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MEMÓRIAS DA INFÂNCIA EM CEMITÉRIOS DE PONTA GROSSA

2 AS FOTOGRAFIAS DA MORTE E O SENTIMENTO PELA CRIANÇA:

4.3 MEMÓRIAS DA INFÂNCIA EM CEMITÉRIOS DE PONTA GROSSA

Carneiro (2012), baseando-se em jornais da década de 1930, relata a memória dos mortos celebrada pelos vivos, principalmente na data de finados em Ponta Grossa. Sendo assim, essa data era como se fosse uma continuidade da vida após a morte, na qual sempre as pessoas visitavam os seus mortos, como se eles ainda permanecessem aqui. Por isso, desde o início do século XX, o jornal da cidade já anunciava esse culto à memória dos falecidos:

Ponta Grossa, como todo mundo, cultuou hontem a memória dos seus mortos. Toda a cidade, ricos e pobres, poderosos e humildes. Toda essa massa que forma o patrimônio demográfico da Princeza dos Campos, dirigiu- se em romarias ao campo santo (O DIA DOS MORTOS. JORNAL DIARIO DOS CAMPOS. 03 DE NOVEMBRO DE 1936 apud CARNEIRO, 2012, p. 62).

Desde o século XIX a população tem um sentimento bem definido de memória por seus mortos, sempre tentando mantê-los vivos mediante vários recursos, por isso “a nova necrópole, consolidando e tornado mais frequente o costume das visitas periódicas, são reflexo do fomento a participação dos mortos na memória dos vivos” (VAILATI, 2010, p. 204).

A memória das crianças mortas nos cemitérios teve início a partir do século XIX, que por meio de esculturas em formas de anjos, lembravam sua pureza e a inocência, assim como já podia-se perceber nas suas mortalhas em fotos pós-morte. A fotografia como outro meio de representação da criança veio em seguida, demostrando sentimento e a mudança na visão da morte infantil, que agora era mais preservada do que nunca. Segundo afirma Vailati (2010, p. 204): “elementos novos dão testemunho de uma postura diferenciada para com a criança morta no sentido de uma participação maior na lembrança dos vivos: o cemitério e a fotografia dos parentes mortos”.

Desta forma, a criança, no ambiente cemiterial, muitas vezes foi mais homenageada do que os adultos. Por meio de esculturas, lápides e fotografias, revelou- se o grande sentimentalismo por sua perda, após a nova concepção da infância. Por esse motivo, “essa mudança vale particularmente para a criança que, sob um novo estatuto, concorre (em um determinado momento com vantagem mesmo) com os adultos como alvo de homenagens póstumas” (VAILATI, 2010, p. 204).

Essa forma de eternizar a criança na terra se deve à necessidade de sua continuação existencial por meio da imortalidade, pois a sociedade acredita que um adulto ao morrer, conseguiu, pelo menos, aproveitar um bom tempo de sua estada em vida, porém uma criança teria ainda muito a se viver, sendo algo “terrível quando pessoas morrem jovens, antes que tenham sido capazes de dar um sentido às suas vidas e de experimentar suas alegrias” (ELIAS, 2001, p. 77). A sociedade ponta-grossense compartilha do sentimento da perda da criança como uma partida prematura, como pode-se observar.

Fonte: Acervo pessoal da autora. Cemitério Municipal São José, 1953.

Essa lápide demostra em sua escrita que a morte do menino foi prematura, já que verifica-se que os familiares da criança acreditam que a infância não é um momento para se morrer, pois quando acontece é precocemente. Sabendo desse sentimento de perda prematura que a morte de uma criança acarreta e a continuidade de sua vida por meio das fotografias, os familiares dessa criança buscaram eternizar e seu filho por meio

do registro fotográfico da criança em vida. Isso porque, por a foto ter uma função indicial possibilita que a criança morta seja representada em sua melhor condição e não como o defunto que está em decomposição dentro do túmulo, por isso além de identificar, o registro fotográfico fixa a melhor imagem da criança, aquela que era será lembrada pela eternidade. Assim, o cuidado na seleção da fotografia é muito mais pela lembrança que ela causa do que pela identificação do corpo, como é já foi mencionado aqui por Soares (2007, p. 129) ao falar da seleção meticulosa que é a fotografia tumular. Rodrigues (1983, p. 176) relata que com o tempo as pessoas passaram a recusar o fim da vida de um ente querido, elas começaram a ter medo de enfrentar o corpo morto e em decomposição, por isso a memória em fotografias foi um dos métodos que o ser humano encontrou para negar a morte e recusar a decomposição do corpo. O registro fotográfico foi uma das formas de se apegar as crianças mortas e mantê-las no mundo dos vivos, por isso, retoma-se aqui a citação de Schmitt (2010, p. 141) que diz que “apegou-se aos corpos, supervalorizou o morto, mantendo-o ao mundo dos vivos”.

