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3 PERCURSO METODOLÓGICO

3.1 CENÁRIO DO ESTUDO

O estudo foi desenvolvido no município de Curitiba, capital do Estado do Paraná, com território de 432 km², quase totalmente ocupado. Curitiba situa-se num altiplano a 934 metros acima do nível do mar. Em 2010 tinha uma população de 1.751.907 habitantes e uma Região Metropolitana formada por 26 municípios, com uma população de 3.168.980 habitantes (FIGURA 3) e taxa anual de crescimento de 3,02%, superior à média verificada nos demais centros urbanos (1,53% ao ano) (IBGE, 2010).

Em 1º de julho de 2015, Curitiba possuía uma população estimada de 1.879.355 habitantes, sendo a maior cidade do Sul do país e a oitava maior do país em relação à PSR (IBGE, 2015).

FIGURA 3 – MAPA DE CURITIBA E REGIÃO METROPOLITANA

FONTE: IPPUC – 2015.

Com aproximadamente 82 milhões de m² de área verde, Curitiba tem um dos melhores índices de área verde do país, destinando 52 m2/habitante. Ocupa o 4°

lugar no ranking das cidades de maior Produto Interno Bruto, com base no PIB de 2008, e sua economia está baseada na indústria e no comércio, sendo considerada a principal cidade na Região Sul (IPPUC, 2010). O QUADRO 7 apresenta informações gerais da cidade e destaca alguns indicadores.

QUADRO 7 – INFORMAÇÕES GERAIS E ALGUNS INDICADORES DO ANO DE 2010 EM

Índice Municipal de Desenvolvimento Humano 0,856 – Muito Alto (IDHM entre 0,800 e 1)

Índice de Condição de Vida (ICV) 0,808

Índice Sintético de Satisfação da Qualidade de Vida 81,75%

Taxa de alfabetização 96,86%

Esperança de vida ao nascer 76,3

Mortalidade até 1 ano de idade (por mil nascidos

vivos) 11,9

Taxa de fecundidade total (filhos por mulher) 1,6 Proporção de crianças de 5 a 6 anos na escola 94,44%

Proporção de crianças de 11 a 13 anos 89,06%

Proporção de jovens de 15 a 17 anos com ensino

fundamental 71,63%

Proporção de jovens de 18 a 20 anos com ensino

médio completo 57,79%

Renda per capita média de Curitiba R$ 1.581,04

Índice de Gini10 0,55

Fonte: IPPUC (2010), IBGE (2010), PNUD, IPEA e FJP (2013).

10 É um instrumento usado para medir o grau de concentração de renda. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de 0 a 1, sendo 0 a situação de total igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda. O valor 1 significa completa desigualdade de renda, ou seja, uma só pessoa detém toda a renda do lugar.

A pirâmide etária do município de Curitiba para 2010 apontou redução de crianças e adolescentes, e a faixa etária prevalente é a de 25 a 29 anos para ambos os sexos (FIGURA 4). A taxa de envelhecimento11 passou de 5,56% em 2000 para 7,54% em 2010 (PNUD, IPEA e FJP, 2013). Esses dados apontam um envelhecimento da população, confirmando uma tendência de redirecionamento nas políticas públicas (SILVEIRA FILHO, MARTY e FAORO, 2013).

FIGURA 4 – PIRÂMIDE ETÁRIA DE CURITIBA SEGUNDO DADOS POPULACIONAIS DO CENSO DE 2010 – CURITIBA-PR, 2015

FONTE: PNUD, IPEA e FJP (2013).

Segundo o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba – IPPUC (2010), existem em Curitiba 5.880 domicílios, com uma população de 16.130 pessoas, que vivem com rendimento nominal mensal domiciliar per capita de até 70 reais. Essa população está distribuída em todas as regionais da cidade, sendo a Regional Cajuru a que concentra o maior número de pessoas nessa condição (2.616 habitantes). Na Regional Matriz concentra-se o maior número de domicílios – 907 unidades (FIGURA 5). A Regional Matriz é composta por 18 bairros, entre eles os mais antigos da cidade, e pela região central.

11 Razão entre a população de 65 anos ou mais de idade em relação à população total.

FIGURA 5 – NÚMERO DE HABITANTES E DOMICÍLIOS, POR REGIONAL ADMINISTRATIVA DE CURITIBA COM POPULAÇÃO QUE VIVE COM RENDIMENTO NOMINAL MENSAL DOMICILIAR PER CAPITA DE ATÉ 70 REAIS. CURITIBA-PR, 2015

FONTE: IPPUC (2010).

O sistema municipal de saúde tem se consolidado, ao longo da história do município, com um processo de construção social e política que remonta à fundação da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba (1855). Posteriormente, guiou-se pelo movimento da Reforma Sanitária Brasileira, nas últimas décadas do século XX (SILVEIRA FILHO, MARTY e FAORO, 2013).

