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6 ANÁLISE DOS RESULTADOS

6.2 A participação dos partidos na difusão do PST

6.2.3 Cenário III

O Cenário III se refere ao período compreendido entre 2008 e 2009. Ele está no meio do segundo mandato do Presidente Lula e teve na eleição para prefeito de 2008 a chance de avaliar a força dos partidos aliados na sustentação do governo na escala local.

Tabela 42: Distribuição dos municípios conforme IES x Cenário III

IES* CE CAG CO

n % n n %

ES 273 4,97 1511 27,5 501 9,12

AE 192 3,5 1024 18,64 450 8,19

BE 22 0,4 116 2,11 60 1,09 Fonte: Pochmann e Amorin (2003) e informações extraídas do site do TSE.

Para todas as coalizões, é nos níveis ES e AE que se encontra a maior proporção de prefeituras. Em todos os cenários, a CAG detém o maior número de prefeituras nos diferentes níveis de exclusão social.

Tabela 43: Distribuição dos municípios conforme PST – IES x Cenário III

IES* CE CAG CO n % n n % ES 7 4,67 17 11,33 4 2,67 AE 14 9,33 20 13,33 4 2,67 ME 13 8,67 32 21,33 12 8 BE 3 2 14 9,33 10 6,67

Fonte: Pochmann e Amorin (2003), informações extraídas do site do STE e dados da pesquisa.

Tabela 44: Diferença em pontos percentuais entre representatividade das coalizões e adesão ao PST por IES

CE CAG CO

ES ↓ 0,3 ↓ 16,17 ↓ 6,45 AE ↑ 5,83 ↓ 5,31 ↓ 5,52

ME ↑ 5,74 ↑ 6,97 ↑ 0,81

BE ↑ 1,6 ↑ 7,22 ↑ 5,58

Fonte: Dados da pesquisa.

No nível mais baixo de exclusão social, as coalizões alcançaram diferença relativa negativa, indicando baixa capacidade de garantir adesão de suas prefeituras de maior exclusão social. No segundo, apenas a CE obteve uma resposta positiva, indicando boa capacidade de garantir a difusão às suas prefeituras. Todas as coalizões tiveram resultados positivos nos níveis mais baixos de exclusão social. Para esses níveis, as coalizões não se diferenciam. Uma possibilidade ainda é pensar se há um viés geográfico (regional), de força partidária, que expresse o design final.

Ao analisar o desempenho dos partidos, no que se refere às adesões realizadas durante os Cenários I e II, é possível encontrar resultados interessantes. O total de

prefeituras por região explica a adesão dos seguintes partidos: PT, PSDB, PL, PDT, PMDB, DEM e PSB. Não confirma para os seguintes partidos: PP, PTB e PPS.

Do total de convênios do PT, 42,67% foram feitos no Nordeste, de onde vem 37,81% de sua força. O PSDB concentrou 43,33% na região Sudeste, que possui 40,51% de suas prefeituras. O PL obteve seu melhor resultado nas regiões Norte e Sudeste com 34,78%. No Norte, sua força é de 37,78% e, no Sudeste, de 33,59%. O PDT abriga sua principal força política na região Sul, com 47,37% das prefeituras e uma adesão ao PST de 40,91%. O PMDB, que na região Sul absorve 35,32% de suas prefeituras, conquistou nessa região 36,96% do total da adesão ao programa. O mesmo ocorreu com o DEM e com o PSB na região Nordeste. Na distribuição interna de suas prefeituras, essa região é responsável por abrigar 52,59 e 61,85% de suas forças, respectivamente. Os resultados alcançados na adesão ao PST foram: 64,52%, para o DEM, e 68%, para o PSB. Para os outros três partidos, há um descompasso importante. A região de maior adesão representa a sua terceira força política.

No Cenário III, o PT continua concentrando suas prefeituras na região Sudeste (33,45%), onde o PST apresenta maior receptividade (50%). O PSDB mantém também sua força partidária nessa região (48,35%), e ela absorve 90% dos convênios. O PPS aumenta sua representatividade na região Sudeste (49,61%), e ela concentra 83,33% do PST. O DEM migra a concentração de prefeituras para a região Nordeste (36,97%) que também passa a receber a maior demanda pelo programa, 57,13%. O PDT mantém sua maior força na região Sul (29,92%) e divide a distribuição do programa entre as regiões Sul e Sudeste com 33,33%. Três partidos concentram o maior número de prefeituras na região Nordeste: PL, PSB e PCdoB. O PR/PL concentra 33,68% de suas prefeituras nessa região, e ela absorve 75% dos convênios do PST. O PSB tem 66,45% de prefeituras nessa região, e ela divide com a região Sudeste o maior número de convênios, 41,67% cada. O PCdoB concentra 87,81% de suas prefeituras na região Nordeste, região que absorve 100% dos seus convênios. O PP, o PTB e o PMDB têm sua maior força numa região e distribuem o programa em outra. O PP e o PMDB concentram suas prefeituras na região Sul (43,84% e 32,44%, respectivamente) e o programa foi direcionado, basicamente para a região Sudeste (50% e 55,56%). O PTB fica com 44,39% de suas prefeituras no Nordeste e desenvolve o PST, prioritariamente, em suas prefeituras da região Sul com 50%. A região Norte não concentra a maior representação de prefeitura de nenhum partido e também não são direcionados a ela muitos convênios.