Como já dito nesse trabalho, a fotografia tumular remete a uma emoção, por ser índice que segundo Dubois (1993, p. 61) são signos que mantem ou mantiveram num determinado momento do tempo uma relação de conexão real com seu referente e que por terem essa característica eles aproximam o real do passado com o signo do presente, gerando uma falsa presença por meio da fotografia, em uma tentativa de amenizar o sentimento e ausência de quem já se foi, como defende Schmitt (2010, p. 177), assim é como se a pessoa representada na foto estivesse viva no túmulo, sendo ele uma forma de conexão com ela.

Essas fotografias em lápides buscam tratar “de traços físicos de pessoas singulares que estiveram ali e que tem relações particulares com aqueles que olham as fotos” (DUBOIS, 1993, p. 80). Assim, causam uma espécie de aproximação com quem já se foi, de modo que ao se visitar o túmulo do indivíduo fosse como uma visita a própria pessoa. Além disso, tais registros em túmulos sempre estarão ali, eternizando quem se foi e “permitindo assim guardar a memória do tempo e da evolução cronológica” (KOSSOY, 2001, p. 152).

Na cidade de Ponta Grossa foi possível encontrar algumas categorias de representação das crianças, como: “criança e família”, critério de seleção recebido por estarem representadas junto à suas mães ou parentes próximos; “criança e religião”, são retratos que indicam a cerimônia religiosa da primeira comunhão, com adereços que remetem tal ocasião; “criança e inocência”, retratos representados por meio da nudez ou

seminudez, sem qualquer teor malicioso, e; “criança e infância”, fotografias com adereços que remetem à infantilidade, como roupas e brinquedos. Essas categorias não são de exclusividade dos cemitérios de Ponta Grossa, já que na pesquisa de Gawryszewski (2016), realizada em vários cemitérios do brasil e intitulada “A representação da morte infantil em imagens cemiteriais no Brasil (séculos XIX e XX)”, categorias muitos similares a estas aqui expostas foram levantadas.

É importante deixar claro que apesar de todas as fotografias tumulares analisadas conterem epitáfios, por estes não corresponderem aos objetivos deste trabalho, não serão analisados.

1) Criança e família

Estar enterrado junto à família é uma prática que se iniciou no século XV, pois “a partir do século XV, a maior parte dos testamentos expressará a vontade de ser enterrado na igreja ou no cemitério em que os outros membros da família estão enterrados” (RODRIGUES, 1983, p. 128). Ou seja, isso significa uma necessidade de afirmar suas origens, demostrando a que família se pertencia.

As crianças nem sempre foram sepultadas junto de suas famílias, uma vez que foram particularizadas nos túmulos brasileiros no século XIX, pois segundo aponta Vailati (2010, p. 186), os carneiros, que eram salas quadrangulares que possuíam espaços em suas paredes para se colocar caixões, no Rio de Janeiro, tinham um local que era reservado apenas para os corpos infantis, mas que esse tipo de lugar foi extinguido após a aglutinação familiar. Ou seja, com a valorização e sentimento pela união familiar, as crianças começaram a ser enterradas junto com seus familiares, apesar de ainda existirem em muitos lugares do país locais onde a criança é enterrada de forma reservada. Por esse motivo,

Não só a criança passou a ser enterrada de preferência junto à família como em muitos casos ela ombreia com o pai de família como personagem símbolo dos jazigos familiares, informando a unicidade desse momento nas histórias dos comportamentos fúnebres (VAILATI, 2010, p. 197).

