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Capítulo 6 – Potencial dos subprodutos do setor vitivinícola

6.2. Casos de estudo

6.2.1. Cenário atual – referência

O Programa de Apoio Nacional no Setor Vitivinícola está legislado atualmente segundo a Portaria n.º 207-A2017; o Regulamento (CE) nº 1308/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 dezembro 2013; os Artigos 21º a 23º do Regulamento (CE) nº 555/2008 da Comissão, de 27 de Junho de 2008 e pelo Regulamento Delegado (UE) nº 2016/1149 da Comissão, de 15 de abril. Para produtores que produzem mais de 25 hl de vinho por ano, existe uma entrega obrigatória dos resíduos vinícolas (bagaço de uva e borras de vinho), de modo a controlar o uso destes subprodutos, a qualidade do vinho produzido e a evitar danos ambientais. Esta Prestação Vínica é então obrigatória para maiores produtores, onde

têm que entregar o bagaço de uva e as borras de vinho obtidas na totalidade, enquanto produtores que produzam menos de 25 hl de vinho podem participar de forma voluntária [43].

Ainda está expresso que os subprodutos de vinificação devem apresentar no mínimo 2,8 e 4 litros de álcool puro por cada 100 quilogramas de bagaço de uva e de borras de vinho, respetivamente [43]. Existem quatro formas de cumprir a Prestação Vínica: (i) entregar os subprodutos para destilação a um destilador reconhecido; (ii) destilação pelo próprio produtor, caso este se encontre reconhecido como destilador; (iii) entregar vinho à indústria de fabrico de vinagre, equivalente à quantidade mínima prevista de álcool a entregar e (iv) retirar os subprodutos sob controlo [56].

Aquando da transformação destes subprodutos em álcool bruto este não pode ter um volume de álcool inferior a 92%, para fins industriais ou energéticos.

A tabela (6.2) representa as quantidades entregues pelas unidades vitivinícolas em estudo de acordo com a campanha da Prestação Vínica de 2016. É necessário reparar que a quantidade de borras de vinho entregues pela Herdade do Peso foi dada em volume, sendo difícil a mudança para massa devido a informação insuficiente.

Tabela 6.2 - Produtos e subprodutos vinícolas obtidos por casa agente económico.

Tipos de produtos

vitivinícolas (2016)

Herdade do Peso Herdade dos Grous Cortes de Cima

Vinho (hl) 8.338 5.494 7.907

Bagaço de uvas (ton) 180 35,7 176

Borras de vinho (ton) 15000 [l] 7,78 81,8

A tabela (6.3) apresenta os valores de resíduos obtidos por 100 litros de vinho produzidos, pelas diferentes herdades. A Herdade do Peso e Cortes de Cima obtiveram valores de bagaço de uva por unidade de vinho produzido bastante próximos, em média 21,9 kg/hl de vinho. Por outro lado, a Herdade dos Grous obteve apenas 6,5 kg/hl de vinho – significativamente inferior ao valor referenciado de 14 kg/hl de vinho no subcapítulo (6.1.2) – isto significa que a Herdade dos Grous realiza uma maior prensagem nas uvas, retirando mais suco, diminuindo a humidade e a massa do bagaço, enquanto as restantes herdades realizam prensagens menos eficientes, obtendo um vinho com diferente teor alcoólico.

Tabela 6.3 - Quantidades médias obtidas por subproduto vinícola por hectolitro de vinho, por agente económico.

Tipos de Resíduos / Quantidades (2016) Herdade do Peso Herdade dos Grous Cortes de Cima Média Bagaço de uva (kg/hl) 21,6 6,5 22,3 16,8 Borras de vinho (kg/hl) 1,8 [l/hl] 1,4 10,3 5,98

Como se pode observar, existe uma grande variação entre os valores obtidos pelas diferentes herdades. A Herdade do Peso e Cortes de Cima produzem mais bagaço de uva por hectolitro de vinho do que a média nacional. Enquanto a Herdade dos Grous produz muito poucos resíduos vinícolas comparando com os valores médios anuais.

Outro indicador para qualidade de vinho obtido é a produção de vinho por quilograma de uva obtido. Estes valores foram calculados apenas para a Herdade dos Grous, através da equação (3.14). A eficiência da produção de vinho foi em 2016, 0,93 l/kg para a Herdade dos Grous e estima-se que para Cortes de Cima tenha sido aproximadamente 0,65 l/kg de uva. Estes valores fazem todo o sentido aquando a análise de bagaço de uva obtido por unidade de vinho produzido. Isto porque uvas mais prensadas obtém maiores quantidades de vinho e por sua vez menores quantidades de bagaço (ou bagaço menos húmido e com menos teor alcoólico).