6.2.4 Conclusão

É ponto comum na literatura que a política pública é resultado de um conjunto de variáveis, dentre as quais se encontra a política. Nesse sentido, os partidos e/ou coalizões importam. Mas, como não é a única variável desse processo, o tamanho da interferência depende da análise do resultado da política pública contrastada com componentes políticos, no nosso caso, o interesse dos partidos pelo programa. Isso não significa que devemos assumir, por princípio, uma determinada posição sobre a influência do fluxo político. O fato de a literatura apresentar resultados contraditórios, algo também observado na literatura internacional, como destaca Blais, Blake e Dion (1993), nos coloca o confronto empírico como espaço para se compreender a dinâmica do papel desempenhado pelos partidos.

Quando observamos o total dos convênios, a CE obteve um acesso ao programa superior à representação de sua força política (número de prefeituras). Nesse caso, a coalizão importa. Porém, como afirmado anteriormente, precisamos relativizar o peso dessa assertiva, pois o que prevalece é a não adesão ao PST. No interior das coalizões, foram os partidos de esquerda que obtiveram um resultado superior a sua representação: na CE, PT e PCdoB; na CAG, PSB e PDT; e na CO, PPS93. Esse resultado vai ao encontro da tese apresentada por Ribeiro (2006), de que a ideologia dos partidos pode ser um fator explicativo para alocação diferenciada dos recursos. Partidos de esquerda costumam ser mais sensíveis a uma pauta social. Para uma política que não permite a maximização de um comportamento do tipo rent seeking, os resultados positivos podem indicar que os partidos podem se mobilizar não só para promover os interesses pessoais (FREY, 2000). Não há indícios de que programas que atendam crianças tenham capacidade de atrair voto. Mas, também, podemos analisar o seu oposto, a não adesão, como uma resposta à impossibilidade de o PST garantir a promoção dos interesses eleitorais.

Quando analisamos a distribuição do PST nos municípios mais vulneráveis, municípios com ES e AE, há sempre uma relação negativa. Isso demonstra que as coalizões e os partidos possuem muitas dificuldades para levar o PST até suas prefeituras mais vulneráveis. Se considerarmos, como sugere Ferreira e Bugarin (2007), a possibilidade de o componente político poder garantir uma distribuição politicamente

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A afirmação quanto ao campo político do PPS está baseada apenas no que está estabelecido em seu Estatuto, Art. 2.

motivada, a sua não distribuição poderia também ser o resultado desse mesmo comportamento. Talvez, a pouca dedicação ao programa esteja associada à reduzida repercussão que uma política social possui na agenda de interesses do público adulto. Como crianças não votam, elas não apresentam uma plataforma de interesses que mobilize a atenção dos partidos quando da competição eleitoral. Nesse caso, mais do que a importância político-eleitoral trazida por Affonso (1996), é preciso verificar o peso que a plataforma esportiva possui na esfera eleitoral competitiva.

Não deixa de ser curioso também, o fato de haver fortes indícios da força partidária regional na atração do programa. Para alguns dos partidos aqui analisados, a distribuição do programa foi na direção das regiões onde eles estão mais fortalecidos. Nesse caso, o que se pode sugerir como hipótese a ser investigada é a influência de interesses partidários estaduais e do fortalecimento dos grupos de interesse na promoção de um movimento de forma a enriquecer o ambiente político atraindo mais investimentos.

O estudo aqui realizado permitiu verificar que ser da Coalizão Eleitoral importa na distribuição do PST. Os resultados também permitem aludir que ser um partido de esquerda também importa, pois todos eles, em suas coalizões, demonstraram capacidades diferenciadas para fazer com que sua base política estabelecesse convênio com o PST. Por outro lado, o estudo demonstrou também que há grandes dificuldades dos partidos em levar o PST até suas prefeituras mais vulneráveis. Parece que fatores não políticos operam com maior força nesse grau de vulnerabilidade.