Assim, a fotografia infantil perpetuava não somente a sua lembrança, mas a sua hereditariedade por meio do vínculo familiar, podendo se conhecer a linhagem da criança. Neste sentido, encontramos em Ponta Grossa, tanto no Cemitério Municipal São José, como no Cemitério São João Batista, esse tipo de perpetuação da criança com

sua família, pois mesmo que os seus parentes não tenham morrido na mesma data, a fotografia da criança está junto da deles.

Fonte: Acervo pessoal da autora. Cemitério Municipal São José, 1939.

Como se pode notar, a possível mãe do menino morreu depois de seu filho, porém os dois foram colocados em uma fotografia juntos por meio de uma montagem, ressaltando o elo entre mãe e filho. É interessante observar a diferença de retratação do menino com a mãe, pois apesar do fundo da foto ser o mesmo, a mãe usa uma roupa escura, enquanto a criança está vestindo uma camisa branca, e da mesma forma que nas mortalhas brancas, isso ressalta a sua pureza e inocência. Além disso, o branco além de iluminar a foto também dá destaque para o menino.

A fotografia do pequeno está em um plano médio, ou seja, uma fotografia tirada do busto para cima, centralizada, destacando seu semblante e fisionomia, dirigindo toda a atenção de quem olha para o seu rosto. A criança olha em direção ao fotógrafo, como se olhasse para quem a observa, revelando que essa fotografia foi feita na sua altura.

Fonte: Acervo pessoal da autora. Cemitério Municipal São José, 1937.

Da mesma forma que na foto anterior, a mãe veio a falecer após sua filha, mas a retratação também foi utilizada com objetivo de reforçar o vínculo familiar. Com base na data de seu nascimento e falecimento, percebe-se que a criança chegou a viver até seus 11 anos de idade, entretanto, a foto no túmulo a representa com uma idade inferior a essa, buscando com isso trazer uma lembrança mais infantil, talvez na tentativa de trazer mais vivacidade para essa criança. Desse modo, confirma-se mais uma vez a citação mencionada por Soares (2007), apontando que a foto tumular muitas vezes não corresponde à sua própria representação temporal, sendo que pessoas mais velhas também são retratadas em sua juventude.

A criança na imagem também recebe a cor branca no seu vestuário, e como já mencionado nas demais análises, simboliza a inocência e pureza infantil, além de destacar-se mais do que a mãe. Da mesma forma que na foto precedente, fica nítida a tentativa de se conservar o semblante da filha, haja vista a centralização e o foco no seu rosto por meio do plano médio.

FIGURA 38 - LÁPIDE GERSON DINIZ SOBRINHO

Fonte: Acervo pessoal da autora. Cemitério São João Batista, 1961.

Nessa foto, a mãe da criança veio a falecer alguns meses após o nascimento de seu filho, que morreu com menos de um ano de idade. Em uma foto menos posada que as anteriores, a mãe parece segurar a criança no colo, tendo em vista o modo como foi feita a montagem da foto. Na possível tentativa de demostrar a aproximação entre os dois e a relação de afeto e carinho, esse efeito acontece devido a posição que a criança se encontra na imagem.

Quanto ao olhar da criança, diferentemente das fotos anteriores, ela olha para o lado, como se realmente estivesse no colo. Com o fundo da fotografia deixado em coloração escura, o destaque da roupa de mãe e filho se destacam de forma significativa, colaborando também para a interpretação de que a imagem foi registrada com os dois juntos.

Fonte: Acervo pessoal da autora. Cemitério Municipal São José, 1934.

Esse registro revela o falecimento das três irmãs no mesmo dia, sendo a foto exposta no túmulo uma montagem, já que fica nítido que as três não estavam no mesmo ambiente. As meninas do canto direito e esquerdo vestem vestidos similares, com poucos babados nas mangas. A menina que ocupa o centro da foto está vestida com uma camisa branca e gravata, veste muito similar a um uniforme escolar. Sobre este tipo de traje, Koutsoukos (2006, p. 65) afirma que o uso de uniforme simboliza uma posição admirada e o sentimento de dever cumprido, revelando o orgulho familiar.

Todas as crianças estão em um plano médio, ou seja, retratadas do busto para cima, porém enquanto as que estão nos cantos olham em direções opostas, a menina centralizada na foto é a única que olha diretamente para o fotógrafo e a que está mais em destaque, devido também a cor branca que ela utilizada na imagem, que permite maior iluminação e maior nitidez do que as demais.

