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2 AS FOTOGRAFIAS DA MORTE E O SENTIMENTO PELA CRIANÇA:

4.2 CEMITÉRIOS EM PONTA GROSSA PR

A cidade de Ponta Grossa passou por um processo semelhante ao resto do mundo, pois os cemitérios que eram aglutinados com as igrejas passaram a ficar longe

da cidade. A Princesa dos Campos Gerais cresceu ao redor de seus cemitérios e atualmente eles fazem parte da vida social.

O primeiro cemitério que se teve conhecimento na região era localizado em uma fazenda, durante o começo das ocupações deste local, como pode-se verificar no seguinte relato:

Quando morria alguém, se era branco, era enterrado num pequeno cercado, junto da casa grande, que servia de cemitério. Se fosse membro da família do fazendeiro, então era procurado um cemitério santificado. Muita gente foi enterrada no cemitério dos jesuítas, junto à capela de Santa Bárbara. Se o morto fosse escravo, era enterrado em lugar bem delimitado, bem distante das habitações (CHAMMA, 1988, p. 16).

Percebe-se que a população desse local já era muito religiosa, pois o fazendeiro, que tinha maior poder aquisitivo, fazia questão de enterrar seus entes queridos em um cemitério santificado, junto a uma capela. No mesmo relato, se verifica a diferença social existente na época quanto aos sepultamentos, já que os brancos não precisavam ser enterrados em locais abençoados e os negros deveriam ser sepultados o mais longe possível da casa do fazendeiro.

Como relatado, os familiares do fazendeiro eram levados para a Capela Santa Bárbara, localizada na estrada rural entre Alagados e Ponta Grossa. Neste local existia já um cemitério pertencente aos jesuítas, entretanto, para a população que habitava o local na época, era dificultoso enterrar seus mortos lá, visto que o local era muito longe das moradias. Por essa razão, a sociedade solicitou a construção de um local mais acessível para o sepultamento dos mortos, como mostra Chamma (1988):

Ouvindo as reclamações dos moradores, que o cemitério da capela Santa Bárbara ficava muito longe, conseguiram que o Vigário de Castro, após consulta ao Bispo de São Paulo, concedesse provisão para a realização de enterros, batizados e casamentos fora a Vila de Castro. Essa provisão permitiu a construção do cemitério e pequena Capela nas proximidades dos caminhos das tropas (CHAMMA, 1988, p.16).

A criação do novo cemitério, conhecido como São João, foi construído, onde atualmente é a praça Barão de Guaraúna, no ano de 1810 tendo o seu primeiro sepultamento um ano depois. Essa necrópole foi considerada a primeira da cidade de Ponta Grossa.

Em 1830 foi construído um novo local para os sepultamentos próximo à Capela Sant’Ana, lugar este que não foi bem aceito pela sociedade ponta-grossense, pois era

um terreno muito inclinado, de modo que a maior parte da população preferia ainda continuar a enterrar seus entes no cemitério São João, visto ser um terreno mais plano. A situação desse novo cemitério se complicou quando, durante uma forte chuva, muitas covas foram levadas pela enxurrada. Em decorrência disso, as pessoas não queriam mais fazer ali os sepultamentos, sendo tal necrópole desativada.

Do mesmo modo que em outros lugares do país, os cemitérios tiveram de ser afastados das igrejas por questões de higiene e saúde. De tal forma, em 1860, foi expedido um comunicado de que não se poderia mais enterrar os mortos no recinto das igrejas e capelas.

Em 1865, como já mencionado, o Vigário da cidade era o Padre Anacleto Dias Batista, responsável por todos os ritos religiosos, inclusive os relacionados à morte. Porém, ele não possuía boas relações com os políticos do local e, por essa desavença, os vereadores resolveram se vingar, mudando o cemitério para outro lugar, já que, segundo eles, o local onde estava impedia o crescimento do local. Assim, sem consultar o padre, o governo comprou um terreno fora da cidade e insistiu para que os enterros fossem ali realizados, porém como o padre não tomou conhecimento desse novo cemitério, ele não o abençoou. Este lugar, então, não tinha a cruz de madeira que o tornava um campo santo, fazendo com que as pessoas não quisessem enterrar ali os seus mortos, problema que durou alguns anos.