Ao longo das últimas três décadas construiu uma rede de serviços robusta, tendo nas Unidades de Saúde a principal porta de entrada do sistema, que é organizado para o trabalho com base populacional em territórios determinados (áreas de abrangência).

A estrutura de serviços de saúde da cidade consolida-se em nove Distritos Sanitários (DS)12, dispostos em 143 Equipamentos Municipais de Saúde: 44 Unidades de Saúde no modelo tradicional (US), 65 Unidades de Saúde com Estratégia de Saúde da Família (USF), com 240 equipes médico-enfermagem e 170 equipes de saúde bucal, seis Centros de Especialidades Médicas, um Centro de Orientação e Atendimento aos Portadores de HIV/AIDS, três Centros de Especialidades Odontológicas, 12 Centros de Apoio Psicossocial, nove Unidades de Pronto Atendimento – UPA (FIGURA 6). Conta ainda com um Laboratório Municipal de Análises Clínicas e dois Hospitais Municipais.

12 São eles: Santa Felicidade (SF), Boa Vista (BV), Boqueirão (BQ), Cajuru (CJ), Portão (PR), Matriz (MZ), Pinheirinho (PN), Bairro Novo (BN) e CIC.

FIGURA 6 – DISTRIBUIÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE SAÚDE, SEGUNDO DISTRITOS SANITÁRIOS NO MUNICÍPIO DE CURITIBA. CURITIBA-PR, 2015

FONTE: IPPUC (2014).

Atualmente, tramita na Câmara Municipal de Curitiba projeto de lei que permitirá a implantação da Regional e Distrito Sanitário do Tatuquara, a 10ª administração descentralizada. A administração regionalizada objetiva aproximar os serviços públicos municipais da população da região. O Distrito Sanitário Tatuquara abrigará cerca de 82 mil habitantes. A futura conformação de bairros por regionais administrativas está representada na FIGURA 7.

FIGURA 7 – DISTRIBUIÇÃO DE BAIRROS PREVISTA, SEGUNDO REGIONAIS ADMINISTRATIVAS NO MUNICÍPIO DE CURITIBA. CURITIBA-PR, 2015

FONTE: CURITIBA (2015a).

Todo o território do município conta com atendimento prestado pela APS, e a cobertura populacional por serviços de saúde com ESF é de 42,71%. Para o restante (57,59%), a atenção é prestada no modelo tradicional (FIGURA 8).

FIGURA 8 – DISTRIBUIÇÃO DOS SERVIÇOS LOCAIS DE SAÚDE SEGUNDO TIPO DE US NO MUNICÍPIO DE CURITIBA NO ANO DE 2014. CURITIBA-PR, 2015

FONTE: CURITIBA (2014b)

Fundamentado em preceitos teóricos da Atenção Primária à Saúde, orientações da Organização Mundial da Saúde e políticas implementadas pelo Ministério da Saúde, o município busca inovar no uso de tecnologias nas áreas de planejamento, gestão, avaliação e monitoramento, para a concretização dos princípios organizativos do SUS (MASSUDA, POLI NETO e DREHMER, 2014).

Um passo importante para a consolidação do SUS/Curitiba deu-se com a informatização, iniciada em 1998. Atualmente 100% das Unidades de Saúde estão integradas por meio do Prontuário Eletrônico do Paciente (e-Saude), que é também caracterizado como um sistema de Registro Eletrônico de Saúde – RES. Tal sistema está configurado em módulos, agregando informações que permitem aos gestores acompanhar, supervisionar, regular, controlar e auditar os serviços prestados nos estabelecimentos próprios e nos pontos de atenção à saúde que integram a rede SUS/Curitiba.

Constitui potente instrumento de compartilhamento de informações dos usuários em atendimento para todos os profissionais envolvidos, uma vez que o histórico dos atendimentos é organizado por ordem cronológica do registro do evento e pela incidência desses eventos (NADAS, FAORO e FANCHIN, 2013).

Com vistas aos atributos da APS, houve, nos últimos dois anos: a ampliação do horário de atendimento, que agora vai até as 22 horas em dez US; a organização do sistema para agilizar os atendimentos e nortear os serviços prestados; a adoção de novos canais de comunicação para agendar consultas – como o agendamento por telefone; a entrega de equipamentos para todas as unidades – com o intuito de ampliar os serviços ofertados – como eletrocardiógrafos e eletrocautérios; a incorporação de profissionais de diversas especialidades nas equipes dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASFs), como geriatras, pediatras e ginecologistas e a atenção especializada à população em situação de rua por meio das equipes do Consultório na Rua.