A iluminação torna-se essencial, pois conforme Langford (1979, p. 203), “a iluminação do objeto é um dos aspetos mais importantes e estimulantes da fotografia”, pois é por intermédio dela que se propicia a nitidez, textura, obtenção de pormenores,

forma e separação, bem como na definição de outros pontos. Assim, pode-se observar que nessa foto, a iluminação refletida no branco da camisa ou uniforme de uma ajuda a obter as formas das roupas das outras crianças.

2) Criança e Religião

Como Kossoy (2001, p. 36) menciona que toda a fotografia tem a origem a partir de uma motivação e desejo, pode-se dizer que os registros abaixo tiveram a intenção de registrar um fato social, o da Primeira Comunhão, contudo, posteriormente, ela foi registrada como uma identificação tumular, revelando que essa não era a intenção primária dessa foto. Por isso, também se encontra aqui na cidade o registro tumular de algumas famílias com a imagem infantil relacionada à religião. Isso porque, como já visto, a criança batizada era tida como um anjo e já estava preparada para ser recebida nos céus.

Assim, a expressão, anjo ou anjinho, segundo Vailati (2010, p. 52) “é cada vez mais, sinônimo de criança morta”, devido a ligação da criança à ideia de inocência e pureza, sem maldade, o que a diferencia de um adulto. Por isso mesmo, foi comum encontrar algumas famílias na região que registravam as crianças nos túmulos com as roupas da primeira comunhão, que como o batismo, é uma celebração religiosa, que afirma o caminho delas na vida religiosa. Por ser uma cerimônia, assim como casamentos e batismos, era comum que os fotógrafos profissionais fizessem esse tipo de registro no momento do fato social.

Quando a criança morria, sua fotografia era fixada em sua lápide, demostrando que o pequeno ser seguia o caminho de Deus. Sendo assim, mesmo já tendo passado a idade considerada da inocência (idade até sete anos), a criança ainda assim era vista como pura e inocente em seu falecimento, como um anjo, tendo em vista que seguia a sua religião.

FIGURA 40 - LÁPIDE GENY M. BURGARDI

Fonte: Acervo pessoal da autora. Cemitério Colônia Dona Luiza, 1950.

A roupa da cor branca e a coroa de flores mostram um traje comum para a ocasião da Eucaristia, e por essa razão, o fotógrafo busca contextualizar a foto à ocasião, registrando a criança com as mãos em posição de oração, relevando a humildade e fé da menina diante de Deus.

O fotógrafo propicia um aspecto angelical para a criança, e objetivando demostrar a ocasião, essa foto também ocorre em plano médio, possibilitando enxergar a sua roupa e seu rosto com clareza. Assim, com a focalização em seu rosto, o que está atrás não fica tão nítido, mas o pano branco parece dar um efeito de asas à menina, impressão essa resultante do contraste do branco com o escuro, o que permite contornar as formas. Da mesma maneira que em outras fotos, a menina parece olhar para quem a observa, revelando que a fotografia foi tirada em seu mesmo nível de altura.

FIGURA 41 - LÁPIDE EVA KANCHLAROWICZ

FIGURA 42 - LÁPIDE PAULO VIANNA

Fonte: Acervo pessoal da autora. Cemitério Colônia Dona Luiza, 1954.

Fonte: Acervo pessoal da autora. Cemitério Municipal São José, 1962.

A garota Eva (figura 41), na mesma ocasião, veste a roupa branca típica para o evento, com um véu na cabeça, o qual antigamente era um acessório obrigatório e muito comum na Eucaristia. Diferentemente de Geny, a menina anterior (figura 40), na qual esta juntava as mãos em forma de oração, Eva segura uma vela, um símbolo também religioso e canal com as fontes divinas.

Já o menino Paulo (figura 42) está vestido com um terno escuro e uma camisa branca, porém o que caracteriza a ocasião é o livreto que o mesmo segura em suas

mãos, típicos em fotos de Eucaristia. Assim como Eva, Paulo também é fotografado em meio plano, visando-se demostrar os aparatos, a vela e o livro, caracterizando assim a ocasião.