Em 1881 o governo local foi substituído e o vigário da cidade também. Com o novo Padre, João Evangelista Braga, o cemitério foi devidamente abençoado e as pessoas puderam enterrar seus mortos sem temor. O novo representante religioso ficou responsável por supervisionar o local. Essa necrópole será então um dos locais que permanecem ativos até hoje na cidade de Ponta Grossa, o cemitério São José, localizado na Avenida Balduíno Taques – Centro. Segundo registros do Serviço Funerário Municipal, o primeiro sepultamento realizado neste local que se tem registro foi no ano de 1890, mas possivelmente outros enterros devem ter acontecido antes.

Com o novo cemitério, o Governo, que na época estava nas mãos do Cel. Cláudio Gonçalves Guimarães, pediu para que se tirassem os restos mortais existentes no cemitério São João em um prazo de seis meses, tendo em vista que o local seria destruído. Por esse motivo, o antigo cemitério São João recebeu sepultamentos somente até o ano de 1890. Em 1912, durante seu governo, Theodoro Rosas aumentou a área do cemitério São José, que ficou com uma das laterais junto à rua Balduíno Taques (CHAMMA, 1988, p. 59).

Presume-se que neste momento, a cidade já possuía o cemitério Colônia Dona Luiza, já que o prefeito Albary Guimarães, por meio do decreto lei nº 6/43 de 15 de julho de 1943, estabeleceu a reorganização do cemitério Dona Luiza15. Nesta lei há uma planta que orienta como deveria ser feita a estruturação do local, além de definir taxas a serem pagas pela sua utilização.

No ano de 1948, no governo de João Vargas Oliveira, é construído o cemitério São João Batista no bairro de Uvaranas, sendo o primeiro sepultamento nesta necrópole registrado no ano de 1951. No mesmo ano, pelo decreto 80/48, define-se o nome de quatro cemitérios já existentes na cidade, sendo nomeados assim:

1ª - Cemitério São José à necrópole da praça Professor Colares; 2ª - Cemitério São João Batista à necrópole de Vila Ana Rita; 3ª - Cemitério de São Sebastião à necrópole da Chácara Madalena; 4ª - Cemitério Santa Luiza à necrópole da Colônia D. Luiza.

Em 1956, com a falta de espaço no Cemitério São José, a prefeitura recebe a doação de um terreno de Antônio Rodrigues Teixeira Junior para a instalação do cemitério Santo Antônio, por meio da lei 894/56 de 26 de junho (no qual o primeiro enterro registrado é datado de 1959). No mesmo ano, por meio do decreto de Lei de 840/56 de 19 de janeiro, o prefeito José Hoffmann autoriza a ampliação do Cemitério Dona Luiza (no qual se tem o primeiro sepultamento registrado em 1967). Nessa época, tendo em visto a falta de espaço, os sepultamentos no Cemitério São José diminuem.

Ainda em 1956, a prefeitura da cidade se preocupa com a regulamentação do funcionamento dos cemitérios municipais. No decreto 24/56 de 20 de março, são expostas várias regras para o bom funcionamento dos locais, e entre elas estava a atenção com a higiene e o cuidado do local, bem como sobre a utilização dos túmulos, administração e fiscalização. Um exemplo de higienização e de cuidado na cidade era o Cemitério São José, pois baseando-se em jornais da época, Carneiro (2012, pp. 67-68) relata que o local não era apenas para se enterrar os mortos, pois também representava o progresso de higienização da cidade, sendo considerado um dos lugares mais limpos, bem cuidados e belos do país.

15 Após buscas no Serviço Funerário Municipal de Ponta Grossa, Prefeitura da cidade e Casa da Memória,

foram encontrados poucos dados sobre o Cemitério Colônia Dona Luiza e São João Batista. As poucas informações aqui citadas foram baseadas nas leis e normas disponíveis no site da Câmara Municipal de Ponta Grossa.

Além de um lugar bem cuidado, com uma estrutura impecável, o cemitério se destaca pela sua arquitetura e personalidade, pois “no local podem ser encontrados sepulturas de personalidades da história de Ponta Grossa, bem como muitas obras de arte, seja na arquitetura dos mausoléus ou na beleza das imagens que adornam os túmulos” (PREFEITURA MUNICIPAL DE PONTA GROSSA, 2018).