Como os subprodutos do setor vitivinícola também podem ter como fim a produção de energia elétrica, torna-se essencial comparar o consumo total de energia elétrica por cada agente económico com o potencial de produção de eletricidade através dos mesmos subprodutos. Sendo assim, a tabela (6.4) apresenta os valores de consumo total (vinha mais adega) de energia elétrica por agente económico, em 2016:

Tabela 6.4 - Consumo total de energia elétrica por agente aconómico, em 2016.

Ano de 2016 Herdade do Peso Herdade dos Grous Cortes de Cima Consumo total de energia elétrica (MWh) – A 216 473 426

6.2.2. Potencial de produção de calor e energia elétrica

O potencial de produção de calor e energia elétrica foi calculado tendo em conta o bagaço de uva obtido, por agente económico, presentes na tabela (6.3) e de acordo com as equações (3.23) e (3.24) do subcapítulo (3.3.4.1). A tabela (6.5) apresenta o potencial de produção de eletricidade e calor por agente económico.

Tabela 6.5 - Potencial de produção de energias térmica e elétrica através dos subprodutos vinícolas, para os vários agentes económicos.

Potencial de produção Herdade do Peso Herdade dos Grous Cortes de Cima Energia térmica

(MWh) 168 33,3 164

Energia elétrica

(MWh) – B 38 7,6 38

A tabela (6.6) apresenta os consumos anuais para 2016 de energia elétrica, para cada unidade vitivinícola, e respetiva fração equivalente entre o potencial de produção de energia elétrica e o consumo. A Herdade do Peso é a que apresenta um maior valor percentual do consumo elétrico suprido através do bagaço. Isto deve-se ao facto de o consumo de eletricidade ser bastante inferior ao dos outros agentes económicos, por não haver linha de engarrafamento. Quanto aos outros agentes económicos, o potencial de produção de energia elétrica (através do bagaço) é bastante baixo, o que não sugere o uso deste subproduto para produção de energia.

Tabela 6.6 - Consumo total de energia elétrica por agente económico e percentagem do consumo suprido pela produção de energia elétrica através dos resíduos vinícolas.

Ano de 2016 Herdade do Peso Herdade dos Grous Cortes de Cima Consumo total de energia elétrica

(MWh) 216 473 426

Produção/Consumo (%) – B/A 18 2 9

6.2.3. Potencial de produção de etanol

A tabela seguinte representa o volume de etanol que pode ser produzido a partir do bagaço de uva (equação 3.25) e das borras de vinho (equação 3.26) obtidos por cada unidade vitivinícola. A Herdade do Peso em 2016 foi a que produziu mais subprodutos vinícolas, tendo por isso um maior potencial de produção de etanol.

Também está representado na tabela (6.7) a proporção que equivale ao potencial de produção de etanol em função do consumo anual de gasóleo em 2016 (em energia). A Herdade do Peso é a que tem a maior percentagem entre relação de produção de etanol e consumo de combustíveis. Provavelmente tem um potencial para produzir etanol superior a 30 % do consumo anual de combustíveis.

Tabela 6.7 - Potencial de produção de etanol por resíduo vinícola e agente económico.

Tipos de resíduos / Etanol

resultante (l) Herdade do Peso

Herdade dos

Grous Cortes de Cima

Bagaço de uva 9.000 1.786 8.807

Borras de vinho - 311 3.271

Percentagem equivalente do

consumo total de gasóleo (MJ/MJ) 27

9 % 7 % 23 %

É possível analisar que a extração de etanol através de subprodutos vitivinícolas, em termos quantitativos é viável. Em termos económicos é necessário fazer um estudo mais aprofundado. Foi possível estimar os custos associados à destilação dos subprodutos vinícolas, para cada unidade vitivinícola. De um modo geral quanto maior o potencial de extração de etanol (ou quanto maior a quantidade de subprodutos obtidos), menores serão os custos por unidade. Sendo assim se cada vitivinícola produzisse o seu próprio etanol, teriam custos associados de € 22, 94 e 16 por litro de etanol, para as Herdades do Peso, dos Grous e Cortes de Cima, respetivamente [57]. Contudo, é importante salientar que os custos por litro de etanol da Herdade do Peso serão na realidade menores. Em suma, como produto final e para uma produção em pequena escala, não compensaria aos agentes económicos realizar a própria extração etanol.

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