As três fotos relacionadas à Eucaristia também foram encontradas em outras regiões do país pelo historiador Gawryszewski (2016), o qual relata também sobre a caracterização das crianças nas imagens:

Uma imagem frontal em que a jovem olha diretamente para o fotógrafo, em pose tradicional, com ou sem missal nas mãos, com as devidas vestimentas, conforme o sexo, ou seja, para meninos terno preto, camisa branca e braçadeira branca com laço e para as meninas a roupa branca com o véu (GAWRYSZEWSKI,2016, p. 303).

Por não ser um costume somente de algumas famílias da região ponta- grossense, mas sim, de outros locais do Brasil, pode-se dizer que existia um costume e um consenso social em fazer os registros tumulares com esse tipo de foto. O evento retratado mostra o preparo estético das crianças para receber o corpo e sangue de Cristo, e por estarem as três muito bem vestidas e arrumadas, ressalta-se assim a importância do evento religioso para suas famílias.

3) Criança e inocência

Esta categoria de caracterização também foi observada por Gawryszewski (2016) em sua pesquisa, porém em menor número. Nos cemitérios de Ponta Grossa levantou-se três fotografias com elementos desta caracterização.

Fonte: Acervo pessoal da autora. Cemitério São José, 1940. FIGURA 43 - LÁPIDE LUIZ CARLOS STOLZ

FIGURA 45 - LÁPIDE CLAUDENOR JOSÉ Fonte: Acervo pessoal da autora. Cemitério São José, 1943.

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Fonte: Acervo pessoal da autora. Cemitério São João Batista, 1961.

Nas fotos acima, vemos as crianças retratadas despidas ou semidespidas, trazendo à tona mais uma vez seu caráter inocente, de forma não maliciosa, pois um dos motivos pelos quais elas se diferenciam dos adultos é pela sua inocência natural. Assim, não viam na nudez a maldade, por conta do seu desconhecimento da sexualidade.

Esse tipo de retratação é muito antiga, já que desde o século XIII a criança era retratada nua, ou enrolada em cueiros ou vestidos com camisas e camisolas (ARIÈS,

1975, p. 157). É importante destacar que esse tipo de registro é feito na representação de bebês e não de crianças mais velhas, o que demonstra que quanto mais nova a criança, maior sua inocência, e menos malicia sua vida possuirá.

Pode-se apontar também a liberdade que as crianças tiveram quanto ao uso de suas roupas a partir do século XVIII, já que, antigamente, “durante mais ou menos o primeiro mês de suas vidas, na Europa e nos Estados Unidos, as crianças eram amarradas firmemente com faixas de tecido sobre suas roupas, sendo que as técnicas utilizadas variavam segundo a região” (HEYWOOD, 2004, p. 96) Neste aspecto, “[...] os bebês eram amarrados com os braços presos próximos à lateral do corpo e as pernas estendidas juntas, com suporte adicional para manter a cabeça firme” (HEYWOOD, 2004, p. 96).

Após algum tempo de vida, já considerados aptos pelos adultos para serem desenrolados dos cueiros, os bebês tinham seus braços e cabeças livres para, em seguida, passarem a usar outro tipo de roupa. Esse costume foi muito criticado pelos médicos durante o século XVII e XVIII, tendo em vista que “os críticos afirmavam que essa prática restringia a liberdade dos membros jovens, arriscava impedir a respiração da criança e a deixava enrolada em suas próprias urinas e fezes por longos períodos” (HEYWOOD, 2004, p. 96).

O grande defensor de roupas mais leves, que proporcionassem maior conforto às crianças foi Rousseau, defendendo que “o recém-nascido precisa distender e movimentar seus membros, para arrancá-los do entorpecimento em que, juntados numa espécie de pelota ficaram tanto tempo” (ROUSSEAU, 1995, p. 17). Por isso, pode-se dizer a liberdade dos pequenos bebês também se dava pela libertação das roupas, já que assim não ficariam presos a enfeites e roupas desconfortáveis.

Quanto à posição em que eram fotografados, esses bebês também recebiam o corte de meio plano, do busto para cima, sendo possível o foco em seu rosto. Deste modo específico estão os caracterizados na posição vertical das imagens, pois o único retratado na posição horizontal e de corpo inteiro é o do menino Luiz (Figura 43), que está deitada sobre uma superfície branca, lembrando muito a técnica da fotografia pós- morte, na qual se colocava o defunto sobre um local com um pano claro, ajudando