.

51,3 25,7 21,0 2,0 39,2 27,8 30,2 2,8 41,4 31,8 23,9 2,8 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 % 1993 1997 2001 Gráfico 1.9

Participação dos Setores nos Esforços com P&D Argentina

Setor Privado sem fins lucrativos Empresas

Ensino Superior Governo

Fonte: El Estado de la Ciencia. Principales Indicadores de Ciencia y Tecnología Iberoamericanos /

23 Apesar desses dados da USPTO serem ilustrativos do fraco desempenho da América Latina em relação à inovação tecnológica, para Albuquerque (1999) seu significado deve ser relativizado, pois, os países da região apresentaram pouca propensão a registrar suas inovações neste escritório, dado o pouco desenvolvimento de seus Sistemas Nacionais de Inovação13.

Mesmo assim, quando se utilizam os dados da Red Iberoamericana de Indicadores de Ciencia y

Tecnología (RICYT), o crescimento do número de patentes registradas pelos países da América Latina e Caribe em diversos escritórios não apresentou um crescimento significativo em relação, por exemplo, aos Estados Unidos. Segundo esses dados, o número de registros feitos pela América Latina e Caribe passou de 10.335 em 1990 para 16.257 em 1999, representando um aumento de 57,30%; por outro lado, o crescimento dos Estados Unidos nas patentes registradas foi de 69,85% no período, que passou de 90.365 em 1990 para 153.485 em 1999.

Ao mesmo tempo em que os países da América Latina apresentaram uma baixa participação na USPTO, tiveram também alta participação de estrangeiros no registro de patentes domésticas (ver gráfico 1.11 abaixo). Assim, como no caso dos Países Desenvolvidos, percebe-se que geralmente

13 Segundo Albuquerque (1999, pg. 15) a razão entre total de patentes concedidas a residentes pelo USPTO e o total de patentes concedidas pelos Escritórios Nacionais aos seus residentes, para os Países em Desenvolvimento que apresentam Sistemas Nacionais de Inovação ‘imaturos’, foi de apenas 15,6%.

0,03 0,12 0,04 0,04 0,07 0,03 0,05 0,04 0,02 0,06 0,04 0,03 0,06 0,05 0,03 0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14 0,16 0,18 0,20 % 1975 1980 1990 1995 1999 Gráfico 1.10

Participação dos 3 maiores países da América Latina nas patentes registradas na USPTO

Argentina México Brasil

24 países menores tiveram uma maior participação de estrangeiros no registro de patentes, que foi, por exemplo, o caso do Uruguai que teve uma participação de 66,67% em 1999 14.

Ao mesmo tempo, percebe-se também pelo gráfico abaixo que países considerados grandes, como Brasil e México, tiveram uma participação relativamente maior de estrangeiros nas patentes domésticas em comparação aos Países Desenvolvidos grandes. Esse fato pode refletir o aumento da participação de empresas transnacionais na inovação tecnológica nesses países durante a década de 90. O México, por exemplo, passou de uma participação de estrangeiros de 33,33% em 1990 para 41% em 1999 nas patentes domésticas 15.