Dessa forma, a PSR passou a contar, a partir de agosto de 2013, com atendimento de quatro equipes de Consultório na Rua. Essas equipes são integradas por: enfermeiro, médico, cirurgião-dentista, psicólogo, assistente social, auxiliar de enfermagem e de saúde bucal. Ressalta-se que o município de Curitiba foi pioneiro na inclusão do cirurgião-dentista nas eCRs, com vistas ao cuidado integral e ao estreitamento do vínculo com o morador de rua. A partir dessa

experiência, o Ministério da Saúde incluiu essa categoria profissional, bem como a de arte-educadores e profissionais de Educação Física, em maio de 2014.

As eCRs atuam em territórios delimitados (FIGURA 9), realizam atividades de forma itinerante e, quando necessário, utilizam as instalações das Unidades de Saúde do território, desenvolvendo ações em parceria com as equipes da Atenção Primária, integradas também com as equipes dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), dos serviços de Urgência e Emergência, dos serviços de assistência social e de outros pontos de atenção, de acordo com a necessidade do usuário.

FIGURA 9 – REPRESENTAÇÃO DAS ÁREAS DE ABRANGÊNCIA DAS 4 EQUIPES DE CR NO MUNICÍPIO DE CURITIBA. CURITIBA-PR, 2015

FONTE: CURITIBA (2015b).

ECR Ouvidor Pardinho ECR Parque Industiral ECR Mãe Curitibana ECR Vila Hauer

A gestão da assistência social em Curitiba é desenvolvida pela Fundação de Ação Social (FAS), que atua de forma integrada com órgãos governamentais e instituições não governamentais que compõem a rede socioassistencial do município.

Os serviços, organizados em dois níveis de proteção social: básica e especial, são dirigidos prioritariamente aos cidadãos, grupos e famílias que se encontram em situação de risco e vulnerabilidade social.

A proteção básica é realizada por meio dos 45 Centros de Referência da Assistência Social – CRAS, instalados nas nove regionais/DS, que atuam na prevenção de situações de risco e oferta de serviços que visam à socialização e convivência familiar e ou comunitária. Esses Centros desenvolvem ações nas áreas de: Cadastro Único para a participação em programas sociais de concessão de benefícios; atendimento e acompanhamento familiar para orientação e concessão de benefícios eventuais e encaminhamentos para a rede socioassistencial e demais políticas públicas, bem como ações de mobilização para o trabalho.

A proteção social especial, desenvolvida pelos nove Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS), se caracteriza pela atenção integral e está voltada às famílias e indivíduos com direitos violados e laços familiares ou comunitários rompidos ou fragilizados, particularidade da PSR. Os serviços estão disponíveis nas modalidades de média e alta complexidade.

Dessa forma, são assegurados à PSR os serviços de proteção social de média complexidade, realizados pelas seis Unidades Especializadas ou Centros de Referência Especializados para a População em Situação de Rua (Centros POP) – por meio de albergagem, abordagem social, espaço para higiene pessoal e alimentação, oficinas socioeducativas e encaminhamento à rede socioassistencial –, bem como pelas 14 unidades de acolhimento para adultos conveniadas com a FAS (CURITIBA, 2015c).

Segundo informações de Silva (2013) – coordenador do Movimento Nacional da População de Rua –, Curitiba tem aproximadamente 4.000 pessoas em situação de rua, embora, segundo a Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua, realizada no período de 2007/2008 pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, esse número corresponda a 2.773 (BRASIL, 2008). Das 71 cidades brasileiras, Curitiba tem o maior percentual de população em situação de

rua em relação à população total entre as capitais, correspondendo a 0,154% e é a segunda entre todas as cidades.

Na pesquisa supra-citada, em números absolutos, Curitiba está em terceiro lugar no ranking de população em situação de rua. Com 2.773 pessoas nessa situação, a capital paranaense fica atrás apenas do Rio de Janeiro (4.585) e Salvador (3.289). Entre as cidades com maior população que Curitiba, ficaram de fora da pesquisa São Paulo e Belo Horizonte. Porém, mesmo sendo menor que Brasília, Fortaleza e Manaus, Curitiba tem uma população em situação de rua maior do que as três cidades. A média nacional é de 0,061%, correspondendo a 32 mil pessoas nessa situação (BRASIL, 2008).

A pesquisa apontou também, que a população em situação de rua no Brasil é predominantemente masculina (81,2%). Mais da metade (55,2%) dos adultos em situação de rua entrevistados se encontra em faixas etárias entre 25 e 44 anos.

Desses, 63,1% não concluíram o primeiro grau, 59,1% se declararam brancos, 22,7% se declararam pardos e 17% se declararam pretos (BRASIL, 2008).

Frente a esse cenário e à recente política pública nacional referente à PSR, as equipes de saúde do CR em Curitiba então em processo de identificação das pessoas que vivem em situação de rua na capital, traçando diretrizes para o processo de trabalho e intersetorialização do cuidado, viabilizando o acesso à saúde de acordo com suas necessidades e singularidades.